F o r g o t t e n escrita por Lua Chan


Capítulo 7
E então o silêncio voltou




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O silêncio nos envolveu novamente, nem mesmo Ryan, minha sósia do mal, conseguiu rompê-lo com facilidade. Naquele momento, todos olhavam para Sete, como se ela fosse um milagre. Na verdade, acredito que o fato de ela estar viva era um verdadeiro milagre. Os olhos de Seis estavam marejados - ele fez questão de retirar os óculos para ver os olhos da garota a sua frente. A garota que era sua filha.

"Isso não pode ser verdade. Não é?" Sete é a primeira a dizer algo, sua voz falhava tanto que soou estranha "Eu vivi aqui por uma vida inteira!"

"Uma vida de ilusões, minha querida." completou Ryan, sem dar muito caso àquela situação "Nowhere não é seu verdadeiro lar e nunca foi."

"Então deixe-nos sair daqui. Por favor." Noah suplicou.

O Rei de Nowhere, como assim era chamado, nos olhou de cima a baixo. Senti um calafrio quando ele fez aquilo, mas fui obrigado a ignorar aquela sensação ruim. Apesar de me sentir egoísta por não estar pensando em Violet naquele momento, sabia que precisávamos mesmo sair de Nowhere. Coisas ruins poderiam acontecer se não abandonássemos o lugar. Por fim, Ryan estalou a língua e balançou a cabeça, meu coração bateu ainda mais rápido.

"Receio que não possa fazer isso, meus amigos." respondeu, simplesmente. Seis apertou a barra de seu uniforme, como se estivesse pronto para sacar as katanas a qualquer momento "Não é assim que as coisas acontecem, sabe?"

"O que você quer em troca?" arrisquei, chamando a atenção dele. Ryan revirou a cabeça rapidamente, como um reflexo.

"Você. Breach precisa de mais EVOs aqui, não é mesmo? Então é isso que ela terá."

Seis, dessa vez, não hesitou. Retirou as katanas e se posicionou na minha frente, como um verdadeiro pai faria ao seu filho.

"Você não irá tocar num fio de cabelo de Rex. Ou da minha filha." diz ele "Terá que passar por mim primeiro."

"Nah. Não vou precisar disso." o garoto debochou, estalando os dedos. Algo estranho aconteceu quando ele fez aquilo.

Vários filetes de areia nos enlaçaram, envolvendo nossos braços e pernas bem firme. Foi esquisito por alguns segundos, mas lembrei que todo o local era composto de nanites. Ryan se aproximou de mim e segurou meu queixo, forçadamente.

"É, você se parece muito comigo, Rex. Pena que não quer ser meu amigo."

De repente, quando ele se afastou de nós, uma prisão de areia foi formada em nosso redor. O pó que apertava nossos membros nos soltou, mas não conseguíamos sair daquela jaula. As grades, o chão e o próprio teto eram constituídos de uma camada de areia praticamente indestrutível. Nem meus nanites conseguiram agir naquela prisão de areia.

"Isso é inútil!" exclamou Noah, após ter chutado uma das barras da jaula "Como sairemos daqui?"

Ninguém, honestamente, estava prestando atenção a ele. Seis estava ao lado de Sete, mas eles dois não sabiam o que dizer um ao outro. Cheguei perto deles e me agachei para ficar a mesma altura que a garota e o ninja.

"Violet." Seis a chamou, ela não olhou para ele de primeira "Eu sou seu pai."

"Não, você não é." retrucou ela, instantaneamente, ainda encarando o chão. Depois de alguns segundos, ela olhou para Seis novamente "Não é e nunca vai ser."

"Eu entendo que esteja confusa, Violet." falo.

"Violeta." ela corrige, apesar de esse ser o seu nome apenas nessa estranha dimensão. Para não chateá-la e confundi-la mais ainda, cedi.

"Violeta. Certo. Escute, é difícil até pra mim, acredite. Ainda não superei o fato de eu ter, finalmente, achado a minha irmã."

"Eu não sou sua irmã!" ela grita, chamando a atenção de Noah, que estava do outro lado da jaula "Esse cara não é meu pai, meu nome não é Violet, você não é meu irmão e Nowhere é a minha casa! Vocês são apenas ilusões."

"Violet, por favor..." tento falar, mas sou logo cortado por ela.

"Não me chame assim! Eu não... eu não..." então ela começa a chorar, seus soluços interrompem suas frases no meio do caminho.

