Meu Eu Depois Dela escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 6
Preparativos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas! *-*
Como estão? Espero que bem! ♥
Eu fico maravilhada toda vez que venho aqui e encontro novos leitores e novos comentários! Vocês realmente sabem como fazer derreter o coração dessa autora bobona aqui. *-* Segundo o site, a história já possui 44 leitores acompanhando e 6 favoritos. Então muito obrigada mesmo! ♥ ♥ ♥
Quero agradecer de coração a Kiaend, SchneiderUchiha, Thammyzinhaa, Aiták Arieugon, ACnaruhina, Bia hime naruhina sasusaku e callalily pelos comentários no último capítulo! Vocês são demais! ♥

Nesse capítulo teremos não só o ponto de vista do Naruto, mas o da Hinata também. Espero que gostem. ^^"
Boa leitura! ♥

P.S.: leiam as notas finais, por favor.



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— O que são tenketsus?

Um sábado ensolarado e bastante ventilado. Pararam o treino perto das onze horas, sentando-se à sombra de uma árvore e aproveitando o descanso antes do almoço.

Hinata o olhou curiosa. Ele tentou parecer natural, como se estivesse perguntando qual era o suco favorito dela.

— São os pontos de chakra, Naruto-kun — ela respondeu calmamente. — Servem para bloquear ou permitir a passagem de chakra em várias partes do corpo. Alguns estão muito perto de órgãos vitais, o que pode comprometê-los numa batalha com um Byakugan.

— Só podem ser vistos com um Byakugan?

— Sim. São muito pequenos. Quase do tamanho de uma célula.

Naruto ficou aliviado com a falta de desconfiança da morena. Temia que ela lembrasse da conversa com Sakura sobre ter acertado um tenketsu dele, consequentemente descobrindo que ele ouvira a conversa escondido há quase duas semanas.

— Posso ensiná-lo a encontrá-los.

Naruto a olhou surpreso. Hinata tinha o rosto ansioso.

— É claro que você precisará evoluir mais um pouco com o taijutsu — ela falou depressa. — E então posso ensiná-lo o taijutsu especial dos Hyuuga. O Byakugan lhe fará falta, é claro, mas posso lhe ensinar um truque ou outro. O que acha?

A fala rápida, o sorriso contagiante. O rapaz foi facilmente convencido.

— Só se for hoje!

— Não, hoje não dá. — Ela se levanta de supetão. — Preciso fazer o almoço.

Hinata caiu ao seu lado, chorando de rir com o rosto chocado e decepcionado do Uzumaki. Ela passou os braços pelo pescoço dele, sem se importar com o corpo ainda suado do rapaz.

— Você precisava ver a sua cara! — Ela deu-lhe um beijinho no rosto. — Mas por hoje chega, Naruto-kun. Você ainda está se acostumando de novo com o próprio corpo. Não vamos acelerar as coisas.

— Você disse que podia me ensinar. — Fez um bico.

— E posso. — Hinata se levantou, oferecendo a mão para ajudá-lo. — Mas só amanhã.

Ela riu de novo quando os olhos azuis brilharam com a resposta.

 


Naruto ficou com o rosto da cor dos cabelos de sua mãe, Kushina. Hinata o parou no quarto, logo depois do almoço de domingo, pedindo para que ele tirasse a camisa antes de saírem para o treinamento. A moça segurava um pincel atômico em uma das mãos.

— Por quê? — Ele gaguejou.

— Vou pintar alguns tenketsus em você — ela não tinha o rosto corado, mas evitava olhá-lo. — Assim você pode memorizar a localização deles sem precisar de um Byakugan. Eu aprendi assim, para o caso de não ter tempo de ativar o doujutsu numa luta.

Ele meneou a cabeça devagar, concordando ainda hesitante. Tirou o casaco, envergonhado. A camisa foi até dobrada antes de ser colocada sobre a cama. Naruto se voltou para Hinata. Agora sim a vergonha estava evidente.

Ambos evitavam o contato visual, mas Hinata não teve como evitar o físico. Ele tentou não se assustar quando a ponta gelada do pincel o tocou. Olhou para Hinata, aparentemente concentrada em encher o peitoral dele de pontos, o doujutsu ativado. Quando terminou e notou que o garoto tinha os olhos fixos em si, Hinata se afastou a uma distância segura, pedindo baixinho para que ele olhasse o espelho de corpo inteiro do guarda-roupa.

O queixo dele caiu.

Tinha dezenas de pontos pretos minúsculos nele. Talvez até uma centena. Acertá-los em uma batalha poderia ser impossível para alguém que não tivesse olhos especiais.

