Lar escrita por MJthequeen


Capítulo 4
Estelar


Notas iniciais do capítulo

Hey gente, acabei de escrever o capítulo! ;D
Alguns detalhes sobre:

— eu escolhi levar o universo da animação em conta. Ou seja, é uma fanfic muito mais próxima do desenho do que das HQs, ok? xD é aquela palhaçada deles fazerem tudo de uniforme, todo mundo só se chamar pelos nomes de herói, etc rsrs eu escolhi assim pq quis desenvolver os personagens como são apresentados lá, apesar de preferir muito mais o Dick das HQs e a Kory de lá tbm haha e com animação, eu quero dizer só o desenho mesmo, pq o universo animado novo da DC é outra história né kk e apesar de gostar do Asa de lá, achei a Rae nova demais :(

— Se vcs assistirem #62, Go! (n sei como chama aqui, eu assisti tudo em inglês :( Atacar??), vão ver que no final eles só tem comunicadores e não são os Jovens Titãs realmente haha então eu finjo que houve uma pausa de uns 2 meses antes deles montarem o time, e não acho que a Estelar, uma alien totalmente perdida, ia ter tempo de se situar nas notícias e saber exatamente quem é o Robin, o Batman, etc kk por isso essa ignorância dela aqui, ok??

— Meus capítulos podem ser longos ou curtos, depende muito do meu humor. Essa é uma fanfic um tanto quanto mais profunda, por isso tem descrições longas e, talvez, cansativas. Por favor, saiba disso na hora de ler e tenha paciência comigo ♥

— Resolvi usar BB pra não ter que repetir Mutano sempre. É o apelido do Mutano na versão em inglês, pq o nome dele é BeastBoy hahaha como eu disse, eu sigo o desenho e lá eles escolheram não falar a identidade dos heróis, no caso Garfield, né xD se isso incomodar alguém, é só avisar que eu posso tentar mudar ;)

É isso, obrigada todos que estão lendo, até!

Boa Noite, Gotham!!!!!



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Lar

 

Eu semicerro os olhos. Posso ouvir um som como elásticos sendo esticados e de repente Batgirl está flutuando no ar, um pontinho negro que mal posso enxergar sob a luz do luar. Quando percebo, meus olhos estão ardendo em verde.  Eu forço a mandíbula e então alcanço voo, sem conseguir pensar em mais nada. Quero alcançá-la; vou alcançá-la.

Então dedos cobrem meu tornozelo com força, me parando. Olho para trás, meu rosto impassível, mas as íris em chamas verdes são pouco acolhedoras.

— Ciborgue, eu exijo ser solta agora mesmo – ralho, um tom de voz que eu sei que não deveria usar com ele.

Eu poderia flutuar mesmo com seu peso – eu poderia carregar mais 50 dele com pouco esforço. Mas seu rosto sério faz com que eu sequer pense nessa possibilidade. Ele me puxa devagar, fazendo pressão com seus dedos, como se me dissesse com gentileza para voltar.

— Você o ouviu – diz em um tom calmo, conforme vou ficando cada vez mais perto dele, mais perto do chão. – Ele precisava falar com ela sozinho. Quando voltar, tenho certeza que vai te dar alguma explicação. – Estou com os dois pés no chão e abraço meus próprios ombros, uma expressão frustrada que não posso evitar. Eu estou tão confusa. Ciborgue acaricia meus ombros, como se pedisse desculpas. Então olha para os outros dois titãs. – Vai nos dar uma explicação – conclui e eu sei que está pensando sobre o alarme não ter tocado.

Robin programou que o alarme a reconhecesse – é a única explicação possível.

Mutano não parece ter ouvido uma palavra sequer do que Ciborgue disse. Ele olha de olhos arregalados para todos nós.

— C-Cara! A Batgirl tava aqui! A Batgirl tava na Torre! – exclama, apontando para o local onde a garota tinha estado de pé como se fosse sagrado. Ele abre a boca para falar mais alguma coisa, mas Cy ergue a mão, um símbolo universal de “pare”. Não acho que era para eu notar, mas sua cabeça move levemente na minha direção e Mutano me olha parecendo arrependido.

