Forget About Me escrita por Lia Mayhew


Capítulo 3
Capítulo 2 - Turn Blue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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I could dream ahead before my world turn blue

 

O dia do natal no casarão se passou sem grandes estardalhaços. A ceia, farta e apetitosa, foi tranquila mesmo com a falta de afinidade entre Katie e Candy. Todos foram na missa celebrada na imponente Catedral St. Giles. Layla considerava Edimburgo um dos seus lugares preferidos do mundo, as construções medievais eram impressionantes e a cidade parecia sempre encoberta de uma magia ainda mais especial do que a que ela era capaz de fazer. Era como se a cidade sempre estivesse guardando algum segredo.

 Na manhã seguinte, a troca de presentes não foi tão prazerosa, pois todos pareciam estar apreensivos com a proximidade do dia vinte sete.  O dia 27 de dezembro era muito importante para os Harrison. Era o aniversário de Brendon e o dia da morte de Bonnie Harrison, mãe dos irmãos. Bonnie tinha sofrido complicações durante o parto, não resistiu e morreu minutos após dar à luz a Brendon. Layla não gostava de pensar sobre isso, porque era extremamente triste. Seu pai tinha se esforçado tanto para se encaixar na comunidade trouxa e aceitar o seu lugar como aborto mágico e, após muito tempo, conseguiu encontrar Bonnie, uma jornalista trouxa gentil que o amava do jeito que era. Se casaram, compraram uma casa em um subúrbio escocês e tiveram Layla. A surpresa foi imensa quando descobriram que, após só dois meses do nascimento da filha, Bonnie estava grávida novamente. Nove meses depois, eles tinham Brendon e perderam Bonnie.  

Layla sempre pensava que era melhor não lembrar nada da mãe, porque deveria doer menos do que ter a conhecido e perdê-la.  Isso geralmente a acalmava, ainda que não diminuísse sua curiosidade. Era compreensível que aquele não fosse o tópico preferido de Peter, mas haviam muitas lacunas. Não sabia se tinha uma personalidade parecida com a dela ou se Bonnie gostaria que ela fosse diferente. Seu coração ficava pesado de vez em quando, e só se sentia reconfortada quando lembrava de todo o amor que a cercava e das suas fortes figuras femininas como Tia Candy, Katie e, em certa medida, até mesmo, Acheflour.

Se para ela a data já era pesada, nada se comparava com Brendon. Seu irmão era metódico e perfeccionista, por isso nunca conseguiu processar a morte da mãe deles, ou talvez esse fosse o motivo pelo qual ele era assim.  Ainda que ele nunca tinha dito, Layla via que ele se sentia responsável pelo o que tinha acontecido, o que é completamente incabível. Brendon se recusava a participar de qualquer forma de celebração de seu aniversário. Uma das suas memórias de infância mais marcantes era do aniversário de 6 anos de Brendon, no primeiro ano após a mudança deles para Berwick-upon-Tweed, no qual ele fez uma birra imensa e destruiu toda a decoração da festa. Ela quase se sentia mal por gostar tanto do seu aniversário, que era tão perto do dele. 

Então, quando acordou, Layla só desejou que o dia acabasse logo. Substituiu o pijama por um vestido de inverno preto sóbrio. Ouviu batidas na porta.

— Pode entrar.

— Layla. Oi. – Elsie entrou no quarto, vestindo o que parecia ser um suéter de Brendon por cima de uma calça skinny. Guardou suas muitas perguntas para mais tarde. - Vamos tomar café?

— Claro.

As duas desceram para a cozinha e, sozinhas, comeram em silêncio. Layla notou um discreto bolo de baunilha, o preferido do irmão, na mesa. Considerando que Elsie já parecia ter visto o seu irmão, Layla decidiu o procurar.  Bateu na porta do seu quarto e abriu logo em seguida, não esperando qualquer resposta. O encontrou deitado na cama, já vestido, encarando o teto. 

— O que você quer, Layla?

Ela suspirou e se deitou ao seu lado na enorme cama de casal. Layla o abraçou, de lado. Não disse nada, só ficou ali fazendo carinho no irmão, até sentir que os músculos dele tinham relaxado e que ele a abraçava de volta.

— Todos nós te amamos, chatinho. Eu agradeço muito por ser sua irmã. Não seria qualquer uma que ia conseguir te aguentar.

Brendon riu, mas a abraçou forte.

— Você viu o nosso pai ou a Katie?

—Não. Eles não vieram aqui ainda?

O irmão negou.