— N-Não é impossível — ela comentou como se adivinhasse seus pensamentos. — É só uma questão de prática.

Naruto tentou se convencer (e à Hyuuga) ao fazer um sinal de positivo com a mão. Aprenderia o taijutsu dos Hyuuga e deixaria Hinata orgulhosa, ele garantiu.

Treinaram o taijutsu comum por horas antes de Hinata iniciá-lo no especial. Eram golpes rápidos e que exigiam uma liberação de chakra pelas mãos, tanto para ataque quanto para defesa. Tão acostumado a fazer o Rasengan, que nada mais era do que o chakra rotacionando em alta velocidade na palma da mão, Naruto não percebeu quando usou um para atacar a morena. Hinata desviou a tempo.

— Não é um Rasengan. — Ela sorriu, orgulhosa. — Mas é o mesmo princípio para liberar o chakra.

— D-Desculpe, eu... eu nem sei como fiz isso.

— Você está controlando cada vez melhor seu chakra e seu corpo. Honestamente, achei que o Rasengan ainda demorou a aparecer.

Ele ficou olhando a esfera na mão esquerda, pensativo.

— Você acha... acha que consigo usá-lo como defesa?

— Não entendi.

— O Rasengan — esclareceu. — Eu o uso para atacar, mas você disse que posso usar meu chakra como escudo também. Acha que funcionaria com o Rasengan?

Hinata deu de ombros.

— Não faço ideia. Podemos tentar se quiser.

Treinaram por poucos minutos, Naruto agradecendo aos céus por Hinata desviar a tempo de suas defesas falhas. O Rasengan ainda estava rotacionando numa velocidade capaz de perfurar a pele de uma pessoa, e não resistente o suficiente de modo a formar uma barreira sólida. O loiro não teve muito tempo para se sentir desanimado, pois uma voz conhecida os encontrou na clareira.

— Naruto! Hinata! — Sakura correu até ele, animada e emocionada como nunca — Ainda bem que encontrei vocês!

— O que houve, Sakura-san?

— Ah, eu tenho boas notícias! Tsunade-sama disse que podíamos esperar até amanhã para contar, mas eu não aguentei!

— Diga de uma vez, Sakura-chan.

— A prótese, Naruto! — ela gritou em empolgação. — A prótese está pronta. Se quiser, podemos ir ao hospital agora mesmo para iniciarmos os preparativos!

Hinata acompanhou a amiga nos gritinhos. Nem perguntou nada a Naruto. Arrumou tudo, vestiu o casaco nele e depois o seu próprio, colocou a mochila sobre os ombros e não soltou a mão do loiro até chegarem ao Hospital Geral de Konoha.

— Estávamos no meio de um treinamento, Sakura-chan — ele resmungou na entrada no hospital. — Hinata estava me ensinando um taijutsu novo.

— Você aprenderá mais rápido com os dois braços — revidou a moça de cabelos rosados.

Sakura os levou até uma cama na enfermaria e saiu rapidamente meio minuto depois, prometendo voltar com Tsunade.

— Você parece desanimado.

Naruto olhou para sua noiva meio desconcertado.

— Fui pego de surpresa. — Coçou a cabeça, sorrindo nervoso. — Tanto tempo sem notícias da prótese... eu estava quase me acostumando com um braço só.

Hinata o olhou docemente.

— Não pode virar o Hokage com apenas um braço, Naruto-kun.

— Eu sei. — Riu. — Não perdi o interesse na prótese. Apenas tinha me esquecido dela.

Tsunade, para a surpresa do casal, apareceu apenas com uma caixinha metálica nas mãos.

— Ué! Onde está meu braço novo?

— Sakura não lhe falou? — Ela olhou a pupila por um instante. — Podemos começar os preparativos. — Mostrou a caixa. — Não receberá o braço se seu corpo rejeitar as células de meu avô.

Tsunade explicou que faria algumas sessões de testes, injetando células do primeiro Hokage no rapaz até que o corpo dele não estranhasse o sistema invasor. Tirou da caixinha uma seringa e um frasquinho de vidro contendo um líquido branco. Naruto tentou não fazer uma careta com a explicação ou com o líquido de aspecto de sangue sendo sugado por uma agulha nas mãos da Sannin Lendária.

— Os efeitos colaterais... — A vozinha preocupada de Hinata o alarmou.

