Love lives by side - Em revisão escrita por Iset


Capítulo 1
Começos e recomeços


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao primeiro capítulo! Espero que gostem!



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Começos e recomeços.

Segundo um ditado as pessoas entram na sua vida por acaso, mas não é por acaso que permanecem. Seria mesmo o acaso que decreta as relações humanas? Eu sou filha do acaso. Por acaso aquele gringo veio curtir o carnaval do Brasil. Por acaso conheceu a bela passista da Mocidade Independente de Padre Miguel, por acaso nove meses depois, aqui estava eu e talvez por acaso ele não tenha desaparecido no mundo como muitos nessa situação fazem.

Mesmo assim custo acreditar no acaso, algumas pessoas se encaixam tão perfeitamente em sua vida que fica difícil crer que foram um mero incidente do destino. Você não acha? 

Há uma lenda chinesa  que diz:

“Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se. Independentemente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.”

Você pode não acreditar, em destino, mas nunca se sabe não é?

Verão de 2013 terminando ensino médio, com um quase namorado, amigas e um emprego de meio período. Okay não é grande coisa, mas dito que boa parte das garotas da comunidade estavam namorando traficantes, grávidas  ou com filhos sendo criados por suas mães, enquanto elas se embalavam ao som do “show das poderosas” nos bailes funk de Padre Miguel, eu me sentia uma vencedora. Com sorte passaria no Enem e quem sabe uma vaga na universidade? Não custa tentar. 

Mas com certeza seria mais fácil estudar se eu pudesse tirar a musica da Annita da cabeça, não que eu goste, mas toca em todo o lugar a toda a hora, é sério e eu não tenho dúvidas que eIa já está ecoando na sua mente agora.

“Agora é hora do show das poderosas  que descem rebolam” e por aí vai..."

Lembrou né? Se não estava na sua mente, agora está. Certeza.

De qualquer forma, vamos ao que interessa, eu odeio essa parte e não quero dramatizar demais as coisas, mas 2013 acabou pra mim no dia 17 de abril.

Voltava da escola como sempre, quando vi viaturas e um carro enorme do IML. Não que fosse algo incomum na minha comunidade, exceto por estar na frente da minha casa. Minha avó chorava debruçada sobre o corpo coberto por um lençol estirado a calçada. Eu fiquei paralisada antes de entender o que acontecia.

Naquele 17 de abril eu perdi minha mãe. O namorado achou que ela não merecia viver por não o querer mais na vida dela.

Trágico e irônico como as coisas acontecem por aqui, o assassino da minha mãe não foi preso. Por ser réu primário tem direito de responder em liberdade enquanto minha mãe apodrece sob o chão. O pior é ter que ouvir coisas do tipo:

“O Anderson é um homem bom, na certa a CIaudete aprontou pra ele” ou  ainda “Ela botou ele pra fora de casa por culpa da filha, a menina dava conversa pra ele”.

Ainda dói, mas isso não importa, deveria importar, mas minha mãe, a “Dete do samba” foi apenas mais uma entre tantas que são vitimas de crimes passionais no Brasil. Mais um número para estatísticas e só.

Sete meses depois as coisas estavam difíceis, minha avó recebia um dinheiro que meu pai mandava, não era muito e eles criavam mais três netos pequenos. As pessoas têm a falsa ilusão que todo o mundo nos Estados Unidos tem casas enormes e ganha muito bem, tipo nos filmes da “sessão da tarde”, mas as coisas não são tão fáceis assim. Meu pai era segurança de loja e o que ganhava era apenas o  suficiente pra viver e sustentar os quatro filhos,  que ainda eram menores de idade

Meu avô dizia que eu devia agradecer por eIe não esquecer que eu existo, mas eu tinha uma enorme mágoa por nunca ter convivido com ele.  

