Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 21
O Exército


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, um capítulo maior, para compensar os outros menores!



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Katherine

A mulher caminhava por uma passarela de pedra que dividia dois pátios situados em andares altos do palácio. Sobre os muros, havia pássaros azuis e tinham um doce canto, capaz de trazer uma pequena sensação de alegria e de esperança em meio aos sentimentos tortuosos provocados pelos últimos incidentes. As aves brincavam e rodopiavam uma à outra. Por vezes, ficavam tontas e faziam rir as pessoas que passavam por elas.

 Continuou o seu trajeto, sem permitir que aquela distração ocupasse muito de seu tempo. Caminhava em direção ao pátio no qual ficavam as funcionárias responsáveis por tecer vestimentas dos membros que residiam no interior daquelas grandes construções.

As portas já se encontravam abertas. Mas, quando passou por estas, percebeu que a decoração do ambiente estava completamente diferente da habitual. Tudo estava escuro. As lâmpadas estavam quebradas sobre o chão e as velas, apagadas. Onde deveria haver uma mesa repleta de tecidos das mais variadas cores, foram colocadas armas, como facas, punhais, espadas, machados, lanças, arcos, flechas e balestras. Todas repletas de sangue, como se tivessem acabado de fazer parte de uma matança. As cortinas amarelas estavam rasgadas e o vidro das janelas e dos espelhos, partidos, com cacos se espalhando sobre a madeira do solo. Pratos de comida estavam partidos e os restos serviam de alimentos para pequenas criaturas, como ratos e pombos.

Assustada e decidida a retornar por onde viera, Katherine se virou, mas as portas de fecharam de supetão. Olhou ao redor, percebendo que estava trancada e impossibilitada de fugir.

Ao ouvir um barulho de leve, percebeu que não estava sozinha.

Havia uma figura encapuzada no fundo do cômodo, sentada sobre um banco. Ela se levantou e se virou, mas ainda não era possível de ser reconhecido, pois a sombra do capuz escondia seu rosto quase que por inteiro.

— Quem é você? — Katherine perguntou, temendo a descoberta. A sua respiração parava conforme, aos poucos, o tecido ia sendo retirado. Quando seu rosto ficou à mostra, a mesma sufocou um grito e arregalou os olhos, sem acreditar no que estava vendo. — Como isso é possível?

— A vida cria inúmeras reviravoltas, Katherine. — Lothar Wildshade a circundou, com os olhos arfando de ódio. A jovem olhou novamente para as armas na mesa, temendo que o homem viesse atrás dela em busca de vingança. — Não precisa ter medo de mim, querida... Minha doce vingança contra você irá além de uma simples morte. Será algo mais lento e mais divertido. Mais prazeroso, eu diria.

— Você não é capaz de fazer nada, pois está morto!

— Isso não significa que não tenha chances de destruí-la. Afinal, ainda estou bastante vivo dentro de seus pensamentos, mesmo que tente fugir deles. — Lothar apanhou um chicote e o passou lentamente sobre a outra mão, exibindo um sorriso. — Essa é outra dimensão, amada esposa.

— Do que está falando? Parece um verdadeiro lunático! — Kath gritou, cuspindo em seu rosto, demonstrando o ódio e a repugnância que sentia.

— Estou falando que pagará caro por todos os seus atos! Teve a coragem de me chamar de louco? Agora, conhecerá a minha verdadeira loucura!

Lothar Wildshade correu em sua direção e a lançou sobre o solo, tirando o seu equilíbrio. Em seguida, posicionou seu corpo sobre o ela e, com as duas mãos, pressionou o seu pescoço.

...

Abriu os olhos, ainda gritando.

Debateu-se sobre o colchão, pois o sonho havia sido extremamente realista. Katherine havia sentido as dores de seu pescoço sofrendo o ataque das mãos de seu antigo marido. Era como se o homem jamais houvesse morrido e tivesse retornado para assombrá-la. Conforme foi recuperando o fôlego, percebeu que nada do que sonhara era real. 

Sentiu que estava ficando louca.

Melissa, sua criada favorita, adentrou o aposento assim que foi chamada. Seus cabelos negros estavam presos com um choque e a sua beleza era oculta pelas suas simples vestimentas, mas ainda assim conseguia atrair a atenção das pessoas do castelo. Até mesmo a rainha reparava muito em sua beleza. Era casada com um dos homens responsáveis pelo cuidado e tratamento das plantas dos belos jardins externos, um trabalho que Katherine verdadeiramente admirava.

— Sua Majestade está bem? Deseja tomar um copo de água?

— Não, querida, obrigada. Apenas não me deixe sozinha. — Kath pediu e a criada obedeceu. Conhecia Melissa desde que foi hospedada no castelo, mas se permitiu se aproximar dela somente nos últimos dias. — Tive mais um pesadelo... Não sei mais o que posso fazer para evitá-lo.

