Forget About Me escrita por Lia Mayhew


Capítulo 13
Capítulo 12 - Snap Out Of It




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729663/chapter/13

It sounds like settling down or giving up

but it don’t sound much like you, girl

 

As manhãs de domingo de Narcisa Malfoy eram metódicas.

A ausência do marido durante o dia criava um ambiente de tranquilidade que ela tentava aproveitar ao máximo. Ela acordava cedo, permitindo que o sol fosse encarregado pelo seu despertar. Sua banheira era preparada para um banho gelado, onde lavava seus longos cabelos loiros. Dedicava um generoso intervalo para hidratar sua pele pálida com cremes e ervas, alguns criados pela sua própria família. Se a coruja demorava para chegar, Narcisa abria um livro qualquer e voltava sua atenção para poucas páginas. A atividade mais esperada era a leitura da carta semanal de seu filho. Draco era a pessoa mais importante no mundo para ela. Era seu maior conforto nos dias em que tudo parecia sem sentido.

Narcisa nasceu em uma família importante. Tinha sido uma boa filha e conquistado um bom marido, cumprido sua obrigação de manter puro seu sangue. Empenhou o máximo de esforços em ser a melhor mãe que conseguiu. Quando a maioria das pessoas que amava morreram ou foram sentenciadas a prisão perpétua, ela apenas concentrou-se ainda mais no marido e no filho. Jamais reclamou. Não levava a vida mais difícil do mundo. Tentava dizer a si mesma que não merecia sentir o vazio esmagador que surgia alguns dias. Afastava o pensamento de estar desaparecendo lentamente.

Draco era seu legado, independente de quem o visse apenas como parte de Lucius. Por conta disso, ficou radiante com a carta naquele dia. Seu filho estava gostando de alguém. Entre as informações habituais e as atualizações em assuntos passados, ele mencionava uma garota. Alguém por quem Draco tinha uma grande estima. Com contornos elaborados, tentando exibir alguma indiferença, ele pedia sua ajuda para encontrar uma foto antiga dela. Lucius mantinha registros minuciosos de sua reuniões e encontros com pessoas importantes, incluindo fotografias. Narcisa não fazia ideia se o objetivo do marido era reafirmar a sua posição de prestígio ou tentar conseguir alguma vantagem. Draco queria uma foto de um evento de mais de um ano atrás, no qual Narcisa não tinha ido, na propriedade de um amigo da família em Rutland. Havia uma menção sobre Acheflour Ohalloran. Ela lembrou que a mulher tinha uma filha da idade de Draco e ficou muito animada com a perspectiva. 

Começou a procurar pela fotografia imediatamente.

 

 

Política não era um assunto que interessava Layla Harrison. Como filha de uma trouxa e de um aborto, repudiava preconceito de sangue, contudo não era muito afetada por esse problema. Fazia parte de uma das poucas comunidades no Reino Unido que não se importava com a pureza do seu sangue, desde que você fosse inegavelmente rico. Também ajudava o fato dela ser branca, bonita e jovem. Não tinha muitas causas sociais pelas quais lutar.

 Portanto, os últimos minutos da reunião da Ordem da Fênix que tinha acabado de presenciar não foram uma experiência emocionante ou esclarecedora para Layla. Na verdade, ela nem deveria ter conhecimento da reunião – Fred explicou que era uma organização secreta antiga e praticamente ilegal - só que tinha chegado adiantada para se encontrar com Fred e ninguém teve coragem de expulsá-la. De acordo com Molly, as reuniões aconteciam em outro lugar, na sede da Organização, mas um imprevisto fez com que todos se reunissem na Toca. A sua capacidade de observação e raciocínio rápido, acostumado a acompanhar fofocas nos mínimos detalhes, permitiram que ela gravasse algumas informações. Havia sete pessoas na reunião. Ela simpatizou com uma mulher carismática de cabelos rosa que tinha respostas afiadas e inteligentes.

— O que achou? – Questionou Fred, animado.

— Adorei, óbvio. – Layla ofereceu um sorriso que não parecia forçado. – É incrível.

Ele continuou a falar sobre a organização, compartilhando informações que ele talvez não deveria. Layla achava tão bonito o modo que a paixão inundava as falas e gestos dele que manteve a conversa fluindo. Até que Arthur os interrompeu.

— Filho, acho que é hora de vocês irem. – Sussurrou, acreditando que ela não conseguia o ouvir. – Ele vai chegar a qualquer momento.

— Não teria problema, mas tudo bem. Nós vamos.

