Meu Eu Depois Dela escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 4
Vida de Casal


Notas iniciais do capítulo

Olá! xD
Como prometido (para alguns), trouxe o capítulo com antecedência nessa linda madrugada de sexta-feira... (~˘▾˘)~ (Preferi postar agora do que correr o risco de não postar de dia por causa de trabalhos acumulados da faculdade, rsrs. ^^")
Bom, eu reuni os votos sobre capítulos grandes ou pequenos, e os grandes tiveram uma maioria esmagadora! Depois não reclamem se eu me empolgar e aparecer aqui com 8 mil palavras, viu? kkkk ^^" (Brincadeira, reclamem sim se tiver ruim!)
Agradecimentos mais do que especiais a Kiaend, Aiták Arieugon, Redemoinho de Sol, Pandinha, callalily e Bruninhazinha pelos últimos comentários! Vocês são muito fofos! Estou me apaixonando por vocês, cuidado! ♥

Capítulo leve, para mostrar a convivência entre Naruto e Hinata. Pode parecer bobo, mas a construção do relacionamento deles é importante. =)
E para os que estão preocupados com o tempo, eu tentei colocar um capítulo por mês, mas já falhei no segundo, rsrs. Nesse capítulo estamos no meio de março, ok? ^^
Espero que gostem! *-*
Boa leitura! ♥



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As semanas passaram mais rápidas, mas tranquilas. Naruto ainda poderia completar com “mais felizes”. A convivência diária com Hinata estava lhe fazendo muito bem. Quando sugeriu que ela morasse consigo, o loiro acreditava verdadeiramente que nada iria mudar em sua rotina. Estava tão enganado... A gentil garota sempre lhe fazia companhia, preparava a maioria das refeições (Naruto tentava ajudá-la, comprando comida pronta pelo menos duas vezes por semana para que Hinata tirasse uma folga da cozinha), limpava a casa com uma frequência impressionável (para ele, é claro), e agora suas vestes estavam sempre limpas (o rapaz tomou um susto ao encontrar suas roupas perfumadas e organizadas dentro do guarda-roupa pela primeira vez). Isso sem contar com a missão em si, de Hinata ser sua enfermeira particular. Ela tinha jeito para a coisa, e Naruto não cansava de repetir isso para quem quisesse ouvir.

Só quem não gostou da nova situação foi Hiashi. Quando descobrira que Hinata estava morando com Naruto, poucos dias depois da moça se mudar, o líder dos Hyuuga fez um escândalo na sala do Hokage, exigindo a filha de volta ao clã. Kakashi proibiu veementemente, alegando que Naruto precisava de alguém que cuidasse dele vinte e quatro horas por dia, pois seu estado ainda era delicado – uma pequena mentira que não enganou o Hyuuga. Hiashi sugeriu um Anbu, ou até mesmo a amiga de Naruto, Sakura. A kunoichi foi chamada até o Prédio do Fogo, e afirmou que não poderia abrir mão de seu trabalho e de suas missões extras. Ainda completou:

— Eu não poderia indicar alguém melhor que Hinata para cuidar de Naruto — Sakura falou sem se deixar intimidar. — O Byakugan tem nos ajudado muito no tratamento de Naruto e na criação da nova prótese.

Hiashi saiu batendo a porta com força. Porém, não foi atrás da filha na casa do loiro nenhuma vez, e Hinata garantiu que ele não o faria.

— Ele é muito nobre para vir me ver aqui. Ele e Hanabi se acham muito superiores para botarem os pés num apartamento no centro da vila.

Ela tinha razão. Nem Hiashi e nem a irmã caçula da morena apareceram naquele primeiro mês. E, pensando melhor, Naruto até preferia assim. Longe da família, ele via Hinata mais leve, mais sorridente, e até mais falante! Naruto descobriu, logo na segunda semana de noivado, que Hinata cantava (e muito bem, por sinal) quando se sentia bem. Quando foi comentar a respeito, a jovem ficou muito envergonhada, e não cantou por longos dias. Naruto não tocou mais no assunto, e, sem perceber, Hinata voltou com o antigo hábito. Ouvi-la cantar, mesmo escondido dela, acalmava seu coração.