— Estranho. A única pessoa que eu vi hoje foi a Elsie, com o seu suéter. Você faz ideia de como ele foi parar nas mãos dela?

Ela não conseguia ver o rosto dele, mas tinha certeza de que ele estava corado.

— Ela passou a noite aqui comigo. Estava frio e eu dei a minha blusa para ela.

Layla deu um grande sorriso.  Já articulava uma dúzia de piadas sacanas mentalmente.

— Vamos descer, conquistador. O bolo mais sem graça do mundo está te esperando lá embaixo.  

 

 

 

Mais cedo naquele dia, Katie batia novamente na porta do quarto de Peter. Estava ansiosa desde que acordara. As mãos inquietas giravam a sua varinha nas mãos.

— Já vou! - A voz de Peter atravessou a porta trancada. Katie sentia como se estivesse prestes a vomitar. Ela deveria se sentir aliviada, já que, após todos aqueles anos, finalmente estaria livre de tantos segredos e mentiras, mas não se sentia. Tudo o que tinha era arrependimento. Peter abriu a porta, arrumado. – Katie! Oi. – Até que ele era bonitinho. – Aconteceu alguma coisa com o Brendon?

Aconteceu, pensou ela, e a culpa é toda sua.

— Precisamos conversar, Peter.

 

 

 

Era meio-dia quando Brendon encontrou o pai. Peter sorriu, o abraçou e fez tudo o que tinha que fazer, mas havia algo estranho com ele. Isso deixava Brendon preocupado, porque este ano as coisas pareciam ter sido melhores, fazia anos que não se sentia tão bem no seu aniversário. Talvez ele estivesse superando, ou fosse graças a Elsie, que sempre conseguia deixar tudo melhor.

— Está tudo bem, pai?

Peter olhou para ele e deu um sorriso tão genuíno que o deixou emocionado. Brendon conhecia o pai e sabia que aquele gesto dizia que ele o amava e que tinha orgulho dele, de um modo que palavras nunca diriam.  Ele gostava de quando Peter era afetuoso com ele, Layla sempre foi a menininha do papai, então as vezes ele sentia falta de algo só dos dois. 

 - Brendon, você é um garoto espetacular. O melhor filho que eu poderia ter tido. Feliz aniversário, campeão.

Definitivamente, aquele era o melhor dia vinte sete de dezembro da vida de Brendon.

— Ahn... Obrigado?

Peter colocou as mãos cada uma em uma lateral do rosto de Brendon.

— Você é igualzinho a sua mãe.

— Achei que eu fosse igualzinho a você. – Brendon respondeu, mas foi interrompido por Tia Candy que apareceu no topo da escada discursando dramaticamente para justificar a vassoura nova que tinha comprado para o sobrinho.

Depois desse dia, o tempo pareceu voar. A véspera do ano novo foi festejada com toda a classe que a Harrison mais velha prometia. A varanda ampla do casarão foi enfeitada com luzes mágicas flutuantes e todos assistiram aos fogos de artifícios que trouxas disparavam, comemorando a chegada do ano de 1996. Layla se sentia incrível com o acesso irrestrito ao champagne e com a roupa que tinha passado horas escolhendo para ficar impecável. A memória dela de boa parte da noite era embaçada, porém não ia conseguir esquecer tão cedo do beijo que Elsie e Brendon trocaram na virada.

O ano mal tinha começado, e Layla já estava completamente devotada ao seu aniversário. Em oposição extrema ao seu irmão, ela era fascinada com seu aniversário, que costumava reunir tudo o que adorava - presentes, bajulação e ela sendo o centro das atenções. Então, no dia 3 de janeiro todos já sabiam o que Layla queria comer, fazer e ganhar. Porém, ela sequer tinha tirado o pijama quando a sua tia entrou no quarto no dia do seu aniversário. Ela deveria ter notado ali que havia algo de errado. Tia Candy, sempre orgulhosa de sua postura altiva, invadiu seu quarto sem muita graça, parecendo muito com uma senhora confusa, que ela jurava que jamais seria. 

— Layla, minha querida, feliz aniversário. – A mulher beijou o rosto da sobrinha e a envolveu em um abraço apertado, estabelecendo um contato físico maior do que elas tinham tido durante toda a infância dela.

— Bom dia!?

— Sinto muito, Layla. – Candice se endireitou e recuperou um pouco de sua pompa. – Isso não foi nada elegante. Só estou feliz de ter você comigo hoje.

— Que gracinha, tia! Eu sempre soube que era a sua sobrinha preferida e você só não dizia nada por conta de Brendon. Tipo, tem que ter alguém que goste do garoto.

