F o r g o t t e n escrita por Lua Chan


Capítulo 2
Paredes invisíveis




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"Ela está grávida."

Aquelas palavras deveriam ter atingido Seis profundamente, mais do que uma faca afiada. Sua boca estava aberta de surpresa e seus olhos se tornaram embaçados por lágrimas que nunca imaginaria encontrar neles. Ninguém conseguiu dizer algo de imediato, o choque abalou tanto que meus pulmões estavam sendo pressionados por uma força invisível. Meu estômago se encontrava numa zona de guerra, não sabia se conseguiria entender.

"G-Grávida... teremos um filho?" Seis questionou, deixando ainda mais clara a minha suspeita sobre quem seria o pai. Uma linha côncava se esboçou em seu rosto. Era um pseudo-sorriso. Eu ainda estava paralisado.

"Filha." corrigi "V-Vocês terão uma filha. E-Eu consegui decodificar parte do DNA da criança. Ela tem o gene XX. Eu... eu..."

"Rex, você está bem?" Seis perguntou "Você parece bem pálido"

Foi aí que eu percebi uma coisa. Eu estava bem? O enorme vazio no estômago dizia que eu estava horrível, confuso e perdido. Uma fraca luz dentro de mim lutava para dizer 'está tudo ok', mas não era verdade. Não era real, não podia ser. Fiz o que eu mais fazia de melhor: mentir.

"Uhm... é, estou sim. É claro que estou." pigarreei, tentando esconder a minha trêmula voz. Seis desviou seu olhar para Holi, que ainda estava adormecida como uma princesa. O ninja estava orgulhoso, eu consegui notar isso. Deveria estar se perguntando como nenhum dos melhores agentes da Providência foi capaz de descobrir a gravidez da doutora. Virei as costas para ele, mas antes, fui detido pela segunda vez.

"Rex..." Seis me chamou "Você vai ter uma meia-irmã." 

Não pude evitar de sorrir, mas só o fiz para deixá-lo satisfeito. Meu estômago se corroía só de pensar em ter um irmão. Eu já tinha Caesar, é claro, mas nossa relação era bem diferente. Eu me sentia mais próximo de Seis e Holi, eles foram os pais que eu nunca tive a oportunidade de conhecer perfeitamente. Isso era lastimável.

"Se não se importa... estou indo pro meu quarto." Larguei sua mão com força, forçando-me a esquecer a confusão que se formava em meu peito.

(. . .)

Eu estava no chão há alguns minutos, olhando para a parede de concreto. Bobo não estava lá, Noah também não, nem alguém que pudesse conversar comigo. Estava sozinho. Uma brisa quente que se formou numa brecha de uma das janelas me fez ter uma nostalgia, quase que como uma memória apagada. Será que eu estava me lembrando da minha antiga vida em Hong Kong ou dos meus pais? Droga, do que adianta saber. Eu ainda estava perdido em meus próprios pensamentos.

Encostei o rosto contra meus joelhos e senti algo úmido molhar a minha pele. Era uma lágrima. Quando menos percebi, já estava derramando mais uma. E então outra. Segundos depois, eu comecei a chorar, oficialmente, ao ponto de soluçar. O que estava acontecendo comigo? Por que saber que a Holi estava grávida me machucava tanto? Por que o fato de os dois virarem pais era tão... ruim?

"Droga, Rex. Se recomponha." falei para mim mesmo "Não seja idiota. Voce não é assim. Seis e Rebecca não são seus pais de verdade. Eles nunca vão ser."

Era verdade. Meus verdadeiros pais morreram em uma das maiores catástrofes biológicas já existentes. Mas depois de tanto convívio com Holiday e Seis, eu os considerei meus pais adotivos. Um dia quase chamei o ninja de 'papai' quando eu era um moleque. Será que era por isso que eu estava tão mal? Será que era porque eu seria ofuscado da vida dos meus 'pais' quando a criança deles nascesse? 

Knock knock!

Alguém batia na porta incontrolavelmente. Pelo tom, sabia que era Seis.

"Rex, abra a porta." disse a voz "Holi acabou de acordar. Gostaria de dar a notícia com você."

Quando eu estava prestes a obedecer a suas ordens, algo me fez retrair. Aquela poderia ser a última vez que meu nome seria pronunciado pelo ninja. Poderia ser a última vez que eu o veria preocupado comigo. Eu não queria que aquela fosse a última vez. Eu não queria ter que me despedir deles para sempre.

"Pode ir." resmunguei, voltando a abraçar meus joelhos "Estou cansado. Pode anunciar a gravidez da Holi sem mim. Você é o pai, afinal..."
"Não seria a mesma coisa sem você, garoto." sua voz abafada voltou a fazer presença no cômodo "Preciso de você, Rex."

"Não, você não precisa!" gritei "Tenho certeza que vai viver feliz sem mim. Sou insignificante, não sou?"

"Do que está falando? Você é como um filho para mim, Rex." aquelas palavras me machucaram. Ele estava mentindo. Deveria estar dizendo aquilo só para eu me conformar com a realidade. Eu nunca fui o preferido e nunca seria.

"Não seja ridículo! Eu não vou!"

"Quem está sendo ridículo agora?" houve um silêncio que só foi desmembrado quando eu voltei a soluçar.

Então era isso. Eles iriam se esquecer de mim. Tenho certeza que o fariam e infelizmente, a dor lancinante continuaria fazendo presença em meu coração.


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