— Ei, Naruto-kun! — Ela estalou os dedos na sua frente, tirando-o de seus pensamentos. — Está distraído! Estou chamando você.

Ela tinha acabado de refazer seu curativo e saíra rapidamente do quarto, para trocar de roupa. Voltou e o encontrou no mesmo lugar.

— Desculpe. — Ele sorriu também, envergonhado. — O que foi?

— Sua fisioterapia! — lembrou. — Em vinte minutos. Esqueceu?

Sim, tinha esquecido. Hinata o deixou sozinho de novo, para se trocar. Ele o fez devagar. Quando se atrapalhou com o zíper do casaco, tomou um susto ao sentir a mão de Hinata o virando devagar, ajudando-o a fechar a chamativa roupa laranja. Naruto corou um pouco, mas se recuperou logo, pois a garota espanou sua roupa (já bastante limpa) e o puxou pelo braço. Andaram pelas ruas com um pouco de pressa, Hinata se esforçando para não parar na frente das vitrines das lojas que adorava. Naruto ria, segurando ainda mais carinhosamente a mão dela. Era tão pequena e delicada... ela já não usava mais luvas, devido à proximidade da primavera, e o loiro adorava o contato das peles.

— Aproveite a folga.

— Eu irei, pode ter certeza — brincou a moça.

E ela saiu, deixando-o sozinho com o fisioterapeuta.


“Mudaram as estações
Nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim
Tão diferente”
(Por Enquanto – Cássia Eller)

 

Naquele dia começaram a hidroterapia – terapia numa piscina nos fundos do hospital. Não era tão grande, mas era quente o suficiente. Naruto usava apenas uma sunga, enquanto o especialista usava uma roupa de banho de corpo inteiro. O rapaz reclamaria se a água estivesse fria, mas boiar no líquido morno o trouxe uma paz inacreditável. O fisioterapeuta pediu para que relaxasse, mexendo no braço amputado devagar para que não atrofiasse. Naruto o fez, fechando os olhos.

O rosto de Hinata surgiu na mente.

Um sorriso brotou no próprio rosto.

O sorriso dela era tão bonito! A primeira gargalhada dela lhe arrancou outra, de tão incrível que era! As músicas que ela cantava enquanto cozinhava ou limpava a casa eram um bálsamo para seus ouvidos! Tudo nela lhe agradava. A gentileza, a simplicidade, a surpreendente teimosia, o jeito delicado e, principalmente, a personalidade forte, que, além de assustá-lo algumas vezes, o impressionava, pois mostrava a incrível força interior que ela tinha e foi obrigada a esconder por tanto tempo por causa da família.

Sim, ele gostava muito dessa nova Hinata. E, se dependesse dele, jamais deixaria que aquela Hinata submissa e infeliz voltasse à tona de novo.

— Está sonhando acordado de novo?

Naruto abriu os olhos. Hinata lhe sorria da beira da piscina, os braços cheios de sacolas. Tanto tempo pensando nela que nem reparara o tempo passar. A hora de fisioterapia acabara e ela foi buscá-lo, como sempre. Só que dessa vez Naruto ainda estava “malvestido”. Ele quase se afogou, fazendo-a rir.

— Tudo bem, vou esperá-lo lá fora — brincou a morena. — Não durma de novo!

O sorriso voltou quando ela sumiu de vista. A gagueira tinha quase sumido, dando lugar a uma esperteza e ousadia que não esperava dela.

Mas que gostava mesmo assim.

 


— Roupas?

— Não gosta?

— Gosto. Só não sei para que as comprou.

— Para usar, ora.

— Mas eu tenho o bastante, não acha?

— Não, não acho.

Ela tinha acabado de tirar as roupas novas da secadora – a razão de tantas sacolas. Passou a ferro quente e as guardou enquanto Naruto ainda tentava entender.

