Helena

  Quando eu entrei berrando no apartamento da Lisa quase uma hora atrás eu nunca imaginei que sairia de lá com uma surpresa dessas, talvez eu realmente tivesse cogitado a ideia do Miguel ter outra, mas aí depois que a Lisa disse tudo aquilo sobre nós eu cheguei à conclusão de que ela tinha razão, era mesmo mais fácil porcos voarem que ele arrumar outra.

  Eu ainda me lembrava da primeira vez que o vi lá na escola, estávamos no último ano e eu era a “aluna nova” não tinha um único amigo e passava meus intervalos observando o pessoal em seus grupinhos e o vi por acaso na mesa do time de futebol com um enorme sorriso e os incríveis olhos verdes que eu tanto amava. Nossa primeira conversa foi uma porção de “Desculpa” e “Você está bem?” eu tinha esbarrado nele e caímos os dois no chão, é meio ridículo eu sei, mas acho que naquele momento eu me apaixonei por Miguel e muito provavelmente ele por mim.

  Mas é claro que depois disso eu, minha vergonha e meus cachos rebeldes não tivemos coragem de falar com ele outra vez, não até eu ter dado a sorte de terminar sendo sua dupla em um trabalho de história, talvez tenha sido o destino ou sei lá, só sei que meu único pensamento naquele momento era que eu poderia continuar fazendo aquele trabalho pelo resto do ano se isso me permitisse ficar ao lado dele. Mas como nem tudo são flores, naquela época tinha a Lisa no meio da minha equação e eu como a adolescente apaixonada que era, não consegui enxergar que a relação deles era a de irmãos, eu só conseguia ver a loira irritante que vivia pendurada no pescoço do meu moreno. Pra mim ela era só alguém que eu tinha que tirar do caminho para ficar com Miguel. Só que a Lisa nunca foi do tipo que desistia fácil, e só há pouco tempo atrás que ela disse que na época da escola ela implicava comigo pelo simples prazer de me ver morrendo de raiva dela.

  E eu sou obrigada a admitir que a culpa de nós duas não termos curtido o último ano juntas foi meu, eu não quis ver que a Lisa e o Miguel não tinham nada e na minha cabeça eu decidi que tinha que tirá-la de perto dele e ela como a pessoa implicante que sempre foi, decidiu que me faria passar raiva até desistir do Miguel, mas eu como a teimosia em pessoa, aceitei o desafio e durante um ano nós implicamos um com a outra, mas ao mesmo tempo em que eu e Lisa brigávamos eu me aproximava do moreno de olhos verdes que eu tanto queria conquistar. Sem duvidas foi um ano inesquecível. Mas no fim do ano eu me lembro claramente de que tivemos um briga horrível depois que eu vi minha melhor amiga literalmente pendurada no pescoço do irmão, ela queria alguma coisa dele e estava tentando convencê-lo a ceder, mas eu não sabia disso, só conseguia ver a loira bajulando e abraçando o meu moreno e foi o que bastou para que eu chegasse berrando com ela.

  - Você nunca vai se cansar de ficar pendurada no Miguel não, sua inconveniente!? – perguntei e ela se soltou dele para me encarar.

  - E você não cansa de correr atrás dele não, sua desesperada? – debochou e eu quis matá-la.

  - Lisa, pelo amor de Deus, cala a boca! – Miguel pediu a loira e depois se virou pra mim. – Lena, por favor, me escuta. Não é nada disso que você está pensando.

  - E o que eu estou pensando? Que você fala que vocês são só amigos, mas que na verdade estão me fazendo de trouxa!? – berrei atirando o caderno que tinha nas mãos na direção dele, não o acertei por que ele se esquivou.

  - Hei sua louca! Não precisa bater no Miguel também não! – Elisa gritou e eu me virei para ela.

  - Eu devia bater em você então? – gritei e joguei uma caneta nela, a acertou no braço.

