F o r g o t t e n escrita por Lua Chan


Capítulo 3
Violet




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Fiquei preso em meu quarto por três ou quatro dias, sem fazer contato com o meio externo. Muitas pessoas já vieram aqui para me animar ou para me forçar a sair (Callan, felizmente, não fez seu trabalho com excelência). Eu não estava bem. O que aconteceria depois? O bebê deles iria nascer e me substituiria para sempre? Eu não queria isso. Eu sabia que estava sendo egocêntrico e idiota, mas eu simplesmente não suportaria.

Meu corpo mole me implorava para sair desse lugar, eu realmente queria. Bobo foi a única 'pessoa' que me entendeu e respeitou as minhas emoções, sempre trazendo tacos e refrigerante para mim. Eu devorava cada pedaço com todas as minhas fibras. Era dessa forma que eu me distanciava dos problemas. Mas dessa vez algo diferente aconteceu. Dessa vez, depois desses dias, eu cedi.

"Rex" a voz embargada de Seis se fez presente pela primeira vez. Escutei o que ele tinha para falar em silêncio "Sei que isso é estranho pra você. Que nunca teve um irmão mais novo, mas eu te garanto que ainda assim será o meu filho. Quando eu te conheci, senti uma proximidade grande. Senti que, pela primeira vez, poderia ser como um pai. E sim, foi muito difícil cuidar de um adolescente tão desmiolado e rebelde como você" acabei rindo do comentário "mas nunca desisti de você, garoto. Nem eu, nem a Holi. E... temos um presente para você."

Todas aquelas palavras me deixaram contente. Me segurei para não chorar, dessa vez de comoção. Fiquei impressionado, mas deixei meus sentimentos idiotas e incompreensíveis de lado e abri a porta com um botão. Lá estava o cara que sempre cuidou de mim tão bem. Ele estava junto da Holi, talvez ela não quisesse falar naquele momento. Talvez só quisesse ouvir o que o ninja tinha para me dizer. Sem pensar duas vezes, eu os envolvi num largo e caloroso abraço, eles retribuíram.

"Oh, Rex" sussurrou a doutora, com uma lágrima em sua bochecha esquerda "Ficamos tão preocupados com você. Não faça isso de novo."

Minhas orelhas ficaram quentes de vergonha, cocei a nuca e sorri desastrosamente. Depois de segundos sorrindo, Holi me mostrou um papel. Ela hesitou em me entregar, mas o fez.

"Essa é uma certidão de adoção." Holi explicou "Pensamos um pouco e decidimos adotá-lo, Rex. Nem todos os dados estão preenchidos, então ainda não é oficial. Caesar nos permitiu fazer isso, vocês continuariam sendo irmãos de qualquer forma, mas precisamos da sua escolha."

"V-Verdade?" perguntei, analisando o papel cheio de informações sobre mim que talvez nem tivesse total conhecimento por causa da amnésia.

"Claro, garoto." Seis respondeu "Mas isso se você quiser."

Eu queria, era óbvio. Mas algo dentro de mim dizia que eu não estava preparado para ser adotado. Seria incrível finalmente chamar Seis de pai e Holi de mãe. Poder até ajudá-los a escolher o nome da criança, mas eu não senti confiança. Fiz uma escolha provavelmente estúpida, mas consciente.

"Não." falei, deixando os dois preocupados.

"Não? Como assim?"

"É... não." confirmei, saboreando as palavras com certo desgosto  "Não acho que eu esteja pronto para isso. É uma escolha importante, acredito que eu deva esperar mais um tempo, entendem?"

Seis olhou para o chão e ajeitou os óculos escuros em seu rosto. Ele virou as costas para mim e Holi tentou acalmá-lo.

"Seis, ele tem o direito. Sabíamos que Rex poderia dizer não, então não aja como uma criança."

"Tudo bem." ele murmurou "Faz sentido... faça suas próprias escolhas, Rex. Estaremos esperando."

"Que bom." Seis saiu do lugar e entrou no laboratório da doutora. Holi sorriu para mim e puxou meu braço "Ei, aonde estamos indo?"

"Para o meu laboratório" declarou "Vamos escolher o nome da sua futura irmã."

Dei de ombros e a segui. Rebecca disse que o nome deveria combinar com Schultz, o sobrenome de Seis. Foi a única informação que ela conseguiu recuperar do passado do mercenário. Ele insistia em manter seu nome em sigilo. Lá na sala estavam Noah, Bobo, Callan e outros agentes, inclusive o doutor Harshaw, o assistente que cuidou de Holi enquanto estava inconsciente.

 "Olha quem está vivo!" Bobo exclamou "Achei que eu precisaria explodir o seu quarto pra chamar sua atenção"

"Se fizesse isso, encheria seus tacos com bananas, macaco estúpido" retribuí, lembrando o quão ele odiava bananas "Por que tem tanta gente aqui? Achei que só iríamos escolher o nome"

"E vamos participar da escolha." Noah se pronunciou pela primeira vez "Mas estávamos esperando você sair de lá, cara. Você nos deixou preocupados."

"É, eu sei." falei, cumprimentando o meu melhor amigo "Mas fala aí. Quando a gente vai começar?"