— Não vou esconder de vocês — a médica falou séria. — As primeiras doses não serão fáceis. As células de meu avô são fortíssimas, e não é qualquer um que aguentaria as doses que aplicarei em você, Naruto. A bem da verdade, estou contando que seu chakra especial e o de Kurama sejam suficientes para fazê-lo suportar a dor.

— Dor? — Naruto e Hinata falaram juntos.

Tsunade apenas confirmou com a cabeça. Preparou a dose e pediu que Naruto tirasse o casaco antes de furar o braço amputado com a agulha.

— Não sinto nada — ele garantiu alguns minutos depois.

A loira estranhou, mas Hinata confirmou com o Byakugan: tudo funcionando normalmente.

— Que bom, eu acho. Passe a noite aqui, apenas por precaução. Eu esperava outra reação... — confessou.

Saiu da enfermaria com um semblante tão preocupado que deixou os três jovens com a pulga atrás da orelha.

— Sakura-san — Hinata quebrou o silêncio. — Pode ficar com Naruto-kun alguns minutos? Vou buscar uma muda de roupa para que ele possa tomar um banho.

— Sem problema. Aproveite e tome um também antes de voltar. A noite promete ser longa...

Hinata confirmou e saiu também. Sakura não perdeu tempo:

— Como você fez isso?

— Fiz o quê? — o loiro falou confuso.

— A dor! — ela disse como se fosse óbvio. — Tsunade-sama fez um milhão de testes com seu sangue e as células de Hashirama-sama! Em todos eles o seu sangue reagia violentamente!

Naruto suou frio.

— Isso era para me acalmar?

— Não quero assustá-lo. Eu só... — falou de repente, arrependida com sua curiosidade. — Só estranhei.

Sakura tentou disfarçar o nervosismo ao tirar um papel dobrado de um dos bolsos e estendê-lo para o garoto.

— O que é isso?

— Uma carta de Sasuke-kun. Ele me escreveu depois que você não respondeu a última que ele mandou. — O loiro previu a bronca com um sorriso nervoso. — Naruto, você não me disse que ele tinha mandado uma carta!

— Esqueci, desculpe — falou sincero. — Ele não dizia muita coisa. Só que estava treinando muito e que achava que eu fazia mil clones com uma mão. — Sakura ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Eu sei, também não tenho ideia do porquê de ele ter pensado nisso. Mas foi por isso que eu voltei a treinar: porque ele já faz um clone só com uma mão, Sakura-chan!

— Sasuke-kun sempre aprendeu mais rápido que você — rebateu orgulhosa.

Naruto lhe mostrou a língua, pegando a carta das mãos da moça.

“Cara Sakura.
Está tudo bem por aí em Konoha?
Fiquei preocupado com o silêncio de Naruto. Eu mandei uma carta há poucas semanas, e até agora não recebi nenhuma resposta, o que é muito estranho da parte dele.
Está tudo bem com vocês, não é?
Aguardarei uma resposta.
Sasuke.”

— Ainda não respondi. Queria responder com você.

Sakura pegou um pergaminho e uma caneta da própria bolsinha de kunais. Se apoiou de qualquer jeito na cama com Naruto e começou a escrever:

“Querido Sasuke-kun.
Aqui é Sakura, escrevendo de novo em nome de Naruto. Ele está aqui ao meu lado no hospital, mas não precisa ficar preocupado. Ele acaba de começar os preparativos para receber o novo braço, e está aqui apenas para observação nessas primeiras horas. Até agora tudo normal... você devia fazer o mesmo!
Ah, e perdoe-o pela falta de respostas! O idiota ficou tão empolgado com a ideia de que poderia voltar a treinar com apenas um braço (assim como você), que não perdeu tempo até começar a fazer o mesmo, esquecendo completamente da sua carta. Sinceramente, Sasuke-kun, de onde você tirou a ideia de que Naruto já fazia mil clones? Ele, aos poucos, está começando a coordenar o corpo novamente com o taijutsu. Nada de ninjustus por enquanto, mas diz aqui que está aprendendo os taijustus dos Hyuuga com Hinata, e que o Rasengan continua forte como sempre! Um bobão...
Aliás, acho que você ainda não sabe da novidade! Naruto irá se casar! Já adivinha com quem, não é? Ela mesma: Hyuuga Hinata!
Não concorda comigo que eles ainda demoraram a ficar juntos? Naruto ainda é um tapado, mas tenho certeza que ele ainda vai notar o que nós dois reparamos há anos!
O casamento é de fachada, devido a alguns problemas que surgiram com Hinata depois da guerra, e Naruto propôs o casamento para livrá-la deles. Prometemos contar mais em detalhes quando nos encontrarmos. Mas por enquanto basta que você saiba que está convidado para a cerimônia, ainda sem data definida. Naruto acaba de perceber que está noivo há quase três meses e que ainda não pensou na data do casamento, nem nos preparativos. Um idiota...
Com saudades,
Sakura e Naruto.”

