Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 9
Os Irmãos Trannyth


Notas iniciais do capítulo

"Quando vi Aaron pela primeira vez, pude sentir o que era um amor de irmão."
— Elliot Trannyth



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Elliot

As florestas da região eram cenários de constantes aventuras vivenciadas por reis, príncipes, cavaleiros e quaisquer cidadãos que se sentissem no desejo de caminhar ou correr por seus arredores. Locais repletos de riquezas naturais e minerais. Variadas plantas. Árvores repletas de frutos extremamente saborosos, que muitas vezes eram retirados por comerciantes para que pudessem vendê-los no mercado da cidade.

Para Elliot, era um verdadeiro refúgio. Um refúgio de uma vida pesada, que exigia grandes responsabilidades e dedicações. Quando encontrava um dia disponível e estava fisicamente disposto, o que era raro de acontecer, passeava por aquelas áreas. Sentia-se de volta no espírito de quando tinha treze anos de idade e percorria as matas de Arroway, visitando o Poço dos Desejos.

Naquele momento, estava acompanhado de Aaron. Ambos se encontravam diante do estábulo do Castelo de Horgeon, à procura dos animais que fossem ideais para guiá-los. 

— O que vamos fazer hoje? — O caçula perguntou, empolgado. Os Irmãos Trannyth tinham poucos momentos realmente seus para aproveitarem, portanto, sempre que eles poderiam acontecer, eram intensamente aproveitados. — Me responda!

Havia dois cavalos próximos. O primeiro era completamente marrom e possuía a crina da mesma cor, porém, em um tom um pouco mais claro. O segundo, cujo porte era menor, tinha o pelo preto na parte de cima e branco na de baixo. Os cavalos de Hastryn eram animais resistentes e dotados de grande experiência para cavalgar dentro e fora de batalhas. Aquela geração havia sido criada por Elliot e Susan.

— Acreditei que já fosse óbvio... — O mais velho respondeu, com um sorriso malicioso, deixando que a criança adivinhasse. Caminhou até o canto em que ficavam armazenados os equipamentos necessários para garantirem a sua segurança. — Irei ensiná-lo a montar.

Os olhos azuis de Aaron se arregalaram.

— Eu não vou conseguir! — Elliot sabia que o irmão desejava aquilo mais do que tudo, mas sentia medo. Era uma criança extremamente insegura e precisava de bastante apoio para seguir os seus sonhos. Aaron levou a mão aos cabelos negros e encaracolados, preocupado. — Eles sempre me derrubam. Parece que não gostam de mim!

— Mas, sempre que isto aconteceu, você estava na companhia de um professor, não do próprio homem que os criou. — O monarca afirmou, na tentativa de transmitir um pouco de confiança para o menor, fazendo-o acreditar em si mesmo, por mais que fosse de forma mínima.

O comportamento pessimista e amedrontado de Aaron se devia, em parte, pela sua criação. As duras palavras proferidas pelo pai, Thorfin Trannyth, ecoavam em sua mente e o feriam. O homem havia melhorado consideravelmente desde a infância de Elliot, pois aprendera que os filhos eram sim capazes de realizar os seus sonhos. Não era porque os seus não foram realizados que os deles também não seriam. Entretanto, o seu passado triste o fazia expor visões rancorosas em relação aos dias atuais. Várias vezes, de forma não intencional, descontava esse sentimento negativo no menino. O intuito de Elliot era reverter essa situação.

— Está preparado?

O menino assentiu. Foi colocado sobre o cavalo maior. Em seguida, o irmão montou no mesmo animal e bateu levemente em seu traseiro, ordenando que galopasse com rapidez. Em suas mãos, tinha as redes e cordas que prendiam o segundo animal, fazendo-o segui-los até a floresta.

Era um percurso simples. Quando, por fim, passaram por todas as casas e ruas pertencentes à área urbana de Horgeon, Elliot e Aaron chegaram a uma estrada de terra que se localizava entre duas fileiras extensas e aparentemente intermináveis de árvores imensamente altas. Após atravessá-las, abriram-se dois acessos: o esquerdo e o direito. Optando pelo lado direito, depararam-se com uma larga clareira, cuja vista se direcionava a um lago circular que mostrava o outro lado que poderia ter sido tomado. Ao redor desta, existiam árvores de todas as espécies. Desde pinheiros altos, que cobriam a visão de áreas mais atrás, a macieiras, pés de melancia e laranjeiras. Plantas que tornavam o cenário paisagístico da floresta ainda mais belo e diversificado do que já mostrava ser.

Elliot parou para descansar e amarrou os cavalos em um tronco de árvore, ensinando a Aaron algumas regras básicas que ele certamente já ouvira, mas considerava importante reforçá-las.

— Como escutou em suas aulas, animais como esses são preparados especialmente para o nosso uso. Possuem equipamentos não muito apertados, pois poderiam causar problemas para respirar, sendo somente o necessário para que aqueles que os montarem possam cavalgar em completa segurança. Lembra-se das demais regras?

Antes de respondê-lo, Aaron pensou bastante, temendo errá-las.

— Temos sempre que montar pelo lado esquerdo, mas é importante aprender os dois, se acontecer uma urgência... Meu professor também disse que a cilha precisa estar bem confortável. — A criança tinha dominância parcial a respeito do conteúdo, mas era o suficiente para que Elliot se orgulhasse. Não eram todos os meninos que apresentavam rápida facilidade para montar, e o jovem teria toda a paciência do mundo para aperfeiçoar as suas práticas.

— Exato. Antes de colocarmos as rédeas, devemos prestar atenção no próprio animal, pois ele não pode se locomover durante esse tempo. Dessa forma, elas estarão no lugar ideal quando for a hora de montarmos. Vamos fazer um teste?

