Família De Marttino Sacrifício de amor(Degustação) escrita por moni


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Dois capítulos de apresentação. Quero saber o que estão achando.



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Pov – Bianca

   O cabelo hoje parece nada disposto a ajudar. Sabia que seria assim. Primeiro dia de aula. Depois de pedir transferência, chegar na faculdade assim, no meio do semestre, sem conhecer ninguém é horrível e obvio que o cabelo não iria ajuda.

   As mechas loiras não parecem nada interessadas em colaborar com minha ansiedade.

   ―Pronta? – Minha mãe surge na porta do quarto. – Vai perder a carona do seu pai.

   ―Já estou indo mamãe. – Desisto dos cabelos. Que fiquem livres e rebeldes. Me volto para olhar minha mãe. Os cabelos brancos presos num coque mal feito e os olhos carinhosos de sempre.

   Alguém sempre acha que ela é minha avó. Meu pai também passa por isso. Nasci quando eles já tinham perdido completamente as esperanças. Mamãe tinha quarenta e cinco anos. Foi um escândalo ela conta.

   Também foi perigoso. A gravidez de risco mudou a vida dos dois. Mamãe parou de trabalhar, meu pai se meteu em dividas e depois que nasci a vida deles passou a ser bem mais simples. Eu os amo ainda mais por isso.

   Meu pai está no carro, eu me sento a seu lado, aceno para minha mãe que assiste na janela nossa partida. As ruas estão movimentadas. Sete da manhã, a cidade está viva e até que gosto.

   ―Ansiosa?

   ―Um pouco. Mudar tudo assim, no meio do semestre. Quando o curso está no fim. Acho que queria continuar com as certezas que tinha em Nápoles.

   ―Eu sinto muito. Sabe que eu gostaria muito de ter continuado por lá. O emprego e a casa que sempre tive, mas...

   ―Papai eu sei. Florença é uma cidade linda e eu logo me acostumo. Vamos melhorar muito quando terminar o curso. Um ano papai e vou arrumar um trabalho e ajudar em casa. Vai ver.

   O curso de administração vai me dar condições de ajudar meus pais. Os dois não tem mais idade para tanto trabalho e quero muito dar a eles um pouco de tranquilidade.

   Meu pai estaciona em frente ao conjunto de prédios da universidade. Me sorri carinhoso.

   ―Quer que entre com você?

   ―Não é mais o jardim de infância papai. – Ele ri, me puxa para um abraço. – Amo você. Dou um jeito de voltar para casa. Obrigada.

   ―Posso te apanhar se quiser. Ainda não conhece bem a cidade.

   ―Papai. Tenho vinte anos. Posso me virar.

   ―É difícil pensar em você assim. Adulta. Ainda é minha bonequinha.

   Apenas dou um sorriso de gratidão. A vantagem de pais com mais idade é o carinho excessivo que lembra amor de avós. A grande desvantagem é a dificuldade que eles têm de acompanhar as modernidades. Papai e mamãe me tratam como se tratava moças a cinquenta anos atrás. Liberdade é algo que não conheço. Nunca pude namorar ou frequentar festas com minhas amigas. Papai está a espera do rapaz que vai bater em nossa porta e pedir para namorar. Nunca vai acontecer. Que jovem da minha idade passaria por algo assim?

   Rapazes e moças correm de um lado para outro, atrasados, alguns distraídos conversam em rodinhas. Eu ando olhando os nomes dos edifícios em busca do prédio onde vou assistir minhas aulas.

   Mordo o lábio diante do papel em que anotei o endereço do meu edifício. Ao lado do prédio de publicidade. O prédio de publicidade só pode ser esse.

   Se tem uma coisa que aprendi é que o pessoal que estuda publicidade é sempre animado, cheio de vida, colorido e divertido e um grupo está bem animado na frente do edifício de cinco andares.

   Talvez o jeito seja perguntar. Tomo coragem de me aproximar. Três rapazes e algumas moças conversam sobre a prova que vão ter em dez minutos. Fico pensando se não vou chegar bem no meio de uma prova quando finalmente encontrar minha sala.

   ―Por favor. – Todos se voltam ao mesmo tempo. Eu adoraria me dirigir a uma das moças, mas meus olhos grudam em um dos rapazes de um jeito que não consigo evitar. Primeiro acho ele bonito, depois acho que tem um ar simpático e qualquer coisa leve que convida a confiar. Meus dedos tremem com o pedaço de papel na mão. Estico para ele um tanto sem fala, ele pega com um sorriso.

