Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 23
A Arena Humana


Notas iniciais do capítulo

Oie, sumidos!
Mentira... o sumido sou eu mesmo. E o bloqueio criativo não tá ajudando. Pelo menos, juro terminar essa metade do livro e preparar uma segunda incrível, mesmo que ela ainda demore muito. Não é descaso. É o contrário! Hastryn e os leitores merecem uma coisa bem feita e bem planejada.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/730308/chapter/23

Katherine

Desde que foi punido, Cedric Wildshade passou a se sentir envergonhado diante daqueles que viviam no castelo e perambulavam pelos corredores durante as horas claras. Por conta disso, dificilmente deixava seus aposentos, optando por fazê-lo somente quando fosse se alimentar ou se banhar. Preferia continuar ali dentro, espionando, através de janelas, aqueles que não estiveram relacionados à discussão com Daevon e, portanto, tinham a plena liberdade de praticar suas lutas e prosseguir normalmente com as aulas.

Katherine compreendia o seu sofrimento, mas precisava ensiná-lo a tratar melhor seu irmão. Caso fosse Daevon a cometer erros semelhantes, este seria tratado exatamente da mesma forma. Amava os filhos incondicionalmente, mas sabia que devia ser dura com ambos em alguns momentos, por mais que seu coração de mãe sempre desejasse lhes dar uma nova chance.

Conforme ambos foram crescendo, percebeu que não somente ensinava, mas também aprendia. Criar uma criança e acompanhar os seus passos desde a época de recém-nascido era uma experiência completamente diferente do que parecia quando se observava de fora. Kath pensava em como Beatrice se sentia em relação às suas filhas gêmeas, quando as tinha em seus braços e, subitamente, as via crescer e se tornarem as crianças que a viram morrer.

Adentrou o cômodo, empurrando as pesadas portas. Encontrou o garoto sentado sobre um pequeno banco de madeira, observando os acontecimentos através da janela.

— Como você está? — perguntou, disposta a iniciar um diálogo mais prolongado com o príncipe. De início, foi ignorada, pois Cedric fingiu não ter percebido ou se importado com a sua presença, continuando a espionar as outras crianças. Contudo, o silêncio não durou por muito tempo.

— Triste com o que a senhora fez. — Cedric era um menino feliz, mas, desde o falecimento de Lothar, pareceu ter se tornado uma pessoa com o coração de pedra. O pai era o seu parente mais próximo e, ao perdê-lo, fechou-se para todos os outros, evitando criar laços com qualquer outro. — Na frente de todo mundo.  

— Entenda que não senti nenhum prazer em impedi-lo de fazer o que tanto gosta, mas sei que, no fundo, conhece as razões para isso ter acontecido. — Kath se aproximou e acariciou os seus cabelos castanhos escuros. Os olhos de Cedric eram verdes como os seus. Isso, de certa forma, criava entre ambos uma conexão, pois todo o restante das características físicas dos gêmeos a fazia se lembrar de Lothar. — Daevon te ama, querido. Não pode tratá-lo com violência por causa de uma mera competição.

— A senhora sempre o preferiu... Não gosta de mim de verdade.

Katherine sentiu como se as três flechas lançadas contra o corpo de Lothar tivessem sido retornadas em sua direção e a atingido. As palavras do menino a machucaram fortemente e a deixaram com uma quase que incontrolável vontade de chorar.

— Isso não é real! Seu pai encheu a sua cabeça com tantas mentiras e o incentivou a odiar o seu próprio irmão. — Era algo que já estava enraizado. Katherine precisaria pensar em uma forma de fazer Cedric ver a vida de outra forma para que, assim, conseguisse convencê-lo de que estava errado. — Tenho algo importante a falar. Posso?

Sem se importar, Cedric deu de ombros.

— Quando esperava vocês dois dentro de minha barriga, todos ficaram com medo, inclusive seu pai. Medo porque a mãe de Charlotte morreu quando sua irmã nasceu. Pensavam que aconteceria a mesma coisa comigo. Eu mesma fiquei apavorada e pensando que poderia morrer. Mas resolvi acreditar nos deuses. — Kath apontou para a própria barriga, relembrando os meses em que a viu crescer, sentindo duas pequenas vidas em seu interior. — Fiquei feliz, Cedric. Você foi o primeiro, sabe? Desde pequeno, sempre foi tão lindo, tão querido e tão amado. Como pode dizer que não o amo?

As palavras da mãe o deixaram interessado em ouvir o que mais ela tinha para dizer. Virou-se e os dois trocaram um olhar emocionado. Os olhos verdes se encararam.