— O que eu ainda não notei?

Sakura apenas sorriu em resposta, guardando a carta na bolsa e prometendo enviá-la no dia seguinte. Hinata apareceu poucos minutos depois com a mochila do loiro, enfim liberando Sakura das perguntas insistentes de Naruto.

— O que houve? — perguntou uma curiosa Hyuuga.

— Sakura-chan disse que ela e Sasuke perceberam algo sobre eu e você há anos, e eu queria saber o que era!

Para a surpresa dele, Hinata ficou vermelha. O queixo do ninja caiu.

— Você sabe o que é! — ele acusou, chocado.

— Chega de bobagens, Naruto-kun! — Ela o puxou para fora da cama e o guiou até o banheiro da enfermaria. — Vá tomar um banho! Aqui estão suas roupas!

Naruto foi, mas não sem proclamar em alto e bom tom que ele ainda descobriria o que tanto escondiam dele.

 


Acordou com o próprio grito. Abriu os olhos, percebendo instantaneamente que tremia de dor.

— Naruto-kun...

Olhou para o lado. Hinata tinha profundas olheiras, o rosto contraído em profunda preocupação.

Não conseguiu olhá-la por muito tempo, muito menos sorrir em sua direção. Outra pontada forte o atingiu no braço amputado, e ele levou o outro ao ombro dolorido.

— O que está acontecendo? Por que dói tanto?

Ele apertou o ombro com força, numa tentativa frustrada de fazer parar a sensação de facadas no lugar.

— Os efeitos colaterais — ela lembrou, colocando uma toalha molhada sobre a testa dele. Estava tão fria que só então Naruto notou que estava febril. — Tsunade-sama disse que você sentiria dor.

Não conseguiu conter os outros gritos. Uma enfermeira apareceu, nervosa, colocando rapidamente em prática o ninjutsu médico. Naruto disse que a dor não estava diminuindo.

— Por favor, — implorou Hinata — chame Tsunade-sama! Ela conhece bem o caso dele. Saberá o que fazer.

A mulher atendeu sem demora.

— Naruto-kun... — Ele a olhou, se esforçando para manter os olhos abertos em meio à tremedeira que o assolava. Fechou logo depois, porém, ao sentir as delicadas mãos da moça acariciarem seu rosto. — Por favor, aguente mais um pouco...

Ele confirmou devagar, obrigando-se a respirar mais calmamente para não a preocupar ainda mais. Abriu os olhos no instante que ela beijava ternamente sua mão. Naruto nem tinha notado que ela soltara seu rosto e agarrara sua mão.

A dor voltou quando Hinata se afastou com a chegada de Tsunade. Ele gritou. Hinata apertou sua mão com força, mostrando que não iria abandoná-lo e que faria qualquer coisa para ajudá-lo.

Não ouviu metade das palavras da médica. Parecia que uma kunai atravessava seu ombro a cada meio minuto. Sentiu algumas batidas no rosto, e ele voltou a abrir os olhos, encarando os azuis de Tsunade.

— Vovó... — Ele mal tinha forças para falar. — Dói...

— Naruto! — Outra batida no rosto. — Eu preciso que se concentre! — Ele confirmou. — De um a dez, qual é o nível de sua dor?

Naruto fechou os olhos com mais uma pontada. Gritou.

— Os nervos dele estão agitados! — Ouviu a voz de Hinata bem baixa, como se estivesse bem distante.

Estava perdendo a consciência.

— Oito...

 


Quando voltou a abrir os olhos já era de manhã. Sentiu cada parte do corpo dolorida, não mais só o ombro. Fez um esforço para mexer a cabeça, encontrando uma Hinata dormindo desajeitadamente entre a poltrona e a cama. A mão dele estava segura pela dela.

— Hi... Na...

Não conseguiu terminar, mas deu um sorriso inconsciente.

— Hina...

Gostava de chamá-la assim.

Ela acordou antes que tentasse falar de novo. Olhou-o preocupada, colocando a outra mão sobre a testa dele, sorrindo aliviada ao ver que ele não tinha mais febre.

— Ainda está com dor, Naruto-kun?

Ele confirmou com a cabeça, sorrindo com a mão dela em seu rosto. Hinata riu.

— Está sorrindo com dor?