E então todos anotaram diferentes nomes em papéis, à moda antiga. Até Seis deu algumas ideias. Todos os sugeridos foram colocados na mesa e Holi leu cada um com atenção.

Mary, Jade, Katherine, Baby (sugerido por Bobo), Avery, Marian... tantos outros que fiquei confuso. Então ela leu o meu e pôs a mão na barriga, como se o nome tivesse agradado a criança que carregava há 3 meses.

"Acho que ela gostou da sua sugestão, Rex." Holi riu "Então esse será seu nome, meu amor. Violet Schultz."

Todos aplaudiram alegremente, apesar de não serem os escolhidos. Pensei em Violet em homenagem a mulher que me deu a vida, há 15 anos. Violeta Salazar. Eu sentia saudade dela e de Rafael, meu pai, por isso senti que algo deles poderia existir em minha vida agora. Enquanto alguns comiam o bolo que prepararam para me receber, Noah se aproximou de mim.

"Então..." ele começou "Soube que Seis e Holi vão te adotar. É verdade?"

"Meio que é. Pedi um tempo pra decidir. Acho que eu mereço isso, não é?"

"É, claro. Mas se eu fosse você, não demoraria a decidir. Eles são perfeitos para serem seus pais."

Olhei rapidamente para Seis e Holi, eles pareciam tão felizes (por mais que Seis não esboçasse um sorriso). É, eles eram perfeitos, de fato. Não imaginaria uma família melhor do que essa.

(. . .)

E então os dias foram passando, transformando-se em meses, finalmente. A barriga de Holiday crescia com tanta rapidez que temia que Violet nascesse a qualquer momento. Sabia que ela chegaria depois de um tempo, mas não fazia ideia que seria tão cedo assim.

"Quando tudo isso vai acabar?" fiz questão de perguntar a Seis, que andava de um lado para outro ansiosamente. Estávamos esperando qualquer notícia de Holiday e do bebê, ela estava na sala de cirurgia.

"Tenha calma, garoto. Operações como essa levam tempo e paciência." Seis tentava esconder a empolgação em suas palavras, o que era até engraçado. Então eu deixei um sorriso escapar. Nunca o tinha visto daquele jeito.

"Seis, eu quero te dizer algo." sussurrei, chamando sua atenção.

"Prossiga"

"Quero que saiba que-" não pude terminar a frase, os alarmes da sala de cirurgia soaram tão alto que me deixou um pouco surdo. Dios mio, que es eso?

Duas pessoas saíram da sala, a luz vermelha dos alarmes cobriu a pele dos dois. Um deles entrou no centro de operações da Providência e o outro veio na nossa direção arfando. Depois de certo esforço, consegui identificar o rosto do doutor Harshaw.

"O que houve, David?" Seis perguntou para o homem que carregava uma prancheta "Como Rebecca e a criança estão?"

Houve um segundo de silêncio, David Harshaw lutava para respirar.

"Doutora Holiday está perfeitamente bem. Tudo ocorreu como esperado."

"Então o que foi isso tudo? Por que os alarmes dispararam?" pedi, ainda nervoso.

"O EVO metamorfo que vocês trouxeram há 6 ou 7 meses... ele escapou" Qué?

"Isso não faz sentido. Eu curei aquele cara! Me lembro muito bem disso. Ele não é mais um EVO."

"Aparentemente, você não o curou, Rex. Não por completo." Harshaw explicou com as sobrancelhas erguidas de medo "Antes de ele fugir, consegui uma amostra dos seus nanites. Comparei a amostra mais recente com a que vocês conseguiram naquela missão. Os nanites que o tornavam EVO de alguma forma conseguiram se regenerar e se tornaram mais instáveis do que antes."

"Então quer dizer que ele conseguiu se transformar num EVO novamente?" Seis questionou um pouco confuso.

"Essa é uma maneira grosseira de dizer, mas sim."

"Você não respondeu minha outra pergunta." Seis murmurou sinlenciosamente. Só agora eu tinha notado que Harshaw realmente não falou sobre Violet "Como está a minha filha?"

David evitou trocar olhares com o ninja. Se fosse ele, faria o mesmo. Os olhares de Seis eram tão mortais quanto o próprio.

"Tivemos uma complicação. A garota é saudável, mas... o EVO a levou."

"O quê?!" Seis desembainhou suas katanas e quase arrancou o pescoço do cientista, felizmente eu o deti. Com as minhas Smack Hands consegui afastá-lo para longe.

"O que quer dizer com isso, Harshaw? Foi por isso que os alarmes dispararam?" o homem assentiu com a cabeça e ajeitou os óculos.

"Sim, em parte. Temos mais um problema."

"E qual seria?" Seis pergunta, após ter se acalmado.

"Breach. Ela estava ajudando o EVO a escapar com a criança. Se ela está aqui, então..."

"Van Kleiss está por perto." cerrei as mãos com tanta força que a sucata se desmembrou no chão.


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Notas finais do capítulo

Vou chamar Branca de Breach, versão americana do nome dela (tenho as minhas razões). Espero que não se confundam.

xoxo e até



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