Hastryn: Despertar escrita por Dreamy Boy


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oie, gente!
Meti o louco e resolvi postar a história para aqueles que terminaram o primeiro volume. Se você não leu, seja bem vindo também! Caso sinta alguma dúvida, basta consultá-lo e ler os capítulos que sentir necessidade. Tenha em mente que essa é uma continuação direta :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/730308/chapter/1

Muitos Anos Antes...

 

A magia havia se originado nos primórdios do mundo de Grimwerd. Foi criada pelas divindades juntamente com as regiões, o relevo, as vegetações, o clima e as populações. Populações estas que adquiriram formas distintas de vida, conforme foram se reunindo e aprendendo hábitos, costumes, tradições, valores e culturas. Cada região foi se tornando diferente uma da outra e, dentro de todas, existiam seres de sangue mágico entre as famílias. Eles foram pejorativamente denominados como maleficus, como se todos fossem pessoas com intenções cruéis e sentissem o desejo de utilizar os seus poderes e habilidades para o mal. Isso fez com que, aos poucos, os maleficus se reunissem e formassem uma nação única, comandada por uma feiticeira que conseguiu controlar as suas forças e se mostrar resistente na luta contra o preconceito. Eles utilizaram um título que, outrora, era considerado ofensivo, se tornar um motivo de orgulho.

Em um mundo no qual prevaleciam o caos, a escravidão e a guerra, Durwin, após a separação do mundo em quatro continentes, se manteve inteiramente distante dos conflitos que envolviam Hastryn do Norte e Hastryn do Sul, mesmo que se situasse em territórios nortenhos. O simples medo de colocar a magia em ação e serem vistos como algo a ser dizimado os motivava a seguir essa política.

A hierarquia funcionava de acordo com o nível existente dentro de cada indivíduo. Quando a primeira feiticeira assumiu o comando da sociedade, os seus descendentes foram se tornando a família real, mas muitos deles não tinham a mesma força que seus antecessores. Quando havia dois irmãos, por exemplo, e um deles tinha maiores poderes, esse era o que ocuparia o próximo cargo. Com o passar dos tempos, foi-se percebendo que o sangue fluía mais forte entre as mulheres, de modo que fossem sempre estas a governar a sociedade. Abaixo da família real, estavam aqueles que nasciam com sangue mágico, mas sem serem membros com direito legítimo ao trono. O terceiro grupo era formado por filhos de seres humanos sem magia que descobriam ter nascido com o dom e se viam na necessidade de viajar até Durwin para treinar as suas habilidades. Se permanecessem por bastante tempo em suas regiões natais após terem sua mágica despertada, perderiam o controle e poderiam morrer. Inúmeros casos de famílias que insistiram em esconder aqueles que se descobriam maleficus possuíram destinos trágicos.

Meredith Ward, descendente da primeira feiticeira, era considerada brava e resistente, sendo amada e venerada pelo seu povo. Os cidadãos que viviam em Durwin possuíam livre acesso ao uso da magia, desde que não fossem contra as regras e restrições impostas pela monarca e por suas antecessoras. Os aprendizes tinham os seus próprios livros com os feitiços que poderiam praticar, para não realizarem algo perigoso demais para os seus níveis de estudo. Nenhum habitante poderia sequer pensar em utilizar magia negra, pois era terminantemente proibida. Nem mesmo os indivíduos de sangue real. Aquele que ousasse desobedecer às leis seria castigado de forma severa, podendo até mesmo ser condenado à morte. Uma das punições mais utilizadas era um intenso ritual que retirava os poderes do infrator, fazendo-o se tornar uma nova pessoa aos olhos dos deuses e receber uma chance de viver como um humano comum, reparando os erros cometidos no mundo terrestre.

