Forget About Me escrita por Lia Mayhew


Capítulo 6
Capítulo 5 - Don’t Wanna Dance


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito por ter demorado para voltar! Espero que o capítulo valha a pena a espera. Boa leitura!



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I'm on my own and I'm crazy for you

 

Layla aparatou de volta para casa. As viagens de ida e volta no mesmo dia tinham a esgotado. Desafivelou os sapatos, jogando longe, na grama, os saltos plataforma. A grama bem cuidada do quintal parecia confortável o suficiente. Desabou, sem se importar com a terra molhada. 

Já estava anoitecendo, o que significava que, mesmo sem querer, tinha obedecido o pai. Melhor assim. O quintal estava escuro, com uma iluminação fraca de algumas velas.

— Encontro ruim?

A voz surpreendeu Layla, que se sentou para olhar Elsie acomodada em uma das cadeiras externas.

 - O que você está fazendo aqui?

Elsie riu, irônica.

— Visitando o seu pai, óbvio. O que você acha que eu estou fazendo aqui?

Como se tivesse sido invocado, Brendon apareceu, trazendo de dentro da casa duas taças com sorvete.

— Olha só quem decidiu aparecer.

— Ah, cala a boca, Brendon. Você ficou me sacaneando de manhã.

— Se você tivesse me contado antes o que você ia fazer, eu não teria perguntado na frente do pai.

— Você teria me enchido de perguntas se soubesse que eu tinha um encontro.

— Claro. Não sei quem é esse cara. Aliás, como é que você o conheceu?

— Eu não tenho que te dar satisfações, Brendon.

— Ou seja, você não quer me dizer, porque sabe que tem coisa errada na história.

— Vocês dois parecem crianças. – Elsie não tinha interesse em assistir as disputas infantis dos irmãos – Como foi, Layla?

A garota suspirou, se afundando de volta na grama.

— Foi ótimo. Exceto quando eu beijei o irmão dele.

Depois do episódio lastimável com Angelina e George, Fred levou Layla para conhecer o vilarejo. O lugar parecia ser significativo para os alunos de Hogwarts e Fred sabia todas as histórias a respeito dele. A neve derretendo e as ruas estreitas faziam com que ela se sentisse de volta a Edimburgo. Entretanto, esse não era o caso. Os dois estavam no coração do mundo de Fred, cercados de pessoas importantes para ele. Mesmo assim, ele não hesitava antes de a apresentar para os conhecidos que eles encontravam no caminho, expondo que estava com ela, ao menos naquele momento. Layla ficou particularmente sensibilizada ao conhecer Lee Jordan, o responsável por Fred estar na mesma cidade que ela no dia em que eles se conheceram e dono da casa na qual eles dormiram juntos.

O casal se acomodou em um bar, o Três Vassouras. Ali eles puderam conversar melhor. Imediatamente, ela se desculpou pelo acidente com George. Sabia que os irmãos não estavam se entendendo e percebia o quanto isso entristecia Fred, não tinha intenção de tornar as coisas piores. Também não queria que o erro dela se assemelhasse a traição de Angelina. Fred se mostrou tranquilo, compreensivo, e não parecia ter se importado.

 Eles passaram a falar de outros assuntos, misturando conversas que tinham começado em cartas com informações novas. Conversar com Fred era fácil. Ela ficou tentada a dizer que era como se o conhecesse há anos, mas seria uma mentira. Layla era uma garota de cidade pequena, fazia bastante tempo que conhecia a maioria das pessoas com quem convivia. E, no entanto, conversar com elas era muito diferente de conversar com Fred.

Da mesma forma, ouvir ele falar fez Layla perceber algo que ela tinha começado a desconfiar. Fred era politizado. Isso não era necessariamente algo ruim, apenas incomum para ela, que não tinha crescido com nenhuma influência desse gênero. Suas convicções vinham do senso comum: Lorde Voldemort era mau, a guerra era ruim. Berwick-upon-Tweed parecia, aos seus olhos, apolítica, tendo como única ideologia a manutenção do status quo. As falas de Fred sobre o Ministério da Magia, o menino que sobreviveu e os desfalques estratégicos no cronograma curricular das aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas pareciam aspectos subjetivos demais para ela.

