Entre tantas missões, preparativos de um casamento para dali a três meses e dias seguidos de chuva intensa no meio do outono, outubro começou com espirros e uma Hinata levemente febril. Naruto se desdobrou em três – literalmente – para cuidar da noiva, da casa e dos próprios deveres.

No entanto, mesmo resfriada e com o rapaz proibindo-a de mover um músculo, a Hyuuga escapara de fininho na manhã de segunda-feira, ousando deixar o café pronto em cima da mesa junto com um bilhetinho de que logo voltaria para casa.

Irritado por não ter tempo de procurá-la e arrastá-la de volta para a cama, Naruto resolveu comer – ainda mais chateado por perceber que até doente a moça cozinhava divinamente bem – e partir para sua missão.

Desconcentrado e com a cabeça somente numa morena de olhos claros como pérolas, Sakura o dispensou da missão no meio da tarde. E como passava da hora habitual para ter aula com Kakashi, Naruto decidiu encerrar seu dia mais cedo, torcendo para que Hinata já tivesse voltado e, principalmente, que estivesse descansando.

Doce ilusão. Ele a conhecia bem demais, inclusive sua teimosia. Imaginava que ela não estaria em casa, mesmo torcendo pelo contrário. A jovem ninja não gostava de ficar parada, e a enfermidade era só um detalhe daqueles dias para a moça.

O loiro suspeitava, além de tudo, que Hinata voltaria apenas à noite, preocupada com seu jantar.

— Menina teimosa... — Ele bufou. — Por que não volta logo para que eu possa cuidar de você?

— Garoto bobão — implicou Kurama.

Ofereceu apenas uma língua para a raposa e foi se trocar, disposto a fazer uma sopa para quando a namorada retornasse.

Retorno que não aconteceu.

Estava decidido a mandar um clone atrás da noiva, em busca de notícias, quando Sakura apareceu em sua janela, avisando que encontrara Hinata no meio do caminho e que a amiga foi chamada para uma missão de última hora.

— Mas ela está doente! Não deveria nem estar fora de casa a essa hora!

A garota de cabelo rosa estranhou sua reação, mas não disse nada. Apenas deu de ombros e se despediu.

Respirando fundo, Naruto cedeu ao cansaço e se jogou em sua cama, incapaz de dormir com o perfume de Hinata impregnado nos travesseiros. Rolou de um lado para outro, ora admirando a foto de seu noivado, ora inspirando o cheiro de flores presente até nos lençóis.

Distraído, mal percebeu a hora que a moça entrou no quarto, já de camisola, e deitou ao seu lado. O rapaz abriu um sorriso e os braços, ansioso para recebê-la. Hinata aceitou o convite e repousou a cabeça em seu peito.

— Desculpe o atraso, Naruto-kun. — Ela bocejou. — Tive um imprevisto.

— Tudo bem. O que importa é que está aqui agora. — Beijou demoradamente a testa dela. — Como você está?

— Com... sono.

Não demorou para que ele ouvisse um suspiro baixinho e o corpo de Hinata pesando mais sobre si, indicando que caíra no sono depressa, tamanha sua exaustão.

Naruto beijou-a de novo.

— Vou cuidar de você, minha Hina. Amanhã você não escapa de jeito nenhum.

O plano falhou miseravelmente quando abriu os olhos pela manhã e se deparou com Hinata prendendo o cabelo em frente ao espelho, devidamente arrumada para sair.

— Que horas são?

A moça deu um pulo no lugar, sorrindo-lhe docemente em seguida.

— Bom dia, Naruto-kun. São oito horas.

— E para onde você vai?

— Tenho um trabalho para fazer agora. — Ela voltou a prender o cabelo num rabo-de-cavalo simples e prático.

— E por que não está com sua roupa de missão? — observou o rapaz, estranhando a camisa rosa folgada que ela tanto adorava, junto com uma saia longa.

— Porque não vou para uma missão — respondeu baixinho, envergonhada.

— Então para onde...?

— Não tenho tempo para discutir, Naruto-kun — cortou-o rapidamente, olhando-o seriamente. — Preciso ir. Tem café pronto em cima da mesa.