A mulher nunca manifestou interesse em se casar. Sentia-se poderosa e independente, sem a necessidade de um homem pra viver ao seu lado. Contudo, mantinha relações sexuais com diversos rapazes que carregariam o mundo inteiro em suas costas para conseguirem a sua mão. Ela tivera alguns interesses mais intensos ao longo de sua vida, mas nenhum deles o bastante para que vivessem juntos por muitos anos. Meredith cuidava de si mesma, prezando por sua beleza interior e exterior. Não para agradar alguém, mas para se manter satisfeita.

Naquele momento, estava à espera de uma criança.

Sabia quem era o pai biológico, mas jamais revelaria o fato ao amante. Seu descendente seria somente seu e nenhum outro tinha o direito de se proclamar pai ou progenitor do herdeiro do trono. Meredith não arriscaria perder o amor da única pessoa com quem se importava ao dividi-la com outro. Era sozinha, pois os pais já haviam falecido. Contava apenas com a companhia de suas damas e servas, sendo algumas delas suas grandes amigas.

Sempre que um novo humano pertencente ao Clã Ward estivesse no ventre de sua mãe, a mesma deveria percorrer um imenso labirinto à procura do Oráculo. Era um desafio que colocava à prova o amor que tinha pela vida de seu filho e os esforços que realizaria para protegê-lo de terríveis ameaças. Existiam poucos casos em que feiticeiras entraram no labirinto e não retornavam vivas. Essa foi uma ideia que assombrou Meredith e fez com que treinasse bastante antes de descobrir qual seria a profecia correspondente ao seu bebê.

Quando o dia amanheceu, dirigiu-se aos campos de Durwin e lançou o cajado sobre a grama. Proferiu encantamentos e as paredes do labirinto se ergueram à sua frente. Caminhou até que estivesse dentro das áreas. Quando o fez, a entrada se fechou e um silêncio aterrorizante preencheu o ambiente. A partir daquele instante, duas vidas passaram a estar sob seu controle.

A chama situada dentro da esfera de vidro no topo de seu cajado era a única forma de iluminação, pois o cenário ao seu redor era inteiramente escuro. Meredith seguia pelos caminhos que surgiam, analisando cuidadosa e atenciosamente cada passo que dava, temendo cair em armadilhas. Utilizava os seus sentidos para conseguir sobreviver, sendo, naquele momento, o tato, o olfato e a audição os mais necessários.

Um ruído chamou a sua atenção.

Erguendo o cajado, viu que algo surgiu do chão. Era um monstro cuja cabeça se assemelhava a de um jacaré. O corpo era repleto de escamas, assemelhando-se a um ser reptiliano, e possuía duas enormes asas. Os olhos eram verdes como os de uma cobra venenosa e possuíam a sua própria iluminação, destacando-se no escuro. O ser utilizava somente duas patas para se manter equilibrado, pois as outras duas funcionavam como mãos e serviam para erguer objetos ou atacar as suas presas.

A Cuca.

Em algumas lendas, considerada como uma bruxa que aterrorizava crianças. Todavia, isso era somente uma das histórias inventadas para fazer com que os pequenos humanos seguissem regras e não optassem pelo caminho do ódio e da destruição. A verdadeira história da Cuca ia mais além, tratando-se de um verdadeiro terror para qualquer ser que cruzasse o seu caminho.

— Certo... Vamos acabar logo com isso.

Até aquele momento, a soberana de Durwin manteve cuidado dentro do escuro para não atrair a atenção indesejada das criaturas. No entanto, como a Cuca já estava em seu encalço, não viu solução a não ser lançar o cajado sobre o chão de pedra e criar lampejos fortes o suficiente para que iluminassem o ambiente e fosse permitido que a visse como realmente era.

— Agora pode me ver por inteira, não é? Venha me enfrentar de uma vez, covarde! — O monstro urrou, em um tom de voz ensurdecedor. Meredith se esforçou para não largar a arma e levar as mãos aos ouvido. — Está com medo?

— Nada me fará ter medo de você.

