Lar escrita por MJthequeen


Capítulo 7
Robin


Notas iniciais do capítulo

Eu aumentai a classificação da fanfic e ela pode chegar a 18+, sim haha mas não sei, tudo depende do meu humor, essa fanfic não está sendo muito planejada, então eu escrevo o que sinto vontade ;]
Mas, se rolar sexo, vocês serão avisados nas notas iniciais, ok?

As descrições do Robin nesse capítulo foram... engraçadas de escrever hahaha eu não sei se devo ser mais escrachada. Geralmente eu escreveria uma coisa mais direta do que só ficar insinuando, mas não sei se combina tanto com a fic. Eu vou pensar nisso: o Dick é só um adolescente, afinal xD

Sobre as cenas de luta: eu não sou muito boa em ação, não KKKK evito o máximo fazer, espero que não esteja muito ruim.

Quero agradecer de novo todo o apoio!! ♥ como é bom estar de férias e escrever quando eu quero hahaa

Good Night, Gotham!



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Lar

 

Estou curvado sobre a mesa de investigação e, num movimento limpo, apoio as duas mãos nela. A superfície é lisa e fria, quase vazia, se não fosse por dois cadernos que acabei de abrir. Eu vim para cá para fugir dela. Eu vim para cá para parar de pensar nela – eu vim para onde meus pensamentos podem se focar em outra coisa. Não importa. Eu posso segurar mil canetas ou abrir mil cadernos; Star continua na minha mente, onde sempre esteve.

Franzo o cenho. Meu comunicador vibra outra vez e eu pego, suspirando enquanto sento na cadeira e coço os olhos. Estelar saiu e sumiu; eu não esperei questionamentos de Ciborgue ou de Mutano sobre sua resposta fria. Eu vim para a sala de investigação. Eu não estou sendo questionado, mas isso não ajuda se ela permanece aqui dentro.

“Até essa camiseta é mais tecnológica q seu uniforme... :P”  e duas imagens, uma onde Barbara faz careta, vestindo uma das milhares de camisetas inspiradas no traje do Robin que existem nas lojas de Jumpcity, e outra dela sorrindo, onde o R do uniforme está acesso em vermelho.

Eu guardo sem responder, mais uma vez.

 

 

Já é tarde da noite quando eu concluo uma investigação sobre a Irmandade Negra. Nosso último encontro foi há bastante tempo e nós conseguimos prender o líder, Cérebro, mas Monsieur Mallah fugiu na ocasião. Infelizmente, porém esperado, ele tinha matado mais de uma dezena de seguranças bem treinados e pego chefe de volta. Desde então, três meses, nós não tínhamos ouvido nada sobre e nem visto nenhum rastro.

Eu prendo uma foto na parede, usando fita adesiva, agradecendo o espaço que ainda há. Deveria tirar algumas antigas evidências que já não me servem de nada, como as de Slade, mas algo dentro de mim me impede. Batman, de novo. Estreito o olhar, indo para trás, observando melhor. Nesse momento, meu olhar vaga para as antigas fotos e eu encontro uma do Quinteto, outra de Irmão Sangue e... Red X. Meus olhos param nesse.

Eu sei que a Hive pode atacar a qualquer momento, não é nada surpreendente ou inesperado – mesmo por que seus planos geralmente sejam falhos, só as fugas sendo chatas. Agora que temos Jinx do nosso lado, é mais fácil entender como eles agem, mesmo que ela fale muito pouco, por se tratar de antigos amigos. Nós derrotamos o último esquema de Irmão Sangue e ele permanece na prisão, sem contato com pessoas do exterior, até onde sabemos. Eu tenho tudo isso resolvido. Red X, ao contrário, é um enigma.

Ele esteve envolvido em diversos roubos de tecnologia em Jumpcity, principalmente nos prédios Wayne, e não é visto há pelo menos um mês. Me pergunto se Bruce percebeu esses passos. Suspiro. Quem estou querendo enganar; ele é o Batman. Talvez tenha mais informações sobre Red X do que eu, o inventor do traje e roubado.  Pensar isso me deixa com raiva. Eu fui treinado por ele, e, como um mestre, ele está sempre um passo à minha frente. Espero que ele não toque nesse assunto quando eu estiver em Gotham – tenho certeza que seria motivo de outra discussão e eu teria ido lá para nada.

Passo as mãos pelo cabelo e busco minha garrafa d’água; ela está vazia e sou obrigado a ir até a cozinha. Tudo bem, talvez eu precise de um pouco de ar. Eu caminho pelos corredores gelados e vazios da Torre. Quando chego a sala de estar, está escura e vazia. Não é tarde o suficiente para todos estarem dormindo, então concluo que Cy e BB estão na garagem, provavelmente arrumando ou colocando alguma nova atualização no Tcar. Ravena e Estelar devem estar em seus próprios quartos, ou ambos saíram juntas, como fazem algumas vezes. Engulo os pensamentos sobre Estelar.

Eu não me incomodo de dizer para a luz acender; vou andando até a geladeira, abro-a e pego uma jarra cheia de água gelada, pronto para encher minha garrafa e voltar para a sala de investigação, talvez começar algo sobre Red X. Um gemido baixo chama minha atenção e automaticamente meus olhos chegam até o sofá.

Estelar acaba de acordar, coçando os olhos e se espreguiçando com o rosto aparentemente cansado; não dá para dizer por causa da pouca luz. Eu não tinha a visto ali deitada no sofá, mas ela deve ter acordado com o barulho da geladeira. Por que será que dormiu ali? Eu abaixo os olhos e encho minha garrafa, em silêncio. Pelo olhar periférico eu percebo que ela vira o rosto na minha direção, imaginando quem estava na cozinha. Também fica em silêncio. Eu não posso evitar pensar na noite anterior.

Star se senta ao mesmo tempo em que eu saio da parte dos balcões. Eu vou até lá em passos calmos e também me sento, mas na lateral do sofá, pelo menos dois espaços longe dela. Não sei exatamente o que quero dizê-la, mas quero dizer algo.