Hinata se virou para sair do quarto a passos apressados, mas Naruto pulou da cama e a alcançou na sala.

— Você está resfriada, Hina! Não pode ficar saindo assim, nesse tempo frio!

— É claro que posso! — falou tranquilamente. — Estou ótima, não precisa se preocupar.

Porém, não conseguiu disfarçar o nariz fungando.

— Como não vou me preocupar, Hinata? — Ambos soltaram um suspiro, contrariados com a quase discussão. — Fique em casa, por favor. Deixe-me cuidar de você um pouco.

— Não posso — ela declarou, parecendo envergonhada. — É algo muito importante...

Não esperou que ele argumentasse, calçando os sapatos e saindo com um breve “volto à noite”.

Hinata retornou ao apartamento mais de quinze horas depois de ter saído, tomando um susto ao acender as luzes e encontrar o noivo na sala, quase no mesmo lugar que o tinha deixado naquela manhã. Mas diferente do semblante de mais cedo, Naruto agora parecia bem sério e disposto a discutir se fosse preciso.

— Naruto-kun...

— Onde esteve, Hinata?

A ausência do apelido carinhoso também não era um bom sinal.

— Eu já disse: tive um trabalho importante para fazer.

Ela tentou não demonstrar o nervosismo que sentia ao retirar as sandálias e as luvas, falando quase normalmente, mas sem coragem de encará-lo por mais do que alguns breves segundos.

— Falei com Kakashi-sensei hoje. E com Hanabi. Nenhum dos dois soube me dizer que trabalho misterioso é esse seu. E a possibilidade de missão também foi descartada quando vi Kiba e Shino pela vila, também sem nenhuma ideia de onde você poderia estar.

Naruto bateu no assento do sofá ao seu lado, “convidando-a” a não fugir daquela conversa. Ele merecia explicações, apesar de tudo.

— Onde você esteve, Hinata? — repetiu a pergunta quando ela sentou.

— Fazendo um trabalho importante... e secreto — enfim salientou.

— E por que não me disse? Não vê que estou preocupado com você?! Você mal se recuperou e...

— Estou bem! — cortou-o, impaciente. — Por que você não acredita em mim? Estou fazendo algo importante! Não sou mais nenhuma criança que não sabe se cuidar, Naruto-kun!

— Eu nunca disse...

— Mas com essas constantes perguntas, é como se dissesse! — Ela levantou-se de supetão, tão séria quanto ele. — Não quero mais falar sobre isso. V-Você... você me chateou.

Hinata soltou o ar que parecia prender antes de dar as costas e rumar para o quarto. Naruto ainda pensou em chamá-la, mas algo o deteve.

— O que foi isso? — Kurama perguntou verdadeiramente confuso. — Chateada com você? O que você disse de errado?

— Nada. — Ele estalou a língua. — Hina está mentindo. Gaguejou e mal olhou para mim. Ela está me escondendo alguma coisa. Algo muito sério...

Resolveu segui-la, enfim. Hinata tinha acabado de colocar a camisola e se dirigia até a cama. Ainda o olhou de relance antes de se deitar de costas para o noivo.

Naruto se aproximou, deitando com cautela ao seu lado, apenas aspirando o cheiro dos cabelos macios a sua frente.

— Me desculpe — ele falou baixinho. — Não queria chateá-la.

Nenhuma resposta.

— Hina... estou preocupado com você. — Ele chegou um pouco mais perto, quase sentindo sua pele. — Não gosto de ficar assim... não com você.

Ele ainda pensou em tocá-la, tentar trazê-la para perto, mas refletiu melhor.

Hinata poderia rejeitá-lo.

E isso seria mil vezes pior do que uma briga.

Naruto sentiu um aperto no peito ao vê-la partir, praticamente escondida, na manhã de quarta-feira. Já esperava tal reação, inclusive, mas não reagiu. Não falou nada para alertá-la e tratou de se vestir logo depois, sabendo muito bem onde procurar mais informações.

Depois dos primeiros segredos da Hyuuga, ele aprendeu que apenas um assunto poderia fazê-la afastar-se dele novamente.

— Bom dia, Shizune-san — cumprimentou.