Normalmente, esse tipo de comentário faria Candice retrucar com alguma reposta espirituosa. Mas, hoje, nada. A mulher apenas estendeu uma caixa de veludo com um tamanho considerável a ela. Isso balançou Layla por completo. Merlin, isso estava mesmo acontecendo, sua tia estava lhe dando uma joia? Seus dedos rapidamente foram ao fecho da caixa, revelando o colar mais maravilhoso que ela já tinha visto. Sua corrente era dourada, sem dúvida de ouro, com um pingente oval grande, adornado com pequenos rubis, granadas e pedaços de rocha, formando uma coloração vermelha linda. Não era possível que tia Candy, que considerava ela, com certa razão, insensata, simplesmente estava dando aquela joia inestimável a ela.

— É o colar mais bonito que eu já vi.

— Eu sabia que você iria gostar. As pedras representam o nosso sangue, que propaga a linhagem dos Harrison por gerações. Este colar está na nossa família por décadas.

— É lindo. – Layla estava muito surpresa. – Por que você não o usa?

— Você sabe que seu pai e eu não tínhamos uma boa relação com os seus avôs, quando eles eram vivos. Por um tempo, eu não sabia se deveria ter orgulho da família Harrison ou desejar que sua dinastia prosperasse. Mas tudo isso parece uma grande bobagem quando olho para você e o seu irmão. Você é uma Harrison, Layla. Nada vai fazer com que você deixe de ser nossa responsabilidade e nosso orgulho.

— Obrigada, tia. – Agradeceu a sobrinha enquanto Candice colocava o colar em seu pescoço. – Isso significa muito para mim.

— É bom que signifique mesmo. Ia esperar você ter o mínimo de juízo para te dar, mas esse parece o momento certo. Contudo, - o tom de voz doce deu lugar ao outro ameaçador – se você perder ou estragar esse colar, eu vou te assombrar pelo resto da eternidade. Entendido?

  — Entendido.

  — Ótimo. Agora, coloque uma roupa descente. – Exigiu a mulher saindo do quarto de Layla e fuzilando seu pijaminha de algodão.

— Uau! – Declarou Elsie ao encontrar a amiga vestida e maquiada no corredor. Layla, apesar do frio, vestia uma saia curta xadrez preto e branca, por cima de uma meia calça nude grossa, com uma blusa de lã preta justa. Nos pés, usava um salto preto grosso. – Você, com certeza, vai ser a pessoa mais bem vestida da sala de estar.

— Eu ouvi você falando, mas como não era nenhum parabéns ou agradecimento a minha existência, eu vou fingir que não escutei.  

— É claro que não. – A amiga sorriu, brincando. – Não sei muito bem quem está ansioso para agradecer a sua existência.  

Elsie a abraçou e as amigas ficaram grudadas, se balançando por um tempo. A loira estendeu um embrulho para Layla.

— O que será? – Perguntou a morena retoricamente, tirando o laço e abrindo o presente. – Elsie! Eu te disse que estava querendo essa bota de couro de dragão, mas você não precisava me dar a capa combinando! Obrigada, obrigada.

— Não há de que. Não é todo dia que a minha melhor amiga completa 17 anos.

Sorridentes, as garotas desceram. A mesa estava decorada artisticamente, e pronta para um brunch completo com todas as comidas preferidas de Layla. Ela aproveitou a refeição com a companhia de Tia Candy, Brendon e Elsie. Eles passaram algum tempo na sala de estar, ouvindo o rádio e conversando.

Peter e Katie apareceram, descendo as escadas juntos. A garota achou estranho que o pai, seu maior admirador, não lhe disse nada ou sequer a olhou e pediu para que o acompanhasse até a biblioteca da casa.  

— Claro, pai. – Layla o seguiu e notou que Katie também ia junto. Ela considerou a possibilidade de estar prestes a receber uma surpresa de aniversário, quem sabe uma motocicleta enfeitiçada ou um cavalo. Ela aceitaria bem as duas opções.

Infelizmente, não havia nada de novo na biblioteca.  Layla se sentou no braço de uma poltrona de leitura, ficando em frente ao seu pai e a madrinha.

— Então, qual o motivo do suspense? Se vocês escolheram o dia de hoje para anunciar o namoro de vocês para a família, não vou mentir, me deixa um pouco chateada, ainda que não tanto quanto a tia Candy vai ficar quando descobrir. – Layla tinha a mania de falar demais quando ficava nervosa.