   ―Perdida?

   ―Sim. Administração.

   ―Fica logo ali. Vem eu te acompanho.

   ―Enzo o gentil! – Um dos capazes provoca, o grupo ri e brinca. Fico corada e mais tensa.

   ―Cala a boca Filippo. – O rapaz que agora eu sei, se chama Enzo me sorri. – Não liga, ele é meio imaturo para a idade.

   ―Se me indicar eu posso...

   ―Primeiro dia? – Ele questiona me olhando nos olhos e afirmo. – Então tenho que ser um bom anfitrião. Vamos. Eu te acompanho.

   ―É mesmo um príncipe esse meu amigo. – Filippo ri. – Acompanha ele gata. Enzo é bom moço. Meio lerdo também, não corre risco.

   Enzo toca meu ombro de um jeito intimo que me remexe qualquer coisa no coração. Ele me força a caminhar. Faz careta e gesticula para o amigo pelas minhas costas e finjo não perceber. Ainda os escuto rindo e provocando uns metros depois.

   ―Enzo De Martino.

   ―Bianca Marchetti. – Ele me estende a mão. Ofereço a minha. Nós dois parados frente a frente. O sorriso dele é de perder o folego. Me sinto meio tonta e inocente. Me sinto tudo e nada. Confusa, ansiosa e quando sinto o calor do seu toque meu tolo coração dispara. O rosto queima e sinto raiva por reagir assim. Tão descaradamente. Eu podia ser capaz de esconder um pouco. – Obrigada pela gentileza.

   ―Veio de onde?

   ―Morava em Nápoles. Me mudei com meus pais tem duas semanas e só agora voltei as aulas. Administração.

   ―Publicidade. Me formo no próximo ano.

   ―Eu também. – Trocamos um sorriso. – Vinte anos.

   ―Como eu. Parece que temos mais coisas em comum.

   ―Não tenho certeza. – Meus olhos seguem para seu grupo de amigos que ainda escuto rir alto.

   ―Ainda não está adaptada, mas vai ter muitos amigos também. Eles por exemplo. Nem sempre são bobos assim. Só quando o Filippo está entre eles. Meu melhor amigo é um grande idiota. O rei dos idiotas eu diria.

   Não tenho uma melhor amiga. Sempre presa demais para alguma amiga querer passar muito tempo comigo. Quando uma garota nunca pode ir a lugar nenhum acaba ficando sozinha.

   ―O prédio. – Eu peço.

   ―Claro. – Ele passa o braço por meu ombro. – Onde estão seus horários? – Eu estendo a ele. – Uhm. Muito bom. Vamos sair no mesmo horário. Que acha de tomar um suco comigo e meus amigos? Assim não vai mais se sentir sozinha.

   ―Pode ser. – Eu disse mesmo isso? Ele sorri enquanto ainda com o braço em meu ombro me guia em direção a portaria de um prédio vizinho ao dele.

   ―Me espera aqui quando sair.

   ―Tem certeza?

   ―Sabe quem eu sou. Enzo, vinte anos, estudante de publicidade. Sei quem é. Bianca. Vinte anos, estudante de administração que está com medo de ter que aguentar meu amigo Filippo, mas ele melhora com a convivência. Vai se acostumar. Ou quer enfrentar tudo isso sozinha? – Ele faz um gesto amplo mostrando a universidade e não, eu não quero. Meu sorriso é uma resposta. Ele sorri de volta. – Até mais. Sua sala é no próximo corredor. Divirta-se.

   Enzo me dá as costas e desaparece tão rápido como uma flecha. Fico me perguntando se tudo foi verdade ou sonho.

   Não é nada divertido chegar em uma sala com grupos formados e me adaptar. Me sento na última fileira. O primeiro professor faz a gentileza de me apresentar. Me obriga a ficar de pé e sorrir e acenar. Me sinto bem ridícula fazendo isso.

   Depois fico em silencio por três aulas. Até que uma professora resolve que quer testar meus conhecimentos sobre a matéria e me usa o tempo todo para responder perguntas e dar exemplos.

   Se tem uma coisa que odeio é ser o centro das atenções e hoje é um dia bem irritante. Não encontro Enzo e sua turma na hora do intervalo. Almoço um sanduiche na lanchonete do prédio. Aproveito para anotar algumas coisas e rever algumas matérias.