A mulher se enfureceu e lançou um lampejo de fogo em direção ao jacaré gigante, que, com as mãos, o segurou e o apagou. A Cuca gargalhou alto, menosprezando os seus feitos. Em seguida, correu em sua direção, com os dentes prontos para devorá-la. Meredith foi mais rápida e desviou, conjurando um feitiço que fazia o pequeno espaço parecer maior e aumentava o campo de batalha. Dessa forma, as possibilidades de derrotar a fera seriam maiores.

Os livros sobre a Cuca revelavam que era uma criatura má por natureza. Desde que veio ao mundo, sentia prazer em atormentar as almas e conduzi-las ao caminho das trevas. Ela era uma das principais mentoras nisso e fazia os humanos maleficus serem corrompidos e trazidos para o lado negro. Até aqueles dias, não foi descoberta uma maneira de matar a Cuca, somente de fazê-la adormecer ou ser temporariamente selada. No passado, vivia livre pela cidade, até ter os seus crimes revelados. A sua maior punição foi um selamento que a manteve presa dentro do labirinto sem que jamais pudesse sair e ver a luz do dia. Selamento este que veio acompanhado de uma transformação por inteiro em seu corpo, fazendo-a adquirir uma aparência horrível e temida por todos. As únicas vidas que passariam a correr riscos em suas mãos eram as daquelas que buscavam saber o futuro de seus filhos.

Com o campo mais extenso, Meredith conjurou uma parede de gelo extremamente pontuda e a lançou em direção à bruxa-jacaré, que a repeliu com as mãos. Lutar com alguém que fazia uso de magia negra era sempre um grande desafio, pois eram indivíduos que não tinham honra e faziam uso de quaisquer habilidades para derrotarem seus adversários.

— Isso é tudo o que é capaz de fazer, nobre rainha? — A Cuca apoiou o cotovelo em um dos braços e sorriu, exibindo os seus dentes pontudos semelhantes a lâminas profundas. — Confesso que estou desapontada...

Meredith ergueu as mãos e invocou lâminas de metal que circundassem a Cuca. Sabia que não poderia matá-la daquela forma, mas, caso algumas a atingissem, poderia retardar o monstro para realizar o próximo passo. A Cuca as repeliu sem dificuldades, mas duas delas atingiram as suas asas, separando-as do restante do corpo.

A fera berrou, sentindo as dores do corte, com uma força tão grande que foi capaz de tirar o equilíbrio da feiticeira, fazendo-a utilizar as mãos para evitar que o rosto batesse no chão de pedra. Ao se levantar, percebeu que estas estavam feridas e não tinha tempo de lançar encantos curativos.

Os deuses da natureza, que representavam os quatro elementos, abençoaram os humanos maleficus com a magia branca. Os encantamentos foram sendo criados no decorrer das gerações e sempre eram escritos em livros que serviam de estudo para os próximos seres. O Deus das Sombras, que não era considerado pelo Supremo Criador como um verdadeiro deus, foi o responsável pela existência da magia negra e pelo mal que existia no mundo. O quinto elemento era a sombra e pertencia a esse deus, que controlava o Mundo das Sombras, também chamado de Inferno.

Utilizando o elemento fogo, Meredith invocou uma espada grande e pontuda, que certamente era capaz de provocar ainda mais dores na Cuca. Mirou a arma na região em que acreditou se localizar o seu coração e a lançou, pedindo aos deuses para que o acertasse.

Após um grito de dor gutural, o labirinto voltou a ficar em silêncio. O monstro tombou para trás e caiu, desacordado. Meredith se aproximou lentamente, com medo de que fosse uma armação. Entretanto, a Cuca parecia realmente derrotada, e cabia à monarca pensar em uma forma de mantê-la assim.

Meredith sentiu suas forças se esvaírem quando percebeu que as feridas estavam se regenerando e as lâminas, sendo retiradas do corpo da criatura. Foi quando, subitamente, a Cuca se ergueu e levou as duas patas dianteiras à sua cabeça, fazendo com que os olhares se encontrassem.

