Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 3
A Grande Monarca


Notas iniciais do capítulo

Quem vos fala é Katherine Wildshade.
Esse é o início da segunda parte de uma história. Caso tenha interesse em conhecê-la, basta continuar lendo e entendendo os acontecimentos...
Nada acontece por acaso. Tudo apresenta um sentido.
Até mesmo os mínimos detalhes.



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Katherine

Após a viagem de volta, uma exausta Katherine Wildshade chegou aos seus aposentos e, de imediato, retirou as pesadas vestimentas que cobriam o seu corpo. Ordenou que as damas de companhia lhe preparassem um banho quente, pois necessitava de um tempo de relaxamento.

Estava quase que sozinha em Arroway. Com exceção de Thomas e Diana, não havia nenhum outro individuo que ousasse depositar sua confiança, pois eram pessoas com seus próprios valores e princípios, podendo estar dispostos a realizar atitudes cruéis em nome da realização de seus objetivos e planos. Thomas havia sido o responsabilizado por controlar a cidade em sua ausência. Não havia nenhum outro mais confiável para ocupar o cargo. Diana tornou-se a atual comandante das Enfermarias da Cidade, que contariam com reformas e um aprimoramento em sua estrutura medicinal.

A população de Arroway agia por si mesma. Durante todo o período tortuoso do governo de Lothar, todos aprenderam a praticar atos horrendos para protegerem as suas vidas, mesmo que, inúmeras vezes, ainda assim fossem mortos. A sociedade era egoísta, pois as decisões eram tomadas no sistema cada um por si. Katherine compreendeu isso quando muitos que pareciam apoiar Gregory em sua ascensão como membro da Guarda Real passaram a condená-lo, mesmo sabendo de sua reputação e sua honra. Havia um longo trabalho pela frente para mudar a mente do povo, e esperava que fosse capaz de, ao menos, iniciá-lo e caminhar para o progresso.

Contudo, ela também tinha os seus limites. Se alguém ousasse desrespeitar ou diminuir a sua função de rainha simplesmente por ser uma mulher, ela mostraria a sua verdadeira força, assim como na noite em que decidiu assassinar o marido. Para que a sociedade a visse como uma figura importante e imponente, Katherine deveria agir como tal, tomando medidas sérias e drásticas.

Quando o banho ficou pronto, esqueceu-se do mundo ao seu redor. Entrou na banheira e ficou submersa às águas. Águas limpas e claras. Águas purificadas, capazes de lavar a alma de qualquer ser humano.

...

Adormeceu por horas e despertou somente no dia seguinte. Após se preparar, a rainha de preto deixou o aposento e desceu a imensa escadaria em direção ao Hall Principal, que dava acesso à Sala do Trono. No interior do local, os guardas a esperavam para uma reunião que decidiria situações futuras dentro da cidade.

Adentrou os portais e caminhou pelos tapetes de tonalidade escarlate, sentando-se no grande trono que se encontrava no fim do grande espaço. Aguardou por um tempo até que toda a equipe estivesse reunida para que, finalmente, expusesse o que estava em seus pensamentos.

— Como sabem, em minha ausência, confiei o reino inteiro nas mãos de um amigo próximo, Thomas Earn. — Katherine o fitou rapidamente, sem que seu olhar mostrasse uma preferência em relação aos demais presentes. — Por conta de sua lealdade e eficiência, quero afirmar que, a partir de hoje, a Segurança da Rainha terá um novo membro. Thomas, ordeno que venha até a frente e faça o juramento oficial diante de todos os seus novos colegas de trabalho.

Thomas a obedeceu, posicionando a mão sobre o peito. Com orgulho, disse:

— “Como um membro da Segurança da Rainha, juro pela minha alma e pela minha vida que servirei e obedecerei a minha soberana até o meu último dia neste mundo. Oferecerei a minha própria vida para os serviços de proteção de nosso reino, jamais cometendo traição perante aos olhos da coroa e dos deuses”.

Katherine assentiu, permanecendo séria por alguns instantes. Olhou para os demais soldados, cujas expressões eram semelhantes. Em seguida, permitiu-se esboçar um pequeno sorriso.

— Guardas, cumprimentem o novo companheiro de vocês.