O ruivo sorriu para ela. Layla ficou feliz por estarem indo embora. O casal entrelaçou os dedos e já se despediam quando uma movimentação na lareira atraiu a atenção de todos. Um homem de meia-idade com cabelos encaracolados e roupas excêntricas saiu da lareira. Layla o achou familiar, ainda que não como se ele fosse um conhecido. Talvez uma celebridade ou coisa parecida. Ele não notou a sua presença imediatamente, cumprimentou algumas pessoas antes de sequer olhar para ela. No momento que a viu, uma escuridão atravessou o seu rosto, em uma expressão estranha. Nem um segundo se passou e o homem avançou com força total na sua direção. Ela não teve tempo para reagir. O homem misterioso agarrou seu pescoço, utilizando o aperto para a prensar contra a parede mais próxima. Com a mão livre, segurava sua varinha com força e mirava na cabeça de Layla.

— Como você está aqui? -  O homem silabou com um ar enlouquecido, permitindo que reconhecesse quem se tratava. – Por que você parece ter 18 anos?

Estava sendo atacada por Sirius Black, o fugitivo de Azkaban e assassino em série. A força da imobilização impedia Layla de respirar. Pequenos círculos pretos na sua visão indicavam que poderia desmaiar a qualquer instante. O único pensamento que conseguiu articular foi que se ela soubesse, naquela manhã, que iria morrer, teria colocado uma roupa diferente. Uma peça longa e escura para um fantasma dramático.

— Layla! – Fred reagiu ao ataque, tentando empurrar Sirius para longe. O resto da sala estava em estado de torpor.

— O que você está fazendo? – Outro homem mais velho, apresentado como Lupin, ajudou Arthur e Fred a afastar Sirius da garota.

Livre do aperto, Layla escorregou parede abaixo. Os braços longos de Fred a envolveram, segurando seu corpo perto e ainda no chão. Ela estava com a respiração ofegante. A pressão dos dedos tinha deixado uma marca perfeita em seu pescoço fino.

— Sirius, você quase matou a namorada do garoto! – Lupin gritava e sacudia o amigo. - Você perdeu a cabeça?

Sirius passou as mãos no cabelo, nervoso. Avançaria novamente sobre a adolescente se tivesse a chance. Riu da fala do outro.

— Eu não sei como ela fez isso, mas aquela é a maldita, Remus.

Lupin diminuiu o tom de voz.

— Do que está falando? Está começando a me assustar.

Sirius verbalizou algo incompreensível que Lupin pareceu ouvir. O seu rosto virou uma máscara impenetrável.

— Você está errado. – Lupin olhou intensamente para Layla. - Vamos conversar lá em cima.

Enquanto os dois subiam, os demais adultos se reuniram envolta dela, que continuava no chão. Fred se sentou do seu lado, permitindo que ela se aconchegasse em seu peito, beijando o topo da sua cabeça. Ele tinha ficado desesperado quando a viu sem ar. Nunca se perdoaria por não ser capaz de protegê-la em uma situação pela qual era responsável. Molly foi buscar um copo de água na cozinha.

— O que acabou de acontecer? – Ela quase chorava.

— Eu não sei.

— Por que você tem um criminoso procurado na sua casa?

— Isso é uma longa história.

— Bem, foi bem rápida para mim. - Molly entregou o copo de água para o filho, que fez ela beber. – Eu quero ir para casa.

— Claro.

Ele a ajudou a se levantar, ainda muito preocupado. Layla não tinha dado dois passos antes dele a pegar no colo.

— Fred, eu consigo andar. Nada aconteceu com as minhas pernas

— Não é um bom momento para ser mandona.

Sem despedidas, Fred seguiu para longe da Toca, com o objetivo de aparatar para Berwick-Upon-Tweed. 

— Está balançando muito?

Layla estava de olhos fechados e encolhida, parecendo menor do que era.

— Pode me colocar no chão. Você vai cansar de me carregar, amor.

— Nunca.

Anos depois, ela lembraria dessa cena com um misto de inveja e vergonha. Descobriria que era capaz de suportar pancadas bem piores do que aquela e sair andando com seus próprios pés. Não precisava ser carregada por ninguém – aqui entrava a vergonha. Entretanto, a inveja sempre ganhava quando pensava na proteção dos braços de Fred e sabia que não teria buscado a independência, se tivesse sido uma escolha sua.  

 

 

Fred pressionava uma compressa fria no pescoço de Layla, sentado com os joelhos no chão ao lado dela. Ela estava deitada na cama gigante só de sutiã e saia. Mantinha os olhos fechados e os braços cruzados.

— Então Sirius Black é inocente? - Ela riu.

— Eu acho que você não precisava ter tirado a blusa para isso.