 — Não é nada disso, Layla. Essa é uma conversa séria. É sobre a sua mãe. – Peter fez uma pausa e pareceu tomar fôlego. Os grandes olhos castanhos da filha se arregalaram para o pai – Você conhece a história que eu te contei a vida toda. Eu me apaixonei pela sua mãe, nos casamos, tivemos dois filhos e ela morreu. Tudo isso aconteceu, porém não da maneira como você se lembra.  Eu sempre quis te proteger, mas, como hoje você se torna maior de idade, acredito que tem coisas que eu não posso mais esconder de você.

  —   Eu não estou entendendo o que você está dizendo, pai.

  —  Querida, você se lembra qual era o emprego de Katie, antes dela se tornar uma auror?

  — Sim. Ela era uma obliviadora. – Layla se virou para a madrinha, que sacou a varinha de seu bolso. Nem teve tempo de piscar antes de Katie lançar o feitiço.

  Aos poucos, uma série de novas memórias de quando era criança reapareceu em sua mente. Suas lembranças antigas ainda existiam, entretanto era como se elas tivessem ganhado uma nova camada de profundidade. Honestamente, era bem confuso. Ter a memória de ver o rosto de sua mãe se tornou possível, assim como lembrar de sua voz ou de como ela lia para ela e o irmão, antes de dormir. Conseguia ver Bonnie ao lado de Brendon, o que sempre achou ser impossível. Sua cabeça começou a latejar e sua vista ficou escura, enquanto uma sensação de mal-estar se apoderou de Layla. Havia algo horrível encoberto ali.

— Por que você fez isso?

— Layla, você está se sentindo bem? – Peter se abaixou e envolveu os braços da filha nos seus.

Naquele momento, ela não entendeu como gritos tão reais só estavam dentro de sua cabeça. Já escorriam lágrimas de seu rosto.

— Por que você fez isso? – Repetiu com um fio de voz.

— Eu só queria o melhor para você e o seu irmão.   

—  Eu sinto como se a minha mãe tivesse morrido duas vezes e, ao mesmo tempo, só agora, eu sei quem ela era de verdade. O que quer que isso seja, não é o melhor.

— Eu não sei como são as suas lembranças de sua mãe. Até hoje, eu, que era um adulto na época, não entendo direito o que aconteceu. Mas você e Brendon deveriam ter a chance de crescer sem danos, como qualquer outra criança, então eu dei um jeito para isso acontecer.

Layla retirou as mãos do pai de cima dela, ainda incapaz de levantar-se da poltrona. Seu choro se tornou mais intenso, o que deixou sua fala embargada.

— Você não tinha o poder de fazer isso. Você brincou com as nossa memórias, como se a nossa vida fosse uma história que você poderia contar da maneira como queria. E você acha mesmo que o Brendon cresceu sem danos? – Peter não respondeu – Não sei como você concordou em fazer isso, Katie. Eu sempre achei que eu poderia confiar em você. 

— Você pode confiar em mim, Layla.

— Sinto muito, mas é difícil acreditar em qualquer coisa que vocês dizem agora.  

Layla precisou de muita força de vontade para se levantar e sair da biblioteca. Atravessou o cômodo no qual estava antes, e apenas olhou para Brendon, cansada. Seu irmão e Elsie pareciam tão surpresos com seu estado que nem se mexeram, Candice não estava mais ali. A jovem praticamente se arrastou até o seu quarto cuja porta trancou.

Layla subiu na sua cama e ficou encolhida. Inspirou e expirou até que sua respiração voltasse ao normal. Demorou para que ela pudesse pensar com alguma clareza e tentar reorganizar seus pensamentos, repletos de informações novas. 

 Sua mãe não tinha morrido por causa do parto de Brendon, afinal de contas. As memórias mais antigas de Layla, agora, incluíam Bonnie, que parecia uma mãe doce, alegre e carinhosa, sempre ao lado dos filhos. Mesmo não havendo uma divisão exata, separando tudo em antes e depois, em algum momento, de alguma forma, sua mãe mudou. Layla era muito nova, Brendon mais ainda, o que tornava compreensível que ela não entendesse tudo e deixasse passar alguma sutileza, ainda que a diferença fosse brutal. Durante um curto período, logo antes de sua morte, a que aconteceu de verdade, Bonnie tornou-se instável e até perigosa. Era estranho para Layla, que sempre achou fácil agradar outras pessoas, descobrir que a sua própria mãe a detestava. Havia episódios de negligência, em que Bonnie parecia se desconectar dos filhos pequenos, tal qual a vez em que esqueceu eles em uma loja de departamento por quase um dia inteiro. Havia também o que Layla só poderia considerar como surtos neuróticos, nos quais a mãe quebrava coisas e gritava alto.  