— Acho... — A garganta estava seca. – Que fiquei... cansado. Meu corpo... dói. Mas só... um pouco.

— Quer dar uma nova nota? De um a dez?

Naruto hesitou.

— Lembre-se que não adianta mentir para mim.

Ela apontou para os próprios olhos. O garoto engoliu em seco.

— Cinco... E meio.

Hinata ativou o Byakugan mesmo assim. Confirmou a dor pelo corpo, mas não tanto quanto na noite anterior, ela disse. Deu-lhe um copo com água e retornou para a poltrona, sem largar a mão dele. Naruto não disse mais nada. Apenas deixou que ela aproveitasse o descanso.

Olhou das mãos unidas para o rosto sereno da moça, já quase adormecido.

Voltou a pensar na noite anterior, no momento em que confirmara o “oito” para Tsunade. Não pensou com clareza em meio à dor, mas só de olhar para o rosto delicado de Hinata, soube que falara o número certo.

Descobrir sobre Kurama e ver Iruka atingido, há muitos anos, foi um doloroso e emocionante sete. Ver Sasuke perfurado pelas agulhas de Haku, e anos depois descobrir que ele tinha uma pena de morte sobre sua cabeça, lhe custara um oito e meio. Perder Jiraiya, Neji e outros tantos na guerra, foram seus “dez”.

Achar que Hinata morrera nas mãos de Pain foi um nove.

Mas na época eram apenas companheiros ninjas, colegas. Mal podia dizer que eram amigos, apesar de Naruto preferir dizer que sim. Ele não se lembrava de ter conversado mais que cinco minutos com a Hyuuga antes da Quarta Guerra Ninja.

E mesmo assim sentira um nove ao vê-la morrendo.

— Por que, Hinata?

Não sabia o porquê. Apenas tinha certeza que a dor da noite anterior em nada se comparava com a perda de entes queridos.

E com certeza não chegaria aos pés da dor caso perdesse a morena que segurava sua mão como se fosse sua vida.

 


Faltavam cinco minutos para as oito da manhã quando Tsunade retornara à enfermaria. Trazia a mesma caixinha da noite anterior, e ao perceber que Naruto a encarava nervosamente, ela lhe lançou um olhar penalizado.

— Sinto muito — disse sincera. — Está na hora de outra dose.

Hinata acordou ao ouvir a voz da ex-Hokage, ficando de pé e encarando a médica como se não estivesse nem um pouco cansada. Naruto olhou para a garota que não saía de seus pensamentos, e respirou fundo antes de tomar uma decisão.

— Vovó... — Ele não as olhava. — Posso falar com a senhora antes? Em particular?

Não precisou ver para saber que Hinata arregalava os olhos em sua direção.

— Naruto-kun... não está... não está pensando em desistir, está?

— Claro que não. — A certeza pareceu acalmá-la. — Eu quero falar... outra coisa.

A Hyuuga hesitou antes de soltar sua mão e sair da enfermaria. Tsunade fixou seus olhos nele, confusa.

— Espero que não esteja pensando mesmo em desistir. Aquela foi só a primeira dose, mas tenho certeza que pode melhorar com o tempo...

— Não é isso, vovó — cortou. — Eu só... queria pedir uma coisa.

O silêncio da mulher foi entendido como um pedido para continuar.

— Pode... pode pedir à Hinata... que vá para casa? — Como a confusão ainda se fazia presente no semblante da mulher, Naruto tratou de continuar: — Não quero que ela me veja... daquele jeito. De novo.

— Hinata está aqui para cuidar de você. É a missão dela, acima de tudo.

— Eu sei, eu só... ela está tão cansada! Tenho certeza de que mal dormiu à noite, e... — Respirou fundo. — Como ela poderá continuar com seus cuidados se não tiver algumas horas de descanso?

— Ela é uma ninja como qualquer um de nós aqui. É seu trabalho aguentar a missão sem reclamar.

— Mas é minha noiva também! — levantou a voz sem querer, e a mulher o olhou surpresa. — E estou preocupado com ela! Não quero que Hinata passe mal também.

Tsunade engoliu em seco. Um silêncio constrangedor tomou conta, e o rapaz não teve coragem de manter fixo o olhar.

— Não é só pela missão... — A voz baixa da mulher chamou sua atenção. — Ela também está preocupada com você. Chamou Kurama incansavelmente quando você perdeu os sentidos, e quando ele enfim tomou conta de seu corpo, Hinata não o deixou em paz até que ele tomasse o controle da situação e garantisse que você voltaria a acordar. Ajudou a controlar a dor e confirmou que você apenas dormia. Só então Hinata o largou. — Tsunade hesitou antes de finalizar: — Kurama teve que destruir as células de meu avô, enquanto Hinata anestesiou seu corpo pressionando seus tenketsus. Você não aguentou a dose.

