Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 13
Uma Notícia Inesperada


Notas iniciais do capítulo

"Por vezes, é necessário termos empatia com aqueles que de nós necessitam." - Elliot Trannyth



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Elliot

Desde que Hazel se tornou sacerdotisa religiosa e se mudou para o Templo Sagrado, a rotina dos Trannyth e dos Yorkan se alterou por completo. Sem a presença da ama, o casal se revezava para contar histórias às crianças. Quando estas eram demasiado longas, as dividiam em dois dias, para deixá-los curiosos e ansiosos para descobrir o desfecho. Com o tempo, buscavam tornar os filhos os criadores de suas próprias histórias, fazendo disso uma forma de incentivar a criatividade e a escrita de ambos.

— Sinto saudades dela... — Elizabeth comentou, diante da mesa em que os quatro se encontravam. O dia havia amanhecido há pouco, e a família havia se reunido para desfrutar da primeira refeição. A mesa se encontrava farta de pães, carnes, vegetais, manteiga, frutas e sucos.

— Nós todos sentimos, querida — disse Elliot — Mas podemos visitá-la quando desejarmos. Posso pedir para os guardas levá-los em segurança, depois das aulas. Vocês querem?

Richard e Elizabeth assentiram, empolgados. 

— Ela ficará feliz! Não vejo a hora de poder ir também. — Charlotte sorriu, claramente imaginando a reação da mulher ao vê-los. Nenhum deles ainda a viu ministrando uma reunião, mas o fariam no próximo fim de semana, se fosse possível. — Hazel agora segue seu próprio caminho, encontrando uma felicidade diferente da que tinha conosco. É como uma jornada de si mesma.

Ouviram um barulho leve da janela mais próxima. Detrás da mesma, surgiu uma ave, que parecia carregar algo. A mesma adentrou o recinto e derrubou o envelope sobre a mesa. Elliot o apanhou, pois era o que se localizava mais perto, e o abriu com rapidez, retirando o lacre que o mantinha fechado.

— Trata-se de uma carta escrita por Carter Wayron, o Senhor das Ilhas.

“Prezados Rei e Rainha de Horgeon e Governantes de Hastryn do Sul,

Houve uma intensa revolução em nossas três ilhas: Muria, Asoris e Zahara. As três passaram por terríveis conflitos que resultaram na libertação de todos os nossos escravos. Desde então, vários deles têm procurado por condições de trabalho, moradia e sustento em nossas regiões, mas não temos estrutura, localização e capacidade para abrigar a todos. Por conta disso, viram-se obrigados a se reunirem em navios que os conduziriam em direção a Hastryn do Norte e Hastryn do Sul, em busca de novos lares e oportunidades. Peço encarecidamente para aceitar a maior quantidade possível de viajantes que possa abrigar, para que estes não passem fome e não corram riscos de morte.

Grato pela compreensão,

Carter Wayron, Governador de Lsung e Senhor das Ilhas Grimwerdianas”

Ele a leu em voz alta, para que todos a ouvissem. Charlotte passou alguns minutos em silêncio, refletindo sobre as palavras de Carter. Elliot realizou o mesmo, pois aquilo certamente era algo que jamais esperariam que acontecesse.

— Não podemos negar abrigo a eles.

— Elliot... Acredita que deve ser a melhor solução? Estou com um mau pressentimento em relação a isso.

Richard e Elizabeth permaneceram calados, pois sabiam que era um assunto que envolvia participações adultas. Eram jovens demais para participarem de questões complicadas e delicadas como aquela.

— Que tipo de pessoas estaríamos sendo se não fizéssemos nada para mudar as suas condições? — Apesar de estar dizendo com seriedade, Elliot jamais falava mais alto que a esposa. Charlotte ocupava exatamente a mesma posição que ele, de modo que não fosse possível que um tivesse mais autoridade do que o outro. Deveria haver um respeito mútuo. — Eles passaram a vida inteira sendo escravizados, obrigados a trabalhar em troca de nada, e castigados quando não tinham forças para realizar toda a atividade pesada!

A rainha se levantou.

— Meus amores, podem nos deixar a sós por um instante? — perguntou, com delicadeza. Sem demonstrarem incômodo ou resistência ao pedido, os Yorkan se levantaram. Charlotte beijou as suas testas e se despediu. — Espero que vocês tenham um ótimo dia!

— Eu senti na pele o que é sair de um continente e correr o risco de não ser aceito em outro. — Elliot relembrou a época em que foi obrigado a fugir de Arroway para a sua própria sobrevivência, temendo que os demais membros de sua família fossem assassinados em uma caçada organizada por Lothar Wildshade. — Fora o próprio risco de morte dentro das áreas que podem oferecer perigo.