Não sei por que tive essa ideia, mas eu apenas a abracei. Abracei tão forte que provavelmente devo ter sufocado a garota. Ela me abraçou de volta, talvez por estar precisando disso. Eu entendia o que Sete estava sentindo, não por ter passado pelo mesmo que ela (e que bom que eu nunca passei), mas por simplesmente entendê-la. Ela esfava confusa demais para aceitar uma nova realidade. Como Sete havia falado, Nowhere era a casa dela, só não a verdadeira.

"Eu quero ir pra casa, Rex." ela sussurra em meu ouvido, finalmente se rendendo "Quero ver a minha mãe, ficar com o meu pai e viver com o meu irmão."

Meu coração se apertou na última parte. Se considerarmos o meu histórico, nós não somos irmãos e eu ainda não tinha decidido sobre a ideia de Seis e Holi me adotarem. Aquilo era confuso para mim e eu estava com medo.

"Você vai conseguir tudo o que quer." respondi, confiante até demais "Nós conseguiremos, Violet."

Pela primeira vez ela aceitou seu verdadeiro nome. Para algumas pessoas, um 'a' não faria tanta diferença, mas não estávamos falando apenas de uma letra do alfabeto e sim de uma realidade. Essa era a nova vida de Sete e ela teria que aceitá-la, de alguma forma. Era nosso dever ajudá-la a superar tudo isso.

"Não gostaria de interromper o momento família de vocês, mas precisaremos escapar daqui logo." Noah comenta. Ao som de sua voz, Seis se ergue do chão e ajeita os óculos de sol. Era como se nada tivesse acontecido.

"Nixon tem razão. Precisamos arrancar o colar das mãos de Ryan em menos de..." ele olha para o relógio que tinha em seu pulso, sem nenhuma expressão "1 hora"

( . . . )

Já se passaram uns 20 minutos, nosso tempo estava acabando e não havíamos conseguido resolver nossa situação. Ryan estava bem na nossa frente, como se fôssemos bichos de estimação e ele, nosso dono. O garoto andava de um lado para o outro, ouvindo os vários insultos que Noah lançava contra ele ou até recebendo alguns banhos de areia - cortesia de Violet. Ela estava irritada demais com Ryan e a única forma que conseguiu para diminuir sua raiva era atirando areia contra o Rei de Nowhere.

"Façam o que quiser. Não sairão daqui tão cedo." chiou ele, diminuindo nossas esperanças.

Antes que eu pudesse pensar em dizer alguma coisa, fui surpreendido por um estranho ruído, seguido de um baque. A prisão inteira estava se deformando. A areia que a formava caiu sobre nós. Ficamos ali sem entender nada e, pela expressão de surpresa que Ryan mostrava, nem ele entendeu.

"M-Mas o que é isso?!" o Rei de Nowhere ralhou.

"Apenas uma mudança de planos, querido." uma voz surgiu do nada. Um barulho de passos se formou atrás dele. Quando o ser se aproximou da luz, pude ver que era ninguém mais, ninguém menos que Breach.

"Breach?" Ryan exclamou "O que você está fazendo?"

"Só organizando algumas coisas."

A garota estalou os dedos e Ryan se petrificou. Isso mesmo, seu corpo inteiro se tornara pedra. Num simples toque dado por Breach, a 'estátua' de Ryan caiu e se despedaçou no chão. Ficamos atônitos, sem entender mais nada.

"Olá, Rex. Há quanto tempo." sussurrou Breach, provocando calafrios.

Meu corpo se contorceu e, pela primeira vez, eu não tive 'A Sensação' antes de ela fabricar um portal. Eu sempre sabia quando Breach estava por perto, mas desta vez foi diferente.

"O que você quer?" Sete gritou. Tentei impedi-la de dizer qualquer coisa estúpida e que pusesse nossas vidas em risco, mas ela pareceu entender. Breach repousou seus dois braços finos na cintura e os outros dois, mais grossos, ela apenas cruzou.

"Ora, que boneca mais atrevida." murmurou ela "Meus bonecos não costumam ser rudes comigo."

"Vá direto ao ponto. Por que fez isso?" questionei.

"Ora, Rexy, não está óbvio demais?" ela provocou, sua voz ficando mais misteriosa "Você é meu boneco favorito. Eu detestaria quebrar um brinquedo tão valioso como você."

Fiquei ainda mais confuso com aquilo, mas o que pude fazer? Era Breach!

"O que pretende fazer, então?" Seis pergunta, obrigando-a a virar para ele.

"O que acha que estou fazendo? Vou ajudá-los a sair daqui."

 

E então o silêncio voltou.


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