F o r g o t t e n escrita por Lua Chan


Capítulo 1
O dia em que tudo mudou




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Acordei com uma imensurável dor de cabeça, que apenas cessou quando os barulhos ensurdecedores dos alto-falantes da Providência diminuíram. Era mais uma missão a ser cumprida, mais um EVO monstrengo a ser curado. Eu sabia disso. A voz do Cavaleiro Branco ressoava pelos corredores sinuosos da base, era como se eu estivesse preso no meu próprio pesadelo. Continuei correndo até o centro de pesquisas da Providência, esperando ansiosamente (ou não) pelo anúncio da missão. Lá estavam Bobo em suas roupas de macaco um tanto extravagantes, agente Callan e sua terrível cicatriz e Seis, o cara que se dirigiu à mim assim que cheguei na sala.

 "Rex, você viu doutora Holiday em algum lugar?" o ninja franziu as sobrancelhas, mostrando a expressão mais próxima de preocupação que eu já vi nele. Era compreensível, obviamente. Há um tempo, os dois começaram a namorar e depois de 7 meses, Holi pediu Seis em casamento (Seis era insensível demais para fazer tal pedido). Fiquei mais do que feliz pelos dois. Toda a Providência ficou, na verdade. Com exceção de Callan, claro. Ele tinha uma paixão, não correspondida, pela doutora. 

 " 'Olá, Rex!' " provoquei " 'Bom dia, grande herói. Como foram suas 4 horas de sono?' " 

 " Eu não estou brincando, garoto! Cavaleiro quer vê-la imediatamente" sua voz cobriu a minha agressivamente. Assim que falou, uma figura se formou em uma das portas do salão. Era a doutora! Ela forçou o passo até onde estávamos e se obrigou a ficar atenta a cada palavra que o grande chefe nos dizia. 

 "Desculpe... pelo atraso..." disse ela, após respirar profundamente. Seus joelhos chegaram a dobrar de tanto cansaço. Algo me dizia que ela não estava bem, Seis parecia notar o mesmo " Tive algumas complicações. De que situação estamos falando agora?" 

 Cavaleiro Branco se tornou indiferente quanto a mulher e voltou sua atenção à mim e à Seis. Por mais que eu odiasse encarar aquele homem, preferi assim. Holiday não deveria suportar uma pressão maior do que já estava naquele dia.

 "Um EVO metamorfo está atacando uma escola a poucos quilômetros daqui." a voz eletrônica e desfigurada de Branco falou "Sua missão é curá-lo e trazer amostras dos nanites dele para cá." 

 "Ha! Isso vai ser mais fácil do que roubar o chapéu do Bobo." brinquei, deixando o macaco ofendido. Branco, no mesmo instante, me atrapalhou. 

 "Você deve ser cauteloso, Rex." advertiu " Você deve, por obrigação, obter uma amostra do EVO antes de curá-lo." 

 "Mas por quê? Qual seria a merda da diferença?" 

 "Rex, Branco tem razão. Se tirarmos a amostra antes que você o cure, a organização molecular dele pode ser alterada. Se isso acontecer, não vou poder estudar mais a fundo as habilidades do metaformo." Holi complementou, dobrando ainda mais a coluna. Eu e Seis trocamos olhares, mas o ninja foi mais atencioso. Seis foi até a doutora e a segurou pela cintura.

 "O que aconteceu, Rebecca?" ele pergunta. Como resposta, ela desmaiou. Tive o cuidado de colocá-la numa maca. Holiday, definitivamente, não iria conosco. 

 "Deixe-a aqui. Callan cuidará dela enquanto vocês enfrentam o EVO" Branco garantiu. Senti o olhar frio do soldado e do ninja radiando a sala. Duvidei da possibilidade de Seis estar com ciúmes, ele era tão sensível quanto uma pedra. De qualquer forma... seguimos as ordens do Cavaleiro, esperando que Holi ficasse bem.

(. . .) 

 Tínhamos chegado da missão. Eu estava tão debilitado quanto as milhares de outras vezes que tive que enfrentar um monstro. Seis não tinha levado um arranhão sequer. Ele trazia a amostra que Branco pediu e ainda o EVO curado - ele poderia ser útil futuramente. Fomos até o laboratório, esperando receber uma sorridente Holiday em seu jaleco branco. Infelizmente, nada se realizou. A doutora ainda estava da mesma maneira que antes (talvez, ainda pior), quando fomos para a missão. Seu frágil corpo repousava sobre a maca, enquanto dezenas de fios faziam pequenos orifícios em sua pele.

 "Holi..." Seis suspirou, retirando os óculos de sol. Aquela foi uma das raras vezes que ele os retirou. A coisa estava realmente feia. 

"O que aconteceu com ela?" eu perguntei, sem esperar respostas. Felizmente, alguém falou algo.

 "Honestamente, não sabemos." um homem franzino e alto nos cumprimentou com um olhar de preocupação. Havia uma placa em seu jaleco que dizia 'Harshaw' "As coisas ficaram complicadas desde que vocês saíram. Rebecca não acordou até agora, mas suas frequências respiratória e cardíaca estão excepcionalmente bem" 

 "Então por que ela parece um maldito cadáver?" a voz de Seis soou mais ameaçadora que o próprio ninja. Ele agarrou a gola da camisa do pobre cientista, como se dessa forma pudesse conseguir todas as respostas possíveis. Era inevitável não sentir medo dele.

 "Calma, Seis. Eu posso tentar me comunicar com os nanites da Holi." sugeri, aproximando-me dela. Uma mão fria segurou meu pulso. Seis me lançou um olhar suplicante e nervoso e então me soltou.

 "Salve-a, Rex. É tudo o que eu peço" balancei a cabeça, positivamente. 

 Muito bem, vamos ver qual é o seu problema, Doc.

Minhas mãos encostaram no pescoço de Holiday, para ser mais preciso, procurei uma artéria. Os dois homens continuaram a conversar, mas cada palavra se desestruturava em minha mente como os fios de uma gigante bola de lã. Senti as linhas luminosas se formarem em meus braços e se transportarem até a área que meus dedos tocavam. Finalmente eu os vi. Seus nanites. Estavam perfeitamente regulares, nadando numa sintonia rítmica em seu organismo. 

Que estranho... o que poderia estar errado com ela?

 "Rex..." ouvi Seis sussurrar, mas não prestei atenção. Continuei a estudar os nanites de Holi, notando, por fim, algo incomum. 

thump thump. thump thump 

t-t-thump. 

thump thump thump thump. 

 Seus batimentos eram estranhos. Era como se eu ouvisse cerca de 4 batidas por segundo, enquanto o normal seria pelo menos de 2. Algo não se encaixava. 

"Rex!" 

 Isso estava me perturbando. Dúvidas sempre me trouxeram perturbação.

 "Rex, o que aconteceu?!" 

 Algo... espere... não. Não pode ser!

 "REX!" 

 Parte do meu cérebro decidiu ouvir, finalmente, a voz de Seis. Finalizei a minha comunicação com as pequenas partículas do corpo da doutora e fiquei em choque. Eu sabia o que aquilo significava, mas as palavras não conseguiram sair dos meus lábios. 

 "Garoto, o que você descobriu?" Seis perguntou, obrigando-me a dizer a coisa que mudaria sua vida para todo o sempre.

 "Ela..." hesitei, sem olhar em seus olhos negros "Ela está grávida, Seis."


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