— Quem é essa... Batgirl? – O nome parece familiar, mas não importa o quanto eu me esforce, não me lembro de quem é ela. É frustrante, pois sei que já ouvi falar sobre e geralmente não tenho esse problema de memória.

Robin saiu com ela. Robin a chamou por um nome... Barbs... e ela o chamou por outro na minha frente – nenhum dos outros titãs ouviu. Dick. Eles se conhecem. Mais do que isso, eles se conhecem há muito tempo. Meu estômago principal está embrulhado.

Encaro ambos os garotos, arqueando a sobrancelha, ainda me abraçando. Os dois se olham e depois olham qualquer ponto que não seja eu, Mutano coçando a nuca. Então procuro Ravena, que suspira escondida no capuz.

— Não é nada confirmado, Estelar, mas pelas aparições juntos e o nome que ela usa, Batgirl é outra aprendiz do Batman – explica, seu tom de voz monótono como sempre. A revelação me faz franzir o cenho. É claro, Bat. Esses dois com certeza tem uma conexão.

Eu sei quem Batman é. Um dos membros principais, mas não o que considero mais inspirador, da Liga da Justiça – que é conhecida, inclusive, em muitos sistemas planetários. Ele geralmente transparece seriedade em todas suas aparições na TV – Mutano parece sempre saber quando ele vai passar em algum canal e coloca lá.

Eu nunca prestei muita atenção nisso; é verdade que para os Jovens Titãs atuarem, precisávamos de uma autorização da Liga, mas quem arrumou isso foi o Robin. Eu nunca vi nenhum dos membros pessoalmente, apesar de temos recebido cartas escritas à mão da Mulher Maravilha, do Superman e do próprio Batman quando combatemos o Irmão Sangue, descobrindo sua base principal de operações. Já percebi que Mutano sempre olhava para Robin toda vez que Batman aparecia em alguma notícia, contudo nunca entendi o motivo e Robin sempre ignorava esses olhares. Tudo bem, como líder dos Jovens Titãs, ele provavelmente mantinha alguma linha direta com a Liga, mas que envolvimento com Batman era esse?

 — Eu não entendo. Tudo bem se essa Batgirl tem alguma parceria com ele, mas o que Robin tem a ver com o Batman? – questiono, louca para entender isso tudo de uma vez. Será que Robin está bem? Essa garota apareceu tão de repente...

Os três se olham parecendo surpresos. Eles sabem algo que eu não sei e que parece óbvio. Impaciente, eu movo as mãos para cima e para baixo, como se para me esquentar. Eu nem sequer sinto frio por causa dos meus poderes. Mutano volta a coçar a nuca.

—Star... hã... o quanto você sabe sobre o Robin? – ele pergunta devagar. Bem, o que é isso? Eles estão zombando de mim?!

— Eu sei que ele é nosso amigo e que é o líder dos Titãs! – exclamo, sentindo que a qualquer momento uma firebolt vai voar da minha mão. X’hal me ajude. – Isso não explica nada.

—O que o Mutano quis perguntar, Star, é o quanto você sabe do passado do Robin... sabe, antes dos Titãs existirem...  – Ciborgue é quem toma a vez, me olhando muito cuidadosamente e parecendo preocupado.

Inconscientemente, eu dou um passo para trás. O fogo que está sempre lá, depois do meu umbigo, parecer tremer e diminuir sua força. Tento me lembrar de algo: eu sei que Robin já visitou muitos parques de diversão quando criança, que ele gosta de café sem açúcar por que é assim que sua mãe fazia, que ele teve um grande mestre que lhe ensinou tudo sobre artes marciais, que ele só teve uma festa de aniversário com balões – e nesse momento me lembrei de como ele explicou sorrindo o que era “aniversário” e porque os humanos comemoram – aos 12 anos e que ele sentia falta de sua cidade natal. Eu não sei nem mesmo o nome dessa cidade.