— Você ao menos comprou roupas para você?

— Não vejo motivos para tal. — Ela estranhou.

— E renovar o meu guarda-roupa é normal para você?

— Por favor, eu nem trouxe todas as minhas roupas, e elas ocupam metade do guarda-roupa novo. — Ela seguiu até a área de serviço, para buscar as peças restantes. — As suas não ocupam uma mochila inteira.

Hinata guardou os últimos casacos, deixando apenas um de fora.

— Vamos, quero que experimente esse aqui.

Ela lhe entregou um sobretudo preto, com o zíper laranja. Ajudou-o a tirar o seu laranja e a colocar o novo. A moça abriu um sorriso orgulhoso.

— Acertei o tamanho. Ficou ótimo em você.

Trocou-o de novo e guardou o preto. Foi até a cozinha. Naruto a seguia de um lado para o outro, querendo ajudar, mas ou ela recusava ou o mandava descansar. Ele teimava, obviamente, repetindo que não a queria cuidando da casa o tempo todo, que ela também devia cuidar de si mesma.

— Você realmente não faz ideia do quanto o ócio me faz mal — ela rebatia.

E então Naruto voltava a segui-la, também em busca do que fazer. Nesse ponto ele era exatamente como Hinata. Aqueles longos meses sem missões estavam para deixá-lo maluco, não fosse Hinata a distraí-lo o dia inteiro. Ajudava com a faxina da casa (Sakura deixou cair o queixo quando os visitou na segunda semana, impressionada), arrumava o quarto, comprava comida... estava começando a se acostumar com aquela rotina.

A campainha tocou. Hinata foi atender. Ela voltou até onde ele estava, o rosto pálido.

— O que foi, Hinata?

— A-A c-cama. Chegou.

Naruto não entendeu seu nervosismo. Foi até a porta e falou com os entregadores e montadores. Indicou o caminho, tomando um susto quando o colchão de casal entrou.

— Esperem! — falou de repente. — Eu não pedi uma cama de casal.

O montador responsável mostrou-lhe o cupom da compra.

— O próprio Hokage a pediu — respondeu o homem. — Não há nenhum engano.

— O senhor não está entendendo. Eu pedi para que Kakashi-sensei me comprasse uma cama. Mas não foi de casal.

— É melhor falar com ele, então.

Foi o que Naruto fez. Colocou um casaco velozmente e saiu de casa, não sem antes ouvir:

— Então, senhora Uzumaki? Deixamos aqui ou levamos de volta?

 


A conversa com o ex-professor não adiantou muita coisa. Já passava das cinco da tarde, o que significava que a maioria das lojas já estavam fechando. Ou seja, sem condições de cancelar a compra. Naruto garantiu que estaria na loja bem cedo no dia seguinte, para devolver a cama de casal e comprar uma de solteiro para Hinata.

Porém, as palavras finais do Hokage o intrigaram:

— Hinata será sua esposa, esqueceu? Dormirão em camas separadas para sempre?

Voltou para casa a passos lentos. Não nevava mais, e o sol aparecia com mais frequência na vila. Entrou no pequeno apartamento, sem entender direito porque se sentia tão desconfortável. O pôr-do-sol inundou a sala aos poucos, e ele ficou desconfiado com o silêncio.

— Hinata? Está em casa?

Procurou-a pela cozinha e pela área de serviço. Ela não estava no banheiro também. As sobrancelhas se ergueram em surpresa ao encontrá-la no quarto, dormindo sobre a nova cama, agarrada manhosamente no travesseiro dele. Na hora em que esteve fora de casa, Hinata aproveitou para arrumar o quarto, colocando novos lençóis na cama e mudando o guarda-roupa, também novo, de lugar. Assim, a parede da porta recebeu o armário enorme, enquanto a cama recebia mais luz vinda da janela. Como ela fizera tudo aquilo sozinha, era um mistério.