Era uma tradição, sempre que um novo integrante passava a fazer parte do grupo. Apertaram a sua mão e o abraçaram, mostrando que o jovem era bem-vindo. Katherine estava satisfeita com as reações destes, mas não demonstraria para que não encontrassem nisso uma fraqueza. Detestava que as coisas se sucedessem dessa forma, mas era um risco que não desejava correr. Uma rainha considerada bondosa demais poderia ser vista como uma rainha fraca.

Katherine explicou aos demais que o reino ainda estava em processo de reconstrução física e mental. Contrataria reformas para a reconstrução dos locais afetados pela guerra e faria o possível para apoiar as famílias que foram destruídas. Famílias de guardas mortos e de seus amigos. Jurou à equipe que usaria tudo o que estivesse ao seu alcance para amenizar a situação.

Todos se retiraram, com exceção de Thomas Earn.

— Com aquele gesto, Evelyn nos uniu... — Thomas abandonou a máscara forte e imponente mostrada aos demais colegas e se permitiu a expor um pouco de sua tristeza e sua dor para alguém que o compreenderia. — Penso nela a cada dia que passa...

— Eu também. Minha irmã foi uma verdadeira heroína em nossas vidas. — Lembrou-se dos momentos em que Beatrice e Gregory morreram. Evelyn era somente uma menina quando as duas mortes aconteceram, e precisou de uma força que nenhuma das duas sabiam que existiria.  — Cuidou de mim a vida inteira. Contudo, nunca pude valorizá-la da mesma forma...

— Não pense dessa forma. — Thomas segurou uma de suas mãos, na tentativa de confortá-la. O laço que se formava entre os dois era como uma irmandade. Uma parceria depois de muito sofrimento em comum. — Evelyn não parava de falar em você em nenhum segundo. Lembrava-se do quanto vocês se amavam e do sonho de voltarem a viver juntas um dia, mesmo que a vida na realeza as tenha impedido. Nada foi sua culpa, Majestade. Não tínhamos controle sobre as maldades de Lothar.

— Eu poderia tê-lo matado antes.

— Será que poderia? Não teria morrido na tentativa? Nos aproveitamos de um momento de fragilidade dele... Acredito que não devamos criar suposições sobre o que poderia ter acontecido. É uma tortura que não terá fim!

Katherine não soube como responder. Apenas o ouviu.

— A senhora acredita nos nossos deuses?

—Nosso pai nos instruiu a seguirmos os seus ensinamentos e acreditarmos que as divindades nos trariam tudo o que fosse necessário. Às vezes a vida humana nos traria malefícios, mas as divindades sabiam o que faziam e, no final, tudo faria sentido. Hoje, acredito que eram meras palavras de conforto...

— Penso o contrário. As coisas ocorrem no momento certo, mesmo que não exista uma explicação que sejamos capazes de encontrar. Os deuses possuem planos para nós e creio que, quando não estivermos mais neste mundo, tudo fará sentido. Um dia, veremos Evelyn novamente.

Kath ergueu uma sobrancelha.

— Você crê mesmo nisso?

— É o que me mantém vivo...

...

Mais tarde, Katherine bateu às portas do aposento do rapaz. Quando ele as abriu e a encontrou, permitiu a sua passagem para o lado de dentro e estranhou o grande sorriso que estava estampado em seu rosto.

— Thomas, tive uma ideia! — Estava ansiosa e excitada pelo pensamento que surgiu em sua mente em um momento súbito. — É algo que Evelyn, seja lá onde estiver, se apaixonará. Algo que será capaz de honrar o seu nome e, definitivamente, alterará as condições dessa cidade. Necessito que reúna todos os homens amanhã, dentro do horário da tarde, para decidirmos como se procederá o processo. Explicarei a ideia somente durante a reunião, pois sinto vontade de aprimorar o pensamento antes de expô-lo.

...

O cômodo empoeirado.

O cômodo há tempos evitado.

O cômodo cujas memórias criavam vida.

Katherine adentrou o antigo quarto em que Lothar guardava os brinquedos e objetos destinados ao seu primeiro filho homem. Com o nascimento dos gêmeos Cedric e Daevon, o aposento ganhou outra função, pois se esvaziou. A monarca se aproveitou disso para, secretamente, ordenar que fosse feita uma busca na antiga casa em que vivia com Evelyn e os pais, com o intuito de encontrar os antigos objetos que lá permaneceram, pois Gregory não morou por tempo suficiente dentro do palácio para conseguir levar para lá todos os seus pertences.