— No momento do nascimento, tive medo. Não por mim, mas por você, pois achávamos que seria somente um bebê, e esse bebê levaria o nome de Cedric. Teria sido este o nome que Charlotte receberia, caso fosse um menino. E foi tudo muito maravilhoso. Depois disso, veio uma surpresa, que foi o seu irmão. Ninguém o esperava, mas foi um complemento ainda maior para a nossa felicidade. Está entendendo como as coisas aconteceram?

Cedric cedeu às emoções. As lágrimas começaram a escorrer sem parar de seus brilhantes olhos. Abandonando por inteiro a máscara de frieza que utilizava há tempos, o garoto se levantou do assento e a abraçou com força, libertando-se de uma mágoa que somente se fortalecia. Tê-lo em seus braços era uma sensação única e reconfortante. Katherine sentiu na pele a distância que estava tendo de seu próprio filho, agradecendo aos deuses por ter a chance de fazê-la diminuir.

— Mamãe, me perdoa por tudo!

...

O momento do conflito estava para se iniciar dali a algumas horas.

Katherine sabia que, antes disso, havia algo que precisava ser feito. Não seria uma pessoa honrada se não cumprisse com aquele dever, tirando aquele curto espaço de tempo para isso.

A jovem guerreira se encontrava virada de costas, próxima das demais. A monarca do norte caminhou em sua direção e tocou em seu ombro, fazendo-a se virar, surpresa. Os outros também interromperam o que quer que estivessem envolvidos para prestar atenção na mulher.

— Demetria... Precisamos conversar a sós. Pode vir comigo?

— É claro, Majestade.

As duas se dirigiram a um canto vazio e distante da multidão. Demetria estava séria, certamente se preparando para o combate que ocorreria. O coração de Katherine se entristecia muito em ser obrigada a em revelar uma dolorosa verdade em um momento tão inoportuno.

— O que tenho para lhe dizer é algo terrível... — Tentava escolher as melhores palavras, mesmo que, no fundo, soubesse que não existia forma de confortar alguém após um acontecimento tão triste. — Preciso que esteja preparada.

Demetria respirou fundo e disse:

— O que pode ser pior do que uma batalha na qual posso ser morta?

— Segundo as notícias mais recentes vindas de Horgeon, a praga se espalhou ainda mais e afetou camadas inesperadas. Inclusive, dentro do próprio palácio, atingindo Elliot e Richard. Charlotte viajou à procura da planta cujo nome descobrimos e a informamos, mas, antes disso, pediu para que fosse redigida uma carta explicando de maneira detalhada os fatos... O que quero dizer é que... Deuses... A sua família não resistiu. A doença foi até eles e a cura não foi descoberta a tempo.

Através da mudança de olhar, Katherine Wildshade percebeu que o mundo de Demetria pareceu desmoronar ainda mais. A jovem perdeu o equilíbrio e se encostou na parede, escorregando até o chão de mármore. Seus olhos estavam arregalados, sem conseguir derramar uma única lágrima, devido ao choque inesperado.

— Não lute hoje. — Kath se ajoelhou, segurando com firmeza as mãos da mais nova. — Você precisa de um tempo para si mesma. Eu seria um monstro se escondesse o que ocorreu por motivos egoístas. Não podia cometer essa atitude.

— Jamais tomaria essa decisão depois de ter chegado até aqui. Devo honrar o nome de minha família e o nome da rainha que me aceitou de braços abertos. Me envolverei em tudo o que puder para destruir essa doença e a proliferação dela. — Demetria secou os olhos, antes de permitir que as suas lágrimas jorrassem destes, apertando, com firmeza, a mão da monarca. — Estarei na batalha.

...

— Os libertos querem um massacre? — Katherine deixou ser liberto todo o ressentimento guardado dentro de si. — É isso que terão. Matem todos os que tentarem nos fazer fraquejar! 

Todos assentiram, sem discordar de suas ordens.

Katherine foi para a uma varanda próxima, da qual era possível ouvir os gritos vindos da batalha que ocorria nas ruas da cidade. Algumas delas, bem próximas do castelo, mas uma quantidade extensa de sentinelas impedia que qualquer afetado sequer chegasse perto de tentar entrar em seus terrenos. Na rua central, ocorria o maior movimento. Os adoecidos revoltosos se esforçavam para seguirem até o fim, dispostos a aniquilar quaisquer adversários que surgissem em sua frente. Alguns tinham armas feitas à base de madeira, como estacas, arcos, tochas, lanças e espadas, enquanto outros haviam roubado as de metal pertencentes aos primeiros soldados mortos e as levantado para matar os remanescentes.