   No fim das aulas, enquanto caminho para o lugar marcado com Enzo eu fico pensando se espero mesmo por ele ou corro para casa. Talvez ele não venha. Talvez venha e eu posso dizer depois que me esqueci, ou tive um compromisso. Quem sabe ele nem se importe. Ou jamais me encontre de novo?

   As dúvidas todas desaparecem quando eu o vejo conversando com o bedel. O homem tem uma vassoura na mão e parece rir muito de algo que ele falou. Enzo me vê caminhando. O riso dele desaparece ao me olhar.

   Não é que fique bravo, ou qualquer outra coisa. Parece apenas profundamente ligado a mim. Os olhos dele me penetram a alma. A distância vai diminuindo e a conexão continua a mesma e isso é bem estranho. Quero me desligar do seu olhar profundo e não consigo.

   ―Oi. – É tudo que consigo dizer quando paro diante dele.

   ―Oi. – Ele responde. – Esse é o... – Olhamos para o lado e não tem mais ninguém. – Era... esquece. ― Nem eu, nem ele reparamos quando o bedel partiu. Nem mesmo sabemos se ele disse qualquer coisa. – Pronta?

   ―Sim. Não posso demorar.

   ―Tudo bem, tem uma lanchonete aqui em frente.

   ―Seus amigos?

   ―Por aí. Filippo disse que nos encontra na lanchonete, sei lá. Ele vive as voltas com a Paola.

   ―Namorada?

   ―Sim. Os dois se amam.

   ―E você? – O que diabos eu estou fazendo? Acabei de perguntar se ele tem namorada. O cara vai pensar que estou tendo ideias.

   ―Também amo os dois. – Ele ri. – Mais ele. Paola é bem chatinha quando quer.

   ―Entendo. – Ele não respondeu e agora o arrependimento de ter perguntado da lugar a curiosidade pela evasiva que ele usou nessa brincadeira. – Ninguém vai ficar com ciúme? De nós dois indo tomar um suco? – Cala a boca Bianca. Cala a boca Bianca.

   ―Filippo é bem possessivo. – Olho para ele confusa. Enzo abre um sorriso bonito, mais um sorriso bonito. Atravessamos a rua e no caminho ele tem o cuidado de tocar meu ombro, como se estivesse me protegendo e me sinto uma boba por gostar disso. – Estou só brincando. Não tenho uma namorada se é o que quer saber. Ninguém com que me preocupar. Se tivesse não teria te convidado.

   ―Ah! Eu não estava... não estou pensando... não é o que está pensando eu só não... eu... – Toda atrapalhada. Pareço mesmo uma adolescente. Fecho os olhos, respiro fundo. – Esquece.

   ―Esqueci.

   Nos sentamos na calçada em uma mesinha com um arranjo de flores. A cidade está tão bonita hoje. O dia claro, o sol fraco e as pessoas parecem bonitas e isso é bem engraçado, reflete meu espirito no momento.

   ―Quer beber o que?

   ―Para mim um soco de laranja. – Uma voz chega junto com um leve tremor na mesa e logo Filippo se senta na cadeira ao meu lado. – Atrapalho?

   ―Não. – Eu respondo tímida. Enzo não parece animado.

   ―Não faz essa cara. Eu vou te dar uma carona e lavar a gata para casa.

   ―Eu não. Obrigada. – Aviso rápido. Enzo revira os olhos.

   ―Filippo... Ela nem conhece a gente. Não vai entrar no seu carro. Está doido? Que ideia.

   ―O que eu faria demais? Estão loucos? A Paola me arranca o pescoço se achar que eu estou por aí com a gata loira. Era só uma carona.

   ―Ela não quer. E você não quer suco também. Quer ir para casa. Está cansado. Ainda tem que levar a Paola para comprar algo que ela precisa desesperadamente no shopping. Sabemos disso.

   ―Errou. – Filippo ri. – Ela já está no shopping. – Seu riso se vai. Ele faz um ar entediado. – O shopping é meu maior rival. Já que não sou bem-vindo eu vou embora. Lembre-se disso amanhã quando me pedir carona logo cedo.

   ―Te espero as sete. Não se atrasa. – Enzo ri e os dois apertam as mãos. Filippo se curva e me beija o rosto.

   ―Tchau gata.

   ―Bianca. O nome dela é Bianca.

   ―Uuuhhh! Que ciúme. Tchau gata Bianca.

   Filippo nos deixa e trocamos um sorriso. Fico um tanto sem saber o que dizer. Ele parece igual. Os dois meio calados.