— Bom dia, Naruto-kun. A que devo a visita tão cedo?

— Hinata. — Foi direto ao ponto. — Você garantiu que me deixaria a par do tratamento dela.

— Sim, é verdade, mas você esteve aqui na última consulta. — Ela estranhou, mas repassou as informações. — O tratamento parece estar evoluindo bem, Naruto-kun. O corpo de Hinata está respondendo aos remédios, e já foi possível ver a melhora no útero. O resultado do último exame sairá em alguns dias, como você bem sabe.

— Nenhuma notícia nova?

— Não, por quê? Hinata está se sentindo mal? — perguntou preocupada.

— Não! — respondeu de imediato. — Não, ela está ótima. Só que... — Hesitou. — Ela está me escondendo algo... então eu pensei que podia ser algo sobre sua saúde novamente.

Ao contrário do que esperava, Shizune lhe lançou um sorriso misterioso, que logo tratou de esconder.

— Não deve ser nada de mais, Naruto-kun. Hinata deve estar com outras coisas na cabeça. Não se preocupe com isso.

Confirmou baixinho, agradecendo pela ajuda e saindo do hospital. Não completamente satisfeito, no entanto.

Shizune sabia do segredo de Hinata.

E se Shizune sabia, como ele poderia não pensar que era a respeito da saúde de sua noiva?

Retornou ao hospital. Sakura pareceu surpresa em vê-lo.

— Fale-me sobre Hinata. — O pedido parecia uma ordem. A amiga não duvidou que o assunto estava o incomodando de verdade.

— Não há nada de errado com Hinata — disse firmemente. — Sei que está preocupado, mas ela está bem. Ontem mesmo eu a vi fazendo... — Hesitou, e Naruto a notou desconcertada. — Um trabalho muito importante.

O Uzumaki bufou.

— O que vocês estão me escondendo, Sakura-chan?

A ninja médica pareceu aliviada ao ouvir o sufixo, logo abrindo um sorriso consolador.

— Acredite em mim: Hinata está fazendo algo bom. Você vai gostar quando souber.

— Eu saberei? — perguntou esperançoso.

— É claro que sim! — Ela riu. — Espere só mais alguns dias, ok? Eu nem devia comentar sobre isso, mas se é para deixá-lo sossegado... Hinata está fazendo um trabalho lindo! E está botando todo seu coração nisso! Você saberá quando chegar a hora...

Demorou mais dois longos dias – em que Hinata quase não parava em casa ou lhe dirigia a palavra, com medo de denunciar o próprio segredo – para Naruto enfim receber uma pista do que a noiva fazia.

Não que ele soubesse que era uma pista.

No fim da tarde de sábado, quando Konohamaru apareceu desesperado em seu apartamento, gritando para quem quisesse ouvir que algo de errado aconteceu com Hinata, Naruto nem lembrou da conversa que teve com Sakura. Apenas pegou um casaco, calçou os sapatos e correu porta afora, esquecendo até de trancar o apartamento.

Correu pela vila, desesperado e trêmulo, ao lado do Sarutobi, que não tinha nenhuma informação além de “Não sei o que houve, só me pediram para chamá-lo, Naruto-niichan”.

“Bem que eu suspeitava que Hina não se recuperou direito do resfriado! Como eu ainda deixei que ela se afastasse?!” culpou-se.

Konohamaru, para seu espanto, não parou em frente ao hospital. Seguiu sua corrida, deixando o loiro atrás de si mais agoniado. “Não conseguiram trazê-la para o hospital? Foi tão sério assim?”.

E então pararam. O rapaz reconheceu o lugar, sendo o salão que alugara para a recepção de seu casamento.

— O que estamos fazendo aqui, Konohamaru? Onde está Hinata?

O sorriso enorme do garoto o preocupou mais do que aliviou.

— Aí dentro.

— Por quê?

O mais novo não respondeu, dando de ombros com um pequeno sorriso e indicando a porta. Naruto não entendeu, mas seguiu o conselho silencioso quase imediatamente, ainda receoso.