Naruto se aproximou devagar, tentando não fazer barulho. Ajoelhou à beira da cama, o rosto a poucos centímetros do dela. Hinata dormia a sono solto, os cabelos negro-azulados cobrindo-lhe a face. O rapaz os afastou devagar, encantado com o semblante sereno. O pôr-do-sol a favorecia em todos os aspectos, deixando-a tão bonita que a boca dele abriu sem que tivesse consciência. O coração palpitou mais forte, o antigo desconforto sendo substituído por uma sensação gostosa no peito.

— Gostou da nova cama, Hinata? — Sorria.

Ela acordou mesmo com a sua voz baixa. Deu um grito quando o viu tão próximo, afastando-se em puro reflexo.

— Desculpe, eu não queria te acordar.

— N-Não tem... não tem problema — falou rápido, envergonhada. — Não é hora de dormir.

Hinata tentou fugir, mas Naruto a segurou pelo braço a tempo.

— Acalme-se, Hinata, está tudo bem.

A respiração rápida aos poucos relaxou. Naruto a soltou devagar.

— Gostou da cama nova, Hinata?

— Muito — ela respondeu baixinho, abaixando o rosto. — Será ótima para você descansar, Naruto-kun.

— Para mim? — Ele não evitou o sorriso, chamando a atenção dela. — Que tal “para nós descansarmos”?

Hinata corou até a raiz dos cabelos.

— Pa-Para... nós?

Ele concordou com a cabeça, se jogando na cama de “braços abertos”.

— Suas noites naquele colchonete acabaram, Hinata — decretou. — A partir de hoje você dormirá aqui.

— M-Mas...

— Eu ia pedir uma cama nova para você amanhã, mas como você gostou muito dessa...

— Você ainda pode trocá-la, Naruto-kun! — ela o interrompeu rapidamente.

— ... Eu pensei... — continuou tranquilamente — A cama de solteiro também viria para o meu quarto, então não seria tão diferente. E em alguns meses estaremos casados, e teríamos que trocar as camas de novo. Não ficaria bem dormirmos em camas separadas. Melhor poupar trabalho, não acha?

— Mas... Naruto-kun...

— Por que pediu que a montassem, Hinata? — cortou gentilmente.

Como ela ficara envergonhada e não respondeu, Naruto deu de ombros.

— Então está decidido. Traga suas coisas para o quarto. Chega de se isolar em um cantinho de um por dois. Você merece dormir mais confortavelmente.

Hinata não discutiu. Confirmou de leve e foi até a sala. Naruto a esperou no quarto, pois mesmo que ela enrolasse o máximo possível, não poderia demorar mais que dez minutos para organizar tudo. Ele não olhou o relógio, mas a morena apareceu oito minutos depois, o colchonete já devidamente enrolado e encapado num braço, e seu cobertor lilás dobrado no outro. Ela usava os travesseiros do sofá durante a noite, no entanto, os deixou lá. Naruto também tinha dois. Dividiria um sem problemas, mas lembraria de comprar mais no dia seguinte. Sua noiva merecia todo o conforto que pudesse lhe dar.

Sua noiva...

O simples pensamento arrancou-lhe um sorriso bobo, o que deixou Hinata envergonhada.

— Com o que está preocupada, Hinata? — ele perguntou, brincalhão. — Não vou atacá-la durante a noite.

A brincadeira sincera pareceu tranquilizá-la, e ela finalmente sorriu com ele. Naruto a convidou para deitar ao seu lado. Brincando, ela se jogou também, dando gostosas gargalhadas. Deram-se as mãos, contentes como nunca.

— É apenas o começo, Hinata. Vai ficar tudo bem. É uma promessa.

 


— Relatório — pediu Tsunade.

Hinata deu um tapinha na mão de Naruto, que avançava na direção dos bombons na mesa da Ninja Lendária.