   ―Mandei ele embora por que ele não tem limites e estava te deixando sem graça. Não que eu queira ficar sozinho com você. Não é bem isso.

   ―Eu entendi. – Não sei se gostei, mas entendi. Isso está claro. – Quero uma Arinchatta.

   ―Claro. – O garçom surge e ele faz os pedidos. Logo as bebidas chegam. Depois de uns goles no liquido gelado e com sabor de laranja eu me recosto na cadeira e ele sorri. – Onde mora?

   ―San Marco.

   ―Sério? Eu também. – Ele mora perto. Isso é incrível. – Mora com quem?

   ―Meus pais. Sou filha única. E você?

   ―Moro com meu padrasto, uma irmã e um irmão. Os dois mais jovens. – Ele não é feliz. Não sobre esse aspecto, posso ver no modo como seu olhar parece esconder alguma tristeza. Olhos tão bonitos. Sorriso tão bonito. Tudo nele é bonito. Vai embora Bianca. Isso não vai dar certo.

   ―Nasceu aqui? Em Florença?

   ―Nasci aqui na toscana, mas em San Gimignano, Numa vila. Vila De Martino.

   ―Acho que já ouvi algo sobre esse lugar. – Fico pensativa. – Espera. O vinho De Martino? Sua família trabalha lá? Não. Você é De Martino. – Aquilo é bem estranho. Ele é um cara muito rico se for quem eu acho que é. Não devia morar em San Marco. É um bairro comum. Classe média.

   ―Eu sou, olha, se isso for um problema precisa saber que eu não sou realmente um heideiro. Quer dizer. Sou mas...

   ―Não explica. Não é da minha conta. Achei só estranho, são famosos. Soube que uma garrafa desse vinho chega a valer o preço de um carro. Talvez mais.

   ―Eu sei. Já paguei caro por uma raridade dessas.

   ―Você?

   ―Sim. Uma vez, quando eu era garoto. Estava de férias na vila e recebemos uns amigos. Tinha uma amiga minha que era capaz de se enfiar em todo tipo de encrenca e fomos brincar na adega e quebramos uma garrafa de vinho e meu pai descobriu que era um desses raros. Ele estava lá todo guardado na climatização. Era para um homem importante. Um primeiro ministro de sei lá onde. Acho que devo ter ficado de castigo uns dez anos.

   ―Que chato. E sua amiga?

   ―O pai dela enviou um presente caro para o meu pai como um pedido de desculpas e não aconteceu nada com ela como sempre. Gigi sempre se sai bem das coisas. Não a vejo tem muito tempo. Ela é grega, mora nos Estados Unidos.

   ―A vila De Martino deve ser um lugar incrível.

   ―Realmente é. A cidade é pequena. Dez minutos da vila. Todos amam minha avó por lá. Ela é a rainha da caridade. Tem um chá de caridade ou um leilão beneficente toda semana. A vila é bonita, com o perfume das videiras invadindo o quarto e aquela festa na colheita. Os colonos moram um tantinho afastados, mas são pessoas boas.

   ―Uma infância bem feliz. – Eu digo em voz alta, mas é apenas um pensamento. Seu silencio parece dizer o contrário e não pergunto.

   ―E a sua?

   ―Minha infância foi simples. Uma casa simples em Nápoles, com meus pais. Um gatinho amarelo que eu amava, bonecas e desenhos. Um pouco solitária eu acho.

   ―O que aconteceu com o gato?

   ―Gino morreu. Só fiquei sabendo uns meses depois. Meu pai disse que ele tinha viajado em férias com amigos gatos. Acreditei piamente. Até mandei umas cartinhas.

   Eu conto mais sobre meu gato e meus sonhos de menina enquanto vamos tomando a bebida gelada. Ele fala um pouco sobre suas aventuras infantis, sua amizade da vida toda com Filippo. Não muito sobre os pais e irmãos. Ou sobre o padrasto, não faço perguntas. Só aceito ouvir o que ele quer contar. O tempo voa e quando me dou conta passamos uma hora sentados ali.

   ―Nossa. Nem vi o tempo correr. Tenho que ir Enzo.

   ―Vamos juntos. Vou pegar o ônibus já que meu amigo foi embora.

   ―Meio que foi você que mandou ele embora.

   ―Ele foi por que quis. Sabia que se quisesse ele apenas me ignoraria. Vai conhecer ele melhor e vai descobrir isso sozinha.