— Você não costuma dormir no sofá – comento, num murmúrio. Será que ela ainda está brava? O jeito como me rejeitou mais cedo.

Estelar encara a Tv desligada, sem expressar uma reação.

— Eu estava assistindo um filme – ela responde, sem me olhar. Não há magoa na sua voz, mas tampouco é o tom morno que sempre usou comigo. – Der Himmel über Berlin. Acho que peguei no sono, não consegui ver o final – completa, como se estivesse vendo na TV o tal filme. Eu não me impressiono com o alemão; é uma das línguas que eu falo e Star absorveu junto do inglês. Lembrar do nosso beijo me faz tomar um gole d’água.

— Asas do Desejo, é um ótimo filme. Eu posso colocar para você ver amanhã, se quiser – ofereço, sorrindo para ela. – Nós podemos assistir juntos – encaixo essa última parte de forma improvisada. Amanhã é o último dia antes que vá para Gotham.

Estelar me olha agora, mas seu rosto está impassível. Essa sua falta de reações me incomoda. Ela balança os ombros.

— Você já assistiu. Não acho que será divertido para você – comenta, mas não está recusando. Só falando algo que passou pela sua mente. Eu mexo a cabeça.

— Qualquer coisa que eu fizer com você vai ser divertido, Star. – Estou sendo sincero e busco um sorriso no rosto dela. Ela entreabre os lábios, mas o sorriso nunca vem. Seus olhos estão quase mortos. Não era a reação que eu esperava, mas Estelar não quer que eu vá para Gotham, eu sei disso. Quando eu voltar talvez as coisas fiquem melhores.

Ela coloca as pernas sem botas no sofá e as abraça, encostando o queixo nos joelhos. Seus lábios vagam pela pele, e ela parece pensativa agora. Sinto vontade de me inclinar, pegar suas mãos e beijar a linha entre o joelho e sua coxa. Tomo outro gole d’água. Adolescência é ridículo.

— Você acha que meus costumes são estranhos? – pergunta de repente. Eu afasto a garrafa, juntando as sobrancelhas. De repente me lembro do programa de TV mais cedo, onde a mulher insinuava comportamentos esquisitos de Estelar.

— Eles são diferentes – balanço a cabeça. – Mas isso não é estranho. Aqui na Terra nós temos muitos países com culturas totalmente diferentes. Por exemplo na Índia, a religião deles tem mais de... – explico, procurando exemplos que a deixem mais relaxada, mas Estelar me interrompe.

— Quando você visitou Tamaran, não comeu nossa comida – seu tom não é de acusação, só de afirmação, mas eu me calo na hora. Ela tem razão. Nem eu, nem nenhum dos Titãs se sentiu com grande apetite nos dois dias que passamos lá. Eu só não sabia que isso a tinha perturbado desse jeito. O arrependimento consome meu peito e eu fico com vergonha, me aproximando dela.

— Eu não... – tento, sem ter ideia do que completar. Fico em silêncio. – Star, me desculpa. Eu não tinha ideia... Eu não queria ter te ofendido – Parabéns, Dick, você sabe como impressionar os parentes de uma garota.

Star me olha outra vez e sua expressão agora é frustrada. Ela balança sua cabeça de um lado para o outro, franzindo os lábios.

— Não, Robin, não, você não me ofendeu – murmura, em tom de desculpas e choro, olhando sobre minha máscara, procurando meus olhos. Os seus são expressivos e estão tristes. Ela ergue uma das mãos e, parecendo hesitante, toca minhas bochechas com a ponta dos dedos. Então se afasta, soltando um suspiro. – Me desculpa, eu acho que comecei a pensar demais em Tamaran desde que... você me falou como Gotham é importante.

— Star, eu não acho que sua cultura é ruim ou esquisita. Eu só não estou acostumado com diversos aspectos de Tamaran, me desculpe. Eu prometo que isso nunca mais vai acontecer de novo – Ela parece absorver minhas palavras, mas não acreditando nelas. Balança a cabeça, concordando, e eu suspiro.

Ela se levanta, procurando as botas que deixou em algum lugar no chão. Não as coloca, só as segura debaixo do braço.

— Eu vou estar no que meu quarto. Um ótimo shlorvax, Robin – diz, outra vez impassível. Coloca uma mecha do cabelo para trás da orelha e está prestes a sair. Eu seguro seu pulso antes que ela vá; seu protetor de pulso é frio.

 — Star?

Ela fica quieta por alguns segundos, o rosto observando algum ponto no chão. Então se vira para mim lentamente.

— Sim, Robin?

— Estamos bem? – pergunto, firme, apertando meus lábios, encarando-a intensamente.

— O quão bem podemos estar.

 

 

— Ah, cara, nós não podemos mesmo ter uma folga hoje, Robin? – Mutano suplica, jogando o corpo para trás, voz cansada. – Hoje é sábado, e amanhã é nossa super festa!

— Você nunca quer treinar, BB, não é só por causa de uma festa – Ciborgue provoca, rindo, checando seus sistemas na lateral do braço.

— Não, Mutano, nós não vamos cancelar o treinamento – eu digo de vez, segurando o bastão de madeira nas minhas mãos. Todos os Titãs estão alinhados na academia, em cima do tatame, de frente para mim. Estelar na ponta, Ravena, Mutano e, por fim, Cy. Estamos todos de moletom e camiseta, só Ravena usa uma legging ao em vez de moletom e deixou a capa de lado, como eu pedi.

Enquanto ando de um lado para o outro, batendo o bastão na minha mão direita, tento não olhar muito para Estelar. Ela também usa uma calça de moletom cinza, como a minha, mas não uma camiseta. Nos treinamentos ela vem sempre de sutiã esportivo e cabelo preso no alto da cabeça e, Deus, eu não posso ficar pensando muito tempo em como ela fica linda assim. Nem ficar olhando para a clavícula e colo revelados pela falta do protetor de peito... Dick. Eu tusso quando percebo que demorei tempo demais para completar minha frase e estão todos esperando. Ravena com a sobrancelha arqueada, como se me desse uma bronca.