...

Ao abrir os olhos, descobriu que estava em outro ambiente. Nele, o céu era vermelho e sem nuvens. A lua, alaranjada. Os mares, lagos e rios pareciam terem secado, de modo que houvesse somente terra para qualquer lado em que Meredith olhava. Não havia nenhum sinal de água, de plantas, de animais... de vida.

O coração da rainha tremeu, pois sabia que aquilo era uma visão do futuro. Mas não compreendia como chegariam àquele momento e de que forma poderia contribuir para impedir a tragédia.

Os pés estavam descalços e o seu vestido, rasgado. Estava sem o cajado em suas mãos, pois o mesmo se encontrava partido sobre o solo. Ao ver um movimento distante, correu para alcançá-lo, até descobrir que se tratava de outra pessoa. Conforme se aproximava, percebeu que era alguém inesperado.

— Vovó?

— Meredith, querida! Você está viva! — A senhorinha correu para abraçá-la, o que fez com que a neta se sentisse um pouco assombrada. De acordo com suas lembranças, que, nesse momento, pareciam extremamente confusas, a mulher havia morrido há vários anos, quando não passava de uma pequena menina. — Pensei que a encontraria morta.

— O que está acontecendo aqui?

— O mal assombrou Durwin, querida. — A avó falava, tendo dificuldades para respirar e para se locomover. — Mas estou sem forças para combatê-lo... Preciso que me ajude.

— É claro. O que preciso fazer?

— Ceda-me... um pouco... de sua magia. — Nesse instante, Meredith percebeu que aquela não era a voz de sua antepassada, mas a de alguém que estava tentando ocupar o seu lugar. Alguém que estava tentando enganá-la e roubar a sua força. — Por... favor.

Antes que pudesse reagir, o inimigo por trás do disfarce de sua avó segurou seus braços com força e iniciou o processo de sugação de seus poderes. Meredith gritou, sem conseguir resistir.

Foi quando se lembrou. Estava em uma missão para proteger não apenas a si mesma, mas também a uma vida que carregava em seu ventre. Ao pensar na pequena criança que, em poucos meses, estaria em seus braços, Meredith conseguiu empurrar a inimiga e recuperou as suas energias.

...

Aproveitando-se da fraqueza da Cuca ao ser derrotada dentro de seu próprio encantamento sombrio, a rainha não perdeu tempo e ergueu o cajado, fincando-o sobre o chão. Proferiu os feitiços correspondentes à prática do selamento. A criatura não teve tempo suficiente para se defender e foi cercada por uma prisão de ferro, cuja entrada poderia ser aberta somente com uma magia específica. Meredith sabia que a Cuca, futuramente, descobriria como se libertar, mas, a essa altura, não precisaria retornar mais ao labirinto.

Ofegante, a mulher prosseguiu com sua jornada, sentindo-se pronta para enfrentar os demais assombros que estavam prestes a aparecer dentro daquele labirinto. A Cuca havia sido somente a primeira. Estava ciente de que ainda demoraria bastante até que, finalmente, encontrasse o Oráculo.

Os monstros eram aterrorizantes. Criaturas aladas, venenosas, amaldiçoadas, almas perdidas, fantasmas, répteis, mamíferos e serpentes dispostos a dizimar qualquer humano que aparecesse à sua frente. Houve um momento em que, após tirar a vida de uma dessas aberrações, sentiu-se completamente exausta e sem forças de continuar. O corpo desabou sobre o chão, sem que possuísse condições de lutar contra o cansaço físico.

Aos poucos, os seus olhos foram se fechando, até que desacordasse.