— Naruto tem ido às fisioterapias de segunda a sexta. — Hinata olhou feio para ele, que cruzaria os braços se pudesse, emburrado. A chunin voltou-se para Tsunade. — Não faltou nenhuma até agora. Começou o tratamento na piscina essa semana. O inchaço do braço tem diminuído, e ele diz que já não dói tanto. O que é mentira, pois vejo os nervos agitados durante a noite. — Naruto a olhou chocado, como se ela tivesse acabado de contar um segredo só deles. — O que foi? Achou mesmo que estava me enganando?

— Você está terrivelmente malvada hoje!

— Tudo isso por que não o deixei comer doces antes do almoço?

Ele virou o rosto para o outro lado, ainda chateado. Hinata não ligou para sua birra.

— E a alimentação dele, Hinata?

— Melhorou, graças a Deus! — A morena deixou sair um sorriso aliviado, chamando a atenção do loiro. — Lámen somente nos finais de semana, mas somente se ele se comportar direito. Naruto-kun gosta muito de caldos, então tenho variado as sopas. Mais saudáveis, eu acho. — A médica concordou. — Tento fazer peixe pelo menos uma vez por semana, para não ficar só no líquido. Carne também: proteínas e força. E frutas! — lembrou, orgulhosa. — Naruto-kun tem comido mais frutas.

— Tenho?

A surpresa dele fez Tsunade levantar o rosto dos papéis.

— É claro. Esqueceu que quase acabou com o cacho de uvas semana passada, enquanto esperava o almoço?

A lembrança o atingiu como uma bala. Passara toda a vida recusando as frutas, em especial as uvas. Quando Hinata instalara o regime de frutas e outras comidas saudáveis? Ele nem lembrava que gostava tanto de peixe...

Tsunade anotou tudo calmamente. Levou Naruto até a balança, e ele tomou um susto ao perceber que engordara. A ninja anotou o peso também, comentando com Hinata que ele enfim voltou ao peso normal.

Ele estava abaixo do peso e não percebera?

Naruto olhou discretamente para a noiva, que sorria pequeno, ouvindo as novas recomendações médicas.

Hinata entrara em sua vida há quase um mês e já tinha feito uma diferença enorme.

 


Naruto se jogou na cama, a cabeça doendo de tanto pensar.

Chegou em casa e foi direto para a geladeira. Ouviu Hinata rir atrás de si, prometendo que o almoço não demoraria. Ele não ligou. Não estava com fome, apenas queria ver o que tinha ali dentro.

Leite, ovos, suco de laranja e vitaminada de morango na porta. O resto do almoço do dia anterior, queijo, presunto e geleia na primeira prateleira. Naruto abaixou-se um pouco e encontrou iogurtes dos mais variados, junto com alguns achocolatados de caixinha e um pedaço de bolo que a vizinha trouxe naquela manhã. Por fim, na última prateleira estava uma quantidade de verduras e legumes que Naruto nunca vira na própria geladeira. Podia jurar que não sabia o nome de metade daquelas folhas.

Abriu o freezer e encontrou pedaços congelados de carne, peixe e frango. E um pote de sorvete de creme, o favorito de Hinata. Ao lado, um pote de sorvete de chocolate para ele, mas somente aos finais de semana. Naruto também assimilou que só tomava sorvete no sábado ou no domingo. A Hyuuga liberava as besteiras sem peso na consciência no primeiro e no último dia da semana.

Fechou a geladeira, sem se importar muito com a vigilância atenta dela da porta da cozinha. No armário achavam-se cereais, arroz, macarrão, e até mesmo feijão, que ele se recusou a comer durante toda a infância! Foi Jiraiya quem o convenceu a comer feijão pelo menos de vez em quando. O sábio tarado o ganhou no “feijão deixa um homem mais forte”. O pacote estava um pouco acima da metade.

— Quando comemos feijão?

Hinata ficou confusa com o assunto.

— No domingo, eu acho. Sopa de feijão.

Ele tomou até a última gota...

Que magia era aquela?! Hinata era uma bruxa? Ela estava o enfeitiçando?

Naruto correu para o quarto, afobado. Hinata o seguiu, preocupada.

— Está tudo bem, Naruto-kun?