 Ser um herói adolescente e ter uma garota gostosa no seu time já é horrível, mas fica pior se tiver alguém que saiba exatamente o que você está sentido.

— Como eu estava dizendo, o treinamento de hoje é muito importante. Semana passada nós aprimoramos os movimentos em conjunto e o uso de poderes, mas hoje é dia de fazermos algo diferente. – Eu aceno positivamente para Ciborgue, que se aproxima e fica do meu lado. Ele é o segundo na linha de liderança e, quando não planejo o treinamento sozinho, planejo com ele. Ele pega uma maleta de alumínio que tem o símbolo da S.T.A.R Labs.

Mutano estreita os olhos para o símbolo e logo depois olha para Cy. A S.T.A.R Labs é onde o pai de Ciborgue trabalha e de onde a tecnologia de seu corpo vem. Junto da metodologia da Wayne Tech, é a principal base da Torre e, além disso, fornece toda a tecnologia para o sistema prisional de Jumpcity. O caso é que Ciborgue ainda tem uma tensão com seu pai, por tê-lo tornado meio robô. Cy nunca deixou que isso entrasse no seu dever de herói.

Ele desprende as travas enquanto eu continuo falando.

— Por causa das constantes fugas dos vilões da prisão, a S.T.A.R Labs vem tentando adaptar alguma tecnologia que pudesse conter ou acabar com os poderes desses. Eles contataram Cy, perguntando se poderíamos testar, já que nosso grupo é composto por alguém que ganhou poderes, alguém que nasceu com eles e alguém que não é desse planeta. – Ciborgue termina de abrir e revela pulseiras grossas e negras, com três pequenas partes de luz na frente e botões na lateral.

Ravena observa com cuidado.

—Elas são mesmo seguras, Robin? – pergunta, séria. Eu aceno a cabeça, eu e Cy tínhamos pensado a mesma coisa.

— Eu e Cy fizemos alguns testes e a S.T.A.R Labs já teve alguns voluntários; mas todos eles são como Mutano, que ganhou os poderes, então eles querem uma visão mais ampla. – Sei que eles confiam na minha palavra e Ciborgue distribui as pulseiras, fechando a maleta logo em seguida.

— Também não é a versão final. Eles estão pensando em adicionar um descarregador de alta tensão, para caso seja necessário, e um leitor de digitais – explica Cy, que tinha analisado as pulseiras a semana toda.

Estelar fecha o objeto no pulso e ergue a mão, o olhando.

— Eu não acredito que a pulseira seja prática. Em Tamaran, nós somos capazes de cortar nossas mãos para nos livrarmos de algemas – exemplifica, com um pequeno sorriso, bom humor da manhã e Mutano a encara de olhos arregalados.

 — Cara, isso é selvagem! – Mutano diz, de forma elogiosa, mas o sorriso de Estelar cai na hora, ela dá um passo para trás e Ravena se vira como se tivesse acabado de ver um fantasma, os olhos super irritados.

— Essa não é uma palavra legal, Garfield – ela rosna e Mutano se assusta com seu nome sendo chamado. Ravena nunca faz isso. Uma tensão que eu não entendo está no ar e Star continua em choque e agora Mutano também, sem entender por que Ravena está tão agressiva.

Ele olha de uma para outra, para mim e novamente para Estelar, assustado, cenho franzido.

— Eu não...

 — Você não pensou na palavra que está usando, é isso – continua, o tom de voz frenético. Eu vejo quando sua mão desliza para as costas de Estelar, no coxis, e a traz de volta para frente, como se dissesse para ela se manter firme. – Você nunca usa o cérebro para nada?!

— Uou, calma, Rae – Cy solta na hora, sobrancelhas arqueadas.

Eu coloco o bastão no pouco espaço que ainda separa Ravena de Mutano. Ela sempre faz piadas sobre a burrice de Mutano, mas é só isso, piadas. Não parece que está brincando agora. Star leva uma mão até a testa e fecha os olhos com força, mas eu não posso me desviar dos dois membros em crise.

— Ravena, se acalma. Você não pode falar com o Mutano assim – eu digo, tentando entender o que raios aconteceu. Ciborgue também está de cenho franzido. Ravena só escorrega os olhos de canto, na minha direção e fica assim por poucos segundos; estou perdendo algo. Ela olha para o bastão e eu o afasto lentamente. E, sem me responder, encara Estelar, mão ainda no coxis dela, corpos próximos como se fossem intimas. Eu nunca vi Rae assim tão próxima de alguém, pelo menos não em seus dias normais. Estelar não abre os olhos, mas Ravena permanece ali, como se elas estivessem tendo algum tipo de conversa mental.

Foi aquela palavra. Selvagem. Mutano olha para mim e Cy, em busca de ajuda, mas se volta para as duas garotas rapidamente, antes que eu tenha chance de falar alguma coisa.

— Star, eu não... Me desculpa, eu não quis dizer em um sentido ruim. Você não é selvagem, você é uma dos meus melhores amigos.

Estelar balança a cabeça, tirando a mão do rosto e abrindo os olhos.

— Tudo bem, Mutano. Eu sei que você não quis dizer nada. Não estou chateada com você – responde, sincera, encarando o garoto verde. Ele permanece tenso, mesmo assim, pois Ravena não parece ter relevado tanto quanto Estelar. A conversa me lembra automaticamente da noite anterior e minha boca é uma linha reta. É sobre o planeta dela que Star está sensível... mas por quê desse jeito? Ela interrompe meus pensamentos. – Robin, você não terminou nossas instruções.

Eu olho para ela e esses olhos verdes que adoro, mas não parecem felizes atualmente. Eu me odeio por causa disso.