 Pelo menos até ela conhecer outra parte da família Weasley. Por acaso, no final do passeio, eles encontraram os irmãos mais novos de Fred, Ron e Gina. Ron tinha o mesmo quê singelo de Fred, só que com olhos azuis e ares de atrapalhado. Já Gina, era dinâmica, cheia de atrevimento. Junto deles, estava Harry Potter.

Layla soube que era ele no momento que o viu. A cicatriz não dava espaço para erros. Como toda criança bruxa, ela cresceu ouvindo lendas e histórias sobre o bebê que derrotou o maior bruxo das trevas de todos os tempos. Contudo, ela nunca esperou que ele parecesse um adolescente comum. Não havia nenhum halo ou luz dourada irradiando dele. Era apenas um garoto de quinze anos, não parecia mais especial do que o irmão de Fred ou qualquer outro. Inclusive, a outra garota, de grandes cabelos cheios, que estava com eles pareceu, a Layla, ser muito mais interessante.

Ainda meio desorientada, ela se despediu de Fred, que tinha que voltar para o castelo. Os dois prometeram continuar se escrevendo até o próximo encontro. Quando eles estavam sozinhos, nos entornos do castelo, ele a beijou delicadamente. Depois, a manteve perto de si, apoiando o rosto no topo da cabeça dela. Sussurrou que sentiria saudades. Layla estava arrepiada desde então.

— Você beijou o irmão dele? – Repetiu Elsie, incrédula.

Brendon começou a rir, mas se afogou com o sorvete e acabou tossindo forte. 

— Sem querer. O irmão gêmeo dele.

— Esse é o tipo de coisa que só acontece com você. O que o irmão dele achou da situação?

— Ele achou que eu era maluca.

— Isso é algo bom. Assim, eles têm um aviso desde o começo.

— Brendon, você não é uma parte dessa conversa. – Elsie entregou a taça dela vazia – Leva lá para dentro, vai.

 Layla sabia que tinha um motivo pelo qual elas eram melhores amigas. A loira veio até ela, se acomodando na grama.

— Para de enrolar. Você o convidou para o baile Baddeby?

— Convidei. Deu tudo certo.

Ela tinha abordado o assunto quando os dois estavam na frente da Casa dos Gritos. Fred falava com interesse sobre a fama da Casa ser a mais mal-assombrada da Grã-Bretanha até que Layla o interrompeu para convidá-lo para a festa. De início, ele não entendeu muito bem, fez graça. Assim que ela explicou melhor, comentou que era um baile, Fred fez questão de dizer que iria. Layla quis garantir que ele teria como sair da escola para ir a Berwick-upon-Tweed, porém ele assegurou ter maneiras de escapar do castelo.

— Ótimo. Estou ansiosa para conhecer ele.

— Você vai o adorar. Só não sei como vai ser a experiência de apresentar ele para o resto das pessoas.

— Vai ser divertido.

— Para você, né, Elsie.

Brendon limpou a garganta, tentando chamar atenção para si. As garotas se levantaram da grama.  

— Eu posso ter a minha namorada de volta?

— Ai, a minha namorada! – Retrucou Layla, imitando o tom de voz do irmão. Ao ver ele virando as costas para ir embora, ela voltou atrás – Espera, Brendon. Nem te contei a coisa mais estranha que aconteceu.

— Mais estranha que beijar o irmão gêmeo do cara?

— Sim. Harry Potter estava lá.

— Harry Potter... – Brendon estava boquiaberto - Harry Potter te viu beijar o irmão gêmeo do garoto?

— Credo, não. Me deixa explicar melhor.



Layla contou os dias até o baile. Organizou todos os detalhes que a envolviam. Em meio as inúmeras aulas de preparação para os N.I.E.M.S e as trocas de correspondência com Fred, o tempo passou rápido.

Antes do que esperava, ela já estava provando o seu vestido azul escuro no quarto de Clementine. Pelo seu gosto e capricho impecáveis, a amiga era a melhor escolha nesse tipo de coisa. Ter, em primeira mão, a aprovação de Acheflour, mãe de Clementine, também era um fator importante.  

— Então, é hoje que eu conheço o seu garoto misterioso? - Clementine perguntou enquanto Layla terminava de fazer a sua maquiagem.

— Por favor, não o assuste.

— Se ele não se assustou com você porque ele se assustaria comigo? Você está apertando o meu olho, Layla. Use magia se não estiver conseguindo fazer direito.