— Estou, eu só... — Ele se deitou na cama para não a olhar, nervoso. — Só um pouco de dor de cabeça. Vai passar.

— Quer que eu pegue um comprimido?

— Não precisa! — falou rapidamente. — Se importa se eu dormir um pouco antes do almoço?

— C-Claro que não...

Ela saiu sem demora. Mas voltou cinco segundos depois, o rosto contorcido em preocupação. A mão pequena foi até a testa dele, em busca de febre. Como não encontrou nada, soltou um pequeno suspiro, saindo do quarto e não voltando.

Naruto rolou para o outro lado. Sua alimentação sempre lhe deu orgulho, mesmo que se baseasse apenas em lámen, pão e leite. Hinata chegou e mudou tudo, com delicadeza e sem que ele percebesse nada. Talvez com medo de que ele atrapalhasse o próprio tratamento – a suspeita não era infundada, afinal descobrira há pouco que recuperou o peso ideal, graças à Hyuuga com excelentes dotes culinários.

— Com o que está preocupado? — Kurama lhe deu um susto ao falar. — Finalmente está cumprindo a promessa que fez à Kushina.

— Que promessa?

— É um idiota mesmo...

— Do que está falando, Kurama? — insistiu.

— Na guerra, e até mesmo antes disso, — lembrou-o — você prometeu à memória de sua mãe que iria se cuidar. Lembra? Dormir direito? Tomar banho todos os dias? Comer direito...?

Os olhos azuis se arregalaram com a lembrança.

— É verdade! Prometi não comer só lámen.

— Exatamente. Você devia agradecer à menina Hyuuga, ao invés de pensar que ela é uma bruxa.

Naruto ficou envergonhado com o comentário. Às vezes se esquecia que Kurama compartilhava de seus pensamentos e sensações.

— A menina Hyuuga está te deixando mais forte e saudável. Você só não morreu de intoxicação alimentar quando criança graças aos meus poderes regenerativos. Agora, sem usá-los para curar o próprio estômago, você está acumulando forças. — Naruto deu um pequeno sorrisinho. — Quando recuperar o braço, você será imbatível.

O rapaz se sentiu melhor depois dos conselhos da raposa. O coração bateu mais leve, e o sorriso aumentou ao pensar na comida que Hinata poderia estar preparando.

Acabou cochilando sem querer antes da refeição. Hinata o acordou uma hora depois, o semblante entristecido. De vez em quando desviava o olhar, quando ele reparava que ela o fitava de canto de olho. Naruto achou que ainda era preocupação pela dor inventada, e tratou logo de fazê-la esquecer daquilo:

— O cozido está muito bom, Hinata! — elogiou com um enorme sorriso.

— Obrigada.

Hinata respondeu baixinho. Naruto a olhou e viu que ela nem tocara na comida.

— Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça rapidamente, retirando prato e copo de cima da mesa e levando até a pia.

— Você já terminou?

Mais duas enormes colheradas e ele concordou com a cabeça. Hinata pegou o prato dele e começou a lavá-lo. Terminou de mastigar e se levantou para ajudá-la com a louça. A moça tomou um susto com sua aproximação, deixando o copo de vidro escorregar e se espatifar no chão.

— Oh, meu Deus! — Ela se abaixou rapidamente, catando os pedaços. — D-Desculpe! Eu já vou limpar!

A ficha dele finalmente caiu.

Naruto se abaixou também, impedindo Hinata de continuar. Segurou firme o pulso, obrigando-a a encará-lo.

— O que está acontecendo?

A firmeza em sua voz a fez tremer. Os olhos perolados ficaram marejados, e ela abaixou o rosto para que ele não a visse chorar. Naruto respirou fundo, puxando-a pela mão até a cadeira. Sentou na frente dela, esperando que a morena se acalmasse.

— D-Desculpe — ela gaguejou, chorosa. — E-Eu fiquei... fiquei nervosa. M-Mas não se... se preocupe. E-Eu pagarei pelo copo.