Fred estava com dificuldade de acompanhar a conversa e manter o esforço de cuidar do hematoma da melhor maneira. O sutiã de renda também não colaborava. Layla abriu um único olho.

— Foco, Fred.

— Eu não posso dar detalhes. Nem deveria sobre ele comentar com você.

— Isso deixou de ser sua escolha no momento que ele tentou me matar.

A entonação que ela usava somada com sua figura pequena de lingerie fazia a cena parece mais cômica do que realmente era. A agressão tinha sido séria e Layla não estava dando um chilique por um motivo fútil.

— Eu sinto muito. Se você não tivesse ido lá para casa, nada disso teria acontecido.

— Não foi culpa sua.

Ela estendeu a mão, entrelaçando os dedos. O coração de Fred apertou vendo a garota machucada tentar confortá-lo. Com um movimento rápido e gentil, ele a beijou e soltou a compressa na cama.

— Algo me diz que a compressa não vai ser muito eficiente. – Ele afirmou ao perceber que o pano tinha sido esquecido e já estava começando a molhar o lençol.

— Eu posso colocar a minha blusa.

— Calma! – Fred procurou a compressa e se apressou em voltar a pressionar no pescoço dela. – Não vamos tomar medidas extremas.

Layla riu da gracinha. Ela adorava o seu namorado, cheio de piadas charmosas e sardas salpicadas, mas amava ainda mais o jeito como ele a tratava. A sensação de ser venerada era misturada com a certeza de ser amada de verdade. Esse garoto valia ser atacada por meia dúzia de fugitivos de Azkaban. A porta do quarto abriu antes de ter oportunidade de responder.

— Eu sei onde a Layla guarda... - Elsie abriu a porta, de supetão. Brendon vinha logo atrás. Eles congelaram quando viram o que estava acontecendo. – Opa! Achei que vocês tinham saído.

Brendon balançou a cabeça e cobriu o rosto com as mãos.

— Onde foi parar a sua blusa? Não responda, Layla.

 Elsie se aproximou para alcançar a camisa jogada no chão. Andou até a cama para entregar a peça de roupa. Notou as marcas roxas no pescoço da amiga.

— O que aconteceu com você? Isso parece grave. Você precisa de um medibruxo.

— Não seja exagere, Elsie. – Layla vestiu a blusa. Brendon também se aproximou, tirando a mão do rosto. - Está tudo certo.

— Como você fez isso? - Seu irmão perguntou, olhando fixo para Fred, como se já o considerasse culpado.

— Eu bati em uma porta. – Elsie arregalou os olhos, incrédula, enquanto Brendon revirou os seus. – Nossa, vocês são mesmo feitos um para o outro. Não tenho que provar nada. Acreditem no que quiser.

Elsie saiu do quarto, indo procurar alguma coisa.

— Você costumava ser uma boa mentirosa. De qualquer forma, vamos conversar sobre isso depois.

A loira voltou com dois frascos na mão.

— Esse hematoma não vai desaparecer com essa aplicação patética de gelo. A arnica vai aliviar a dor e a aloe vera vai diminuir o roxo. Depois, devolva ao armário de materiais do seu irmão. 

— Obrigada, Doutora. – Layla agradeceu sinceramente a amiga.

— Vou aperfeiçoar minhas habilidades para atender os padrões médicos. – Fred completou, antes do outro casal sair do quarto.

Fred fazia questão de dormir com ela naquela noite, mas Layla precisava ficar sozinha. Depois de muita negociação, conseguiu que ele fosse embora, sobre a condição de que se encontrariam no dia seguinte. Ela não conseguiu dormir. Ficava pensando em Sirius Black a chamando de maldita. Olhava para o teto, distante. Lembrando do ódio de um homem que ela não conhecia.

 

 

Embora não fosse o suficiente para chamar de castelo, a propriedade era impressionante. A construção principal tinha três andares espaçosos e duas torres baixas nas laterais. Era uma mansão de estilo escocês. Tijolos claros e marrons escuros dividam espaço com as janelas góticas brancas. Um muro baixo de pedra cercava a residência como uma fortaleza. A casa deveria ter sido uma beleza, anos atrás. Julgada respeitável para abrigar seus moradores. Agora, esses vestígios eram insignificantes perto do preto de queimado que cobria a casa toda. O jardim inglês, florido com lavandas e gerânios, do lado de fora do muro contrastava com a situação da casa. Mais adiante, havia um vasto bosque de mata fechada. Na parte de dentro, até a grama estava seca e escura. Quem não conhecia a história, ficaria surpreso por ninguém ter tentado restaurar o lugar.