— Star, nós podemos...

— Não. Eu quero treinar e temos que testar as pulseiras da S.T.A.R Labs, é pelo bem da cidade. É nossa responsabilidade – me interrompe, e eu me lembro da briga que tivemos, quando eu disse quer ser herói era minha responsabilidade. Muito bem, ela está me fazendo engolir minhas palavras.

Eu aceno com a cabeça, como se ela não tivesse dito nada demais, e tento focar no que estávamos fazendo.

— As pulseiras vieram em boa hora, pois eu queria que tivéssemos um treinamento do tipo – digo, elevando minha voz. Não é hora de pensar nos meus problemas. – Vocês podem se deparar em situações em que o uso de poderes é restrito ou mesmo impossível. Não podem ficar em desvantagem por causa disso; vocês não têm os poderes, mas continuam tendo sua mente e corpo. – E aceno para Cy outra vez e ele ativa as pulseiras através do painel no seu braço. Um barulho como um assovio surge no ar e as luzes nas pulseiras piscam em vermelho.

Ravena olha na hora para todos nós, piscando em choque.

— Eu não... Eu não sinto nenhum de vocês – murmura, impressionada. Acho que ela nunca experimentou isso na vida. – É... – Acredito que ela vá dizer “um alivio”, mas o que vem a seguir me pega de surpresa: — É... muito vazio. – Termina, de sobrancelhas juntas, tentando se acostumar.

Mutano parece soltar um suspiro do foco de Ravena ter se alterado e não mais ser odiá-lo, e olha para mim e Cy.

— Cara, eu tô tentando me transformar e nada acontece – fala, parecendo meio apreensivo de vocalizar qualquer pensamento, por causa da última vez. Ciborgue balança a cabeça.

— É exatamente o que devia acontecer, Beast.

Eu e Cy nos viramos para Star, esperando uma reação dessa, mas ela apenas balança a cabeça positivamente, como se dissesse que concordava. Eu dou um passo à frente e giro o bastão nos dedos, sentindo aquela aventura do começo de treino.

— O treino de hoje é para aprimorar seus sentidos mais primitivos. Nós já tivemos treino de combate antes, então não é novidade para ninguém. Vocês vão lutar em pares, sem armas, e eu vou supervisioná-los. A luta acaba quando um dos dois cair. – O bastão continua girando, até que eu pare entre o indicador e o anelar. Eu olho para os dois na ponta. – Começando com Ravena e Ciborgue.

Ela acena com a cabeça, não parecendo gostar tanto assim dessa ideia. Eu, Estelar e Mutano vamos para trás, para fora do tatame que demarca o espaço da luta. Eles estão um de frente para o outro e Ravena põe parte do cabelo para trás, parecendo desejar que eles estivesse longo o suficiente para prender. Está grande, mas não o bastante para isso.

Cy mexe em alguns componentes do seu braço.

— Eu ajustei meu sistema para a força humana que eu tinha, então não se preocupe em ser injusto – explica para todos nós e Ravena acena, entendendo. Star e Mutano se sentam no chão, encostados na parede, e sei que estão conversando, mas eu preciso por minha cabeça como líder, tenho que prestar atenção na luta.

Depois de alguns segundos esperando alguma movimentação de Ciborgue, que nunca vem, Ravena ataca primeiro. Ela tenta socá-lo no peito, não parecendo muito segura do movimento – ela sempre treinou muito pouco corpo a corpo, por causa da vantagem que seus poderes sempre lhe deram. Cy desvia do soco a tempo e consegue chutá-la no peito; fazendo-a grunhir de dor e se desequilibrar para trás. É Ciborgue que tenta socá-la no ombro agora, mas ela segura seu punho antes que isso aconteça e o joga para o lado, dando uma joelha em seu queixo no processo. 

Eu observo a luta de braços cruzados. Não é algo técnico como eu, a falta de experiência de Ravena faz com que ela quase sempre se defenda ou aceite o golpe. Cy parece estar pegando leve e a luta acaba depois de 20 minutos com o previsível, Rae no chão, apesar de ter conseguido golpeá-lo vezes o suficiente. Ele se aproxima dela no chão e ergue a mão, que ela aceita com um “obrigada”.

— Não é fácil te derrubar, garota – Cy comenta, risonho. Ela lhe dá um pequeno sorriso de canto.

— Você está sendo legal. Eu sou péssima nisso – o tom monótono tem um pouco de graça. Eu me aproximo dos dois.

— Você não é péssima, mas eu já te disse que precisa treinar mais do que só a defensiva. – Ela concorda com um aceno. – Star e BB, por favor. – Eu chamo os dois, que se levantam num pulo e tomam o lugar onde estavam Cy e Rae.

Esses dois últimos procuram as garrafas d’água e toalhas para limpar o suor.  Eu cruzo os braços outra vez e observo a luta de Star e BB, que sorriem um para o outro, parecendo satisfeitos com algo. Arqueio a sobrancelha, ele deve ter pedido desculpas de novo.

— Hey, ruiva, pronta para ser derrubada? – Mutano faz uma das poses de kung fu que viu em algum filme idiota e não verossímil de ninjas. Eu tento não rir da bobagem.

— Vai, BB! – Cy grita, balançando a mão no ar. – Uh, Uh, Uh – urra, como se torcesse por algum time de futebol americano.

Star está com as pernas levemente abertas e os punhos perto do rosto, joelhos flexionados para frente. Eu tento não reparar em como a bunda dela se destaca no moletom por causa da pose – olho na hora para Ravena, mas ela está tomando água tranquilamente. Abençoadas pulseiras.

— Pronta para te mostrar quem é o selvagem, terráqueo.

Mutano arregala os olhos por causa da frase, provavelmente envergonhado, e Estelar aproveita sua surpresa; ela gira no ar e acaba com o tênis na lateral do rosto de BB, desequilibrando-o para o lado. Estelar se agacha e dá uma rasteira nele, que cai no chão em um baque surdo. Mutano grunhe de dor, mas se levanta num pulo para trás, sem usar as mãos e, como ela está muito perto, é atingida por suas pernas. 