— Você está certo... E tenho a impressão de que Richard e Elizabeth ficariam decepcionados conosco se tomássemos outra decisão, considerando que são descendentes diretos de uma família que foi escravizada. O mesmo se aplica a Hazel, que foi uma vítima direta do regime... Mas precisamos estar preparados caso algo ainda mais inesperado do que esta carta aconteça.

— Com certeza. — Elliot segurou a sua mão e a beijou, com carinho. — E estaremos. Nós sempre conseguiremos vencer o mal que nos desafia. Desta vez não será diferente.

...

Ordenaram que homens de confiança fossem averiguar o grupo de viajantes para o caso de haver uma emboscada. No entanto, estes aparentavam serem inteiramente inofensivos, pois não carregavam armas. Foi permitida a sua entrada na cidade principal. Os cidadãos foram divididos em Horgeon e nas demais cidades do continente, para que não houvesse uma concentração grande de pessoas na mesma região.

Aquela não era a assinatura de um acordo de aliança entre Hastryn do Sul e as Ilhas Grimwerdianas. Nunca foram nações inimigas, mas os Wayron jamais demonstraram apoio aos Prince quando se tratava de uma guerra por vir. Se dependessem de suas alianças e de mão de guerra, o continente sulista teria perdido todas as lutas envolvidas. Além disso, os Wayron não adotaram o regime de abolição escravista na mesma época em que os demais, mostrando-se relutantes nisso. Optaram por prosseguir com o mesmo método de governo, até que uma revolução os obrigou a alterá-lo.

Uma carruagem conduziu o rei e a rainha até a grande entrada. Os portões se abriram, possibilitando que vissem o alto número de pessoas que os atravessou apressadamente. Pelas suas expressões corporais e os pelos olhares, mostravam-se extremamente cansados depois de uma intensa caminhada desde os portos, onde os navios os deixaram.

— Bem-vindos a Horgeon.

Os outrora escravizados fizeram uma respeitosa reverência.

— Obrigado, Sua Majestade. — Um homem agradeceu, pedindo para que os outros o seguissem para o lado de dentro. Ao que tudo indicava, havia assumido uma postura quase que de líder. — Onde ficaremos?

Quando não sobrou mais nenhum indivíduo do lado de fora, os portões se fecharam novamente. Charlie esclareceu as dúvidas que novos habitantes tinham.

— Nossos guardas já os dividiram por cidades. Agora, venham conosco. Não obtivemos uma quantidade suficiente de cavalos para os conduzirem diretamente à parte da cidade em que serão hospedados, portanto, deverão fazer o caminho a pé.

— Somos extremamente gratos por tamanha generosidade!

— Agradeçam se tornando bons e exemplares cidadãos, para que seus filhos os vejam como exemplos e queiram seguir o mesmo caminho. Temos uma vila em que são construídas casas em excesso, preparadas especialmente para receber novos moradores, quando este é o caso. De início, será necessário que muitos se agrupem em uma mesma residência e revezem o espaço nos dormitório, até que mais  possam ser construídas.

A vila era extensa e inteiramente diferente da que Elliot vivia no passado. Horgeon, assim como Arroway, era um território enorme, mas os Prince se importavam em garantir uma condição melhor para os seus habitantes. As casas eram feitas à base de tijolos e eram seguras e resistentes. Completamente diferente da que Elliot vivia no arraial. Diversas vezes, quando ocorriam chuvas torrenciais que alagavam a cidade inteira, os Trannyth e os Muirden acreditavam que o abrigo poderia desabar.

Em Horgeon, o espaço não tinha muros, justamente pela alternativa de se expandir cada vez mais. Ao redor, havia várias árvores, mas não tantas quanto as dos bosques, pois algumas precisaram ser arrancadas e replantadas. O número de moradias não era proporcional ao de famílias, o que fazia com que três ou quatro ficassem em uma mesma residência, com uma família por quarto. No entanto, ninguém passaria fome. Charlotte e Elliot fariam novos esquemas de organização para oferecerem chance de trabalho e os forneceriam alimentos, até que tivessem a chance de eles mesmos os comprarem.

— Espero que consigam se adaptar... — Charlie disse, com o olhar distante. Seus pensamentos pareciam tristes, mas o marido não quis invadir o seu espaço. Se a mesma desejasse conversar sobre o assunto, estava disposto a ouvi-la. Se não, a compreenderia. Poucos segundos depois, ela revelou sobre o que estava em sua mente. — Ainda estou com um mau pressentimento, e acredito que sei o que pode ser a razão. Nós não soubemos como Katherine reagiu ao pedido de Carter Wayron.


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Notas finais do capítulo

O que acharam???
A ação começa de verdade no próximo capítulo! Quero saber todas as teorias :)



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