Olho para todos os meus amigos. Ciborgue era um atleta antes que uma explosão corrompesse grande parte do seu corpo e ele ganhasse partes de robô; ele mesmo me contou a história um dia quando conversávamos sobre meu planeta natal e ele arrumava o T-Car. Ravena foi gerada durante uma cerimônia a um demônio intergaláctico, sua mãe foi ajudada por seres de outra dimensão e ela cresceu em um reino de paz, Azarath – eu tinha ouvido essa história duas vezes, uma com poucos detalhes, quando trocamos de corpo por causa de um vilão, e outra quando seu pai retornou. Os pais do Mutano trabalhavam viajando ao redor do mundo, quando, na África, ele foi mordido por uma espécie rara de Macaco, que não o matou, mas lhe deu seus poderes e sua cor esverdeada.

Eu sou uma princesa. Eu cresci no planeta mais lindo de todas as galáxias. Um só motivo me trouxe para a Terra, mas eu fiquei por outros 4. Meus amigos. Posteriormente, eu me apaixonei mais ainda pela Terra e pelo fato de poder ajudar todos que sofrem em mãos erradas. Eu me apaixonei tanto por esse planeta, que deixei Tamaran em minhas memórias.

Porque eu sei tanto sobre os outros, mas não sei nada sobre Robin? Eu nunca vi razão para saber: assumi que ele perdeu ou deixou os pais, percebeu sua vontade de ajudar os outros e foi atrás de alguém que o treinasse para isso. Agora que penso nisso, essa resolução parece quase... boba. Essa não pode ser a história dele, mas eu assumi que era, já que ele nunca queria tocar no assunto – me ouvia horas a fio falando sobre Tamaran e me contava costumes terrestres. Poucas coisas pessoais. Coisas que não me deixariam curiosa demais, agora percebo.

Os três entendem minha cara e sou transparente como água; eles devem saber tudo o que estou pensando só pela minha cara. Ravena dá um passo à frente e tira seu capuz.

— Vamos descer, está frio aqui – e me abraça pelos ombros, como se não soubesse que não sinto frio. Ela sabe.

 

 

 

Rae se senta no encosto do sofá, meu lado direito, a capa cobrindo suas pernas. Cy entrega uma caneca de chocolate quente (uma bebida quente feita com leite, chocolate e chantilly) para mim, outra para Mutano, guarda a última para si mesmo e estende uma xícara de chá para Ravena, que aceita com um pequeno sorriso. Não estou com vontade de aceitar, mas ele foi tão gentil quando disse que faria algo para nos esquentar, que não posso recusar. Toma o lugar do meu lado esquerdo e sorri para mim como se dissesse que está tudo bem.

Mutano está de pé na nossa frente. Olho inquieta para o cavalete flip-chart em branco. Não tenho a mínima ideia de onde ele tirou isso e Ciborgue e Rae parecem tão confusos quanto eu – Ravena com uma cara de “isso é estranho” e Cy parece ter aquele sentimento que Robin me disse se chamar vergonha alheia. Mutano deixa sua caneca esfumaçante, cujo líquido é feito com leite de soja por conta de suas escolhas alimentares, de lado e tira um bastão de algum lugar.

—Senhor – ele acena para Cy, muito sério – e Senhoritas – pisca para nós e Ravena revira seus olhos. Acho que está pensando se pode derrubar seu chá no uniforme dele. – Eu estou aqui hoje para explicar a história não conhecida do nosso amigo e líder dos Jovens Titãs... – Ele começa a cantarolar aquele “tamtamTAM” que indica mistério. Eu arqueio minha sobrancelha quando ele vira a folha e revela outra. – O único e incrível Robin! – E estende os braços para a folha, onde um desenho pouco convidativo se encontra. É só um homem palito com uma capa amarela, cabelo arrepiado e uma máscara torta. Mas Mutano está tão sério, que não tenho coragem de lhe dizer que isso não se assemelha nada com o Robin.

Ciborgue, ao contrário, explode em uma gargalhada e Rae dá um tapa no próprio rosto. Olho os dois com um sorriso amarelo.

— Cara, a única coisa nesse desenho que lembra o Robin são as perninhas finas – Cy tenta dizer entre risos, limpando lágrimas que estão saindo de seus olhos. Mutano o olha feio por ter ofendido seu desenho e eu também, mas por ter ofendido o Robin.

— Mais importante do que isso – a voz baixa da Ravena chama nossas atenções. – Por que você tem uma apresentação pronta sobre o Robin?!