Gritos, flashes e vivas aconteceram ao mesmo tempo, deixando-o atônito. Reconheceu os rostos de todos os seus amigos e ex-professores (até Tsunade e Shizune estavam lá!), que passaram a cantar um “parabéns para você”, enquanto Sakura e Hinata vinham em sua direção empurrando um carrinho contendo um bolo de três andares, laranja berrante e com um bonequinho imitando-o no topo. Todos foram se aproximando dele, animados, vibrando ao final da música e gritando para que ele soprasse as velas. Naruto contou dezoito.

— Faça um pedido!

Era seu aniversário... Naruto havia se esquecido de seu aniversário...

Fechou os olhos, mas não conseguiu pensar em nada. Soprou mesmo assim. Apenas uma vela ficou acesa.

— Você não desejou direito — brincou Ino.

Ele respirou fundo.

“Hinata...”.

Soprou de novo. A vela apagou.

Mais palmas, comemorações e até mesmo pedidos para que o bolo fosse logo cortado. Uma faca e um prato lhe foram entregues, e ele partiu o doce meio sem jeito.

— Para quem vai o primeiro pedaço, Naruto-kun? — Hanabi apareceu magicamente do seu lado, olhando enfeitiçada para o doce.

— Pode ficar — respondeu sem graça.

Ela vibrou, provando o doce e erguendo o polegar em aprovação.

— Minha irmã é mesmo uma excelente cozinheira, não é?

— Sim...

O olhar levantou em busca da outra Hyuuga, que agora ajudava Sakura a partir o bolo – o maior doce laranja que já viu na vida – e distribuir para os convidados. Naruto esperou pacientemente que terminassem, sorrindo quando Hinata se aproximou com o bonequinho ninja que estava no topo.

— Feliz aniversário, Naruto-kun! — Ela lhe entregou o brinquedo, tocando em suas mãos e só então percebendo que ele tremia. — Naruto-kun! Está tudo bem? — Ela arregalou os olhos em sua direção, preocupada.

“Amar pode curar
Amar pode remendar sua alma
E é a única coisa que eu sei
Eu juro que ficará mais fácil
Lembre-se disso em cada pedaço seu
E é a única coisa que levamos conosco quando morremos”

Guardou o boneco no bolso e pôs as mãos no rosto dela, temendo que ela escapasse novamente.

— Você está bem...

Não esperou que ela falasse nada, puxando-a para um abraço apertado, ao que a moça retribuiu sem esforço, saudosa.

— Me desculpe — ela falou mansinho. — Não agi direito com você essa semana... mas eu queria fazer uma surpresa. Eu soube que você nunca teve uma festa de aniversário antes, então quis fazer algo especial para os seus dezoito anos. — Quando ele a afastou apenas um pouco, Hinata se surpreendeu ao vê-lo com os olhos marejados. — Naruto-kun...

— Você me deu um susto! Eu tive medo de perder você!

Voltou a abraçá-la, escondendo o rosto no pescoço da morena. Ela deu um sorrisinho consolador.

— Konohamaru-kun o assustou? — Passou a mão pelos pequenos fios loiros, apertando-o mais com o outro braço. — Desculpe. Eu disse a ele para inventar uma urgência, para que você viesse o mais rápido possível. Não queria que você se atrasasse para sua própria festa.

— Hina... — Ele voltou a olhá-la, emocionado. — É claro que adorei a surpresa, mas você é muito mais importante! Qualquer coisa ao seu lado estaria bom...

Horas mais tarde, no início da madrugada, quando deram a festa por encerrada e tudo estava no devido lugar, o casal voltou ao apartamento aproveitando o silêncio da vila, cada um carregando vários pacotes de presente e uma expressão contida de alegria. Naruto insistiu em carregar a maioria dos embrulhos, mas não conseguiu convencê-la quando disse que poderia fazer alguns clones. “Não precisa, eu ajudo” ela afirmou tranquilamente. Deixaram os pacotes no chão do apartamento e Hinata logo avisou que iria dormir.

— Mas antes... por que não abre um dos presentes?

Mesmo na sala mal iluminada, Naruto pôde ver a leve empolgação da garota e o brilho no olhar ao remexer na pilha e puxar uma sacola colorida.

— Aqui. Abra esse primeiro.

