1896 escrita por Emily Rhondes


Capítulo 1
I - Charles


Notas iniciais do capítulo

Bemm, anjos, voltei.
Quero começar dizendo que tenho essa história inteirinha pronta, e ela vem toda pra cá essa semana sexta feira (11).
Meu plano era fazer uma one shot. Mas felizmente, deram 19 mil palavras rsrsrs aí eu pensei, há, sem chance de eu fazer uma one de 19 mil. Então wee; temos uma short fic!

E socorro, eu amei demais essa história. Juro por Deus, na minha modesta opinião ficou maravilhosa, e espero que gostem tanto quanto eu!

*ESSE É O CAPÍTULO UM QUE EU MODIFIQUEI MUITAS COISAS*



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 Ela pisca os olhos devagar ouvindo uma voz aguda cantar uma ópera estridente que a acordava todos os dias, desde que nasceu.

— Madame Levour? - Ela pergunta, ainda sonolenta e confusa. - Já é hora de acordar?

— Sim, minha querida. 

A Madame Levour era a mãe de todos ali. Muitos eram abandonados, sozinhos no mundo, e uma mãe como essa idosa francesa era um sonho. 

— Eu odeio sua voz, madame. Acordar com ela todos os dias é um pesadelo. - A voz de Isabelle na cama ao lado a faz olhar naquela direção, e Madame Levour ri.

— Que rude, Isabelle. - James, seu irmão gêmeo na cama de cima da dela a responde. Ambos tinham cabelos negros e olhos azuis intensos, mas Isabelle havia tingido o seu de um loiro desbotado.

Os três dividiam um vagão do trem, onde dormiam.

As duas camas - sendo uma delas a beliche dos gêmeos - ficavam espremidas, sobrando espaço para uma pequena escrivaninha com livros, e algumas coisas pessoais, e o pequeno espaço não impedia de vários pôsteres estivessem nas paredes de ferro do trem colorido do circo.

Eles eram como ciganos, e viviam num socialismo danado: poucas coisas eram privadas. Eles dividiam maquiagem, roupas, objetos, etc.

— Vamos parar de brigar? Estamos perto de Nova Orleans. Vão tomar banho, e o café vai ser servido daqui a pouco. Tenho mais gente para acordar. - dito isso, ela saiu andando.

— Eu adoro Nova Orleans! - Isabelle pula pra fora do vagão aberto, rodopiando e rodopiando alegre com a enorme camisola ao vento. O dia tinha acabado de clarear, e os outros artistas saiam sonolentos de seus vagões.

— Como você pode estar alegre de manhã? - O irmão pergunta, mal humorado. - Estou exausto.

— Estou feliz! Como disse, eu adoro...

— Nova Orleans, entendi!

Lia ri, deixando os irmãos brigando.

Ela lia um livro dado por seu falecido pai escritor: As crônicas de um circo em Louisiana. Eram os originais, ele nunca havia publicado para ninguém exeto ela.

— Lendo já, logo de manhã, Lia? - a voz implicante do tio a faz virar.

— Bom dia, tio.

— Ler essas blasfêmias que seu pai escrevia vai deixar você louca como ele.
Lia tirou os fios de cabelo rosas dos olhos. Era o sinal de "paciência".

— Na verdade, vão me deixar menos ignorante, como você. Devia tentar aprender a ler. - o tio faz uma cara irritada, sem resposta. - Agora, vou respirar ar fresco, com licença...

Ele a agarra pelo braço firmemente, a machucando.

— Aí!

— Eu sou seu tio. Você tem que me respeitar. Só porque sabe ler, não quer dizer que sua carcaça inútil seja melhor que os outros. - E ele sai andando, deixando uma Lia enfurecida para trás.

— Seu tio é ridículo. - a voz que tirava seu sono a anos soou grave por trás, a fazendo virar bruscamente. O garoto não estava mais lá, se encontrava nas costas de Lia, já tomando seus livros das mãos dela. Ele era alto, loiro de olhos azuis. Usava calças marrons e uma blusa branca mostrando o peito por cima de suspensórios e uma boina. Ele é o Polonês mais gato de toda Polônia.

— Elliot! - ela sorri, tentando pegar o livro de volta.

— Bom dia, Lia. O que Lia livre lia enquanto limbo livre lia livros? - Seus olhos se reviraram.

— Lia lia livro. - sorri.

