Caçadora Pelas Circunstâncias escrita por Cris de Leão
ALASCA
Depois do episódio no acampamento dos cientistas, Hera e Despina voltaram para casa, ambas as deusas conversavam sobre os acontecimentos no Olimpo.
— Então, quando a filha de Atena terminou o seu relato, Zeus determinou que Percy era perigoso demais para estar perto dos semideuses, por isso, ele o baniu de ambos os acampamentos.
Despina ficou calada por algum tempo refletindo nas palavras da tia.
— Isso que você contou sobre Percy ter matado uma deusa é chocante – disse ela perturbada.
— Realmente isso foi chocante para todos nós – disse Hera. – Saber que um semideus é capaz de matar um deus foi demais para Zeus.
— Por isso, ele considerou Percy perigoso – comentou Despina. – Ele está com medo de que Percy se volte contra o Olimpo.
— Exato – disse Hera. - Poseidon discutiu com Zeus, claro, ele defendeu o filho, dizendo que Percy nunca faria isso, ele se mostrou leal a nós em ambas as guerras, embora ele não gostasse de ter sido manipulado por nós. No fim, ele lutou bravamente para nos ajudar.
— E o que foi feito dele, já que não pode se abrigar nos acampamentos?
— Eu sei que ele voltou pra casa da mãe dele. Ele está por sua própria conta, Zeus nos proibiu de dar qualquer ajuda.
— Que peninha! – disse Despina com ironia.
Hera olhou para a sobrinha e falou com tato:
— A morte dele seria uma grande perda para nós – disse ela. – Ele ganhou o nosso respeito, Zeus foi muito injusto ao condená-lo desse jeito.
— Se foi Zeus quem decretou não há nada o que se possa fazer.
— Infelizmente – disse Hera. – Eu torso para que ele esteja bem.
— E quanto a você e a Apolo? Você disse que Zeus os puniu por violarem as Leis Antigas.
— Apolo violou as Leis Antigas, eu porque revelei os dois acampamentos e Zeus julgou que fomos imprudentes e por isso, transformou Apolo em mortal mandando-o para o acampamento e a mim ele condenou a passar maus bocados aqui no Alasca.
— Sabe tia, eu até que estou gostando da sua companhia. Você até que está lidando bem com a sua condição atual.
— Fora o fato de que eu tenha que passar pelas necessidades e os males dos mortais eu não estou achando tão ruim – disse -, é claro, que se não fosse por você, talvez eu não estivesse aqui.
— Não acho que Zeus tenha mandado você pra cá pra morrer – disse Despina. – Ele não seria nem estúpido e nem burro pra fazer uma coisa dessas. Isso poderia acabar em guerra.
— Aposto que Ares ficaria feliz com isso – disse Hera. – Eu duvido que ele se volte contra o pai, ele nunca se importou comigo. Já não posso dizer o mesmo de Hefesto, ele sim, faria alguma coisa por mim – disse ela se lembrando de quando ele a tirou do castigo que Zeus lhe impôs por tentar usurpar-lhe o trono do Olimpo. – Ele sempre foi um bom filho, apesar de que eu não tenha sido uma boa mãe. Por minha culpa ele ficou aleijado pra sempre. Tudo porque ele nasceu deformado e eu senti vergonha e o joguei do Olimpo – disse ela com os olhos úmidos. – Descartei meu filho como se fosse um pano velho, mesmo assim, ele me perdoou.
Despina ouviu calada e pensava na sua própria condição. Ela que também fora rejeitada pelos seus pais nunca os perdoou por isso e nem perdoaria, jamais. Ela era diferente de Hefesto, ele pelo menos tinha a mãe ao seu lado, ela nunca teve a companhia da mãe Deméter, que nunca quis saber dela, diferente de sua irmã Perséfone que era a queridinha da mamãe.
Quando Perséfone desapareceu, Deméter vagou pela terra à procura da filha, moveu céus e terras para saber do paradeiro dela. Se tivesse sido ela a desaparecer, a mãe nem se importaria, ficaria feliz em se livrar de um estorvo.