Um rebelde se distinguia dos demais em sua aparência. Sobre a cabeça, tinha uma coroa de folhas grossas. À distância que se encontrava, Katherine buscou reparar em todos, para ter a certeza se suas conclusões eram ou não corretas. Certamente, o sujeito se tratava do líder da revolução. Aquele que deveria ser morto primeiro, para fazer o povo perder a esperança naquele embate e desistisse de tentar destruir o exército de Arroway. Thomas o estava controlando, mas Kath não conseguiu reconhecê-lo sob o elmo. O manto que utilizava era diferente de outros, mas não era possível de se ver de tão longe. 

“Thomas, por favor, retorne vivo!”

Demetria e Willow também estavam irreconhecíveis, mas, pelo que Katherine viu de seus desempenhos nas lutas, as duas sabiam muito bem como manejar as armas que estavam em suas mãos. Confiou na habilidade de ambas, desejando que não perdessem suas forças por nenhum segundo sequer.

O massacre estava sendo intenso.

Era possível de se prever qual o lado que seria vencedor. Apesar de terem uma doença que atingia cada vez mais partes de seus corpos, os revoltosos estavam se esforçando verdadeiramente para cumprirem os objetivos e serem aceitos à força pela monarca. Alguns, no entanto, não estavam aptos para a prática realizada e foram os primeiros a serem dizimados pelos experientes guerreiros do norte. Outros certamente foram indivíduos que tentaram — e conseguiram — se rebelar contra seus senhores escravistas e tinham um pouco mais de prática, mesmo sem ter obtido êxito em suas revoltas anteriores. Expunham toda a mágoa, a dor, o ressentimento e o ódio mantidos guardados dentro de si durante o tempo de prisão.

Mas Katherine, desta vez, não se importou.

Tudo o que desejava era vê-los mortos e poder passar por perto de seus cadáveres, sentindo que estava segura novamente. Não tinha o desejo de fazer uma carnificina contra pessoas inocentes e não havia o interesse de espalhar sangue pela cidade, mas seu intuito era o de proteger a si mesmo e a família que possuía. A sua posição de rainha implicava que existiam momentos necessários nos quais ocorriam batalhas inevitáveis em nome do reino. Posição esta que a jovem havia aceitado no momento em que concordou com a oportunidade fornecida por Elliot para que ocupasse o trono do norte. Estava sofrendo as consequências de seus próprios atos.

Subitamente, um guerreiro teve o seu elmo arrancado da cabeça, enquanto estava em um combate corporal ocorrido em um dos pátios próximos.  Feito isso, um grupo conseguiu penetrar a barreira formada pelos sentinelas e chegou a um pátio do castelo. Os adversários se enfrentavam com socos e chutes, pois haviam perdido a posse das armas e dos escudos. A pessoa sem o elmo parecia ser Willow.

Impressionou-se com os rápidos gestos da mulher, admirando a sua força e a sua resistência. Nas conversas que tiveram, Katherine tinha se identificado muito com a história de vida de Willow, principalmente por ambas terem entrado na vida de prostituição e lidado com clientes cruéis no tempo em que passavam trabalhando no interior dos bordeis. Seria justa quando os torneios voltassem a acontecer, mas uma parte sua desejava que a nova amiga fosse uma das que mais se destacasse na competição.

Algo chamou a sua atenção.

Um barulho diferente.

Em meio à toda a carnificina, Katherine viu uma pomba branca vindo dos céus, criando uma sombra sobre seu rosto, fazendo com que seus olhos, antes atacados pelos raios solares, observassem a ave com uma maior facilidade. O animal carregava um pequeno pedaço de pergaminho, cuidadosamente amarrado com uma fita vermelha.

— Céus! O que será isto?!

Apanhou-o, retirando apressadamente a fita. Era uma carta que apresentava o mesmo selo de Horgeon presente nas que recebera anteriormente. Provavelmente traria novas notícias. Esperançosa, Katherine a abriu.

“Excelentíssima rainha de Arroway,

É com muito alívio que viemos informá-la de que Charlotte retornou em segurança à cidade com o produto que será utilizado para termos a cura em nossas mãos. Estamos preparando, da maneira mais rápida possível, os antídotos feitos através da essência retirada da erva de Abigail. Em breve, enviaremos uma considerável quantidade dessas plantas e dos nossos antídotos em segurança para o norte. Elas devem ser deixadas em extrema proteção com a equipe medicinal, sem serem tocadas por nenhum outro sujeito. Somente eles sabem exatamente o que precisará ser feito.

Espero que as coisas estejam pacíficas em seu continente...

Atenciosamente,

Arianna Luckov.”

Ficou boquiaberta.