— Nenhum feitiço delineador é melhor que a minha mão. Só vamos mudar de assunto. Não sabia que você ia usar suuka hoje. Achei que você só usasse em cerimônias tradicionais.   

— Normalmente, sim. Inclusive, faz tempo que estava planejando usar um vestido John Galliano. Mas, você conhece os meus pais. Cada dia é um surto diferente. Faz um mês que eles não param de brigar.

— Por quê? E o que isso tem a ver com você usar suuka hoje?

Clementine tremeu embaixo da sua mão. Layla conseguiu notar a apreensão da amiga ao decidir se compartilhava sobre o assunto ou não. A relação entre as duas era diferente, talvez até estranha. As garotas cresceram juntas e estavam acostumadas com a companhia uma da outra, ainda que não tivessem tanta sintonia. Em contraste com a amizade que tinha com Elsie, ela e Clementine tinham poucos interesses em comum e discordavam sobre a maioria das coisas. A sinceridade feroz de Clementine não combinava com a espontaneidade de Layla. Eram próximas e distantes, ao mesmo tempo.

— Meu pai está determinado para que eu fique aqui depois da formatura.

— Como? Você vai viajar com o corpo diplomático do Ministério da Magia em julho.  

— Sim. Ele quer que eu cancele e fique aqui. A minha mãe é contrária, claro. Ela cobrou inúmeros favores para me colocar nessa viagem. Você sabe que ela sempre quis que eu me envolvesse com diplomacia e política externa ugandesa. Por isso, a suuka. É uma forma de demostrar o quão importante é a minha herança cultural e o meu desejo de explorar o mundo.

 - Eu consigo ouvir a sua mãe falando. Pronto, terminei.

Clementine foi para frente do espelho para avaliar o resultado. Seus olhos estavam iluminados e com um delineado finíssimo. Os lábios grossos estavam pintados com um gloss de cor achocolatada.

— Está ótimo. Obrigada, Layla. Sei que eu me ofereci para fazer o seu penteado, mas acho melhor você mesma fazer. Vai levar um tempo para eu me vestir.

  O quarto de Clementine era enorme, o que era esperado na grande casa estilo georgiano em que vivia. As paredes eram azul turquesa, os móveis eram brancos ou de madeira clara e o chão era carpete. Havia grandes janelas francesas, responsáveis por iluminar o ambiente, durante o dia. À noite, como naquele momento, a luz vinha do lustre antigo. 

A amiga foi pegar os tecidos para compor a suuka. A suuka era um traje típico de Uganda, mais especificamente do povo Batooro. A roupa consistia em três peças: o tecido longo usado para ser amarrado na altura dos ombros, o vestido que ia até a altura do joelho e o kitambi, o tecido enrolado na cintura que descia aos pés. O tecido dos ombros e o vestido eram de seda, enquanto o kitambi era de cetim com detalhes costurados encima. Era muito raro ver Clementine ou Acheflour vestindo a suuka. As únicas vezes que Layla se lembrava de ter visto tinha sido no funeral do avô de Clementine e na festa de noivado, kwanjula, de uma de suas primas.

— Tudo bem. Acho que vou deixar o meu cabelo solto.

Layla aproveitou o tempo que a amiga levou para vestir a roupa para encarar o seu reflexo no espelho. O vestido longo azul petróleo comprado em Edimburgo tinha alças caídas nos ombros e era colado até o joelho onde se abria no estilo cauda de sereia. No pescoço, estava o colar de pedras vermelhas que tinha ganho de tia Candy, a joia da família Harrison. Os olhos estavam discretos e a boca chamativa com o batom vermelho. Os cachos escuros, sua marca pessoal, estavam bem modelados e caiam em cascatas nas costas.

— Jacob vai ter um ataque se te vir assim. – Comentou Clementine voltando com tecidos laranjas e verdes, mencionando seu irmão caçula.

— Olha como eu estou. Ele, com certeza, deveria. – Clementine revirou os olhos, enquanto amarrava os tecidos com habilidade – Você também está maravilhosa, Mimi. Está pronta para conquistar o mundo.

— E você pronta para arrasar com o coração do garoto de Hogwarts.

— Ei!

— Qual é, Layla. Você está se divertindo com ele. O garoto não faz o seu tipo.

