Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy
Notas iniciais do capítulo
"E toda a felicidade foi embora outra vez..." - Richard Yorkan.
Richard
Os efeitos provocados pela praga foram tão fortes que obrigaram até mesmo os residentes do palácio a carregarem consigo máscaras e luvas, para não correrem o risco de esbarrar com um possível afetado e, dessa maneira, contrair a doença.
No início daquela noite, o menino sentiu leves incômodos em seu corpo. Acreditou que se tratava de algo desimportante, pois às vezes dores de coluna o importunavam após dias exaustivos de treinamento nas zonas de combate físico com os garotos de sua faixa etária.
Mas se sentia desconfortável.
Sobre o colchão, trocava constantemente de posição, mas a sensação parecia piorar a cada hora que se passava. Em todo esse tempo, não conseguiu adormecer, ficando ainda mais cansado.
Encorajou-se e desceu da cama. Tomou todo o cuidado do mundo para não despertar sua irmã, que se encontrava a uma cama mais distante, do outro lado do ambiente. Dirigiu-se a uma gaveta da cômoda e apanhou desta as luvas e a máscara. Estava decidido a encontrar seus parentes e pedir ajuda.
Caminhou pelos corredores, acompanhado por um dos seguranças que tomavam conta do aposento. O homem o conduziu em direção ao quarto e aguardou junto com ele. Richard bateu à porta, sentindo-se chateado por se ver na obrigação de atrapalhar a noite de seus parentes.
A jovem monarca apareceu diante de seus olhos, com um olhar curioso. Ela se agachou, com o intuito de fazer com que se fitassem de igual para igual. Sabia que se tratava de algo importante. Caso contrário, Richard não estaria ali durante a madrugada.
Temendo oferecer qualquer possibilidade de perigo, o menino se afastou.
— Acho que estou doente...
— Por que diz isso? — Charlie perguntou, demonstrando preocupação através de um tom de voz carinhoso e sem mostrar desespero. — Há algo que não nos contou?
— Não... Meu corpo começou a doer nessa noite. Mas não está parando...
Ele levou a mão ao peito, começando a tossir fortemente. Charlotte, sem perder tempo, retornou para o lado de dentro e, em questão de poucos minutos, saiu deste acompanhada de Elliot. Ambos utilizavam os objetos necessários para evitar a proliferação da doença e ordenaram aos guardas para conduzirem Richard em segurança até o Centro Hospitalar. Os monarcas o seguiram.
Foi deixado sobre as camas de um quarto destinado especificamente para atender os pacientes que mereciam uma atenção redobrada. Charlotte apanhou os equipamentos necessários e colocou as mãos sobre o peito do menino.
— Conforme meus movimentos, me diga exatamente em que região está sentindo as dores. — Richard a obedeceu, indicando o local no instante em que a mão da rainha o tocou. — Compreendo... Além da palpitação, há mais algo que está sentindo?
— Tontura... — respondeu, em desespero. O seu maior desejo era o de sair daquele lugar e retornar ao aposento, mas sabia que os exames eram necessários para obter a cura. — Não consigo ver mais nada direito... Por favor, me ajude! Elizabeth não pode saber disso!
— Infelizmente, não podemos esconder a verdade dela. Ainda é cedo para afirmar qualquer coisa, mas não permitiremos que passe despercebida a chance de a praga ter passado para você. Tudo o que posso fornecer nesse momento é um antídoto que diminui as palpitações e um tranquilizante que permanecerá que recupere as horas de sono perdidas.
Richard, sem opção, sacudiu a cabeça positivamente, aceitando.
...
De início, a tontura pareceu continuar. Mas eram os efeitos da medicação se encerrando e permitindo que, após longas horas, pudesse despertar. Olhou ao redor, à procura das pessoas que estariam em sua companhia, no entanto, não viu ninguém.
— Alguém está aí? Por favor, não me deixem sozinho!
— Richard! — Elizabeth apareceu, para alívio do menino. A garota tinha lágrimas nos olhos, o que o deixou imensamente preocupado. — Que bom que, finalmente, acordou! Mamãe me contou tudo.
— Eu estou doente?
A caçula, sem ter coragem de olhá-lo diretamente, assentiu, confirmando a hipótese do irmão. Richard ficou boquiaberto, temendo a possibilidade de acontecer com ele o mesmo que aconteceu com Esther: ser levado por uma doença e deixar para trás aqueles que tanto ama.
Elizabeth chamou Charlotte e Elliot, dizendo que ele já estava acordado. Os mesmos adentraram o quarto e impediram que os médicos aparecessem ali naquele instante. Todos estavam chorando, emocionados com o que aquilo significava. Richard sabia que os pais permaneceriam esperançosos até o fim, mas também reconhecia que estavam sendo consistentes e compreendiam a realidade e a ameaça que os cercava.
Isso era o que os apavorava.
— Meu querido... — Elliot disse, aproximando-se do príncipe o máximo que pôde. — Nós não desistiremos de você. Por nada nesse mundo! Nem mesmo essa doença maldita será capaz de destruir a nossa família. Precisamos que acredite fortemente nisso, está bem?
— Ouça as palavras de Elliot! — Em meio à dor e ao sofrimento, Charlotte Trannyth conseguiu sorrir. — Estamos apenas começando uma fase de nossa vida. Todo esse sofrimento um dia irá embora. — Com as suas mãos, segurou as do marido e da filha. — Vocês dois são uma das pessoas mais fortes que conheci em toda a minha vida. Tão jovens e já enfrentaram tantas situações que seres mais velhos não são capazes e tão resistentes quanto. Mesmo assim, continuaram de pé, prosseguindo com as suas vivências e enxergando o melhor que elas têm a lhes oferecer.
O que Richard mais desejava era poder abraçá-los, mesmo que isso fosse impossível. Se os deuses quisessem levá-lo, ao menos o menino havia descoberto novamente o que era ser amado e protegido por uma família. Charlotte e Elliot se inseriram em sua vida como figuras extremamente importantes e verdadeiras causas de motivação. Não era somente gratidão o que sentia por eles, mas um amor que não sabia que existia. Um amor que existia além dos laços sanguíneos. Um amor construído, trabalhado, fortificado.
E ele podia perder tudo isso. Toda a felicidade de construir um novo lar e recomeçar uma história estava para ir embora. Richard Yorkan fechou os olhos, fazendo uma silenciosa oração aos deuses. Nela, implorou para que se apiedassem dele e não permitissem que sua trajetória tivesse chegado ao fim.
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