— Resposta certa. - ele devolve o livro de capa preta para a garota. - O que ficou sabendo de novo?

— Mês passado Utah entrou para o mapa como quadragésimo quinto estado do país.

— Bem inútil. - Lia dá um sorriso, observando seus suspensórios. Eles eram tão sexys. - Não conseguiu um jornal atualizado da capital?

— Não, infelizmente.

— Vou arrumar um para você. - o garoto diz, confiante.

— O que? Sério? O jornal da capital custa uma fortuna...!

— Sua bicicleta também. E mesmo assim você a empresta para mim, o Elliot desajeitado. - ela sorri, sem conseguir falar. - E seu aniversário está chegando...

— É... Você lembrou?

— Lembrei ué. - ele dá de ombros. - Bem, vou me encontrar com o pessoal. Te vejo por aí, Liazinha.

E Elliot sai andando.

Ela adorava quando ele saía andando, quando podia observa-lo bem por trás...

Enfim, depois de babar, ela se apressa em tomar um banho no rio junto com Isabelle, e comer café numa mesa estratégica para observar Elliot.

— Lia. - A voz do tio a estressou de novo.

— Sim, senhor?

— Acho que tenho uma nova tarefa para você. Venha aqui.

Ela olha para os dois amigos, em dúvida, e largou o café da manhã ali.

Ele a leva andando em direção aos últimos vagões.

— Você sabe o que tem nos últimos vagões, certo?

— As... As aberrações. - Ela engole em seco. 

— Sim. Seu novo trabalho será alimenta-las.

Seu rosto fica pálido, e aquele momento passou em câmera lenta. Aquilo era uma brincadeira de mal gosto do tio, e ela diz isso a ele.

— Não é brincadeira.

— O-O que...? N-Não, tio, eu não posso... Já alimento os animais... E....

— Seu pai os alimentava.

— Mas eles não ficavam presos involuntariamente...! Eram pacíficos... Até o incidente com a morte do nosso mágico antigo...

— Um novo desafio, para uma garota determinada. - ele dá de ombros. - Se não quiser ajudar, pode fazer as malas. - Ben sai andando por onde vinha, a deixando estática ali, pensando.

Lia segue andando, já vendo o último e maior vagão do trem enorme.

Ele era o único pintado de preto, diferente das cores berrantes do resto, com um grande aviso de perigo. "Aberrações. Manter distância, não se aproximar."

Lia aproxima a mão da porta do vagão. Ela era corajosa, conseguiria fazer isso. O pai fazia.

Faltava um centímetro para tocar o ferro, quando um barulho de algo batendo forte contra a parede do vagão a fez gritar, e sair dali correndo a toda velocidade, sem ousar olhar para trás.

Ela continua correndo perto do trem estacionado, até que tropeça em uma pedra, e caiu no chão com força.

Seus joelhos ardiam como seus olhos quando James a desafiou pingar limão nos mesmos.

Lia se força a sentar, ofegante, com seus joelhos ensanguentados  e completamente mutilados transferindo o sangue das veias pro chão pedregoso.

— Agh... - ela geme, apertando os olhos que já tinham lágrimas correndo.

— Lia? - Elliot. - Nossa senhora dos trapézios... O que você fez aí?

— E-Eu... 

— Certo, calma. - ele se senta do lado dela, examinando o machucando. Ela só conseguia encara-lo, com vergonha por estar chorando. - Está doendo?

— Não, não muito. Eu não estou chorando por isso. - Lia respira fundo, limpando as lágrimas.

— Por que está chorando, então?

Ela hesita, abraçando o corpo.

— Pode confiar em mim. - ele pede, dando um sorriso que a derreteu.

— Não é nada demais... Eu só estou nervosa... - Ele insiste para ela contar. - Meu tio quer que eu alimente as aberrações.
Seu sorriso desapareceu.

— O que? - ela assente, sentindo uma lágrima rolar. - Vou tentar falar com seu tio... Você não pode fazer isso.

— É. Eu... Eu não consigo... Mas se você falar com ele é capaz dele te demitir...

— Não esquenta. Vou falar com jeito. Agora, não se preocupe com isso. - Elliot limpa as lágrimas que escorreram dos olhos de Lia. - Bem... Acha que consegue andar?

— Tá ardendo, mas vou sobreviver. - Ela assente, e Elliot e puxou para levantar. Ela geme, fechando os olhos. - Tudo bem, tudo bem...