— Deixe de bobagens, Hinata, foi só um copo. Não estou preocupado com isso.

Ela segurava com força o avental, e só então o loiro notou que as mãos sangravam.

— Pelo amor de Deus, Hinata, você se machucou! — Ele correu até o banheiro, pegando o kit de primeiros-socorros que ela guardava no armário embaixo do lavatório. — Aqui, vem aqui.

Naruto a levou até a pia, desviando do vidro e colocando as mãos dela na água corrente. Naruto jogou um pouco de álcool depois, sem muito jeito para enfermagem, colocando um pedaço de algodão em cada mão e a ajudando (porque não conseguia fazer sozinho) a enfaixá-las. Terminado o desajeitado processo, Hinata já não chorava, mas ainda tinha o rosto triste de quando o acordara.

— Por que está assim? — Naruto não conseguiu evitar se sentir do mesmo jeito. — Eu fiz algo errado?

Hinata o olhou surpresa.

— C-Claro que não! E-Eu... — Ela respirou fundo, com medo de chorar de novo. — Eu achei... que você estava chateado comigo.

— Eu? — Ela confirmou. — Por que eu estaria chateado com você?

— E-Eu não sei! — Hinata passou a costa da mão pelos olhos, fugindo dos azuis. — Você estava estranho... desde que saímos do escritório de Tsunade-sama. Achei... achei que poderia ter ficado com raiva... por causa dos doces. Porque eu não deixei você comer... antes do almoço.

Ela o olhou apenas um instante, envergonhada demais para fitá-lo por mais do que míseros segundos.

— N-Não queria... não queria chateá-lo. Não posso chateá-lo. Você já fez tanto por mim, e eu... — Soluçou. — Eu fiquei com medo... de te deixar com raiva demais, e você... você me devolver ao meu pai.

Naruto engoliu em seco. Lembrou-se das palavras de Sakura, dos machucados internos e nos sentimentos feridos da doce Hyuuga à sua frente. Mesmo um mês longe de Hiashi, os medos de Hinata ainda eram presentes, fortes demais, e ela não conseguia ignorá-los. Tanto que um doce bastou para desestabilizá-la.

Não, não foi só o doce... foi Naruto também. O rapaz ficou tão fora de si ao perceber o quanto mudara perto de Hinata, que nem percebeu que ela poderia ver aquilo tudo ainda como chateação por causa dos bombons que não o deixara comer. Céus, ele ainda continuava um tapado!

Ele pulou os cacos de vidro, levantando o rosto delicado da morena e enxugando suas lágrimas. Beijou a bochecha dela carinhosamente, esquecendo completamente a vergonha, e passou o braço ao redor da cintura pequena. Agarrou-a num abraço apertado, levantando a jovem alguns centímetros do chão. Hinata o abraçou com a mesma intensidade, quase o sufocando com seus braços ao redor do pescoço dele.

— Você não é um objeto que eu tomei de seu pai, e que devolverei quando cansar. Eu a trouxe porque quis, porque te adoro demais para vê-la sofrer! Hinata... — Ele mergulhou o rosto no pescoço macio da Hyuuga, perdendo-se no cheiro doce que emanava dela. — Se alguém está devendo alguma coisa, esse alguém sou eu. Eu jamais serei capaz de retribuir tudo o que está fazendo por mim!

Contou o quanto ficara assustado com a mudança gradativa em sua rotina, em sua saúde e, principalmente, em sua alimentação. Falou da promessa feita à mãe, que agora cumpria graças a ela, Hinata, que estava do seu lado. A moça o olhava curiosa, um sorriso doce nos lábios, quando Naruto disse que Kurama o salvou durante toda a infância.

— E agora, com sua comida dos deuses, ele disse que eu estou ficando mais forte do que nunca. — Sorriu. — E que eu ficarei impossível quando ganhar o novo braço!

— Imbatível — disse Kurama, tomando posse de seu corpo apenas para corrigi-lo.

— Foi o que eu quis dizer. Imbatível.