— E qual é o meu tipo? Os garotos daqui que acham que podem me tratar como lixo porque tem dinheiro?

— Calma. Não precisa ficar defensiva. Vem, vamos.

A família Baddeby era fundamental para Berwick-Upon-Tweed ser da maneira como era agora. Por conta da sua localização no extremo norte, a cidade sempre ficou no meio de conflitos territoriais entre a Escócia e a Inglaterra. Agnes Baddeby, a Viscondessa Camrose, foi responsável pela a unificação da cidade, incluindo áreas dos lados do Rio Tweed. A Viscondessa era bruxa, contudo, por arranjos matrimoniais, seu marido, William Baddeby, acabou sendo um trouxa. A situação se mostrou complicada, por conta do preconceito de sangue da época, presente desde o fim da Santa Inquisição, e o casal não teve escolha senão lutar conta os estigmas. Esse era o motivo pelo qual Berwick-Upon-Tweed, embora bem classicista, não tinha preconceitos com pureza de sangue ou com trouxas. O pai de Layla, Peter, era a prova da progressividade local por conseguir ser um investidor financeiro de renome e parte da alta sociedade bruxa da cidade, mesmo sendo um aborto mágico.

Então, o baile Baddeby era um evento anual para celebrar a memória de Agnes, tradicional desde os anos de 1940. Para demonstrar o espírito de união, trouxas e bruxos importantes eram convidados. Claro, os trouxas não sabiam bem que diferenças os separavam, mas sabiam que não faziam parte da mesma comunidade. 

Nenhum desses detalhes interessavam Layla, que esperava do lado de fora da propriedade dos Baddeby. Ela estava nervosa, mesmo que Fred tivesse confirmado que viria no dia anterior. A possibilidade de ele não aparecer era insuportável. A garota estava perdida em pensamentos e nem notou quando o ruivo apareceu ao seu lado. Ele usava um terno cinza com uma camisa social e gravata preta, um pouco simplório perto dos smokings caríssimos da festa, mas estava, sem dúvida, lindo. Com o jeito malandro, que Layla estava desconfiando que nunca o abandonava, e a postura altiva, ele se destacava.

— Layla... – Começou ele, devagar, se aproximando. O coração dela derreteu um pouco ao ver o olhar de Fred – Você está... maravilhosa. Quero dizer, você é maravilhosa.

 - Você também não está nada mal. - Mas o elogio não pareceu atingir Fred que ainda a admirava -  Vamos, Weasley, quero te apresentar para algumas pessoas.

Amor, você pode me levar para onde você quiser.

Ela não conseguiu controlar o sorriso ao ouvir como ele a chamou e, assim que Fred lhe deu a mão, Layla não resistiu e roubou um beijo. Foi rápido, não queria criar comoção logo na entrada do evento.  

— A sua boca está suja, Fred. – Ela desenhou o contorno dos lábios dele com o dedo. Com o polegar, ela tirou o batom vermelho de seu rosto. E com Fred sendo puxado pela mão, os dois entraram no palacete.



Fred nunca se envergonhou de sua origem humilde. George e ele nunca se importaram, não do mesmo jeito que Ron, em usar itens de segunda mão. O esforço de seus pais só fazia ele ter mais orgulho de ser um Weasley. Entretanto, naquele momento, não havia como ele não se sentir modesto demais.

 Layla parecia uma criatura de outro mundo, uma divindade que tinha descido dos céus para presentear com a sua presença. E era melhor ele nem tentar processar aquele vestido azul, sob risco de entrar em total combustão. Fred se perguntou o que ela via nele. Layla era alucinadamente linda, divertida e, como se tornava óbvio, podre de rica. Ele já tinha deduzido que a situação financeira da família dela era confortável, por conta da escola de magia particular e jeito como se vestia e falava. Ainda assim, não esperava nada disso. A festa era em um palacete digno da realeza, repleto de variados tipos de ostentação. Bebidas caras, roupas caríssimas. E Layla dominava o local.  

— Primeiro, preciso achar o meu pai.

— Seu pai?

— Com medo? – O sorriso dela se abriu – Relaxa, não é nada demais. Meu pai é tranquilo.