Elliot o colocou sobre um cavalo, ordenando que posicionasse os pés sobre o estribo pendurado juntamente com a sela. Em seguida, fez com que Aaron ficasse sobre a mesma, enquanto a segurava, para que não caísse. Após o irmão passar a perna para o outro lado, o rapaz foi, aos poucos, soltando o objeto, até sentir que a criança estava em segurança.

— Segure bem as rédeas. Fique atento ao campo de visão à sua frente e evite sentir medo. O medo nos atrapalha em diversas situações. — Percebeu que o menino tremia mais cada instante que continuava. Isso fez com que Elliot alterasse o seu tom de voz e o modo como se dirigia a ele. — Respire fundo... Pense em algo que o acalme. Qualquer coisa boa, tranquila, agradável. Um lugar bonito, uma lembrança feliz... Apenas pense!

Aaron fechou os olhos e fez o que lhe fora pedido. Após alguns segundos, voltou a abri-los e sorriu. Sua expressão aflita e nervosa deu lugar a uma relaxada, aliviada, o que fez o monarca se tranquilizar e confiar ainda mais em seu potencial. O rei se afastou e, percebendo que era o momento ideal, fez o cavalo galopar.

Inicialmente, Aaron berrou. Sem perder um segundo do tempo, Elliot montou sobre o cavalo maior, mantendo uma curta distância do primeiro, para Aaron se sentir no controle do que fazia. Aos poucos, a criança foi se acostumando com a situação e gargalhou, alegre, sentindo-se mais segura de si mesma.

...

Anoiteceu.

Os Irmãos Trannyth cavalgaram até a casa grande em que a família residia. Não era mais a mesma em que foram designados a ficar quando chegaram a Horgeon, pois Elliot ordenou que fosse construído um local especialmente para os três, mais próximo do mar e com um pequeno jardim ao redor. Aubrey auxiliava as criadas a cuidar da alimentação e das plantas, enquanto Thorfin trabalhava no comércio de peixes, em um mercado de destaque no centro da cidade, além de começar a treinar combates físicos e esgrima. Continuavam com suas tarefas de trabalho por vontade própria, para se manterem ocupados, pois foi algo que a vida os destinou a seguir por anos, sem que conseguissem deixar a rotina. Acostumaram-se ao ritmo pesado.

Bateram à porta, aguardando até que esta fosse aberta.

— Meus lindos garotos! — O rosto de Aubrey surgiu de dentro e a mulher sorriu ao vê-los.  Ela os puxou para um abraço e beijou os seus rostos. Fez um gesto com as mãos, para que entrassem. — Fiquem à vontade. Parecem estar com fome... O jantar já está preparado!

Os três andaram pelo longo corredor que levava à sala de jantar, onde a comida foi servida pelas criadas. Thorfin já se encontrava à mesa. O homem esboçou um sorriso de canto ao vê-los chegarem, apontando com uma das mãos para uma cadeira vazia ao seu lado, pedindo, de forma silenciosa, para o filho mais velho se sentar nesta.

— Gosto quando vem nos visitar. — Colocou a mesma mão sobre o ombro do filho, em um gesto carinhoso e, de certa forma, retraído. Thorfin não demonstrava muito seus sentimentos, mas Elliot sabia que o pai era uma verdadeira bomba de sensações internas. — Como foi o dia de vocês?

Todos se viraram para Aaron, aguardando por uma resposta.

— Incrível. — Aaron ficou próximo da mãe. Aubrey, ao possuir condições econômicas, pôde cuidar melhor de sua aparência e ficou ainda mais bela. Seus vestidos novos eram feitos pelas melhores costureiras do palácio. As joias a tornavam ainda mais elegante e refinada. Seus cabelos negros eram longos e bem penteados. — Estou aprendendo a montar com o melhor professor do mundo!

Elliot riu.

— Não é para tanto, garotinho... Não teria aprendido nada disso se não tivesse se empenhado e se esforçado. Pode ser difícil para alguns, mas, com força de vontade, podemos ser capazes de conseguir tudo.

— Ele está certo. — Thorfin assumiu. — Peço desculpas se fui grosseiro em alguns momentos. Quero que saiba que nunca tive a intenção de desmotivá-lo a fazer o que quer.

— Nós entendemos. — O rei respondeu, agradecendo com um aceno à serviçal que o trouxe um prato com a refeição da noite. — Está tudo bem, papai. Vamos nos esquecer destes problemas e iniciar uma nova etapa, certo? Quero que vivamos de forma saudável e, para isso, todos precisam colaborar.

— Com certeza. Em nome dos deuses, prometo que mudarei o meu jeito. — Thorfin piscou para o filho caçula. Havia cometido inúmeros erros com Elliot, mas poderia aprender com eles para não repeti-los. Anos de crescimento ainda estavam por vir. Este período poderia ser inteiramente moldado para tornar Aaron uma pessoa mais confiante.

— Em nome dos deuses! — Aubrey repetiu, ingerindo um pouco do vinho que os adultos receberam em suas taças. Para Aaron, foi servido um suco leve, também feito à base de uvas, mas que não continha álcool.

Aquela foi uma noite alegre vivenciada por uma família que havia passado por tanta dor, mas havia sobrevivido e permanecia forte. Os Trannyth se encontravam dispostos a enfrentar os próximos problemas que estavam por vir na longa trajetória conhecida como vida.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da relação dos Trannyth sendo mais explorada nesse início da história? Ainda vem muito mais coisa por aí.
O próximo capítulo falará mais sobre Hazel e sua própria jornada :)
E faltam cinco para a ação começar!!!



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