Contrato de Amor escrita por Lelly Everllark


Capítulo 29
Compras e conversa de bêbado.


Notas iniciais do capítulo

Hey peoples lindas ♥
Atrasada sim, mas sem capítulo novo, nunca!! U.u
E só tenho que dizer que esse capítulo está imenso, sério, eu ia dividi-lo em dois e tudo mais, porém cheguei e a conclusão de que não valia a pena, mas se isso incomodá-los (capítulos grandes de mais) podem dizer que da próxima se precisar os divido em mais partes!!
Enfim, espero que gostem do capítulo (por que eu amei!) e desculpem a demora!! :3
BOA LEITURA :D



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— Ok, aquela história toda de conquistar o Anthony foi uma péssima ideia - resmunguei.

  - Se você diz... - Lena sorriu roubando minhas batatinhas de churrasco, ela não pareceu nem por um instante surpresa quando eu disse que gostava do Anthony. Era realmente tão óbvio assim?

  - Você não está ajudando, Helena.

  - Já disse que minha obrigação não é ajudar, é jogar na sua cara que eu tinha razão esse tempo todo quando disse que você estava caidinha pelo seu chefe gostoso - ela proferiu e eu a olhei feio puxando o saco de batatinhas da sua mão. - Hei! Divide a comida com as amigas.

  - As amigas, não estão merecendo nada - debochei e ela revirou os olhos.

  Duas semanas depois daquele fim de semana louco, surpreendente e assustador e eu e Anthony estávamos na mesma. Isso é claro se existir um “nós”, a gente havia trocado mensagens durante todo esse tempo e realmente parecíamos mais próximos, mas era só isso, nem vê-lo eu vi nesse meio tempo e como a boba apaixonada que tinha me tornado, eu estava morrendo de saudades. Eu também continuava conversando com Edu, ele e a Vic estavam tentando outra vez e de acordo com Caitlin eles estavam indo melhor do que gostavam de admitir.

  - Mamãe! Que tal uma passadinha em nossa loja? – uma vendedora morena sorridente quase me matou do coração interrompendo meu devaneio e até Lena deu um pulo para trás. Ela pareceu sem graça. Eu ainda não estava acreditando que tinha deixado minha amiga me convencer a vir com ela ao shopping em pleno sábado à noite quando eu podia estar em casa vendo série confortavelmente. Ela disse que precisava de uma lingerie nova para fazer uma surpresa para Miguel. Às vezes eu gostaria de ficar surda no meio das conversas com Lena, por que já não aguentava mais essa melação toda, e com o meu irmão ainda por cima. Eca!  – Desculpe. – a vendedora sorriu. - Mas você não gostaria de umas compras para o seu bebê? – ela sorriu apontando para trás de si. Era uma loja de bebês e gestantes incrivelmente fofa cuja só a atmosfera dizia “Compre tudo o que puder e um pouco mais!”.

  - Acho que isso não é uma boa ideia – sussurrei dando um passo pra trás e Lena me segurou com um sorriso enorme.

  - Por que não?

  - Você sabe por que.

  - Isso não é desculpa, e você comprar um sapatinho pra elas não é crime. É presente e eu também quero dar um. Ai meu Deus! Já pensou nelas em vestidinhos iguais?

  Instintivamente a imagem de duas garotinhas fofas de cabelos escuros com roupinhas iguais preencheu minha mente. Eu evitava pensar nos bebês justamente por isso. Quando acabasse eu seria a única a sofrer. Mas mesmo assim não pude evitar sorrir.

  - Tudo bem, um sapato e só.

  - Claro – Lena garantiu acompanhando a vendedora e eu tenho certeza de que ela nem ouviu o que eu disse.

  A loja era linda e tudo incrivelmente fofo, era difícil não imaginar uma garotinha linda toda vez que eu via um vestido cheio de babados, mesmo que eu não soubesse se eram mesmo duas garotinhas. Me encantei com um par de sapatos brancos incrivelmente fofos de crochê. E pensar que os pesinhos deles caberiam ali. Caramba! Era pequeno de mais. Peguei dois parzinhos e os apoiei na barriga.

  - O que vocês acham? – perguntei na expectativa e suspirei. Já era para eles estarem se mexendo, não? Em umas das minhas navegações na internet li que já dá pra sentir os movimentos dos bebês a partir da 18ª semana, então como a louca ansiosa que era estava atenta a qualquer pequeno detalhe.

  - Eu amei – Lena me quase me matou do coração e eu dei um pulo. – Desculpa, é que eu acho muito fofo quando você fala com elas. E que tal esse presente da tia Lena? – minha amiga perguntou sorrindo e eu pisquei surpresa. Ela tinha um par de macacões vermelhos nas mãos, eram tão fofos que eu pude facilmente visualizar dois bebês gorduchos dentro deles. Mas aquilo não estava certo.

  - Lena...

  - Não me venha com os papos de “Não devíamos estar fazendo isso”, você gostou?