— Não, o mais importante é porque isso não é um PowerPoint – Cy completa, ainda rindo um pouco. – Nós temos um computador, sabia?

Mutano, parecendo bravo, aponta seu bastão de um para o outro, me pulando.

— Hey, perguntas só no fim da apresentação! – exclama, mas posso ver suas bochechas levemente rosadas, provavelmente por causa da pergunta da Ravena. Talvez Mutano seja mais fã do Robin do que imaginávamos. Rae tem uma ponta de humor nos seus lábios e aposto que está pensando em como usar isso da próxima vez que BB “encher seu saco”. Mutano limpa a garganta num barulho extravagante e volta a ficar sério. – Como eu dizia antes dessas interrupções desnecessárias, essa é uma apresentação sobre o Robin. – Nós olhamos para o homem palito no meio da folha sem dar muita credibilidade. – Mas não só isso! Essa é uma história sobre...tamtamTAM... – e troca a folha. – Batman e Robin!

E já não é um homem palito que cobre parte da folha. É uma foto, uma foto do Robin com o Batman. Eu quase deixo a caneca cair quando me inclino no meu lugar, para olhar melhor. É a primeira página de um jornal e o título diz “A Dupla Dinâmica?” em grandes e negras letras garrafais; embaixo, os dois mascarados sobre o teto de um prédio alto, próximos de uma enorme e cinzenta gárgula. O uniforme de Batman é um pouco diferente do atual, mais cinzento do que a túnica negra que ele usa agora. A roupa do Robin é a mesma, mas ele é claramente mais novo. Ambos olham para baixo, para o resto da cidade, como se vigiassem alguém... Algo. Como se protegessem.

—Como anjos... – completo em um murmuro, sem querer. Estou tão interessada nessa imagem que poderia pular nela. Tento a ler a notícia, um pouco a baixo, mas meus olhos continuam retornando para a foto. Para o jeito como a capa do Batman parece sobre Robin. Para suas feições tão mais jovens e ainda assim corajosas.

Posso perceber pela minha visão periférica que Ravena e Ciborgue me olham e depois se olham. A sala de estar entra em um silêncio constrangedor, Mutano olha para os outros como se perguntasse se deveria mudar a folha ou me deixar ver. Há quanto tempo estou encarando?

—Hm... – Ciborgue tosse, provavelmente para desviar a atenção do que falei e do jeito como estou admirando a página. – Eu me lembro desse jornal. Eu costumava treinar no ginásio público da minha cidade e, cara, nas ruas todo mundo fala do Batman. Superman é a inspiração dos grandes, mas quando você frequenta um bairro pobre, o Batman é como uma musa – brinca, olhando o jornal com o que parece ser nostalgia. – E de repente ele aparece com um sidekick. Não qualquer um, um garoto. Não existiam heróis jovens antes, então o Robin foi quase como um espelho para mim e todos os meus amigos – explica, parecendo falar mais especificamente para mim e Ravena, que não somos exatamente desse mundo.

Mas percebo que Rae já sabe de tudo isso.

— Ninguém pode dizer que o Batman é um idiota – diz, encarando a foto também. – O jeito como conseguiram tirar essa foto... Ele queria ser visto com o Robin. Ele queria que noticiassem o novo e jovem aliado do Batman. Ele queria causar justamente o que causou em você ou no Mutano. – Ela sorri de canto ao ver nosso amigo verde enrubescido mais uma vez. – Quer dizer, ninguém tiraria uma foto do Batman, ou do Robin, se eles não quisessem assim.

Eu engulo parte do meu chocolate quente, antes que eu comece a ter uma dor de cabeça.

— Amigos, por favor, eu ainda não entendo. Batman e Robin são aliados, é isso? O que aconteceu então?

Mutano bate o bastão na folha que acabou de trocar. Agora temos setas e palavras escritas. Ele limpa a garganta novamente e Ravena revira os olhos.