A luta dos dois é um pouco mais interessante do que a de Ravena e Cy. Não só por que é Estelar lutando e, droga, ela fica muito sexy lutando e arfando por causa do cansaço, mas por que Mutano parece mais resistente a golpes físicos do que Rae. Eles estão desviando um do golpe do outro e revidando, mas a vantagem é de Star, por causa de seu treinamento em Okaara e isso se prova quando ela segura o pulso de Mutano, impedindo o soco dele, e dá ela o soco com a mão livre. 

— Ah, qual é, BB, você envergonha a raça masculina! – Cy solta, rindo. Ravena tem uma expressão de satisfação mal disfarçada no rosto. 

Mutano se levanta com a ajuda de uma Estelar risonha e parece emburrado, acariciando a bunda de mau humor.

— Não vale, a Estelar treinou com os Lordes das Lutas lá em Okiara – reclama quando me aproximo. Star está rindo.

— São os Lordes da Guerra, Mutano – explica, sorrindo.

— E é Okaara; eu não acho que Okiara exista – completo, rindo para o garoto verde que murmura algo como “foi isso que eu disse”. Star me olha e seu sorriso se transforma só em lábios virados para cima, mas está me olhando como se dissesse “obrigada” e eu sorrio para ela. – Ok, Mutano, você e Ravena vão lutar agora. Star e Cy, vocês estão juntos também. – Vou dizendo e os outros dois se aproximam. – Mas vai ter algo diferente. – Eu me aproximo do armário onde guardamos equipamentos e volto sob os olhares atentos dos Titãs. Estou com faixas negras nas mãos.

Ravena suspira, já percebendo o plano.

— Quando eu treinava com Batman – começo, distribuindo as faixas para eles. Mutano prende a respiração só de ouvir no nome do herói. – Ele me dizia para não confiar nos meus olhos. Uma batalha depende muito mais do que você não pode ver, do que pode – a última faixa eu entrego para Estelar, mas não solto, estou preso no seu rosto confiante. – Vocês tem outros 4 sentidos para lhe ajudarem. Façam bom proveito deles.

 

 

— Cara, eu preciso de um banho! – Mutano exclama, puxando a camiseta que gruda em seu peito, molhada por causa do suor. Ele está olhando com próprio nojo para as roupas suadas e tem os olhos baixos e cansados.

Eu ergo a mão para Ravena, que está sentada no chão, ofegante, com uma garrafa d’água, e ela se levanta em outro agradecimento. Star e Cy estão usando o saco de areia, socando-o para ver quem tem mais força “in natura”.  Olho para o relógio no alto da academia, também suado. Eu não tive nenhuma luta, mas passei boa parte do tempo ajudando Ravena e Mutano em seus movimentos, enquanto Star e Cy treinavam entre si, e, Deus, isso cansa. Principalmente quando Mutano me pediu para lhe ensinar como manusear o bastão e eu aproveitei para me exibir um pouco.

— Muito bem, Titãs, o treinamento acabou. Vocês estão dispensados – digo, juntando minhas mãos. Já estamos a quatro horas nessa. Não é muito para mim, mas sei que os outros estão cansados, principalmente Ravena. Ouço o mesmo assovio de antes e todas as pulseiras estão desligadas. Ciborgue faz um positivo com o polegar e eu aceno agradecendo. – Hoje foi ótimo, pessoal.

— Você pegou pesado – Mutano comenta, depois de ter se transformado em uma águia, só para testar seus poderes. – Mas foi legal – sorri e me dá um tapinha nas costas enquanto sai da academia.

Ravena flutua todas as pulseiras de volta para a maleta, abre-a com a energia e fecha do mesmo jeito. Parece feliz de ter seus poderes de volta. Ao em vez de andar até a saída, ela acena para mim e abre um portal negro, que creio dar em seu quarto. Desaparece logo depois.

— Rob, eu vou avisar a S.T.A.R Labs que os protótipos funcionam perfeitamente. Tem algo que você quer que eu acrescente no relatório? – Cy pergunta, uma mão no meu ombro e uma toalha em seu pescoço. Ele nem sequer soa, mas ele e BB sempre riem quando ele coloca a toalha lá.  

— Não, não. O que você quiser colocar, estou de acordo – digo, já que a tecnologia é a mesma que está nele e só Cy pode realmente entender essa parte.

Ele acena e passa por mim para sair do cômodo. Eu vou até onde os Titãs deixaram as faixas, recolhendo-as para guardar no local que pertencem. É quando percebo que Star ainda está ali. Ela está olhando as argolas que às vezes uso para treinamento – faz alguns dias desde que eu as usei de novo. Me lembram demais de quando eu ainda era um acrobata. De quando meus pais... Estelar parece perceber que estou a assistindo. Eu me aproximo, as faixas nas mãos.

— O que está pensando? – Estou de seu lado. Algumas gotas de suor descem da sua nuca, descem pelo colo e param na linha do sutiã. Eu desvio os olhos quando ela responde.

— Parece difícil. – Encara as argolas, pensativa.

— É, um pouco. – Tudo bem, é mais difícil do que isso, mas não preciso que ela saiba disso. Star voa e tem uma força sobre humana; não precisaria se esforçar para ficar ali, em Cristo. Eu, ao contrário, sou  humano.

Ela então olha para minhas mãos e depois para meu rosto.

— Você não lutou nenhuma vez – coloca sua mão na minha e puxa uma faixa. Está me olhando... Divertidamente? Eu levanto uma sobrancelha. Star tem um lindo sorriso travesso no rosto.

— Eu precisava supervisionar vocês. – Acho que ela não liga muito para minha resposta, só tira as outras três faixas da minha mão e coloca só a primeira que tinha pegado. Ainda estou com a sobrancelha arqueada.