Um antigo urso feito com pelos e lãs de restos de vestimentas, que era um dos seus brinquedos favoritos na infância. Um antigo vestido, que se tratou de um presente recebido na época em que se tratava de uma jovem adolescente. Uma espada de madeira pertencente ao pai, que era utilizada nos treinamentos do mesmo nas áreas ao redor do arraial. O diário de Beatrice, provavelmente escrito com as poucas palavras que a mulher sabia, que jamais havia sido aberto pelas gêmeas, como um desejo de respeitar a memória de sua mãe. Um pente. Uma pequena mesa de madeira com pinturas feitas à mão.

Katherine se sentiu de volta ao passado. Fechou os olhos, imaginando-se correndo nos campos com a família completa. Os pais a protegendo, apanhando as filhas no colo e as abraçando com força. A felicidade sentida quando Gregory retornava para casa após um dia inteiro de trabalho. As histórias contadas em rodas noturnas. As humildes festas dentro do arraial nas datas especiais.

Mas também havia as lembranças ruins. A época em que Beatrice adoeceu tornou tudo mais negro para os três remanescentes. Era como um buraco no coração da família que jamais voltaria a ser preenchido. Evelyn e Katherine eram pequenas demais, mas perceberam o quanto a mãe fazia falta e como o amor entre ela e Gregory foi separado pela morte.

Retirou-se do local e correu para o arsenal. Apanhou a primeira espada que viu e se dirigiu a uma zona de treinamento que se encontrava vazia. Havia bonecos feitos à base de feno ao seu redor. Katherine canalizou nos mesmos os sentimentos nutridos por tudo de ruim que aconteceu em sua vida. Descontou a sua fúria neles, por mais que seus gestos fossem um pouco desengonçados, devido ao fato de não ser uma experiente em luta. Mas se tornaria uma. Era uma das metas que buscava alcançar. A sua prática já havia melhorado um pouco no tempo em que passava treinando escondida de Lothar. Sem a presença do homem, poderia se transformar em uma guerreira. Algo semelhante ao que havia vivenciado em um de seus sonhos.

Na tarde seguinte, no momento em que ocorria a reunião, Katherine finalmente se viu disposta a revelar a todos o que realmente pretendia fazer. Levantou-se do trono e caminhou ao redor dos soldados, falando em alto tom:

— O que estamos prestes a fazer mudará para sempre as condições da cidade em questão de termos sociais. — Iniciou o assunto com um pouco de relutância interna, pois não a demonstrou em público, mas, aos poucos, adquiriu confiança consigo mesma. — Ofereceremos novas oportunidades a pessoas que nunca foram vistas como realmente capazes de terem uma função própria. Implantaremos uma nova estratégia que vai afetar até mesmo ao sistema da Segurança da Rainha, mesmo que o objetivo não seja propriamente em relação ao grupo que formamos. Faremos a realização de um novo torneio. Não como os do reinado anterior, em que as pessoas necessitavam matar umas às outras, mas um em que o verdadeiro talento e a arte de lutar serão valorizados. Nós as faremos enxergar em si mesmas de que o que foi dito para elas a vida inteira não passa de uma tremenda mentira para criar uma hierarquia entre os cidadãos e fazê-los se sentirem superiores uns aos outros. — Fez uma pausa, caminhando novamente até o trono e tomando um gole da taça de água trazida por um criado. — Explicando como funcionará o processo: o torneio contará com a presença somente de mulheres. Deverá haver um número mínimo de inscritas participantes, mas todas que desejarem se inscrever e fazer parte deverão ser aceitas. Nós conheceremos seus nomes, suas histórias de vida, seus sonhos. Nós daremos a elas chances de mostrarem quem são, pois sempre tiveram esse espaço negado. Algumas certamente não conseguirão manejar espadas, portanto, deveremos oferecer um treinamento especial para que consigam. A competição não acontecerá anualmente, como o anterior, pois, desta vez, não será somente uma pessoa que receberá a recompensa, mas várias. Todas aquelas que, ao meu ver, se destacarem, independentemente de terem vencido ou perdido uma luta, terão possibilidades de crescerem. As que não conseguirem não deverão se sentir inferiores, pois a mera coragem de participar já é grande o bastante para enxergarem que são fortes e dignas.


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Notas finais do capítulo

Sei que esse final deixou vocês sem ar, né non?
Mas vamo pras opiniões porque o lindo aqui precisa saber o feedback de vocês hahahaha