Ao pensar nisso, nem percebeu que lágrimas escorriam pelo seu rosto. Hera ao ver que a sobrinha chorava, resolveu mudar de assunto.
— Bem, não sei quanto tempo ainda vou ficar por aqui. O que vamos fazer, agora que não há armadilhas para desarmar?
Despina limpou o rosto e sorriu.
— Podemos ir até o armazém fazer compras, que tal?
— Não é má ideia, eu gostaria de conhecer o seu domínio.
— Então vamos – disse Despina se levantando e se dirigindo ao quarto para pegar a bolsa.
— Como iremos, por teletransporte? – perguntou Hera vestindo o casaco.
— Não, vamos de transporte – disse Despina sorrindo.
— Você tem um veículo? – perguntou surpresa.
— É claro – disse ela. – Aqui está.
Ela mostra uma Pick Up Ranger branca que estava estacionada numa garagem nos fundos da cabana.
— Uau! Você se modernizou! – disse Hera sorrindo.
— Não podia ficar pra trás, né? – disse Despina entrando e sentando no banco do motorista. – Sempre que vou à cidade uso a Pick Up.
Despina dá a partida, ela usa seu poder para afastar a neve do caminho, pega uma trilha e depois a estrada. Ambas vão tagarelando até chegarem à cidade, Despina estaciona em frente ao armazém que mais parecia um supermercado.
— Pode pegar o que quiser dinheiro não é problema.
— Você tem dinheiro mortal? – perguntou Hera surpresa.
— Tenho – disse Despina. – Juntei dinheiro durante anos trabalhando. Abri uma conta no bando local e como eu nunca precisei dele, ficou rendendo juros. A única vez que mexi na conta foi pra comprar o carro.
— Estou surpresa, você parece gostar de bancar a mortal.
— Acredite, não é tão ruim – disse ela. – A vida deles é cheia de desafios e eu gosto do jeito que eles levam a vida.
As duas deusas pegam os produtos necessários para passarem o fim de semana. Quando estavam perto do setor de frutas, Despina vê o Dr. Bronson se aproximar, ela dá uma desculpa e se afasta deixando a tia escolhendo as frutas.
— Senhora Duncan?
Hera levantou os olhos e abre um sorriso.
— Dr. Bronson como vai?
— Eu vou bem e a senhora?
— Eu estou bem, graças aos seus cuidados.
— Me alegra saber que está bem – disse ele sorrindo. – E a sua sobrinha?
Hera olha de um lado para outro e não encontra Despina. Ela já imaginava o porquê de ela ter sumido.
— Acho que ela está em outro setor – disse ela com um sorriso amarelo. – Estamos fazendo as compras para o fim de semana.
— Eu vim comprar uns suprimentos médicos e aproveitei para comprar alguns itens necessários. E confesso que fiquei feliz em revê-la.
Hera dá um sorriso tímido, o olhar desse homem era intenso e tinha um sorriso devastador. O homem era lindo que doía. O clima ficou um pouco constrangedor e Hera deu graças aos deuses quando Despina apareceu.
— Aqui está tia – disse ela colocando uma garrafa de vinho no carrinho. – Olá Dr. Bronson.
— Como vai senhorita Duncan?
— Vou bem.
— Bom, não vou atrapalhar suas compras – disse ele. – Foi um prazer revê-las. Até qualquer dia.
— Até – disse Hera.
Quando ele se afasta, Hera olha para a sobrinha, esta se faz de inocente.
— O quê?
— Por que me deixou sozinha com ele?
— O que é que tem? Ele é encantador, não acha?
— Despina, o que está aprontando?
— Nada, ué?
Hera olha séria para a sobrinha.
— Tia há quanto tempo você não é cortejada? Zeus nunca lhe deu valor, lhe trai na maior cara de pau, nunca cumpre suas promessas e você sempre chorando por causa disso – argumentou. – Daí aparece um bonitão como o Dr. Bronson cheio de amor pra dar e você vai deixar passar?