Lia passa braço no ombro de Elliot, e ele abraça sua cintura.

— Se meu tio ver isso, ele me mata...

— Ele não vai ver. Isabelle cobre isso fácil com maquiagem, e eu sei fazer curativos direitinho. - Ele sorriu, e ela se imaginou casando com Elliot e fugindo daquele lugar, com um simples sorriso. - Acho que não sou tão desastrado quanto você.
(...)

— Prontinho.

Isabelle sorri com seu trabalho no joelho de Lia.

— Uau. Ficou muito bom. - Ela dá um pequeno sorriso.

— Sim, agora não parece que você desceu rolando de um penhasco. - Elliot diz, sorrindo, e Lia ri.

— E você. Quais suas intenções com minha filha? - Isabelle coloca as mãos na cintura, e ela não sabia onde enfiar a cara.

— ISABELLE.

— As melhores possíveis. - Ele beija sua mão delicadamente, enquanto o encarava encantada. - Bem, se precisarem, me chamem.

Ele pisca pra ela e vai embora.

— Ele é muito fofo. Acho que vou falar com ele... Que partidão! - Ela ajeita o cabelo no penteado engomado, antes de desamassar o vestido. Lia lança um olhar mortal que dizia "Não toque nele." Mas ela era educada, e deixa essa passar. Ela não tinha o direito de ter ciúmes dele.
(...)

Lia se pendurou nos galhos cuidadosamente, subindo e subindo na grande árvore perto do acampamento onde o trem estava parado.

De lá ela via tudo:

O Domador de Leões Groot argumentando absurdamente alto com a madame Levour sobre como ele queria o jantar; O maquinista Han mexendo em algumas peças na cabine do trem, em silêncio como o mudo sempre foi; Olorax, o homem atirador de facas agarrando Blair, a equilibrista que o ajudava nos números; Ju-Jin brincando um com o outro de imitar posições absurdas; Elliot conversando com seus amigos idiotas; Marlon treinando com sua perna de pau; Hector, o mágico, e Pierre, o palhaço, conversando...

Aquelas pessoas deviam ser a família dela, mas nenhum deles fazia a menor vontade de enxerga-la ao invés de olha-la.

Lia não reclamava, haviam pessoas com condições milhões de vezes piores que a dela. Estavam em 1896, ela sempre soube que nasceu no século errado, mas era assim, e ela tinha que lidar.

Seus vestidos eram curtos na frente ao invés de inteiramente longos, odiava chapéus e os cabelos que deviam estar arrumados viviam desengrenados, gostava de fazer coisas de garotos e odiava ser tratada como uma coisa, não uma mulher. (Ou quase. Ela tem 16 anos)

Mas Lia era aquele tipo de pessoa que não aceitava sofrer, sendo que existem pessoas passando fome a esquina. Ela não tinha o direito de reclamar.

Lia. - Uma voz doce e grave ecoa. Tinha um tom alto e murmurado, frio e quente que quase a fez cair da árvore. Seria uma queda horrível, quebraria todos os ossos do corpo, ou pior.

Ela olha ao redor.

Nunca tinha ouvido essa voz, e mesmo assim, sentia que fazia parte dela.
Rapidamente, Lia desce da árvore sem cuidado algum com o vestido, e segue mata a dentro seguindo a voz.

Lia. Lia.

Era como se esse agradável som fosse levado pelo vento.

Lia.

Ela para. Aquilo era loucura. A garota dá meia volta, pronta para ir embora.

Lia.

Mais uma vez a voz a chama. Dessa vez, mais desesperada por ela estar indo.

Lia. Lia.

Lia decide entrar mais para dentro da mata, seguindo a voz inesquecível que a chamava incansavelmente. Ela sabia o caminho, mas como?

Resolve ignorar sua mente, seus sentimentos em relação aquilo, apenas contina a andar na direção que quis.

Aquela voz devia esta-la chamando por algum motivo.

Lia.

E lá estava o motivo.

Charles.

Charles, o amigo de Elliot, com a garganta completamente motilada e pendurado por um pedaço grosso de ferro enfiado na árvore e elegantemente dentro de seu cérebro, tirando seu corpo morto do chão.

Assim que soube o que aquilo era, começou a berrar com toda força.

Charles tinha sido assassinado.

O primeiro de muitos, mal sabia ela.


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Notas finais do capítulo

Comentem, xuxus! Quero saber o que acharam!



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