A fala dela não aliviou Fred, que estava começando a notar os olhares direcionados a eles. A adoração que nutria por Layla o impedia de ressentir-se com ela, contudo algo no ambiento o perturbava. Ele era um rapaz descontraído e tinha um senso de humor afinadíssimo, achava importante buscar alegria até mesmo nos piores momentos.  Porém, era como se todas essas pessoas não fizessem ideia do que estava acontecendo, a volta incontrolável da magia das trevas, a guerra iminente.

Sua linha de raciocínio foi cortada por Layla. Ela parou em frente de um casal de meia-idade, a mulher com cabelos castanhos e o homem com de intensos olhos azuis.

— Layla!

A garota largou da mão de Fred e abraçou o pai. Ela exibiu o vestido e o colar. Com a mulher, o cumprimento não foi tão animado.

— Esse aqui é o Fred, pai. Fred, esse é meu pai, Peter, e Katie, minha madrinha.

Peter estendeu a mão, e se mostrou cortês e pacífico. Não fez menção sobre ele ser o acompanhante de sua filha. Será que ela já tinha apresentado outros garotos para o pai?

— Vocês viram Brendon e Elsie?

— Sim, eles estão no outro salão. Você está linda, querida. Foi um prazer te conhecer, Fred.

 - Obrigada, pai. – A filha lançou um beijo no ar para o pai.

A mão dela voltou a se juntar com a sua. Ele poderia se acostumar com aquela sensação.  

— As coisas estão melhores com o seu pai?

Layla pareceu desconfortável no meio daquele mar de pessoas.

— Melhores sim. Não estão ótimas. Foi uma mentira grande, significativa. Só que tudo aconteceu tanto tempo atrás. E qual é a diferença se eu ficar chateada? Não tem nada que eu possa fazer sobre isso. 

— Então por que você está chateada com Katie? Foi ela que mexeu com as suas memórias, certo?

A garota parou de andar e eles se afastaram um pouco do fluxo de movimento.  Ela não tinha tido a intenção de compartilhar mais sobre a questão da sua mãe, ainda que tenha escrito sobre alguns detalhes.

— Eu sei que foi o meu pai quem pediu para ela mexer. Mesmo assim, ela deveria ter dito não. Ele não teria conseguido sem a ajuda dela.

— Eu achei que você tinha dito que entendia o motivo pelo qual eles esconderam as memórias. 

— Eu entendo. São memórias traumáticas. Eu tenho 17 anos e é difícil de digerir. Imagino que teria sido mais complicado tentar entender aos 6 anos. A imaginação completando o que eu não consigo lembrar. As lembranças se misturando com pesadelos.

 - Pesadelos? Você está tendo pesadelos? – Fred colocou uma mão no rosto dela, com carinho. 

— Eu não quero mais falar sobre isso. Eu só quero aproveitar a noite com você e te exibir um pouquinho.

— Um pouquinho?

— Bastante.

— Tudo bem. Vamos.

Os voltaram a percorrer a casa. No salão dos fundos, um grupo de jovens estava reunido perto de um bar, espalhados em sofás e envolta da lareira. Alguns jogavam e estavam apoiados em uma mesa de bilhar. Todos eram bonitos e pareciam pertencer a aquele universo. 

— Quem é vivo sempre aparece. – Exclamou um garoto com um taco de sinuca na mão,  tomando Layla nos braços. Fred olhou a cena estático e ela se afastou rapidamente.

— Menos, Eddie, bem menos. Você viu a Layla ontem. – Uma garota de pele escura se manifestou, afastando o amigo. A mão dela, com alguns anéis brilhantes, se estendeu no ar - Prazer, Clementine.

— Eu sou Fred.

— Acredite, eu sei muito bem que você é.

Layla que sorria para a cena, corou. Começou a apresentar os outros amigos que estavam de pé.

— Fred, esses são Julian e Eddie. Ali estão Blake, Ravenna e Chris.

Ele cumprimentou todos, cada um parecendo ter um nível de interesse diferente. Layla não deu muita corda e eles foram até os sofás. Ali, estava o irmão de Layla e a sua melhor amiga. Brendon era idêntico ao pai, e ele lhe pareceu mais desconfiado. Elsie se mostrou simpática.

— Fred, que bom te conhecer. Layla disse que você estuda em Hogwarts.

— Fico feliz em te conhecer também. Estudo sim, adoro Hogwarts. 

— E eles te deixam sair na hora que você bem entende? – Perguntou Brendon, com olhar analítico.