— Não há mais ninguém para supervisionar aqui – sussurra, misteriosa, e dois dos três tecidos deslizam das suas mãos até seus pés. Um arrepio sobe na minha espinha; eu não posso descrever o quão atraente Star fica quando murmura e me olha desse jeito, esperando que eu desvende algo em seus olhos. Mais atraente do que deveria; minhas pernas estão tensas. Eu estou tenso.  — Me pega.

A palavra voa dos seus lábios do modo mais suspeito e ambíguo que já ouvi. Suas mãos vão subindo devagar pelo seu tronco, passando pelos seios, o pescoço e finalmente ela amarrou a faixa sobre os olhos, uma venda. Desliza o pé para trás, flexionando o joelho, e, de lábios entreabertos e posição de luta, está me esperando.

A venda nunca foi tão bem vinda. Eu tenho que deixar de olhar. Se eu deixar de olhar, essa sensação vai sumir. Essa maldita sensação na ponta da minha barriga. Meu coração está disparado enquanto amarro o tecido com o nó mais firme que já dei. 

Eu coloco uma das mãos para trás e ergo a segunda, tentando manter firme meus dedos trêmulos. Droga, eu já treinei com Batman mil vezes. Eu já treinei com Ravena mil vezes, e Ravena é linda. Eu e Barbara crescemos rolando pelo tatame; não é como se eu nunca tivesse treinado com uma garota. Eu só nunca me senti desse jeito com elas, nem mesmo com Barbara. Não, não era nada perto desse sentimento louco de puxar Star e beijar seu queixo, pescoço, ombro, descer pelos seus seios, até a barriga, toda a parte que seu top e short, seu uniforme, não cobrem...

Ela acerta um soco no meu maxilar e eu cambaleio para trás. Foco, Dick. Estou com os dois pés firmes no chão e eu a busco na escuridão. Star está girando ao meu redor, eu tenho certeza. Mesmo que ela seja suave, posso ouvir seus passos de felina por pura experiência. Eu sinto o cheiro doce de seu shampoo que a denunciaria em qualquer lugar; eu sinto o odor salgado do suor dela, respiração ofegante. Finalmente, eu acerto seu ombro, sua barriga.

Ela bloqueia meu chute com o antebraço e golpeia meu peito com uma cotovelada dolorida. Eu ignoro a dor e seguro seu cotovelo, girando-a para trás com força e passando meu próprio braço no seu pescoço. É tão rápido que Star não consegue me impedir e agora está presa num mata leão. Não forte, mas firme.

 O susto e nossas respirações ofegantes fazem com que ela dê passos para trás e eu a acompanho. Seu cabelo está no meu nariz, fazendo cócegas. Suas mãos sobem até meus braços e ela crava suas unhas em mim, mas não de modo dolorido. Star está tentando escapar e com toda a movimentação eu percebo o quão pertos estamos. Pertos demais. Seu quadril está roçando no meu conforme ela tenta se livrar de mim. Eu prendo a respiração. Sua bunda está roçando na minha pélvis de maneira muito mais confortável do que ela provavelmente pretende.

O “desconforto” da situação faz com que eu afrouxe meus braços – é o que Estelar estava esperando. Ela me segura e simplesmente me joga por cima da sua cabeça, direto para o chão, e eu bato as costas num grunhido de dor. Não, ela não só meu jogou. Ela usou o impulso de se jogar e está sentada de costas, em cima da minha barriga. Ela desvira antes que eu me recupere do golpe e está sentada quase no meu peito; procura minhas mãos num tatear rápido e está segurando meus pulsos bem acima da minha cabeça. Com o corpo curvado para alcançar a cima da minha cabeça, eu quase posso sentir seu peito bem a cima dos meus olhos.

— Parece... – ela ofega, mas eu ouço um sorriso na sua voz doce. – Parece que eu ganhei – diz, entre uma respiração ou outra. Céus, tenho certeza que está sorrindo, um lindo sorriso de vitória que eu queria ver.

Coloco força no meu quadril e tronco e impulsiono para o lado. Contar vitória antes fez com que ela não esperasse por isso, mesmo que me pareça um movimento óbvio. Sou eu quem está em cima dela agora, mas Star não largou meus pulsos. Eu estou em silêncio, também ofegante, mas creio que mais por toda aquela experiência do que por realmente lutar com ela. Consigo ouvir meu coração batendo nos meus ouvidos. A sensação é irritante. Estar ali, com ela bem debaixo de mim, sem fazer nada das coisas que eu estou imaginando fazer é irritante.

Deus, as coisas que eu estou imaginando.

As mãos de Star deslizam pelos meus pulsos devagar. Ela me solta, mas suas mãos passam pelo meu cabelo. Eu prendo a respiração; ela puxa a venda e a seda negra cai entre nós. Eu posso vê-la claramente agora. Nariz empinado sob a própria venda, bochechas rosadas de cansaço. Lábios entre abertos. Estamos tão pertos, sua respiração doce bate direto nos meus lábios.

Ela tateia meu rosto com cuidado, como se para conferir se a venda foi mesmo embora, e encontra a linha da minha máscara. Star não hesita. Ela puxa a máscara pela lateral e a joga no canto. Minha pele está em fogo. Eu estou queimando, tenho certeza que todo esse sangue dentro de mim está queimando.

Eu não aguento mais, quero ver seus olhos. Ela ainda está segurando meu rosto quando eu coloco minha mão direita debaixo do seu rabo de cavalo, procurando onde a venda está amarrada. Star coloca uma das mãos sobre a minha e aperta meus dedos, me impedindo. Eu junto as sobrancelhas.

— Eu não quero ver seus olhos – murmura e o ar faz cócegas no meu nariz. Eu ainda tenho o cenho franzido. Parece que ela sabe que eu não estou a entendendo. – Eu... Eu tenho medo deles, Dick – confessa, agoniada.

Estou frustrado, não quero que ela se sinta assim. Ela não tem que se sentir assim.