— E isso é exatamente o que eu vou explicar agora, Star. Os comentários podem ser apontados depois, por gentileza – ele aponta o bastão para os outros dois Titãs, que estão controlando a risada pelo jeito aparentemente educado demais que Mutano está usando. – Pois bem, Estelar. E outros... O Batman surgiu há exatos 11 anos, numa cidade chamada Gotham. – Enquanto fala, aponta as setas com palavras chaves, como “Batman” e “Gotham”. – Essa é, ainda hoje, considerada a cidade mais perigosa dos Estados Unidos. O Batman já é impressionante por si só, sabe, combatendo todos esses vilões sem voar como o Superman, ou ter super velocidade como o Flash... Inclusive, o Batmovél surgiu nesse mesmo ano e, Star, você já viu os detalhes desse carro? Ele é tipo...

— Mutano – Ravena chama sua atenção, semicerrando os olhos. Ele coça a nuca.

— Certo, verdade. Então, o Batman tinha essa fama de atuar sozinho e ninguém nunca tinha o visto acompanhando. Foi assim por quatro anos; tempo onde ele não só controlou e diminuiu drasticamente as estatísticas de crime, como fundou a Liga da Justiça. Apesar disso, nunca tinham visto nenhum dos outros heróis em Gotham City, Batman era um cavaleiro solitário... Isso até 7 anos atrás. Foi quando aquela foto aconteceu. Quando Batman surgiu com Robin. Testemunhos, fotos juntos, tudo provava que Batman tinha um aliado em Gotham, um aliado que não fazia parte da liga da justiça e era extremamente jovem.

Eu estreito os olhos.

—Então Robin apareceu como um herói... com 11 anos? – Olho para todos eles, tentando entender essa conta. – Ele não era muito novo? Eu só fui enviada para Okaara, para ser treinada com os Lordes da Guerra, com 60 ciclos da estrela Vegas. – Percebo que os três piscam para mim, confusos. – Desculpem. Isso daria mais ou menos 14 anos.

— Ele com certeza era muito novo, Star. Mas, acredite, era o melhor que Batman podia fazer por ele naquela época – murmura, terminando seu chá. – Todas as coisas acontecem por algum motivo – conclui misteriosa. Não sei se gosto dessa resposta; Ravena sabe algo que não sabemos, fica claro pelo jeito confuso que Mutano a olha e como Ciborgue está sério.

— Hm... Então... – Mutano tosse uns segundos depois. – A Batgirl apareceu pouco tempo depois. Batman e Robin, a dupla, eram sempre vistos atuando juntos e existem diversas capturas e noticias sobre, eles eram febre na TV e na internet. A Batgirl também era vista, mas não tanto e mais em bairros específicos ou com o Robin. – Os dois garotos me encaram depois disso, mas não esboço reação nenhuma. – O fato é, mais ou menos dois anos atrás, o Robin não foi visto mais em Gotham. Nem Batman, nem ele deram nenhuma explicação sobre. Era a única noticia em diversas mídias pelo país. A dupla dinâmica desfeita... e de repente Robin atuando em outra cidade, com outras pessoas...

— Dois anos atrás... – murmuro, me encolhendo no sofá enquanto encaro as setas, “Robin” e “Jumpcity”. – A fundação dos Titãs.

Mutano acena com a cabeça para cima e para baixo, gesto de “exatamente”.

— Com isso, acho que podemos concluir que foi o Batman quem treinou o Robin e quem lhe forneceu equipamentos. Que o Batman é como um mentor para o Robin, quem lhe ensinou como ser um herói. – Mutano conclui, olhando para as folhas. Agora tem um tom mais sóbrio e mais triste do que o animado que estava usando antes. – E disso nós não sabemos nada, cara... A dupla dinâmica desmanchada... – Choraminga, apesar de estar contemplando a seta que diz “Jovens Titãs” com certo orgulho. Volta a nos encarar. – Imagina só como essa briga foi feia – diz e se joga no sofá, com sua caneca na mão. O chocolate já não parece estar tão quente, mas BB não se importa.

Todos ficamos quietos, refletindo sobre as vezes que vimos Robin bravo; sobre sua postura altamente confiável e toda as vezes que ele provou que não nos abandonaria. Por que Robin abandonou o Batman?  

Ciborgue pega o copo de Ravena, a caneca de Mutano e a minha, provavelmente para lavar, sorrindo para mim no processo. Olha nos meus olhos, que sei que estão apagados e, se fosse possível, cinzentos, e seu sorriso vai diminuindo. Antes que ele fale algo, eu interrompo com o tom mais gentil que consigo forçar.