Naruto virou o rosto, envergonhado. Não era à toa que se sentia tão dolorido... Hinata se esquecera da própria missão ao ajudar Kurama a destruir as células de Hashirama, não suportando vê-lo com tanta dor. Por que ela faria uma coisa dessas?

— A menina Sakura tem razão: você é mesmo um idiota.

A voz de Kurama o assustou. Olhou para a raposa deitada dentro de si, a aparência entediada.

— Do que está falando?

— Da menina Hinata, óbvio. Não vê que ela gosta de você? Nada mais a faria desistir das células do primeiro Hokage em prol de seu bem-estar.

Naruto abriu um sorriso tímido.

— Você a chamou pelo nome... finalmente.

— Ela é uma boa menina — falou Kurama entre um bocejo. — É mais fácil ver o caráter de uma pessoa quando ela está passando por problemas.

— Naruto!

Assustou-se de novo, mas dessa vez com a voz de Tsunade.

— Ainda quer que eu fale com Hinata?

Pensando melhor, ele sequer queria ficar longe da dona de olhos perolados. Confirmou com a cabeça mesmo assim, e Tsunade aplicou-lhe a injeção antes de sair da enfermaria atrás de Hinata. Naruto encostou-se na cabeceira da cama, respirando fundo e prometendo a si mesmo (e à Kurama) que, dessa vez, aguentaria a dor até o fim. Proibiu a raposa de destruir as células “do vovô da vovó” de novo e fechou os olhos. Teve um sobressalto quando uma voz conhecida falou ao seu lado:

— Você pediu para eu ir embora?

A vozinha tímida e o rosto magoado escondido pela franja tocaram fundo em seu coração.

— Gostaria que descansasse um pouco... — Sorriu nervoso. — Você não iria se eu pedisse, não é?

— Estou aqui para cuidar de você.

— Não pode fazer isso se estiver no limite das forças, Hinata.

— Não estou — falou rapidamente. — Meu limite é de uma semana acordada. Consegui descansar algumas horas essa noite, então posso aguentar um pouco mais.

Não queria brigar com Hinata, muito menos magoá-la. No entanto, não via outra forma de fazê-la ir para casa.

— Não tente me enganar — a seriedade a assustou. — Você pode ter olhos especiais, mas eu não sou cego. Está quase dormindo em pé, e eu não preciso de mais uma preocupação nesse estado.

— N-Não é v-verdade! E-Eu...

O rosto impassível percebeu os olhos lacrimosos antes que se desviassem para a mochila. Hinata percebeu que não tinha nada seu ali, pois levara tudo na noite anterior. Despediu-se sem olhá-lo e saiu correndo.

 

~*~

 

O descanso não durou muito mais que uma hora. “Tempo suficiente” ela pensou quando Sakura a chamou de dentro da enfermaria.

Não foi para casa. Nunca conseguiria descansar tão longe com Naruto daquele jeito.

Correu para dentro da enfermaria. Naruto tremia como na noite anterior, ardendo em febre. Ajudou Sakura com os panos molhados e com o ninjutsu médico, o Byakugan vigiando a todo instante.

— Kurama! — Hinata chamou com firmeza. — Kurama, fale comigo!

— Ainda... — gaguejou o rapaz, surpreendendo-as. — Sou eu.

— Como está a dor, Naruto? — Sakura falou alto, chamando a atenção dele. — Precisa de mais anestesia?

Ele negou com a cabeça, voltando o rosto para Hinata. Naruto mal conseguia manter os olhos abertos, mas sorriu aliviado quando as pérolas encararam suas safiras.

— Hina...

Naruto fechou os olhos de novo, ainda com um sorriso bobo. Hinata sentiu um arrepio percorrer o corpo ao ouvir o apelido pela primeira vez, e corou quando ouviu um risinho baixo de Sakura.

— Vocês dois... — Ela sorria orgulhosa. — Dois cegos que insistem em não ver o que está estampado para qualquer um.

O rosto da Hyuuga pegou fogo.

— N-Não é hora para isso, Sakura-san!

— Eu concordo. — As duas se assustaram com a voz de Kurama. — Ele apagou de novo.

— Como ele está, Kurama?

O Naruto de olhos vermelhos olhou para o braço amputado por um instante, fazendo uma careta.