  - Sim, eles são lindos, mas...

  - Nada de “mas” se você gostou eu vou levar, é presente. E se não quiser que a primeira roupinha dos seus filhos seja comprada por mim é bom levar esses sapatinhos também.

  Eu ponderei a ideia. Era loucura, com certeza, mas nem essa verdade inegável me impediu de levar os sapatos até o caixa e comprá-los com a maior satisfação. Assim que saímos da loja, Lena sorriu e me estendeu a sacola com os macacões.

  - Para os meus sobrinhos preferidos.

  - Você só tem esses – comentei antes que eu pudesse me dar conta do que fazia e Lena arqueou uma sobrancelha pra mim. Eu corei. – Não! Não foi isso que eu quis dizer, você entendeu.

  - Claro – ela cantarolou divertida. - Mas agora vamos voltar a nossa missão oficial: Deixar nossos homens loucos.

  - Eu não tenho homem nenhum – disse divertida e ela descartou a afirmação com a mão.      

  - É claro que tem. Mas o ponto aqui não é esse, o ponto é que se você está realmente seria sobre isso, por que não parte pra ofensiva?

  - Ofensiva?

  - Claro, vai na casa dele, arma uns encontros acidentais, beija ele, ataca ele só de lingerie, esse tipo de coisa - ela disse simplesmente e eu gargalhei. Lena era louca. Algumas pessoas passando por nós nos olharam curiosas, as ignoramos.

  - Sinto muito te desapontar, mas atacar Anthony seminua não vai adiantar. - dei de ombros depois de me recuperar das risadas. - Eu já fiz isso e continuamos na mesma.

  - O que!? - Lena exclamou tão alto que o segurança parado ao lado de uma joalheria nos olhou desconfiado. Peguei minha amiga pelo braço e a arrastei dali, ela empacou meio metro depois e me encarou. - Em que circunstâncias você ficou nua na frente do bonitão? Você tinha esse tipo de informação importante e não compartilha comigo? Elisa, fala!

  - bom - acabei rindo. - Isso foi no dia do quase envenenamento com pimenta, você lembra que o Edu e o Anthony se encontraram e foi super estranho? Então, foi aí.

  - Você está me dizendo que os dois te viram pelada? É isso?

  - Pelo amor de Deus, Lena! Claro que não! E não era nem pro Anthony ter me visto assim, e não foi pelada, Ok? Eu só estava com menos roupas do que pedia a ocasião. Você lembra daquela minha camisola mais antiga que tudo e que você gosta de brincar que encolheu? Então - sorri e Lena riu.

  - Você está brincando.

  - Não, não estou.

  - Bem, se ele ainda não se apaixonou por você depois de ter te visto usando aquilo, você vai ter que partir pra artilharia pesada - ela deu um sorriso travesso. - Que tal ir comprar uma lingerie bem sexy comigo?

  - Eu grávida, Lena. Acho que vou passar.

  - Passar por quê? Você está grávida, não morta e também continua linda. - ela disse me olhando sugestiva e eu acabei sorrindo, Lena era com certeza a melhor pessoa. - Agora vem, vamos deixar esses homens babando - como a ideia era tentadora de mais, deixei que a morena me arrastasse, não que eu tivesse planos de usar essa tal lingerie, mas nunca se sabe, né?

  Uma hora e meia e dois ônibus depois, nós conseguimos finalmente chegar em casa. A experiência toda só não foi pior por que os ônibus felizmente não estavam lotados. Como Lena disse que pretendia fazer a surpresa para Miguel ainda essa noite, nem a convidei para entrar, ia deixar que se pegassem em paz, afinal eles mereciam.

  Fiz um pacote de pipoca de microondas e me sentei no sofá decidindo se assistia um filme, uma série ou ia simplesmente dormir depois de comer. Olhei a sacola da loja de bebês que eu tinha colocado em cima da mesa de centro sorrindo, eu não devia, mas não tinha me arrependido de comprar a roupinha para eles, saber que eles teriam uma coisa minha, nem que fosse um sapatinho, me deixava incrivelmente feliz. Encarei também a sacola da loja de lingerie ao lado dela, ainda sem acreditar que Lena havia mesmo me convencido a comprar uma. Onde ela estava imaginando que eu usaria isso? Ok, eu sabia onde, mas mesmo assim, isso era estranho. A única pessoa que eu queria que me visse a usando, é a última com quem eu imaginei ter alguma coisa. Só que claramente meu corpo não pensava igual, por que só a ideia de que Anthony me visse assim, já me deixou com calor.

  - Ok, chega - disse a mim mesma ficando de pé, o filme que eu tinha colocado mal havia começado, mas eu não estava vendo nada realmente. Deixei o pacote de pipoca ao lado da sacola na mesa e suspirei. - Vou tomar um banho e dormir. É a melhor coisa que eu faço - olhei outra vez para a sacola e corei, ia ser um banho gelado. Com certeza gelado.