— Eu estarei no meu quarto. – Estou pensando em tantas coisas e, ao mesmo tempo, em nada. Quero, mas nem consigo me estimular a agradecê-lo pelo chocolate e por cuidar da louça. Cy é tão gentil. Espero que meu olhar possa dizê-lo isso.

— Star, eu vou ir meditar agora. Se você precisar... – Ravena murmura, o capuz voltando à sua cabeça. Ela consegue ler o que sinto, sabe que recusarei e mesmo assim oferece, sua preocupação é tão evidente que tento sorrir.

— Não, Rae, não precisa. Obrigada.

Ela acena com a cabeça e desaparece em um buraco negro que a engole por inteiro. Antes que eu me levante, Mutano segura meu braço.

— Star, eu duvido que isso te anime, mas pra mim você é a heroína ruiva mais gatinha. – Ele dá uma piscadinha pra mim e eu consigo soltar uma risada sem graça que desaparece pelo ar.

Quando me levanto, vou andando até a porta. X’hal, queria poder voar.

 

 

 

Eu deveria estar indo em direção ao meu quarto, mas me lembro de ter deixado meu comunicador no sofá quando sentei. Dou meia volta, pensando que o Robin poderia nos chamar e então eu justamente não estaria com meu comunicador. Eu estou prestes a passar pela porta, que até mesmo se abre, quando ouço Mutano falando com Ciborgue, após se aproximar dele na pia, provavelmente para ajudar com a louça.

— Então... Você acha que o Robin pegou a Batgirl? – ele pergunta, um tom de curiosidade e admiração na voz. Eu paro no mesmo instante. Se eu entrar, sei que eles vão parar de falar. Mas, X’hal, eu quero saber a resposta do Ciborgue. Paro na parede ao lado da porta e ela permanece aberta. Isso costuma acontecer quando alguém passa perto, como Mutano acabou de fazer, por isso nenhum deles se incomoda.

Acho que estão pensando demais sobre a visita surpresa para prestar atenção em qualquer outra coisa.

— Cara, que tipo de pergunta é essa? – Não posso ver, mas pelo tom de voz acho que Ciborgue tem uma cara risonha.

Eu entrei em contato com esse termo, “pegar”, pouco tempo depois de chegar na Terra. Mutano estava falando sobre a Mulher Maravilha e o Superman, isso é, se Superman tinha pegado-a. Achei que ele estava se referindo a uma luta corporal e concordei que Super realmente pegaria a Mulher Maravilha, mas ela resistiria em pé por tempo o bastante para, talvez, derrotá-lo no cansaço. Um Ciborgue rindo e um Robin constrangido me explicaram que “pegar” também significa ter algum contato afetivo, como namorados fazem.

Mutano está perguntando se Robin e Batgirl já namoraram. Isso faz sentido; eles parecem ter a mesma idade, talvez cresceram juntos.

— Qual é, por que você acha que ela veio aqui na Torre, conversar com ele?! – argumenta BB, parecendo ter certeza de tudo o que diz. – Talvez ela seja uma dessas garotas doidas que você deixa de responder e ela decide ir no seu trabalho... Do que ele a chamou? Barbie? Vê, eles tem até apelidos.

— Barbs, eu acho – Ciborgue corrige, parecendo pensativo. – E ela o chamou de algo também. – E fica em silêncio por um segundo. – Mas eu não acho que eles tiveram algo, BB. Ou até tiveram, mas não parecia que ela estava aqui para isso... – O tom de Cy é muito mais sério do que o que Mutano está usando e acho que ele percebe isso também.

Por alguns segundos tudo o que posso ouvir é a água saindo da torneira.

— O que você quer dizer? – Mutano também fica sério de repente. Me parece uma pergunta retórica.

— Não acho que devemos ficar falando teorias antes do Robin simplesmente explicar. – Ciborgue fica em silêncio outra vez. Acho que Mutano está o encarando. Seguro minha respiração. Cy suspira. – Olha, você sabe que não pode falar isso para a Star. Ela é... Bem, os dois...