— Se for de seu desejo, posso pedir para Diana providenciar um remédio forte que a permita dormir com tranquilidade. Assim, evitaria que os sonhos ruins a atrapalhassem e recuperaria suas energias.

— Tem razão... Não gosto de ser obrigada a utilizar produtos medicinais em meu cotidiano, optando por fazer isso somente em casos graves, mas creio que seja a única solução. Agradeço por isso.

As horas se passaram e o céu clareou.

Os sinos tocaram, fazendo a população inteira saber que o dia tinha amanhecido e que deveriam se levantar para realizar as suas atividades de trabalho. Esse era um sistema elaborado pela rainha para criar uma maior organização dentro dos setores, de modo que os mercados e estabelecimentos abrissem em um horário determinado.

Tomou um medicamento que a deixou mais calma.

Olhou para o espelho, pedindo para que uma de suas damas de companhia penteasse os seus longos cabelos louros e brilhantes que desciam por suas costas em forma de cascada até a cintura. Em seguida, utilizou dos recursos de maquiagem que a tornavam bela e desejável para os outros, mas não do jeito ousado que costumava fazer para atrair a atenção dos clientes no Rosa Indomável. Um jeito mais leve, mais discreto. Havia momentos em que se vestia e se maquiava como antes, mas, naquele dia, em especial, optou por essa aparência.

Estava reparando cada vez mais na aparência daquelas que estavam ao seu redor. Em seus corpos, seus cabelos, seus olhares, seus modos de falar. Havia sido algo que deixara de se preocupar desde que matara Lothar, e, agora, estava voltando a ser a mulher de antes. Mas, por vezes, sentia como se algo de diferente estivesse acontecendo. Uma nova sensação.

Deixando os pensamentos de lado, lembrou-se que os filhos já estavam de pé e treinando juntos. Desceu as escadarias e tomou rapidamente o desjejum, disposta a observá-los de longe e acompanhar o desenvolvimento deles. Dois de seus guardas a acompanhavam por onde iam, para o caso de haver um risco de alguém tentar cometer algum tipo de traição.

Thomas surgiu.

— São os príncipes. — Viera correndo para notificá-la de algum ocorrido. — Estão envolvidos em mais uma briga. Desta vez, pior do que a anterior. A senhora precisa ver com os seus próprios olhos. Juntei-me aos guardas dos campos de treino e os afastamos, mas há mais crianças envolvidas.

Havia uma grande movimentação no ambiente. Pessoas que passavam por perto com diferentes intenções acabavam por parar por ali, com o intuito de observar a confusão ocorrente. Katherine e Thomas se aproximaram e tudo ficou mais claro. Daevon estava sentado sobre a grama quente, com o rosto repleto de sangue. O garoto chorava e era protegido por um de seus seguranças. Katherine se ajoelhou diante de seu filho e gritou para que todos a ouvissem:

— Calem-se! — Permitiu que a sua ira se assemelhasse à de Lothar, pois era a linguagem que seu povo, infelizmente, ainda estava acostumado a entender. Em seguida, virou-se para a criança. — O que houve, Daevon?

Antes de respondê-la, o menino olhou para seu irmão. Somente então, Katherine percebeu que seu filho mais velho estava afastado e encarava o mais novo com raiva. Em silêncio, Katherine aguardou até que o caçula a respondesse, sem se mostrar piedosa enquanto não soubesse a história.

— Nós estávamos lutando com as espadas de madeira...

— E então? — A rainha retirou um pequeno lenço de suas vestimentas e o utilizou para limpar o rosto do pequeno. Olhou com reprovação para os seguranças, fazendo-os se sentirem culpados por não terem cuidado da devida forma de seus filhos. — Conte-me tudo.

Daevon assentiu.

— Eu ia ganhar... — Envergonhado, ele abaixou a cabeça, olhando para seus pés. — Mas Cedric ficou triste e me derrubou. Chamou os outros meninos também. Ele estava com raiva de mim! — Daevon soluçava enquanto falava, e seu corpo tremia.

— Cedric e Daevon, quero que os dois me acompanhem, sem me questionar! Os demais, voltem a seus respectivos afazeres e cuidem de suas próprias vidas. O reino os espera e não quero ninguém perdendo tempo com o umbigo do outro quando devem olhar para os seus próprios. Tenham um bom dia! 

...

Katherine falou diante dos dois o que tinha acabado de ouvir. Depois disso, olhou para o primogênito, que não tinha medo em encará-la da mesma forma. Sentiu-se desafiada, mas não permitiria que ele soubesse disso.

— O que seu irmão disse é verdade? — Ela os colocou lado a lado, obrigando-os a ficarem próximos sem agredirem um ao outro. — Vocês são irmãos e devem se amar e se proteger acima de tudo! Tenho muita preocupação com o futuro dos dois. Se há caos dentro de nossa família, como poderemos viver em paz?

— Mamãe, ele iria vencer! — argumentou Cedric, com o intuito de justificar sua atitude. — Meus amigos não podem me ver perdendo. Iriam rir de mim... Me irritar com brincadeiras idiotas.  Quando o papai era vivo, eles sentiam medo e não faziam isso. Mas, agora, falam e fazem o que querem!