 Fred sentia o julgamento Brendon, que parecia protetor. Pensando em Gina e seus namorados, ele o entendeu.

 - Tenho certeza que eles não vão sentir a minha falta.

— Entendi. Vocês têm um programa excelente de estudo das Runas Antigas.

— Nunca cursei Runas Antigas. É uma eletiva.

Isso encerou a conversa. Os rapazes ficaram quietos enquanto as amigas conversavam.

— Garçom, por favor.

 O funcionário atendeu ao chamado de Elsie. Os quatro pegaram taças de champagne. O grupo não parecia ter qualquer restrição alcoólica, intercalando whisky de fogo com champagne, perto dos pais.

Eles ficaram um bom tempo conversando entre si e com os outros amigos de Layla. Certa altura, a música vinda da pista de dança aumentou.

— Fred, vamos dançar.

As aulas de dança que a Professora Minerva tinha dado na véspera do Baile de Inverno vieram em sua mente. Era gritante a diferença entre a maneira como tinha convidado Angelina para ir ao Baile de Inverno e forma como estava com Layla agora.

De qualquer forma, uma música lenta tocava. Fred colocou as mãos na cintura dela e Layla apoiou o braço nos ombros dele. Ela olhava para cima, o seu nariz ficava na altura do queixo dele. Durante três músicas, eles dançaram em silêncio. No começo, ele ficou tenso, preocupado, sobretudo, em não pisar nos pés dela. Depois, ele relaxou e ficou observando Layla, hipnotizado. Nunca tinha se sentido nessa maneira por ninguém.

— Layla?

— O quê?

Ela tinha fechado os olhos. O seu rosto brilhava sob a iluminação fraca. Estava graciosa e serena como se tivesse caído no sono. Eu estou me apaixonando por você: era o que ele gostaria de dizer. Não teve coragem e a beijou.


 

Layla estava na fila do banheiro. Fred a esperava do lado de fora. Na sua frente, uma garota da sua idade, segurava algo preto retangular com uma antena. Ela sabia que era algo trouxa mesmo não tendo noção para que servia. A menina tinha os cabelos pretos em um corte Chanel e estava bem vestida de rosa.

— Meu Deus, a sua roupa! É maravilhosa! – Exclamou ela mexendo na cauda do vestido. – Onde você comprou? Com certeza, não foi aqui.

— O seu vestido que é perfeito. Comprei o meu em Edimburgo. Não compro roupa de festa aqui, na cidade, desde que fechou a loja...

— Da Irene!

— Sim!

 As duas riram.

 - Não sei como não nos conhecemos. Adeline Mei-Li.

 - Layla Harrison.

 O retângulo preto começou a fazer barulho.

 - Preciso atender isso, mas, você está um arraso. Conversamos mais tarde!  

 Adeline saiu, abandonando a fila do banheiro. Trouxas eram muito esquisitos.



 Do lado de fora, Chris Charlton engatou um conversa com Fred. O ruivo ficou agradecido, considerando que os outros meninos demostravam desinteresse em conversar com ele. De verdade, ele os entendia. Brendon tinha motivos óbvios e parecia ocupado com Elsie. Eddie gostava de Layla e, por isso, ele e o amigo, Julian, não escondiam a hostilidade. O outro garoto, Thomas, não desgrudava de Clementine. Sobrando apenas Chris.

 Os dois estavam parados na frente de um grande mapa de Berwick-upon-Tweed. Chris exaltava a cidade natal.

  - Cara, você tem que conhecer cada canto. Não existe uma cidade como essa em todo o Reino Unido.

   - Parece uma cidade ótima.

   - E aqui não tem nada daquilo que vocês em Hogwarts.

   - O que a gente tem em Hogwarts?  

  - Não quero te ofender, mas você sabe. A paranoia de pureza de sangue. O ódio pelos trouxas. Aqui a gente os trata como se fossem gente. Somos todos um só povo.

     - Eles são gente.

     - Não, cara, claro que sim. É jeito de falar. Adoro atravessar para o lado de lá do rio para ficar entre eles.

    Chris apontou o braço atlético para o desenho azul do rio Tweed no mapa.

     - Por que você precisa o rio para ficar entre eles?

   - Ah, quase todos os trouxas moram ao sul do rio Tweed. Nós, incluindo os Harrison, moramos do lado norte.