— É, cara, eu sei.

Cy suspira de novo.

— É só algo que eu pensei, mas... Acho que o Batman a enviou. Você sabe, ele não pode deixar Gotham e todos o reconheceriam onde quer que fosse. Batgirl se mistura aqui em Jumpcity.

Mutano fica quieto. Está tentando entender. Eu já entendi. Acho que minhas pernas estão tremendo.

— E? Para quê?

— Para levar Robin para Gotham, BB. Para Gotham.

 

 

 

Estou parada na frente de uma das portas do corredor principal. Eu disse que iria para meu quarto, não deveria estar aqui. Não há nada para fazer aqui. Olho para o painel digital. A senha do meu quarto é a resposta de uma antiga fábula Tamaraneana: “funxnaske”. Servir para ser servido. Papai dizia: “servir o povo para que eles te sirvam”. Eu não acredito que Robin seja movido por antigas morais de seu país, tampouco que usaria isso como senha.

Mesmo assim, meu braço se estiva. Meus dedos levantam e olho tentada para o painel. X’hal. Eu não sou assim. Eu não deveria sequer pensar em invadir o espaço privado de um colega, um amigo, meu melhor amigo. Estou desejando que ele esteja lá dentro. Que ele não tivesse saído com Batgirl para X’hal sabe onde.Fecho os olhos com força, mesmo que eu vá fazer isso, eu não sei a senha dele. Eu não consigo sequer chutar qual é.

Eu não sei nada sobre o Robin.

X’hal, eu não sei nada sobre o Robin.

Apoio a testa na porta fria, tentando conter o inicio de lágrimas que chegam até meus olhos. Será que sou uma péssima amiga? Quando me tornei tão indiferente a tudo o que envolvia, ao mesmo tempo que queria mais e mais do Robin? Sem querer, minha mão escorrega até o painel. Tiro rapidamente, pulando para trás, como se tivesse tocado em um Gordaniano. Estou morrendo de medo que algum alarme super alto comece a tocar e todos os Titãs saibam que acabei de tentar entrar no quarto do Robin.

Ao contrário do que penso, a luz do painel fica verde e a porta se abre sem fazer nenhum barulho. Pisco por alguns segundos, sem entender. O painel reconhece digitais, é verdade, mas esse é o quarto do Robin, não o meu. Por que a porta abriu? Olho lá dentro, tudo escuro. Estou tentada a entrar. De alguma forma, ele abriu para mim, certo?

É com isso na cabeça que começo a entrar, bem devagar... Quando piso lá dentro, a luz se acende automaticamente e a porta se fecha atrás de mim. A Torre está silenciosa como se fosse madrugada. Eu ergo os braços até o peito, encolhida enquanto olho atentamente cada detalhe.

Eu já estive aqui antes, quando Robin disse que precisava sair para treinar com um grande mestre. Nesse tempo, ele disse que deixaria o quarto aberto caso precisássemos de algo – foi quando Mutano nos convenceu de usar o uniforme dele. Se eu já achava o quarto impressionante antes, agora posso ver que Robin só deixou aberto por que tinha escondido muitas coisas.

Há uma cama de casal, confortável e grande, virada para uma parede onde há uma TV aparentemente com conexão de internet. Ela ligou no mesmo instante em que entrei. Uma estante completamente cheia de livros encostada em outra parede, do lado de um mural de crimes como o que há na sala de investigação – mas isso parece muita mais completo. Como se ele tivesse dedicado muito tempo para isso.

 Aproximo-me em passos lentos, como se houvessem minas no chão. Quando chego perto, posso ver alguns títulos dos livros: clássicos políticos, romances, conjuntos de poesias – muitos dos quais ele já me emprestou quando fiquei interessada na literatura da Terra. A coleção completa de Sherlock Holmes, sorrio ao lembrar que ele é um grande personagem da literatura inglesa, um detetive.

 Então passo para o quadro de investigação, que é um pouco mais alto que eu e termina perto do meu cinto. A largura deve dar mais ou menos quatro de mim. São recortes de jornais, relatórios feitos à mão, fotos, setas que apontam para 1, 2, 3, 4, até 5 referenciais. Conheço alguns nomes, como o de Slade que aparece em muitas partes, Irmão Sangue. Outros que creio já ter ouvido sobre e me fazem pensar automaticamente em Batman: Sr. Frio, Duas Caras. Coringa.