O tom divertido dela a denunciava facilmente.

— De quem é?

— Não faço ideia. Estou estimulando apenas. Vamos, abra de uma vez.

Ele recebeu a sacola e sentou no sofá, ao lado dela, abrindo sem cerimônias. Sorriu ao sentir a textura macia do tecido. Esticou-o para fora e se surpreendeu com o tamanho do cachecol.

— É bonito — comentou, impressionado.

Passou as mãos devagar por toda a sua extensão. Naruto não duvidaria se lhe dissessem que o tecido tinha dois metros de comprimento.

— É vermelho — Hinata anunciou. — Combina com você.

— Eu ia dizer que prefiro laranja, mas esse... — Ele quase perdeu as palavras, boquiaberto ao notar os detalhes no tricô. — É muito bonito. Mais do que o que eu tinha...

— Você tinha um cachecol vermelho? — Naruto não reconheceu o tom curioso da voz dela, mas sorriu com a lembrança do antigo presente.

— Sim. O vovô Terceiro me deu quando eu era pequeno. Disse que foi a esposa dele quem fez, para me proteger do inverno naquele ano, mas eu...

Naruto estancou quando trouxe o tecido para perto do rosto. Queria apenas sentir a textura dele no pescoço, mas o aroma que invadiu suas narinas o fez arregalar os olhos por um instante.

Respirou fundo. Não, não estava enganado. Ele não confundiria aquele cheiro jamais.

O perfume de Hinata.

— Mas você...?

Ele quase se assustou com a voz dela. Demorou um pouco a lembrar do que estavam falando.

— Eu o perdi. Vovô ficou uma fera.

Hinata soltou uma risadinha. Naruto levantou o rosto para olhá-la, sem tirar o cachecol de perto.

— Você provavelmente não lembra, mas nós nos conhecemos há muito tempo... bem antes da Academia.

— Você me contou uma vez, quando estava recebendo as injeções do Primeiro. Foi em um inverno, não é?

— Sim... mas eu cheguei a contar os detalhes? — Ele negou. — Você me salvou de três garotos mais velhos quando tínhamos cinco anos. Você apanhou deles por tentar me defender e... — Ela segurou a ponta do cachecol, sorrindo com a lembrança. — E eles rasgaram seu cachecol vermelho naquele dia. — Os olhos azuis se arregalaram por um instante, mas aos poucos a memória começou a surgir em sua mente. — Eu pedi desculpas por você ter perdido seu agasalho por minha causa.

— E eu disse que não tinha importância.

— Sim... e desde aquele dia eu tinha vontade de retribuir o favor, de lhe dar um presente. — Naruto segurou sua mão sobre o cachecol. — Espero que não seja tarde.

Ele apenas negou com a cabeça, sorrindo bobo.

— Foi você quem fez — constatou. — Obrigado...

A voz saiu como um sussurro. Hinata retribuiu o sorriso, aproximando-se devagar e roubando-lhe um beijo breve.

— Vou me deitar. Se quiser abrir os presentes...

— Não. Daqui a pouco vou também.

Ela confirmou com a cabeça antes de se retirar.

“Nós mantemos este amor numa fotografia
Nós fizemos estas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca fecham
Nossos corações nunca estiveram partidos
E o tempo está congelado para sempre”

Olhou para a mesinha de centro, agora abarrotada de presentes, e reparou que um de seus porta-retratos tinha caído no chão. Esticou-se para juntá-lo, sorrindo bobo ao ver uma tímida Hinata na fotografia.

Há quase dois meses ele vinha acumulando imagens de sua namorada pela casa. Já tinham quase um álbum completo – que também serviria para a festa de seu casamento – e vários porta-retratos espalhados pela sala e pelo quarto, seja dela ou do casal.

Uma constante lembrança de que não estava num sonho.

Bastava olhar para o retrato em cima do criado-mudo, ao lado do sofá, para ter ainda mais certeza: narizes colados num quase beijo e sorrisos de expectativa. A foto foi tirada por Sakura, eterna fã do casal, antes de missões para os times 7 e 8. Naruto não resistiu e a deixou na sala (mesmo com uma Hinata envergonhada), com uma cópia em sua mochila, para admirar sempre que estivesse longe da morena.