   Fico pensando se vamos mesmo ser amigos. É bem legal pensar nisso. Que Enzo e seus amigos podem ser meus amigos também. Meus olhos procuram os dele enquanto ele retira umas notas para pagar a conta. Não sei se quero ser amiga dele. Acho que meu coração quer outra coisa.

   ―Pronta para ir? – Faço que sim e deixamos o lugar. Ele me direciona pelas ruas com uma mão nas minhas costas. – Leva uns vinte minutos de ônibus.

   ―Você não tem carro?

   ―Não. Minha avó já tentou me dar um, não quis, quem sabe agora eu mude de ideia.

   O ônibus está vazio por conta do horário. Ele vai me mostrando lugares e contando sobre a cidade. Descemos na mesma parada. Enzo não parece disposto a me deixar.

   ―Se importa se acompanha-la?

   ―Não. – Sou mesmo fraca sobre ele e isso me assusta. Continuamos a conversa. Descubro que ele mora próximo, apenas algumas quadras da minha casa.

   ―Posso te apanhar amanhã com o Filippo e vamos juntos. O que acha?

   ―Agradeço, mas não posso aceitar. Eu vou com meu pai. Eles são... como dizer? Antiquados. Ir com dois rapazes não seria algo aceitável para meus pais.

   ―Entendo. Podemos nos encontrar lá. Assim conhece melhor meus amigos. O que acha?

   ―Assim pode ser. – Paramos na porta da minha casa. Enzo me sorri. Olha o imóvel um longo minuto. – O que foi?

   ―Nada. Eu gosto. Me lembra a minha casa. Posso te dar meu telefone? – Fico surpresa. Deve ser o primeiro número de telefone de um rapaz que vou pegar. Passo o meu e anoto o dele no celular. Depois ganho um beijo no rosto. Meu coração dispara. – Até amanhã Bianca. Gosto do seu nome. Me lembra desenho infantil.

   Acho engraçado o comparativo, mas gosto. Fico parada olhando ele caminhar tranquilo. Só entro quando Enzo desaparece depois de virar uma esquina.

   ―Bianca! Seu pai já telefonou cinco vezes. – Mamãe me avisa preocupada. ― Não olhou seu celular?

   ―Desculpe mamãe. Esqueci de ligar o aparelho depois da aula.

   ―Demorou demais. Ele achou que pudesse ter se perdido pela cidade. Telefone no escritório e diga que está bem. Não faça mais isso. Por que demorou tanto?

   ―Aqui as aulas vão até mais tarde mamãe. – Sim, estou mentindo e estou fazendo isso pensando na possibilidade de mais momentos com Enzo. Nem acredito que sou eu mesma, mas sorrio. Me sinto levemente corajosa essa tarde. – Vou chegar sempre esse horário mamãe. Vão ter que entender.

   ―Estudos em primeiro lugar. – Ela diz secando a mão. – Liga para seu pai. Vou preparar algo para comer. Lave as mãos.

   ―Mamãe eu tenho vinte anos. Acho que já aprendi essa lição. – Ela me olha um tanto espantada. – Comi qualquer coisa no caminho. Vou para o quarto. Eu ligo para o papai.

   Deixo mamãe. Não é preciso ligar, antes de atravessar o corredor meu celular toca. Uma conversa de dois minutos, eu me explicando para meu preocupado pai e depois de desligar me deito na cama pequena no quarto de criança.

   Nunca tinha pensado em meu quarto assim, mas hoje acho tudo tão infantil. Rosa demais, com bonecas demais, sou uma mulher. Não posso fingir o contrário. Fecho meus olhos e penso nele. Enzo de Martino.

   Lindo demais. Rico demais também, família importante. Penso em pesquisar sobre eles. Desisto, parece ridículo, ele foi apenas gentil e acolhedor, não quer dizer nada. Mesmo assim eu me dou ao direito de fantasiar um pouco. Será que ele me beijaria? Me convidaria para sair e quem sabe se apresentaria aos meus pais?

   ―Bianca. Não sonhe tanto, ele parece bem vivido para perder tempo com uma tola feito você. – Digo em voz alta para quem sabe acreditar. Não acontece, meu sorriso bobo é prova disso e só quero que chegue logo amanhã para vê-lo mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

segunda-feira tem mais.
Amanhã posto em Paixões gregas.
Amo vocês. Acho que agora estou mesmo de volta. Com mais tempo livre de novo.
BEIJOSSS