    - Então, vocês são um só povo, literalmente, separados por um fronteira física?

      Chris nunca teve a chance de responder, porque Layla reapareceu.

     - Fred, te achei. – Ela olhou surpresa para o outro garoto - E você está com o Chris.

      - É. Estou vendo a Ravenna me chamar. Vou deixar vocês sozinhos.

    E ele foi ao encontro de Ravenna, o corpo em forma de armário se movimentando dentro do terno com caimento perfeito.

      - Não pensei que eu fosse te ver conversando com o Chris.

       - De fato, foi uma experiência.

        Layla riu, divertida. Alisou o tecido em cima do seu peito.

       - Esqueci de te perguntar antes. Você se resolveu com o seu irmão?

     - Me resolvi. Eu estava sentido falta dele e ele continuava me pedindo desculpa toda hora. Também, não faz mais diferença nenhuma se ele quer ficar com Angelina.

     - É? E você poderia me dizer o motivo?

     - De eu não me importar com George ficar o Angelina.

     - Aham.

    - Estou envolvido com outra mulher. Qualquer dia, eu a apresento para você.  

       - Engraçadinho.

      Eles foram dançar mais algumas vezes, comeram e voltaram para os sofás. O casal se beijou várias vezes. Fred conhecia o toque de Layla, afinal, eles transaram no dia em que se conheceram. Isso não impedia o êxtase que sentia toda vez que estava perto dele. Além de tudo, o fato que eles dormiram juntos apenas indicava que a relação desses não era pura atração física. Se fosse, eles teriam ficado em Edimburgo e nunca mais se visto. Fred estava perdido.

   - Layla, eu preciso ir.

  Layla estava deitada no sofá, com a cabeça no seu colo, cansada por conta do salto alto.

  - Não. Fique.

 - Eu queria. Só que eu ficar mais um pouco, não volto mais para Hogwarts.  

 - Então não volte.

 - Você é uma graça. Agora, me leve para a saída.

 Após reclamações, Layla o acompanhou até a frente da casa. Ela estava meio mole por conta da bebida. Com um beijo de despedida, Fred aparatou.



Layla ficou parada no mesmo lugar. Ela estava satisfeita, a felicidade compensando a exaustão. A noite tinha sido maravilhosa, adorava estar com Fred. Ia voltar para a festa, quando mudou de ideia. Brendon ia estar com Elsie e o seu pai estaria ocupado com as pessoas de sua idade. Preferia ficar sozinha mais um pouco.

Ela foi mais para frente, em direção ao jardim da frente da mansão. Era a certa distância da entrada e Layla teve que tomar cuidado para não cair com os saltos afundando na grama. Naquela altura, a sua coordenação motora não estava em seu melhor momento. O jardim era um labirinto de cerca viva com algumas árvores e canteiros de flores. No meio, havia bancos antigos de ferro.

Ela sentia o ar frio da noite nos ombros, ficando arrepiada. A noite estava bonita, estrelada. As últimas taças de champagne tinha a deixado sonolenta. Estava com os olhos entreabertos, perto de os fechar, quando ela ouviu o seu nome.

— Layla.

Era difícil enxergar. Viu uma sombra no fim de um dos corredores, um que ela sabia não ter saída. Ela se aproximou, curiosa. Não esperava encontrar o achou. Uma mulher estava ali. Ela tinha cabelos lisos e olhos claros. Usava um vestido casual, fora de moda. Layla a conhecia graças as suas memórias antigas. Era Bonnie Harrison.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei se alguém notou, mas cada capítulo tem o nome de uma música. Todas elas estão na playlist da fic no youtube (https://www.youtube.com/watch?v=qVdPh2cBTN0&list=PLXc1sKuJPNuTLobNAl_OW60KvEvE-ASGG), que também tenha outras músicas que me inspiram a escrever ou que eu escuto enquanto escrevo. Vou adorar se vocês me contarem o que acham das músicas.
Sei que eu acabei o capítulo com um super cliffhanger hahaahhaha. Não se preocupem com o próximo capítulo, prometo que sai mais rápido.
Vendo as postagens dos capítulos anteriores, notei que muito do que eu escrevo fica desformatado. Especialmente, paragráfos e travessões. Se algo estiver estranho, por favor, me avisem.



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