— Star, sou só eu. Eu juro que sou só eu – sussurro, e beijo sua testa inúmeras vezes, aperto sua mão na minha, quero garantir isso para ela.

Mas os lábios dela estão franzidos. Ela morde o inferior e, por fim, tira a mão da minha, voltando a segurar meu rosto. É quente como o inferno, mas eu não reclamo. Não posso reclamar.

— Eu só queria ter certeza de que é Richard quem vai receber isso, não o Robin – murmura outra vez e estou prestes a perguntar do que ela está falando, até que Estelar o faz.

Estelar me beija. Ela desliza os lábios sobre os meus e leva suas mãos até meus cabelos, me puxando para ela. É a sensação mais anestesiante que já senti na vida. A boca dela é macia e eu faço o que tenho vontade de fazer. Eu deslizo uma das mãos até seu quadril e a outra está na sua nuca, puxando-a para mim. É como um impulso de coragem que percorre todo meu corpo e eu entreabro seus lábios com a língua. Eu deslizo para dentro da sua boca, eu puxo seu quadril contra o meu, eu provo tudo o que ela tem para me dar.

E Star tem gosto de morango, cereja, framboesa, mirtilo, verão. Ela tem gosto de vinho caro, de champanhe. Tem gosto doce da sua sobremesa favorita, derretendo na ponta da minha língua.

 Ela tem o gosto da saudade que vou sentir quando estiver em Gotham.

 

 

 

“Então, é domingo...

Eu comprei duas camisetas daquela. Achei q seria legal.”

Eu desligo o comunicador.

— Hey, esse bolo ficou uma beleza, Cy! – Mutano comenta, quando Ciborgue finalmente coloca o bolo sobre o balcão. Ele está usando essas luvas de fornos vermelhas, que toda mãe tem, e um avental, o que deixa a coisa toda bem engraçada.

Eu encaro o bolo. É de chocolate, com muito granulado colorido e tem “Titãs” escrito em glacê cor-de-rosa. Algumas poucas velas espalhadas pelas laterais. Olha, eu comeria esse bolo agora mesmo de boa.

A sala de estar está toda decorada com balões e uma faixa colorida que Ravena conjurou. Agora mesmo ela estava ajudando Ciborgue na cozinha e está tirando alguns salgados da fritadeira. Mutano tenta dedar o bolo e Cy lhe dá um tapa na mão.

— Só depois dos parabéns, moleque, tá doido? – Eu seguro a risada e Ravena está revirando os olhos do outro lado do balcão. Mutano faz biquinho, mas olha a empata logo depois com um olhar travesso.

— Rae, sabia que você ia ficar lindo com o chapéu... – começa, apontando para o próprio chapéu de aniversário que está usando, como o de Ciborgue, e, Deus, me fez colocar também. Sinto-me meio idiota, mas fazer o quê. Feliz aniversário, Titãs.

— Nem pensar – ela diz, braços cruzados, sem traço de riso no rosto. O biquinho de Mutano volta com olhos de cachorrinho.

— Mas... Rae... – vai dizendo, com a voz manhosa. Eu ignoro e pego um refrigerante já aberto na ponta do balcão, começando a servir dois copos de vidro.

— Eu disse não! – e é como se um vendaval gelado e forte passasse pela mesa e... só levasse os chapeis, que vão acabar jogados no chão.

Mutano perde a expressão manhosa na hora. Os chapeis foram a única parte da decoração que não foi conjurado por Rae, e sim comprados por ele. É pessoal. Eu tento não rir, para não deixar Ravena mais embravecida ainda.

— Hey! Você só tá zangada por que ficaria feia de chapéu! – Ravena parece finalmente se cansar disso e, num outro vento forte, é Mutano que vai voando para a parede mais próxima. Ciborgue murmura algo sobre eles tomarem cuidado com a comida, parecendo mesmo uma mãe, e eu pego os dois copos já cheio. No caminho para o sofá, me abaixo para pegar um dos tais chapeis.

Star está sentada calmamente no sofá, olhando em direção ao bolo que Cy fez. Sempre achei seu rosto fácil de ler, seus olhos sempre me diziam coisas, mas não nesses últimos três dias. Eu me sento do lado dela e ergo um dos copos, entregando-a. Ela olha de forma misteriosa para o copo, mas o pega.

— Não precisava – murmura, bebendo um gole.

Eu também bebo do meu, tentando não encarar seus lábios. Finalmente é domingo. Ontem, depois do nosso beijo, do segundo beijo que ela me deu, mas o primeiro que realmente conta, nós nos levantamos sem falar sobre. Ela arrancou a venda dos olhos e saiu antes que eu colocasse minha máscara de volta. Eu fiquei sozinho na academia. Eu a conhecia melhor do que ninguém; Star não queria falar sobre. Eu preciso respeitá-la... Ainda mais agora.

Deixo meu copo no chão por um momento e ergo o chapéu que peguei. Eu coloco o chapéu na lateral da sua cabeça e passo o elástico por debaixo do seu queixo.

— Pronto, agora parece que estamos numa festa de aniversário – digo, com um sorriso, voltando a pegar o copo do chão. – Você deve ser a única pessoa que não parece idiota com isso – murmuro, quase sem querer. Star está, na verdade, fofa com o chapéu. Ela olha para cima como se pudesse vê-lo e volta a tomar o refrigerante.

— Por que usar tal artefato durante uma festa? É parte de um jogo? – pergunta. Nós já tivemos outras festas na Torre, as Rae nunca tinha conjurado os chapeis.

— Hm... Para ser sincero, Star, eu não tenho ideia. Deve haver algum motivo ligado aos festivais dos nossos ancestrais, acredito. – Essa é realmente uma pergunta difícil. Ela chacoalha a cabeça.

— É engraçado como vocês continuam fazendo rituais sem realmente saber o motivo por trás deles – comenta, tomando outro gole de refrigerante. Eu dou de ombros.