Guardou os retratos e seguiu para o quarto, sonhando acordado. No entanto, o sorriso sumiu ao encontrar Hinata ainda acordada, com pequenas lágrimas destacando-se em seu rosto.

— Hina?

“Então você pode me guardar no bolso
Do seu jeans rasgado
Me abraçando perto até nossos olhos se encontrarem
Você nunca estará sozinha
E se você me machucar, tudo bem, querida
Apenas as palavras sangram
Dentro destas páginas, apenas me abrace
E eu nunca te deixarei ir”

Ela não estava triste. Tanto que sorriu em sua direção, largando o objeto que admirava.

O colar com a foto de Neji.

— Sinto muito — ele falou sincero. — Não saí de casa. Não lembrei que dia era hoje.

— Não tem problema. — Ela ergueu os braços, convidando-o a deitar-se também. Naruto obedeceu quase imediatamente. — Eu te dei trabalho essa semana, não é? Eu que peço desculpas por preocupá-lo. Sarei do resfriado ainda no início da semana.

— Mesmo?

— Mesmo. — Ela cruzou os indicadores sobre os lábios, em promessa. — Eu estava bem. Só ansiosa para que tudo saísse perfeito hoje.

— Não precisava...

— Mas eu queria.

Naruto segurou seu rosto e a beijou, sem mais resistir àquela distância.

Ele tinha a melhor namorada do mundo!

— Pela manhã visitaremos Neji, ok? — Os olhos dela brilharam com a proposta. — Não posso deixar de agradecê-lo, mesmo depois de um ano. Ele salvou sua vida...

— Nossas vidas — ela corrigiu.

— Sim... — Ele a beijou de novo, saudoso daqueles lábios. — Ele não será esquecido, eu prometo.

Hinata confirmou com a cabeça, emocionada, puxando o colar de volta para a visão dos dois. Ela o abriu, mostrando a foto do primo.

— Não vou esquecê-lo, de qualquer forma. Ele estará sempre comigo.

Naruto até sorriu ao ver a foto do Hyuuga, mas ficou surpreso ao encontrar mais dois rostos o acompanhando.

“E você poderia me colocar
Dentro deste colar que você usou
Quando tinha 16 anos
Perto do seu coração onde deveria estar
Mantenha isso no fundo de sua alma”
(Photograph – Ed Sheeran)

Neji não estava mais no centro. Foi deslocado para a esquerda, com seu sorriso discreto. Na direita, uma animadíssima Hanabi piscava um olho em sua direção.

E no meio, mostrando todos os seus dentes com seu maior sorriso, daqueles contagiantes e de fechar os olhos, o ninja laranja da Folha.

Naruto foi propositalmente colocado no centro, como a pessoa mais especial da vida de Hinata.

— Sim... — ele concordou. — Estaremos sempre com você.

~*~

— Cuide-se. — Ele a enchia de beijos pelo rosto, deixando-a vermelha. — Eu volto amanhã de manhã. Correndo!

— Certo. — Hinata ria, meio encabulada. — Boa sorte, Naruto-kun.

Despediu-se do time 7 no portão da vila, sorrindo para o loiro que acordara animado como nunca, decidido a dar o seu melhor em mais uma missão.

Pensando melhor, Hinata concluía, Naruto sempre acordava animado...

Sorriu consigo mesma, dando as costas ao portão quando o trio sumiu de vista. Caminhou devagar até o hospital, para mais uma consulta com Tsunade.

O céu azul estava lindo, com pouquíssimas nuvens e um sol aquecendo aquela manhã de outono. Seria um dia tranquilo em Konoha, a moça imaginou.

Até ver a expressão séria da ex-Hokage ao entrar no consultório.

— Bom dia, Hinata.

— Bom dia, Tsunade-sama — respondeu receosa. — Aconteceu alguma coisa?

— Sim — confirmou, deixando alguns papéis em cima da mesa, estes que a jovem reconheceu como resultado de exames.

A médica sentou à mesa, de frente para a morena, soltando um suspiro pesado antes de decretar:

— Não tenho boas notícias dessa vez, Hinata.