— Não me admiro que ele tenha desmaiado — confessou, soltando um suspiro. — Isso aqui dói como o inferno!

Hinata ativou o Byakugan, decidida a fazer o mesmo que na noite anterior. Se os anestésicos não faziam efeito, ela não via motivos para continuarem com aquilo.

— Não — falou a raposa, adivinhando seus pensamentos. — Naruto disse que iria até o fim dessa vez. Me pediu para não destruir as células do Primeiro novamente.

— Mas ele está a ponto de ter outra convulsão! — Sakura disse com urgência.

— Por isso estou aqui — devolveu Kurama. — Meu chakra já está agindo contra a febre.

As duas, por reflexo, levaram a mão até a testa de Naruto. A febre cedia, apesar de ainda bastante alta.

— Pode demorar um pouco — continuou a raposa. — As células do Primeiro são muito fortes.

Outra careta.

— Mas ainda continua doendo como o diabo! Contra a dor não posso fazer muito. Já você, Hinata...

Ela entendeu. Ativou o doujutsu mais uma vez, pressionando os tenketsus que isolavam o ombro do loiro. A dor não se espalharia mais pelo corpo, concentrando-se apenas no braço e facilitando o tratamento para as ninjas. Seria pior para Naruto, no entanto.

— Não o deixe acordar agora, Kurama — pediu Hinata. — Vai piorar um pouco.

Outra careta do jovem de olhos avermelhados.

— Não estava em meus planos. Ele não acordaria com essa dor, de qualquer forma.

Kurama cobriu o corpo de Naruto com seu manto vermelho e borbulhante. Sakura e Hinata pararam o ninjutsu médico e se afastaram, deixando a cura apenas para a raposa. Outra careta, mas a risada da raposa as assustou.

— Qual é a graça? — perguntou Sakura.

— Ele acordou. — Sorriu o bijuu, sem esconder a surpresa. — Está pedindo para ter o controle do corpo de volta, o moleque teimoso.

— Não deixe, Kurama! — Hinata falou no mesmo instante. — Naruto-kun pode não suportar a mesma dor que você está aguentando agora.

— Eu sei disso. — Ele ria. — Os pensamentos dele é que são engraçados. Às vezes ele esquece que compartilho de sua mente.

Hinata viu os olhos verdes brilharem com uma ideia.

— Sakura-san...

— Kurama, pode nos responder uma coisa? — a moça de cabelos rosados falou repentinamente empolgada.

— Se Naruto deixar. — Deu de ombros.

— Sakura-san...

— No que ele tanto pensa quando se distrai do mundo aqui? — Hinata arregalou os olhos, chocada. — Quero dizer, por um tempo eu achei que ele estava apenas conversando com você. Mas ele sempre volta com um sorriso bobo, e tem acontecido com mais frequência. Pode nos dizer o que é?

— Mas é claro!

Ele sorria junto com Sakura. O rosto de Hinata estava da cor de um tomate, e ela se perguntava se Naruto estava mesmo de acordo com aquilo.

— Ele não para de pensar na menina Hinata! Às vezes enche o saco o quanto ele é cego. Acredita que ele não faz ideia do porquê da menina Hinata não sair da sua mente?

O sorriso de Sakura não poderia ser maior. Ela olhou de Kurama para a morena, vitoriosa.

— Eu disse que descobriria para você — falou animada. — Está vendo, Hinata? Ele está cego, mas você pode ajudá-lo a enxergar.

 


— Hinata...

Sakura saiu para atender outros pacientes depois que a febre de Naruto, depois de quase quatro horas, enfim cedera. Hinata se jogou na poltrona ao lado quando Kurama confirmou que Naruto ficaria bem. O garoto estava apenas adormecido, chamando o nome da Hyuuga durante o sono.

— Hinata...

Segurou a mão dele assim que ele a chamou pela primeira vez, e não soltou. Deu um sorriso bobo quando notou alguns pontinhos pretos no braço dele.

— Você não se esfregou direito, Naruto-kun.

— Hinata...

“Seria possível?” ela não parava de pensar. Naruto enfim notara seus sentimentos? O coração se enchia de esperança, mesmo ela relutando em acreditar em um sentimento que nunca foi dito ou retribuído pelo loiro. Não tiveram a oportunidade de conversar depois da declaração que ela fez durante a batalha contra Pain, e com o passar do tempo, Hinata acreditou firmemente que ele tinha esquecido.

Sua cabeça estava uma bagunça.