 As suas memórias eram limitadas, algo esperado considerando que tinha seis anos quando tudo aconteceu. Não se lembrava do funeral de sua mãe, nem sabia se tinha ido. Contudo, lembrava que ela tinha morrido pela ingestão de comprimidos, medicamentos trouxas comuns, já que as muitas embalagens ficam espalhadas pelo chão do banheiro. Overdose acidental ou suicídio. Isso explicava a fuga da família da Escócia em 1984, que trocou Colinton, nos arredores de Edimburgo, por Berwick-upon-Tweed, no norte da Inglaterra. Não conheciam ninguém na cidade nova, algo perfeito considerando que Peter e Katie mantiveram ela e seu irmão sob o efeito do Obliviate, o feitiço que modifica a memória, durante mais de dez anos. Se sentia estupida por ter um dia acreditado na mentira que cresceu ouvindo sobre a sua mãe e a mudança, e que pensava ser verdade até hoje de manhã.   O que seu pai e Katie fizeram era horrível e fazia Layla se sentir violada de várias maneiras diferentes.     

A garota foi para a frente do espelho de seu banheiro, onde molhou o seu rosto, tirando o resto de sua maquiagem, esperando se sentir melhor.  A sua imagem refletida não era a que esperava ver no dia em que completava 17 anos. Todos os seus planos de aniversário pareciam bobos agora. Ignorou as batidas na porta, pegou alguns cigarros escondidos em sua bolsa e se sentou no parapeito que dava para os fundos da casa. Os dias eram curtos no auge do inverno, e Layla fumou até o lado de fora se transformar em uma noite escura. Ela sabia que tinha que conversar com Brendon, já que aquilo afetava os dois, porém a ideia era insuportável e não estava pronta para isso. A única coisa que queria fazer era caminhar nas ruas da cidade a esmo, fingindo que nada tinha acontecido, até completa exaustão. Então, percebeu que poderia fazer isso. Era maior de idade, tinha licença para aparatar e sua família não ia notar sua ausência, já que só planejava sair do quarto no dia seguinte. Colocou o casaco preto mais quente que tinha, agarrou a bolsa munida de libras e galeões, empunhou sua varinha de nogueira e chegou onde queria estar.

Layla surgiu inteira em um beco no centro de Edimburgo, onde ela começou a vagar sem rumo. Sentia muito frio com sua saia, mas não ligava. Comprou uma cartela nova de cigarros, cheia de auto lamentação. Achou que só isso já a deixaria satisfeita, mas ainda não tinha encontrado o que quer que ela estivesse procurando.

Percorreu mais algumas quadras, parando em frente de uma espelunca, um boteco bruxo muito diferente dos lugares que ela costumava frequentar. Layla se sentiu atraída pelo ambiente escuro e entrou, se sentando no balcão, sem se dar a oportunidade de reconsiderar a ideia. Ignorou o pensamento que a gordura dos móveis ia sujar a sua roupa e pediu uma bebida. Assim que a recebeu, deu um gole generoso, só então parando para observar quem estava ao seu redor. A maioria dos gatos-pingados não despertou o menor interesse até que notou, ao seu lado, um garoto ruivo com quase a sua idade e uma expressão lastimável.

— Quem morreu? – Perguntou Layla de supetão, mordendo os lábios no instante que percebeu a ironia das suas palavras.  

O ruivo a olhou surpreso, como se tivesse esquecido de que não estava sozinho no bar.

— Ninguém importante, só o meu orgulho.

— Ah, o que é que ele pode fazer por você, não é mesmo?

Layla, que se sentia bem perto do fundo do poço, tomou mais do que é que fosse aquilo que ela tinha comprado.  O garoto ao seu lado ainda a olhava. Ela poderia ter passado o dia chorando e não estar usando nenhuma maquiagem, mas ainda se sentia bem confiante em relação a sua aparência. Também ajudava que o padrão do bar fosse bem baixo.    

— Fred Weasley.

Ele estendeu a mão fina e branca a ela, que aceitou o cumprimento.

— Layla Harrison.

Só foi preciso mais algumas doses de bebida para os dois saírem juntos do bar. Sem destino algum, na primeira esquina em que viraram, Layla se jogou no pescoço de Fred e o beijou. Foi prontamente correspondida. Alguma noção sobre se sentir arrependida no dia seguinte circulou pela cabeça dela, mas era difícil se concentrar quando se era beijada com aquela devoção.  


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Notas finais do capítulo

Eu sei que o Fred tá na capa da história, mas, gente, o Fred!



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