O que acontece é que meu pai decidiu que depois de 17 anos, eu devia morar com ele em Jacksonville Flórida.  Eu não sei o que realmente senti, mas a ideia de deixar meus avós, amigos, o Vinicius, agora namorado, meu país, me assustou um pouco. Porém conviver com meu pai sempre foi um sonho e eu não vou ser hipócrita que a idéia de viver na terra do Mickey Mouse, me deixava em cólicas. E o Vinicius aceitou de boa, certamente encontraria outra companhia, que gostasse mais de carros rebaixados e som do que eu.

Resolvido os trâmites legais eu embarquei. Durante as horas de viagem, a aeromoça me perguntava a cada quinze minutos se eu necessitava de alguma coisa, tamanho o nervosismo estampado em meu rosto e em minhas mãos atarraxadas nas alças da poltrona. Meu avô costumava dizer que voar era pra passarinho e acho que eu tinha a mesma opinião.

A chegada ao Jacksonville International Airport fez a ansiedade tomar conta do meu estômago. Quantas vezes eu havia  visto meu pai pessoalmente até ali? Duas? Três ao certo, mas da primeira era apenas um bebê. A aeromoça me encaminha até a sala onde meu pai já me aguarda com um sorriso largo. Ele era um pouco mais baixo do que eu me lembrava, estava mais gordinho do que nas fotos do facebook, tinha um bigode proeminente e cabelos grisalhos.

— Fez boa viagem? - Pergunta ele com aquela voz rouca e sotaque americano engraçado reconhecível dos telefonemas.

Aceno com a cabeça, trocamos mais algumas poucas palavras e um abraço terno antes de seguimos pra casa.

 Estava eu aIi, 17 anos recém completos, num país estranho, na bagagem algumas roupas, rapaduras que minha avó insistiu que eu trouxesse e um cursinho básico de inglês, que eu descobri não servir para nada. Sim eu deveria ter dado mais atenção quando minha mãe cobrava mais vontade em aprender o idioma, mas morar fora do Brasil  não parecia que se tornaria realidade naquela época.

O fuso horário estava me matando, mas eu não poderia dormir ou não me ajustaria e na segunda a rotina começava. Meu pai fez um assado pro jantar e purê de batatas, aliás americanos amam batata, frita cozidas, assadas, o importante é ser batata e sim eles  jantam às 18 horas!

Papai era o oposto da minha mãe, falava pouco parecia bem tímido, a casa dele era bem organizada cheia de miniaturas de automóveis e placas antigas por todos os lados. Meu quarto era pequeno, mas eu pude notar o esforço que ele fez pra me deixar confortável. Havia um edredom cor de rosa florido e posters do Justin Bieber na parede, que certamente não estavam ali antes. Não me atrevi a dizer que meu gosto musical tinha mudado. Jantamos e depois ele  sentou se numa poltrona e começou a assistir um programa de TV. Tentei fingir que entendia, mas depois de um tempo deixei o tédio da saIa e fui respirar ar fresco.

Sentei nos degraus a frente da porta, e coloquei minha playlist favorita no celular, os fones e fiquei fazendo o que eu fazia de melhor. NADA!

Foi quando eu o vi pela primeira vez, um moreno, alto, cabelos curtos penteados para trás. Estava com uma calça jeans um pouco surrada, camiseta, um blazer preto e tinha um sorriso lindo, enquanto tentava se equilibrar em cima de um patinet infantil. Logo atrás, um garotinho de sete ou  ou oito anos corria gritando!

“Daddy wait!!! Wait!!!”

Quando alcançam a frente da minha casa eIe para e lança um olhar na minha direção! Deus do céu meu coração quase para e quando ele acena fico estática,  ouço o ranger das tábuas e vejo que o aceno foi para meu pai, que está postado na porta. Eu ainda não sei dizer se senti decepção ou alívio.