Ao abri-los, percebeu que estava sobre uma esteira de palha, em um ambiente inteiramente iluminado. Temendo se tratar de outra ilusão, levantou-se depressa, olhando ao redor. Lamparinas foram penduradas nas paredes, mostrando o espaçoso cômodo em que estava hospedada. Conforme a sua visão foi se habituando, percebeu que estava acompanhada. Um sujeito jazia de costas para ela, sentado diante de uma mesa circular de madeira.

— Quem é o senhor? — Meredith tinha uma teoria a respeito do homem, mas precisava que a confirmação viesse do mesmo. Afinal, o tempo em que permaneceu desacordada poderia ter sido grande a ponto de um cidadão de Durwin ter vindo resgatá-la. — Onde estamos?

— Creio que, em seu subconsciente, saiba a resposta para a pergunta que fez, Meredith Ward. — A sua voz era leve, mas séria. — Afinal, esteve aguardando por esse dia desde que soube que esperava uma criança, certo?

Sentindo-se aliviada, assentiu e se sentou na cadeira restante. O sujeito tinha olhos brancos, o que deveria simbolizar o poder de ver o futuro dos membros da família real da sociedade mágica. A cabeça era parcialmente enfaixada com panos da mesma coloração de seus olhos e as vestimentas negras cobriam seu corpo por inteiro, de modo que somente as mãos ficassem para fora. Mãos estas que também eram enfaixadas. Era uma presença misteriosa, cujo rosto era mantido oculto de forma proposital, para que fosse tratado com seriedade do início ao fim. Afinal, lidar com profecias era sempre uma questão delicada e aterrorizante.

— Preciso saber o que o futuro espera de nós, Oráculo. De mim e do filho que irá nascer. Nós teremos grandes feitos? Nossa vida será normal e viveremos somente períodos pacíficos? É importante sabermos com o que estaremos lidando.

— Herdeira de Durwin, tenha calma e me dê as mãos. Em seguida, feche os olhos. — Após obedecê-lo, sentiu as mãos enfaixadas do Oráculo sobre as suas. Longos minutos de silêncio sucederam os seus gestos, mas Meredith permaneceu sem pronunciar uma palavra, à espera do que seria dito. — Pode abri-los.

— E então...?

— O que tenho a dizer é algo inteiramente difícil. Até mesmo para mim, que tenho experiência com a vida de diversas feiticeiras que já vieram até aqui. Através de minha visão, descobri que a criança é uma menina. Essa menina terá um árduo percurso a seguir durante a sua vida, com inúmeros riscos. Vossa Majestade deve utilizar tudo o que estiver ao seu alcance para impedi-la de ceder às trevas. Proteja a sua filha, Meredith, e nunca permita que a magia negra cresça dentro dela, pois, caso isso aconteça, será tarde demais para qualquer tentativa de resgate.

...

Os meses se passaram e, conforme dissera a profecia daquela geração, uma pequena menina chegou ao mundo. Meredith carinhosamente a nomeou Alyssa, cuja etimologia simbolizava pessoas aventureiras e verdadeiras líderes em todas as tarefas desempenhadas. Alyssa também era um nome importante para a nação de Durwin, pois era o que pertencia à primeira feiticeira. Para Meredith, seria como uma bela homenagem às raízes dos maleficus.

A criança cresceu sendo mantida, de certa maneira, encarcerada, mesmo que interagisse com aqueles que também assistiam às suas aulas. O contato ocorria somente dentro das salas, pois, assim que o horário se encerrava, Alyssa era conduzida para tomar as suas refeições, descansar e praticar intensos treinamentos para controlar e canalizar o seu poder de forma pura e saudável.

Possuía uma aparência única. Não havia puxado os cabelos negros da mãe, pois os seus eram extremamente vermelhos, como o sangue que jorrava pelas veias dos humanos. A pele, branca como o leite. Os olhos, verdes como o gramado de Durwin. Desde bebê, o físico de Alyssa era algo bastante comentado pelo povo. Eles sentiam a sua magia somente ao olhar para ela ou a terem por perto. A própria Meredith sentia algo diferente quando se aproximava de sua descendente.  E temia essa sensação.