Mesmo com o susto de ter a raposa possuindo Naruto por breves segundos, Hinata soltou uma risadinha com a cumplicidade dos dois.

— Está vendo? — Naruto se deixou contagiar pela risada. — Você ganhou mais um fã.

 


Desde que a cama chegou, há três dias, ela se envergonhava de dormir ao seu lado. Corava como nunca, e Naruto percebeu logo na primeira noite que teria que dormir cedo e rápido, para que Hinata pudesse descansar como merecia, aparecendo somente quando tivesse a certeza de que ele estava entregue a Morfeu.

Mas naquela noite foi diferente.

Ele mal deitara quando Hinata apareceu de camisola na porta do quarto. Tentou não olhar muito, para não a constranger, mas foi impossível não sentir algo se agitando no baixo ventre. Uma sensação gostosa, era verdade, mas que precisava ser controlada. Hinata era sua amiga...

Uma amiga com o corpo espetacular, mas ainda assim sua amiga.

“E futura esposa” sua mente lembrou, apenas para atormentá-lo.

Negou com a cabeça imperceptivelmente, dando as costas para a porta e murmurando um “boa-noite” para Hinata. Fechou os olhos, como se fingisse tentar dormir, quando ela deitou também. Naruto podia sentir o olhar fixo nele.

— Não esconda mais nada de mim — ela murmurou, receosa. — Não me deixe sozinha com meus pensamentos de novo. Por favor.

Com medo de que ainda restassem vestígios de dúvida na morena, mesmo depois da longa conversa que tiveram, olhou-a profundamente. Sabia que não precisava dizer nada, que apenas um aceno de cabeça e um sorriso bastavam. Mas ele também não queria mais ter dúvidas.

— Nunca mais — garantiu. — A partir de amanhã, vou falar tanto, que terá que comprar uma fita adesiva para me calar.

Hinata não conseguiu segurar o riso. Naruto fechou os olhos novamente, mais tranquilo.

— Não desista de mim, por favor...

A vozinha insegura o fez olhá-la surpreso.

— Promete que, se eu fizer alguma coisa errada, vai vir conversar comigo primeiro? Que não vai me devolver ao meu pai?

A cicatriz era grande e o tratamento seria longo. Naruto lhe sorriu docemente, admirando o quanto ela ficava bonita também banhada pelo luar.

— Vou falar algo importante, que quero que se lembre. — Hinata confirmou, um pouco aflita. — Posso repetir outras vezes, mas faça um esforço para não esquecer, está bem?

Ela confirmou de novo.

— Você nunca mais voltará para os Hyuuga. Eu não vou deixar. E sabe por quê? — Uma negação de leve. — Porque você já é minha. E será para sempre.

Naruto sorriu quando ela abriu a boca em surpresa. Fechou os olhos pela última vez, gostando de ter na mente a imagem dela tocada com suas palavras.

— Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. E em todo aquele discurso que ainda vou ter que aprender. — Ele sorriu bobamente com o pensamento que lhe ocorreu. — Uzumaki Hinata... é, eu gosto de como soa.

Sentiu-a se aproximar, o perfume adocicado invadindo as narinas e aumentando seu sorriso.

— Uzumaki Hinata — ele repetiu, saboreando as palavras. — Você gosta?

— Sim... é perfeito.

Naruto não viu o semblante emocionado de sua noiva, mesmo ela estando tão perto. Preferiu imaginá-lo.

Seria capaz de abraçá-la tão apertado, por tanto tempo, que a deixaria vermelha como um tomate. E Naruto adorava quando ela corava... não a soltaria mais se a visse assim.

 


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Notas finais do capítulo

Uzumaki Hinata... Os anos passam e eu continuo me derretendo... ♥‿♥
E então, o capítulo está muito grande? Diminuo o próximo?

Obrigada por tudo, mais uma vez! Nunca vou me cansar de dizer que vocês são o máximo!
Até o próximo capítulo! =*

(Milagre do dia: não deixei textão nas notas finais.)