Meu pai se encaminha até a cerca e os dois trocam algumas palavras, enquanto o garotinho puxa insistentemente o blazer do pai. Finjo mexer no celular a fim esconder o rubor que a presença dele me causou. E certamente teria êxito se meu pai não tivesse a brilhante idéia de nos apresentar. Santo Deus! Minhas pernas estavam bambas, meu estômago gelado. Lembro de me sentir assim no show do Justin, três anos atrás em São Paulo. Ah confesse, toda a garota tem uma “paixonite” por um cantor famoso, mas que merda era aquela agora?
Eu respiro fundo e tento não tropeçar nos meus pés, caminho até eles sem tirar os fones de ouvido, eu coloco um sorriso amarelo no rosto e cumprimento o cara.  

Um aperto de mão forte contrastando com a pele lisa e macia. AIec era o nome dele,  com a voz um pouco rouca, ele apresentou o filho Max e meu pai disse aIgo sobre coleção de carros de brinquedo. Eu realmente não conseguia olhar pra ele e prestar a atenção na conversa a ponto de traduzir o inglês rápido que usavam. A vida real não tem legendas, mas nao sei, acho que mesmo que eu fosse fluente não conseguiria prestar atenção em aIgo mais do que a boca dele se movendo, o olhar brilhante e o ar despreocupado que ele projetava.

NÃO PARA!

Droga Carolina, pare! Pare, pare! O cara é mais velho, tem um filho, é seu vizinho, amigo do seu pai e provavelmente casado, você não quer a mesma droga de destino da sua mãe, você é uma garota esperta! Disse a mim mesma.

Respiro fundo e me afasto, volto a escada enquanto os dois falam empolgados sobre carros em miniatura.

O garoto olha através das tábuas da cerca e me encara, ele era bonitinho, tinha os olhos e o cabelo do pai, eu aceno simpática e recebo uma careta com a língua pra fora como resposta, eu podia não entender bem inglês, mas aquilo era universaI. Imediatamente eu enfio os dedos indicadores em cada canto da boca e coloco a língua pra fora, o garoto responde deixando o olho vesgo e puxando as orelhas. Aquilo era guerra!
Eu estico os lábios fazendo com que o superior encoste no nariz comprimindo todo o rosto na direção centraI reviro minhas pálpebras, algo que se aprende quando se tem primos,  e coloco a lingua pra fora. O garoto olha com repulsa e eu quase tenho um infarto quando percebo que AIec e papai observam a nossa guerra de caretas. Meu rosto arde de vergonha, enquanto os dois  riem e voltam a conversar.

Ótimo agora o carinha vai pensar que tenho cinco anos de idade mental ou que sou retardada. Pessimo começo. Está aí outra coisa que eu sou boa, começos complicados, acho que sou a rainha deles. Se eu pudesse definir minha vida numa frase seria “Começos complicados” eu já disse que sou cria do carnaval certo? Bom pra completar eu resolvi nascer quase dois meses antes enquanto minha mãe se divertia num pré ensaio da escola de samba.  Quase morri no hospital pela prematuridade, quebrei a perna no primeiro dia no jardim de infância, meu primeiro beijo foi num jogo da garrafa com meu primo cheio de espinhas e mau hálito e acabei sendo apreendida no primeiro dia no ensino médio. Poderia citar centenas de primeiros dias mas, melhor deixar quieto. Talvez o cara da casa ao lado seja só mais um começo complicado, talvez não seja nada ou talvez seja o amor da minha vida. Ainda é cedo pra dizer, mas seria bom se pudesse descobrir não acham? Eu sei é loucura, e não eu nao sofro de nenhuma síndrome de LoIita ou algo parecido. Não sei o que está acontecendo, mas tirar ele da cabeça está difícil. Aiii aquele sorriso.  Eu não acredito em amores à primeira vista, minha mãe acreditava e acabou grávida e sozinha, sem falar no bando de babacas que passaram pela vida deIa. Mas o AIec, nossa ele é tão lindo, não vejo a hora de ve-Io de novo.

Nossa chega Carolina, deixa de pensar besteira, como diz a minha avó, dorme que passa. E espero que eIa esteja certa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, de qualquer forma deixem um review tá? Sou super aberta a críticas construtivas e sugestões.



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