  - Você não devia ter feito isso! – ela gritou de volta e atirou o apagador de quadros em mim, não sei exatamente como, mas quando vi já tínhamos começado uma guerra do meio da sala de aula vazia.

  - Por que você sempre tem que me atrapalhar? – perguntei ainda morrendo de ódio jogando um livro nela, Miguel estava tentando sem muito sucesso nos fazer parar de guerrear.

  - Por que é divertido! Você nunca me ouve mesmo! – ela respondeu desviando do livro e levantando um caderno para jogar em mim. – Você acha mesmo que eu teria alguma coisa com o Miguel!? Justo com o garoto que eu considero meu irmão?

  - Como? – perguntei sem entender e ela abaixou o caderno e começou a rir.

  - Chega a ser nojento de imaginar eu e o cabeção ali tendo alguma coisa, nós tomamos banho juntos! – ela fez uma careta tão engraçada que eu sorri também.

  - Isso é serio? – perguntei olhando de um para o outro e vice versa.

  - Muito – Miguel sorriu se aproximando de mim. – Lisa é só a minha irmãzinha, eu mataria e morreria por ela, mas é só isso. A garota com quem eu quero ficar o resto da minha vida se possível, está bem aqui na minha frente descabelada e linda.

  Eu senti as bochechas esquentarem e tentei domar o meu cabelo, tarefa meio impossível.

  - Você tem certeza disso? – perguntei e ele se aproximou de mim.

  - Tenho – respondeu antes de me beijar.

  Depois disso, minha relação com a Lisa deu uma virada de 360º, em menos de dois meses já éramos melhores amigas e hoje eu não consigo imaginar a minha vida sem ela, do mesmo jeito que não consigo imaginá-la sem o moreno de olhos verdes que me encarava do mesmo jeito que há tantos anos atrás, como se eu fosse à mulher mais linda do mundo e só me olhar fosse o suficiente para deixá-lo feliz pelo resto da vida.

  - Eu te amo – disse a Miguel assim que entramos em nosso apartamento e ele me olhou com um meio sorriso.

  - Também te amo – ele me beijou depois de fechar a porta. – Mas agora fiquei com medo. Eu fiz alguma coisa errada? – ele perguntou e eu gargalhei e depois voltei a beijá-lo.

  - Não, você é o cara mais incrível do mundo, não fez nada errado. Eu só queria dizer que te amo muito e que tenho algo muito importante para te contar.

  - Ok, agora eu não sei se fico com medo ou nervoso e você definitivamente não está ajudando, o que aconteceu, Lena?

  - Bem... – comecei apertando com ainda mais força os testes atrás das costas. – Sempre que eu imaginei te dizendo isso foi com uma surpresa bem elaborada, o clichê dos sapatinhos ou sei lá, mas agora eu não tenho nada disso então vai ser um pouquinho diferente. Aqui está, surpresa – disse lhe entregando os testes e ele os pegou franzindo o cenho.

  - O que é isso? – perguntou analisando os testes e assim que encarou os positivos seus olhos verdes se arregalaram. – Não me diga que...

  - Parabéns, papai – sorri pra ele sentindo as lágrimas rolarem. Por um momento Miguel não disse nem fez nada, só ficou lá me encarando, eu já estava começando a achar que ele não tinha gostado nenhum pouco da notícia, mas foi então que ele largou os testes, que caíram no chão, e me abraçou me girando pelo apartamento.

  - Eu te amo Helena White. Obrigado pelo melhor presente que você podia me dar! – ele disse quando parou de nos girar. – Eu amo vocês – ele sussurrou a centímetros de mim e eu cheguei a soluçar de tanto chorar.

  - Eu também te amo seu idiota! Mas dá pra parar de me fazer chorar? Eu tô grávida, poxa! – reclamei e ele sorriu limpando minhas lágrimas.

  - É, você tá mesmo grávida – ele sorriu antes de me beijar outra vez.

  Esse pode não ter sido o jeito mais bonito de se revelar algo tão importante, mas era único e nosso e isso com certeza o tornava o mais especial.