...

Alyssa se lembrava de quando escutou aquelas vozes pela primeira vez.

Estava descansando após um exaustivo dia, quando seu sono foi interrompido por um chamado de seu nome. Após este ser proferido inúmeras vezes, a menina despertou e se assustou, pois era uma voz diferente das que conhecia. Assemelhava-se a um sussurro, mas um sussurro sombrio. Um sussurro que parecia que a perseguiria para sempre.

E estava certa.

Aos poucos, a princesa percebeu que a voz aparecia somente após os dias em que praticava treinamentos intensos de magia branca. Era como se fosse algo que quisesse desvirtuá-la daquele caminho, fazendo-a desejar seguir pelo outro lado. Contudo, a sua mãe sempre fora clara e direta em relação a isso, deixando mais do que explícito que era um crime perante a lei da cidade e aos deuses elementares. Sofreria inúmeros castigos durante e após a sua vida caso optasse por aquele caminho, segundo os ensinamentos de Meredith.

Mas Alyssa não suportava mais. Sabia que, se revelasse a verdade sobre os sussurros, perderia a sua vida e a sua liberdade por completo. Existiam, até mesmo, riscos de que sua magia precisasse ser retirada para que não fosse uma ameaça. A rainha não sabia da existência das vozes, e a filha não pretendia que soubesse.

“Alyssa Ward, se deseja saber a verdade sobre as suas origens e sobre a sua formação como ser mágico, não me ignore. A história que lhe foi passada é somente uma parte da verdadeira essência que faz parte de você.”

Certa noite, decidiu seguir o caminho que lhe era indicado através das baixas palavras. Levantou-se da cama e despistou os guardas, seguindo pelos corredores do Palácio de Durwin. Desceu inúmeras escadarias e, por detrás de um busto, descobriu um alçapão que revelava uma entrada escondida da enorme construção. Essa entrada conduzia a uma porta, que dava acesso a uma antiga biblioteca, certamente abandonada há séculos. Talvez nem mesmo a atual monarca a conhecesse.

Subitamente, uma estante pareceu distinta das demais, pois um clarão inexplicável a destacou. Alyssa, curiosamente, caminhou até a mesma, percebendo que um dos livros brilhava mais do que os outros. Apanhou este livro e retirou a poeira que cobria a capa. Em voz alta, leu o título do exemplar.

— A Dama da Escuridão.

...

Muitos Anos Depois...

 

Um deserto.

 

Era isso o que restava da sua amada terra de Durwin. Alyssa chorou ao ver com os próprios olhos a região que costumava chamar de lar. O local em que havia crescido, construído recordações e memórias, mesmo que nem todas fossem agradáveis de se lembrar.

Havia passado séculos aprisionada no interior do Mundo das Sombras, aguardando a oportunidade de ser enviada pelo Senhor das Sombras de volta ao mundo dos humanos, com a missão de dizimá-lo aos poucos e reconstruir a sociedade mágica que um dia existiu.

Mas estava sem forças. Teve dificuldades para se manter de pé, precisando usar as mãos para evitar quedas bruscas e manter o corpo em equilíbrio. A única magia restante fora utilizada para transformar o corpo de um cavaleiro morto, cuja alma havia sido retirada, na sua forma física.

Estava descalça. Os pés ardiam ao tocar no solo quente.

Deveria enfrentar os momentos difíceis, como as dores insuportáveis e o cansaço forte. Alyssa sabia que, aos poucos, a magia retornaria a Hastryn e Durwin seria recomposta. Conforme esse processo fosse acontecendo, a sua energia interior também retornaria. E Hastryn estava para enfrentar uma feiticeira poderosa, disposta a tudo para acertar as contas com os humanos e reerguer a sociedade mágica.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam dessa ~leve~ introdução? Hahah