— O problema não é esse – disse Hera. – Por mim eu já teria dado o troco a Zeus há éons, mas eu jurei fidelidade, estou amarrada àquele imbecil por toda a eternidade – disse tentando se acalmar. – Eu sou a deusa do casamento e da fidelidade, estaria violando meu próprio atributo. Além disso, não quero causar nenhum mal ao Dr. Bronson que me parece ser uma boa pessoa.
— Você que sabe – disse Despina dando de ombros. – Só não esqueça que você não é mais uma deusa.
Depois de pagarem as compras elas voltam para casa, a cabeça de Hera começou a doer, talvez porque o efeito do analgésico que tomou pela manhã tenha passado ou simplesmente pelas palavras de Despina.
Num ponto ela concordava com a sobrinha, Zeus nunca lhe deu valor. Sempre que ela descobria uma traição, ele dava desculpas e lhe pedia perdão prometendo nunca mais traí-la e ela sempre o perdoava. No entanto, ele escapulia e fazia tudo de novo, amargurada por sua falta de apreço, ela se vingava nas amantes e na sua prole. Era uma briga de gato e rato eterno.
Pensando bem, talvez ela mesma fosse a culpada. Quanto mais ela perseguia mais ele aprontava, ele adorava esse jogo, o que é proibido é mais gostoso e ela na sua eterna raiva proporcionava a ele esse divertimento. Por isso, ele não tinha um pingo de respeito por seus sentimentos.
Seus pensamentos foram interrompidos quando Despina desceu do carro e bateu a porta. Hera fez uma careta de dor e massageou as têmporas. Ela sai do carro e fica um pouco tonta e quase cai se não fosse a sobrinha ampará-la.
— Tia, o que está sentindo?
— Minha cabeça está doendo muito.
— Vamos entrar.
Despina ajuda a tia a entrar e a coloca deitada no sofá.
— Eu vou pegar o remédio.
Ela corre até o banheiro e pega no frasco de analgésicos dado pelo Dr. Bronson.
— Aqui tome – ela dá o remédio e um copo de água.
Hera toma o remédio e se deita.
— Descanse. Vou pegar as compras.
Depois que a sobrinha sai, Hera fecha os olhos e tenta não pensar nas palavras de Despina. ‘Você não é mais uma deusa’, ‘Zeus nunca lhe deu valor’, Hera começou a chorar, no fundo a sobrinha tinha razão, mas o que poderia fazer? Trair Zeus, jogar tudo para o alto? Se isso acontecesse era bem capaz de Zeus expulsá-la permanentemente do Olimpo e tirar-lhe o título de rainha. Ou pior, matar o homem com quem ela o traísse. Não, não queria envolver ninguém nos seus problemas, o Dr. Bronson não merecia isso.
De tanto pensar acabou adormecendo.
Quando acordou já estava escuro, um cheiro delicioso vinha da cozinha. Ela se senta e vê que a lareira está acesa, ainda estava vestida com a roupa com que saiu pela manhã, levantou-se e foi ao banheiro, se olhou no espelho, seus olhos estavam um pouco inchados devido ao choro. Lavou o rosto e depois saiu.
Despina estava colocando os pratos na mesa quando Hera adentrou a cozinha.
— Oi tia, como se sente?
— Estou melhor – disse cheirando o ar. – Cheiro bom!
— É um ensopado de rena – disse Despina sorrindo. – Você se lembra do ensopado que comemos no acampamento dos cientistas? – Hera assente. – Pois é eu fiz o mesmo, espero que esteja bom. Geralmente eu não costumo cozinhar, basta conjurar e pronto, comida na mesa.
— Não precisava ter todo esse trabalho por minha causa.
— Que nada, eu faço com gosto – disse – Você é minha hóspede e eu quero cuidar de você como se deve.
— Obrigada Despina. Não sei o que seria de mim sem você.
Depois de tudo pronto, ambas se servem do ensopado e conversa o resto da noite.
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Até o próximo.