A cura finalmente viria para aquelas pessoas, que estavam sendo movidas pelo desespero a ponto de enfrentar uma nação inteira com armas fracas para terem a chance de conseguirem um abrigo e condições melhores. Depois de ter lido a carta e refletido por alguns minutos, percebeu a gravidade do que estava para acontecer e correu para dentro. Desceu rapidamente as escadas, quase que tropeçando em alguns degraus. Atravessou as passagens que resultavam em caminhos mais rápidos para chegar ao destino desejado, conduzindo ao piso térreo e a saída para os pátios.

— Majestade?! — Um dos guardas a chamou, mas a mulher o ignorou. Ele continuou em seu encalço, desejando protegê-la. Um grupo de fiéis súditos a seguiu, obedecendo à ordem do homem. — A senhora está correndo grandes riscos.

— Sem mais questionamentos. Apenas me acompanhem e me impeçam de ser morta.

Apanhou a primeira espada afiada que viu e um escudo, para o caso de um afetado partir para cima de seu corpo. Caso contrário, os sujeitos ao seu redor seriam mais do que suficientes para impedir os adversários. Estava cercada por eles, impedindo o acesso direto de qualquer pessoa que o desejasse ter.

Dirigiu-se diretamente ao homem da coroa de folhas. Ainda estava vivo, com feridas espalhadas pelo seu corpo. Lutava arduamente por um lugar para o seu povo dentro da sociedade, visando integrá-los em modos de vida semelhantes aos dos outros cidadãos.

Os soldados o circundaram, evitando que realizasse qualquer gesto de agredi-la. Os dois líderes, a monarca e o rebelde, se encontravam dentro de uma roda gigante, uma roda viva, sem que ninguém de fora pudesse atrapalhá-los. Conforme percebiam a movimentação, mais guerreiros aliados da rainha protegiam e fortificavam a arena humana.

O líder dos rebeldes olhou ao redor, à procura de uma fresta livre para escapar. Nenhum dos aliados de Katherine facilitou a fuga, o que fez se sentir impotente e fracassado diante da monarca.

— Pare a batalha! — A mulher gritou, com o dedo apontado em sua direção. — Ordene que seu povo retorne para onde estavam abrigados!

— A senhora terá, primeiro, que tirar a minha vida para conseguir passar por cima deles! Jamais abaixaremos novamente a cabeça para regimes autoritários e vamos lutar pelo que nos foi tirado há anos!

O rebelde chegou a encostar em seu corpo, colocando as suas mãos sobre o seu pescoço, mas a rapidez de Katherine foi o bastante para acertá-lo com um chute abaixo das pernas. Sentindo uma forte dor em suas partes íntimas, o adversário perdeu o equilíbrio e caiu ajoelhado.

Katherine, agora, poderia ser afetada.

Mas não importava mais.

Porque a cura estava a caminho.

— Acabe com isto de uma vez por todas! — Ele a fitava com desprezo, conseguindo criar mais forças para proferir aquelas palavras. Cuspiu na areia mais próxima dos pés da monarca, sem ter medo de qual poderia ser o seu destino final. — O que está esperando?!

Retribuindo ao olhar, ficou em silêncio por um tempo e também se ajoelhou, colocando o seu rosto próximo ao do inimigo. Em seguida, retirou de um de seus bolsos a carta de Arianna, alegando o que estava para ocorrer.

— Não ouse testar a minha paciência outra vez. — Ergueu o papel, distanciando-se por alguns minutos do líder adversário. Dirigiu-se aos demais rebeldes, que, àquele momento, somente observavam à derrota de seu representante, rendendo-se aos guerreiros da rainha. — Essa é uma garantia da chegada de um novo medicamento que será ingerido por todos. Mas, caso me desobedeçam, não relutarei em destruir a única chance que ainda possuem de sobreviverem!

Voltou a se aproximar do homem caído sobre o chão, que agora se encontrava sentado. Seu olhar ainda era o mesmo, mas apresentava um pouco de curiosidade para saber do que se tratava o conteúdo presente na carta. Ele a leu por inteiro e ficou em silêncio, estarrecido.

— Eu não pedirei novamente... — Kath sussurrou, perto o suficiente para que fosse ouvida e provocasse arrepios no sujeito. — Retire os seus aliados da minha cidade e pare esta maldita guerra!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam?
É um dos meus capítulos favoritos! Uma das comparações que a gente pode fazer também é a de que a Arena Humana é a própria Katherine, por causa das muitas coisas com as quais ela tem que lutar diariamente. Só nesse capítulo, foram várias, como a questão do filho, o luto de Demetria, a proteção do reino e a responsabilidade com os afetados!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hastryn: Despertar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.