— Era aqui? - Perguntou Draco, já sabendo a resposta. Ficou surpreso por ter encontrado a voz. Sentia um nó gigantesco na sua garganta. Ainda vestia o uniforme escolar.

— Era.

A verdade era feia. A vermelhidão nos olhos provocada pelo choro de Narcisa ficava ainda mais evidente pelo tom claro de azul que eles tinham. Ele se afastou da mãe e circulou pelo lugar. Era difícil de aceitar. Não sentia nenhuma conexão com a casa, mesmo que não soubesse por que deveria. Com um pouco de concentração, quase podia ver as chamas queimando. O lugar era um mausoléu. A existência daquilo fazia a mansão Malfoy parecer um santuário.

Sentou-se na grama, de frente para a casa. Draco sabia o motivo pelo qual sua mãe tinha contado aquela história - todos sabem que os Malfoy não fazem nada de graça. A narrativa deveria o afastar de Layla. Naquele momento, soube que tinha algo errado com ele. Já que, mesmo depois de tudo, seus sentimentos permaneciam iguais. A mera lembrança do rosto dela e de sua voz baixa, disparando provocações, fazia ele ficar nervoso. Tinha sido ensinado, em casa e em Hogwarts, que nervosismo é para os incapazes.

Pensando na história que tinha escutado, conseguiu formular outra hipótese. Poderia ter sido atraído por ela justamente por terem vindo do mesmo lugar. Em seus olhos, isso tornava a conexão mais especial. A emoção era mais pura por ter conseguido surgir no meio daquela escuridão. Eles dividiam aquele passado, independente de quão horrível ele fosse.

 

 

— A Ravenna e o Christopher estão juntos? - Perguntou Layla.

— Eles ficaram. - Blake respondeu. As duas observam o casal ter uma conversa que parecia tensa. Estavam no tradicional almoço de domingo no clube. - Provavelmente, ela quer que ele assuma algo sério.

A loira riu.

— E qual o problema com isso?

— O Chris nunca namoraria Ravenna.

— O que tem de errado com Ravenna?

A confusão de Layla estava deixando Blake irritada. Embora achasse divertido frustrar a amiga, essa não era a sua intenção. Não entendia o que ela estava querendo dizer.

— Layla, eu não quero ser maldosa, mas fala sério. Eu adoro a Ravenna. Por isso mesmo, sei que ela é morna, sem graça. O Chris nunca ia se contentar com isso. Na verdade, acho que ele sempre teve uma queda por mim.

— Não sei, Blake. - Layla não deveria ficar surpresa com esse tipo de comportamento traiçoeiro. Ela concordava que Ravenna era um tanto básica para os padrões delas. Ainda assim, dentre elas, Blake era a amiga mais próxima da garota. Algo dentro de Blake deve ter corroído de inveja ao vê-la chamar atenção de um garoto como Chris. - Sempre achei que você combinava mais com Julian.

— Você parece minha mãe falando. Não sei. O Chris beija melhor.

Ela não tinha previsto isso. Será que Layla tinha ficado tão envolvida com seus próprios assuntos que estava por fora do que acontecia debaixo dos seus olhos?

— E quando foi que você ficou com o Chris?

Blake deu de ombros, como se não importasse. Em seguida, encolheu o corpo, indicando que estava arrependida de ter compartilhado a informação.

 Desde que entraram na adolescência, as meninas faziam uma dança das cadeiras com os cinco meninos do grupo. Acreditavam que cada uma tinha um par ideal e nunca chegavam em um consenso. Layla tinha saído na desvantagem por ter uma escolha a menos, afinal Brendon era seu irmão. O ponto positivo era que não se importava muito com isso. Gostava de escolher seus namorados ela mesma. O primeiro menino designado para ela tinha sido o próprio Julian. Ele tinha sido o seu primeiro beijo aos 12 anos. As meninas estavam determinadas até Clementine querer trocar tudo. Layla nunca deixava ninguém esquecer que o primeiro romance da amiga, de quem ela se livrou com tanto desespero, era Brendon. Recentemente, achava que tinham chegado a um equilíbrio e uma formação final. Brendon e Elsie estavam namorando, Clementine e Thomas Mahmood estavam em um relacionamento sério e complicado e Layla e Edward Zumach estavam bem próximos até ela conhecer Fred. Pelo visto, o resto dos arranjos não estavam tão sólidos.

— Além disso, eu soube que a mãe dele pegou eles transando.

Isso era uma informação nova.

— Você está brincando.

— Não, todo mundo está comentando.

— Bem, então a situação é diferente.