— Bem vinda a Terra – brinco, terminando finalmente o meu. Eu a encaro em silêncio. Star bebe tudo, sem tirar os olhos da minha máscara. Não estamos falando sobre nada com essa troca de olhares, mas ela espera por alguma coisa. E eu também. Ela acena a cabeça, como se dissesse que está tudo bem. Eu aceno de volta.

Me viro para os balcões e estão Cy e Rae conversando enquanto bebem refrigerante e comem alguns petiscos, enquanto Mutano murmura uns xingamentos e vai recolhendo os chapeis, ainda no chão. Na hora em que me viro Ravena põe os olhos em mim e se cala. Eu me levanto.

— Tem algo que eu preciso falar com vocês – digo, alto, para que os três saibam que estou me referindo a eles. Cy deixa seu copo em cima do balcão e vem na direção dos sofás, assim como Ravena e Mutano. Eles se sentam do lado de Estelar, que solta um suspiro longo. BB parece tenso, Cy está sério. Acho que eles sabem o que vou falar; devem ter desconfiado desde o dia em que Batgirl veio aqui. Rae está indiferente. Sinto meu coração batendo forte. – Eu menti para vocês. Batgirl não veio só me falar dos problemas de Gotham... Ela veio me buscar. Nós dois praticamente crescemos juntos e temos uma amizade forte que dura até hoje. Ela não acha que minha discussão com Batman tenha sido bom, e, conforme o tempo passa, tampouco eu. Eu preciso resolver as coisas com ele, eu preciso visitar Gotham.

Todos estão em silêncio. Star encara o chão. Ravena acena com a cabeça, provavelmente ouvindo toda a confusão que passa na minha mente e tentando me tranquilizar. Mutano está entre choque e admiração – aposto que está torcendo para que Batman passe aqui e me busque de Batmóvel. Ciborgue é o primeiro que fala, e está controlado, usando aquela voz que me faz lembrar que ele é mais velho que todos nós:

— Robin, você tem que fazer o que seus instintos te dizem para fazer. Os Titãs estão aqui para te apoiar em qualquer decisão que você tenha, nós somos sua família – ele diz e seu único olho humano é tão sincero que eu murmuro um agradecimento.

— Cy tem razão, Robin. Vá e volte para nós de mente e corações limpos – Ravena completa, a capa caindo na frente do seu corpo como, realmente, um corvo.

Mutano ainda está de boca aberta.

— Ciborgue, você é quem eu mais confio em liderar o time enquanto eu estiver fora, eu preciso que você me envie relatórios diários se algo acontecer – falo, colocando minha mão em seu ombro. Ele balança a cabeça, concordando, e eu nunca duvidei dele. Eu volto a falar com todos. – Mas eu não quero e nem pretendo demorar. Não acho que vou levar duas semanas lá, eu só preciso de um tempo para... para resolver tudo. Eu vou entrar em contato todos os dias que eu puder e ajudar vocês, mas acho que essa última parte não vai ser necessária. – Eu sorrio, tentando mostrar que acredito plenamente em todos eles. Star ainda não tirou os olhos do chão.

— Você tem minha palavra, eu vou liderar o melhor que puder. A cidade não vai nem sentir falta dessa sua calça apertada – Ciborgue brinca, mesmo que sua expressão revele um pouco de preocupação.

Mutano abre e fecha a boca, soltando uns pequenos fios de voz que fazem Ravena arquear a sobrancelha, incomodada. Eu sei exatamente o que ele quer dizer. Suspiro.

— Sim, Mutano, eu te trago um suvenir de Gotham – balanço a cabeça. Se Estelar aceitasse tão fácil como ele... BB continua a mover a boca, tentando falar algo. Ravena esconde o rosto na mão, num facepalm. Eu suspiro de novo. – Batman não vai me dar um autografo. Mas eu vou tentar, juro. – Ele finalmente fecha a boca e fica em silêncio de vez, mas com os olhos brilhando. Eu olho para Estelar e, automaticamente, os dois meninos seguem meu olhar. Ravena nem se move, ela está encostada no sofá e séria, muito séria. – Acho que podemos voltar para a festa, eu não vou até que esteja de noite.

Assim que acabo de falar, Estelar se levanta.  

— Há algo que eu necessito anunciar também, amigos – diz, amena. Eu pisco para ela, confuso. Isso eu não estava esperando. – Robin, por favor? – Ela aponta com o queixo para o sofá e eu franzo o cenho, mas me sento onde ela estava, devagar.

Mutano e Ciborgue olham de mim para ela, confusos. Já tinha sido muita informação eu falar que iria para Gotham. Ravena não aparece abalada, porém. Ela sabe.

— Esse aniversário dos Titãs me fez lembrar de muitas coisas que vivemos juntos – ela começa, transparente como água. É um misto de calma e ansiedade. – Especialmente da noite que vim parar aqui, na Terra. Como vocês sabem, eu sou a menina mais nova do meu pai, e depois do que minha irmã fez, sou a primeira para a coroa. Eu tenho... responsabilidades com Tamaran. Responsabilidades essa que vim negligenciando até agora. Mais do que isso, eu também sinto muita falta do meu planeta. É por isso... – Estelar lambe os lábios e o gosto do seu beijo está na minha língua outra vez. – É por isso que eu vou visitar Tamaran por tempo indeterminado.


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Notas finais do capítulo

*eu não reviso, escrevo de uma só vez, então perdoem os erros*

Eu estou escrevendo uma fanfic baseada no episódio How Long Is Forever, que ela vai parar no futuro e tal, porém ela vai cair no universo de Young Justice ;] tá ficando bem legal, eu acho que vocês vão gostar. Já tem 10 mil palavras, mas não vai ser muito longa, então acho que vou esperar concluir haaha

Provavelmente teremos, no futuro, um capítulo intitulado Ravena, hm, hm...

Por favor, me deixem saber oq vcs estão achando! É importante para mim ;]



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