Não me sinto bem vendo esse quadro. Robin trabalha demais, eu já lhe disse isso. Se eu tivesse escolhido ficar e ser A Grande Governadora de Tamaran, a imperatriz, a Rainha,  talvez eu pensasse diferente. Mas Jumpcity nem se compara aos problemas que Tamaran, um planeta, pode oferecer. Se Robin descansasse mais... Olho para o notebook, outra coisa que não estava ali quando ele nos deixou para treinar. Está fechado e nem penso em mexer, devem ser coisas pessoais.

Ah, como se o próprio quarto não fosse individual...

Olho para dois porta-retratos ao lado do notebook. Um somos nós 5, os Titãs, em um dia no parque. Sorrio ao pegar a foto nas mãos. Robin e eu jogamos basquete nesse dia. Estava muito ensolarado e ele comprou um sorvete para nós dois logo depois; o gosto me lembrava do Glorrk que Galfore me trazia sempre que eu ficava doente.  Deixo de lado para ver o outro; esse está abaixado, o que me faz arquear a sobrancelha. Viramos quadros em Tamaran só nos dias de Hutszukg, quando acreditamos que os espíritos dos falecidos poderiam voltar em busca de vingança.

É uma foto de um garoto e um homem, ambos de costas num barco e aparentemente pescando. Como estão virados não dá para ver seus rostos, mas têm cabelos pretos e pele branca. Reconheço Robin assim que boto os olhos em seus fios arrepiados; isso me faz rir instantaneamente. Passo o dedo sobre a foto. Não sei quem é o homem. Talvez...

Deixo a foto de lado antes de concluir esse pensamento. E se for o Batman? Bem, eu não tenho nada a ver com isso, tenho? Sento-me na cama, voltando a abraçar meus ombros. Eu deveria sair daqui. A cama tem o cheiro dele e isso me conforta ao mesmo tempo em que me faz me sentir mal.

Percebo que me sentei sobre alguma coisa. Me levanto, para encontrar o que parece ser a miniatura de um celular e fones de ouvido. Mutano já me mostrou um desses, ele chamou de mp3. Eu não tinha ideia de que Robin tinha um. Pego e encaixo os fones no ouvido, curiosa em saber o que Robin estaria ouvindo. A música está pausada e eu deixo rolar sem voltar ao começo.

Aguente firme, estamos indo para casa (para casa)

Aguente firme, estamos indo para casa (para casa)

É difícil fazer essas coisas sozinho (coisas sozinho)

Aguente firme, estamos indo para casa

Para casa

 

 

 

Estão todos em seus quartos. Retiraram-se quando o relógio ainda ia dar meia noite. Duvido que Ravena esteja dormindo, mas Mutano está roncando e Ciborgue precisa, literalmente, recarregar a bateria. Não me importa que ela me ouça. Não me importa que ela resolva sair do seu quarto, vir até a sala de estar e me aconselhar a dormir – para que assim ela mesma possa dormir. Sou tão egoísta agora mesmo, mas não penso em sair desse sofá até que ele apareça. Até que ele volte.

Estou esperando e esperarei até que o dia amanheça. E se anoitecer de novo, passarei outra madrugada em branco. Robin tem que voltar. Robin vai voltar. É a única coisa que me mantém acordada na escuridão da sala – algumas poucas luzes da cidade, entrando através de nossas enormes janelas e a luz da lua ainda me deixam enxergar as coisas ao redor.

Ouço um barulho vindo diretamente do teto; alguém que abre a porta e está descendo as escadas. Levanto-me no mesmo instante, mas, sem força o suficiente para invocar uma starbolt, sou refém da lua. Não me preocupo, é ele quem aparece, suas cores vivas quase transparentes no escuro da noite. Mas ainda posso vê-lo e um sorriso estampa automaticamente meu rosto.

— Estelar?

— Dick. 


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Notas finais do capítulo

A música é Hold On, We'r Going Home, do Drake ;)
Me deixem saber se vocês estão curtindo, é isso ♥



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