Blake assentiu sorrindo, venenosa. As duas continuaram assistindo o casal. Layla sentiu vergonha pela hipocrisia. Ela não tinha direito de julgar Ravenna. E mesmo decidindo agir feito uma moralista, ela sabia que Blake também não tinha. Enquanto andava pelas cidade vizinhas com os trouxas, havia escutado histórias interessantes sobre uma loira misteriosa. Jamais insinuaria que era Blake, mas só conhecia uma pessoa com um hipogrifo tatuado na nuca. Ela desviou o olhar para o lado de fora do salão. Se os adultos estavam envolvidos, as críticas que Ravenna receberia não seriam justas e esperava que ela conseguisse lidar com elas. Tentaria conversar com ela na escola. Layla só agradecia por não ter sido ela.

O restaurante esvaziou pouco tempo depois. Ela ficou entediada e rodou pelo clube para procurar o pai. O lugar era grande, e mesmo após dar várias voltas, não achou Peter. Sem considerar as partes externas, o único lugar que não tinha procurado era na sala de reuniões, que ligava ao salão reservado para conferências. Achou improvável que seu pai estivesse ali. Entrou sem bater.

Era uma sala grande com uma longa mesa de madeira. As cortinas e os detalhes do teto eram verdes escuros. Um grande lustre de cristal fornecia a iluminação. Bem abaixo do lustre, Acheflour e Katie, sua madrinha, estavam engalfinhadas. Acheflour estava sentada no topo da mesa, com as alças do vestido escapando pelos ombros e os saltos balançando no ar. Katie estava de pé e apoiada na beirada da mesa. Elas se viraram para a porta quando ela foi aberta e rapidamente fechada.

— Layla. – A madrinha saiu de cima de Acheflour.

O impacto da cena foi forte. Ela não poderia considerar esse o maior segredo de Katie, que foi responsável por alterar ou apagar a maioria das suas memórias da infância. Ainda assim, se desestabilizou com o choque. Mais do que ver a sua madrinha, que Layla acreditava ser apaixonada pelo seu pai por décadas, ficar com outra mulher, a mulher em questão era Acheflour. Era o casal mais improvável que poderia imaginar. Sem mencionar que Nicholas Ohalloran - marido de Acheflour, pai de Clementine e grande empresário da região – estava a poucos metros.

— Merda. – Acheflour resmungou e começou a levantar e arrumar o vestido.

— Querida, sei o que você está pensando e eu posso explicar.

Katie embaralhou as palavras e sua voz oscilou. Layla percebeu que ela estava bem bêbada. Acheflour riu e assumiu a conversa, da maneira como sempre fazia.

— Vou economizar o tempo de todas nós. É exatamente o que você pensando, Layla. Acho que você sabe que não pode contar sobre isso para ninguém.

Ela gostava de Acheflour, a respeitava. Sabia que ela era gentil e espirituosa. Mas Layla reconheceu na sua fala uma arrogância, que beirava a maldade. Não era um pedido, era um aviso que carregava consequências severas. O comportamento era semelhante ao que tinha presenciado com Blake minutos atrás. Nada mudava naquela cidade, apenas envelhecia.

— Fique quieta, Acheflour.

Layla não esperou pelo resto da fala de Katie, saiu da sala, batendo forte a porta. Será que todo mundo mentia naquela cidade? Ela costumava saber tudo o que acontecia ou, ao menos, era capaz de entender como deveria se comportar e em quem confiar. Ser absorvida pelos assuntos de Fred, repletos de políticas de Estado e assassinos em série, estava deixando-a sem paciência para lidar com os problemas de Berwick-upon-Tweed.

Andou apressada pelo corredor, voltando a pensar em quem estava procurando. O que ela diria para o seu pai? Ele sabia sobre isso?

— Cuidado, Layla! – Entre todas as pessoas, ela esbarrou em Clementine. Não podia dizer para a amiga o que tinha acabado de ver. Os Ohalloran gostavam de brincar de família perfeita. Tinha que guardar aquele segredo. – Está tudo bem?

— Tudo certo. – Antes que pudesse pensar, completou: - Não entre na sala de reunião.

— Por quê? Minha mãe está transando com Katie?

— Você sabe?

Clementine pareceu ter pena dela. Colocou as mãos em seus ombros.

— Vá para casa, Layla.

Ela nunca respondeu. Voltou ao restaurante e, enquanto vasculhava o lugar procurando o pai, jurou que tinha escutado a voz de sua mãe. Um riso leve como o arrastar das folhas pelo vento. O barulho foi suave o suficiente para permitir que ela ignorasse.

Layla não ia passar por isso de novo. Aquela mulher não voltaria para a sua cabeça.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Faz um tempinho que não apareço por aqui. Espero que tenham gostado do capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Forget About Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.