— Eles se juntaram para me bater, para depois, rirem de mim e me jogarem na lama! Mamãe, sempre fazem isso!

Thomas Earn também estava presente, a pedido da rainha. O rapaz permaneceria calado até o momento em que seria ordenado para se pronunciar na discussão.

— Meu amigo e conselheiro, diga-me com detalhes o que viu.

De olhos fechados, Thomas respondeu:

— Daevon fala a verdade. — No mesmo instante, Cedric se levantou, furioso, mas Katherine foi mais rápida e o conteve, antes que ele pulasse sobre o homem. — Os meninos estavam decididos a humilhá-lo na frente de todos. Com sua permissão, Majestade, sugiro que o príncipe mais novo deva receber um treinamento separado dos demais meninos, pois esses problemas podem acarretar situações mais conflitantes no futuro.

Katherine ficou em silêncio, sem decidir se concordava ou não.

— Faça um relatório com o nome dos garotos que estiveram envolvidos nessa confusão. Todos os que você se lembrar e os que forem relatados pelas pessoas que estiveram próximas no momento em que houve a briga. Quanto a você, Cedric, ficará um tempo indeterminado sem praticar treino e sem tocar nas espadas. Todos os garotos responsabilizados receberão essa punição, para aprenderem a respeitar um membro da família real.

Deveria dar o exemplo aos cidadãos. Se Katherine os castigasse e deixasse Cedric de fora, estaria sendo completamente injusta e não conseguiria resolver a confusão. O filho sentiria uma imensa vergonha por conta disso, mas era a única maneira de fazê-lo adquirir respeito e bons comportamentos. Suas ações o levaram a isso, e Katherine precisava de um tempo a sós com ele para educá-lo devidamente.

Mais tarde, quando a mulher estava sozinha em seu escritório, Thomas reapareceu.

— Você me assustou.

— Peço desculpas por isso... Mas temos um grande problema. — Thomas falava rápido, quase que atropelando as palavras que saíam de sua boca. — A cidade está prestes a ser invadida.

Katherine, de imediato, se levantou.

— O quê?! Por quem?!

— Os viajantes e escravos, mesmo estando doentes, conseguiram criar forças para caminhar até os muros e disseram que não se adaptaram às florestas e condições fornecidas. Estão dispostos a lutar por moradias dentro da cidade e a espalhar a praga entre nosso povo caso não encontremos uma forma de aceitá-los. Alguns, de uma forma que não descobrimos, roubaram armas e estão ameaçando a vida de nossos guerreiros. Nosso número é muito maior e, considerando que inúmeros afetados estão prestes a morrer, temos a vantagem, mas, ainda assim, é um confronto arriscado, pois a ameaça pode se proliferar por Arroway inteira.  Afirmaram que temos alguns dias para pensar no que fazer.

— Isso é ridículo!

Katherine cerrou os punhos e socou a mesa. Sentia ódio. Ódio pelos senhores escravistas, que iniciaram aquela situação, ao invés de tentarem, pacificamente, pedirem por uma cura para os seus habitantes. Ódio pelos próprios escravos, que não compreendiam a gravidade do que estavam fazendo e do perigo que representavam para o continente inteiro.

Sendo obrigada a escolher entre a vida de seu povo e de novos habitantes, não relutaria em escolher a de seu povo. Era a hora de colocar seus combates físicos em prática, depois de tempos treinando sozinha.

— Em comparação a antes da Grande Guerra, temos uma pequena quantidade de soldados, pois vários morreram queimados pelas serpes. Acredito que devamos pensar em uma maior estratégia, e colocar, dentro do campo de batalha, as mulheres que se disponibilizaram a lutar para conseguirem melhores condições. Se, neste conflito, se mostrarem merecedoras do que estão procurando, poderão ser, futuramente, recrutadas.

Dito isso, Thomas reuniu rapidamente todo o grupo de mulheres que se dispôs a continuar participando da competição. Aquelas que decidissem não lutar pela pátria não seriam eliminadas do torneio, mas perderiam a oportunidade de serem notadas pela rainha. À distância, Katherine Wildshade reconheceu Willow, a amiga de Evelyn que agora estava se tornando sua própria amiga, e Demetria, a jovem que migrara de Horgeon. Todas se enfrentariam e teriam um treinamento rápido de dois dias, para que soubessem como erguer uma arma. Até mesmo as que não tivessem um desempenho ideal seriam bem-vindas, considerando a necessidade do momento.

Olhando para seu exército, Katherine compreendeu a razão do sonho que tivera. Precisava despertar dentro de si uma fúria semelhante à de Lothar, desejando massacrar um inimigo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam??? Gostaram desse jeito leoa da Katherine? É assim que vejo ela.
Uma amiga me disse que ela é como uma psicopata. Achei a ideia interessante, kkk.



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