“Estive ansiando por você
Por tantos invernos
Que eu não consigo nem contar
Isto não é retribuído, nem realizado
Mas eu ainda estou apaixonada por você. Isto é infinito...”

 

Cantou baixinho, para que somente ele pudesse ouvir. Saiu da cadeira e acariciou o rosto do garoto que amava. A barba por fazer espetava um pouco sua mão, mas ela não ligou. Cuidaria bem dele quando voltassem para casa, prometeu. Alimentaria seu loiro favorito com todas as comidas que ele gostava, e recuperaria a cor que Naruto perdera na longa noite passada. Tinha a impressão que ele estava até mais magro, mas isso poderia ser apenas sua imaginação preocupada exagerando.


“Para você
As coisas importantes
São todas iguais
Então eu sou importante para você”

 

— Hinata...

Aproximou-se do rosto dele, aproveitando que dormia e não a encarava com aqueles profundos olhos azuis, e deu um beijo demorado na bochecha de Naruto. Adorava fazê-lo, mesmo com a timidez atrapalhando na maioria das vezes, fazendo com que ela o beijasse rapidamente. Mas não dessa vez... realizou um desejo que mantinha no coração desde que passara a morar com ele: beijá-lo pelo tempo que quisesse, com todo o seu coração, sem vergonha. Porém, no instante que seus lábios se afastaram do rosto pálido, Hinata desejou ardentemente que ele estivesse acordado.

Desejo não atendido.

— Ao menos esteja acordado quando eu fizer de novo, Naruto-kun.

— Hinata...

— Eu me lembro repetidamente — cantou baixinho, bem próxima do ouvido dele — o momento em que nos encontramos pela primeira vez. Isto sempre esteve em meu coração...

 


Naruto acordou depois do anoitecer. Hinata passou longos minutos decidindo se desceria para a lanchonete, comer alguma coisa enquanto o noivo não acordava. Quase gargalhou quando voltou e o encontrou com o olhar fixo no teto.

— Sabia que acordaria no instante que eu saísse — brincou.

O loiro virou os olhos devagar, ainda grogue. E sorriu quando ela entrou em seu campo de visão.

— Quer um pouco de água? — falou devagar. — Ou se levantar um pouco?

Ele apenas assentiu, desistindo de responder ao notar a boca seca. Hinata o ajudou a se sentar e segurar o copo com água.

— Conseguimos? — Ele tinha a voz esperançosa. A moça sorriu orgulhosa.

— Sim, você conseguiu.

— Que bom.

Naruto encostou a cabeça na cabeceira da cama e fechou os olhos, tranquilo.

— Como se sente?

— Como se tivesse voltado da guerra.

Ela riu junto com ele.

— Falei com Tsunade-sama há algumas horas. Ela disse que poderemos voltar para casa depois da próxima dose. Acha que, depois das primeiras, as próximas serão mais fáceis de lidar.

— Próximas?

— Sim. — Ela lamentou também. — São dez no total. Você rejeitou a primeira, mas Tsunade-sama garantiu que não faria diferença, pois fez três a mais, por precaução. Uma já foi...

— Faltam seis — completou.

— Sim. A próxima será em poucas horas. O restante, apenas uma vez por semana.

— Ótimo. Mal vejo a hora de sair daqui.

Hinata reparou que a cor dele voltava aos poucos enquanto ele tomava uma sopa rala do hospital. Naruto não parou de falar no quanto a comida dela era mil vezes melhor, e isso a animou, principalmente ao vê-lo tão bem-disposto.

— Tive um sonho incomum — ele falou a certa altura.

— É mesmo?

— É... — Parecia encabulado. — Tinha alguém cantando... era uma canção muito bonita, a voz muito familiar...

Não evitou o sorriso, chamando a atenção dele.

— O que foi?

— Sonhar com alguém cantando é sinal de boa sorte, Naruto-kun. Problemas serão resolvidos.

Ele confirmou, meio bobo, o olhar perdido nas mãos unidas.

— Espero que sim.

 


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Notas finais do capítulo

*Música "Fuyu no Owari ni", cantada pela linda e diva Nana Mizuki, a dubladora da Hinata.

Pessoas lindas, vocês usam o Pinterest? Algumas autoras de fanfics NH tiveram a ideia de postar no site fanarts relacionadas com suas histórias, e eu adorei a ideia! Quem tiver interesse, é só procurar pela hashtag #FNH. O link da minha segue logo abaixo. Ainda estou postando as fotos, porque ainda estou aprendendo a mexer. ^^"

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Espero que tenham gostado do capítulo!
Até o próximo! =* ♥



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