  Depois de terminar o banho me certifiquei de colocar o meu pijama de grávida que era o único que me servia agora e fui pra cama, mas como não estava assim tão tarde resolvi ler mais um capítulo do meu livro, só que como não é bem assim que acontece, quando dei por mim já era uma hora da manhã e eu tive que parar por que eu mal conseguia manter os olhos abertos. Ia dormir calma e tranquilamente até às dez da manhã de domingo e depois continuar meu romance como se nada tivesse acontecido, mas é claro que, em se tratando de mim, não foi bem isso que aconteceu.

  Acordei o que me pareceu dez minutos depois piscando pedida. Alguém tocava a campainha loucamente e eu já estava me preparando para matar quem quer que fosse. Olhei para o relógio do celular e gemi, eram 02h10m da manhã, eu tinha dormido a quantidade absurda de uma hora. Me arrastei da cama enquanto a campainha ainda tocava.

  - Mas que droga! Eu já ouvi! - gritei indo até a porta e me livrando por muito pouco de bater o dedinho na quina da mesinha de centro. - Olha eu não estou com paciência, então... - fui dizendo assim que abri a porta e me interrompi no instante em que vi quem estava parado ali. Talvez fosse o sono ou a vontade de vê-lo (uma vez que eu não tinha desculpas pra isso), mas Anthony não podia estar parado na minha porta as duas da manhã, podia?

  Ele continuava lindo, o cabelo bagunçado, um sorriso de canto e segurando o costumeiro paletó com a mão esquerda. Mas também estava diferente do normal, o rosto vermelho, o olhar meio perdido, a roupa amassada, o cheiro insuportável de bebida e aquilo manchando seu ombro era batom?

  - Acho que esse troço quebrou - ele disse divertido apontando para a campainha, que eu não tinha notado (não tinha notado mais nada depois de ver Anthony), ainda tocava insistentemente.

  - O que você fazendo aqui? - consegui perguntar depois de dar um tapa na campainha e ela parar de gritar.

  - Vim te visitar - ele riu se inclinando pra frente. - Oi.

  - Melhor você ir embora - sussurrei. O coração a mil, esse não era o Anthony de sempre, era uma versão bêbada e divertida dele, mas ainda era o cara por quem eu estava apaixonada parado a minha porta as duas da manhã. Isso não podia terminar bem.

  - Por quê? Eu acabei de chegar - ele sussurrou quase fazendo bico e eu quis socar a sua cara e depois beijá-la ali mesmo.

  - Por que... Hei! Mas espera, você não veio dirigindo, né? Pelo amor de Deus, diz que não.

  - Não - ele riu. - Daniel escondeu as chaves do meu carro, antes de ir beber com uma garota. Eu vim de táxi, eu dei uma dessas para o senhor muito simpático que me trouxe - ele puxou uma nota de cem do bolso e a balançou. - Daí eu achei ele muito triste depois que eu sai do carro e dei outra.

  - Certo - eu disse sem saber se ria ou chorava enquanto ele guardava o dinheiro. - Não sei quem é esse Daniel, mas nós dois lhe devemos agradecimentos e eu não acredito que você deu todo esse dinheiro a um taxista. De qualquer forma, por que você não foi pra casa? A noite parece ter sido ótimo - comentei ironicamente olhando o batom que estava em sua camisa.

  - Podia ter sido melhor.

  - Há é? E você veio aqui as duas da manhã pra me dizer que podia ter pegado mais vagabundas onde quer que estivesse!? - gritei subitamente com raiva.

  - Sabia que você fica linda assim? - Anthony sorriu se aproximando de mim e não me mexi, meu coração já descompassado por causa da raiva ficou louco. - Você fica incrível quando está toda vermelha e gritando comigo.

  - E você ficou louco. E não respondeu minha pergunta, vai voltar para as vagabundas com quem estava?

  - Se o Daniel devolver as minhas chaves quem sabe - ele riu e eu quis socar a cara dele.

  - Melhor ir então antes que elas fujam - rosnei me virando e cogitando a ideia de pegar o abajur para fazê-lo sair dali quando senti um monte de tecido sobre a minha cabeça. Peguei a peça antes que caísse. Era o paletó de Anthony.

  - Por que jogou isso em mim? - perguntei assim que me virei com o paletó ainda na mão. Ele sorriu divertido.

  - Você sempre fica com todos eles ultimamente, só quis adiantar.

  - Você, seu... Dá pra você ir embora daqui!? - quis saber irritada. - Caramba! Eu estava louca pra te ver de novo por que bem... - é isso que pessoas apaixonadas fazem, quis completar. - Não importa, realmente não importa, mas aí você aparece aqui em casa do nada, por que você podia ir pra sua casa, e está bêbado ainda por cima e com a droga de uma marca de batom na camisa! Então eu não quero saber, só sai daqui!

  Só que ao invés de se mexer ou retrucar Anthony riu, uma daquelas gargalhadas que fazem os ombros chacoalharem.

  - O que você...? 

  - Isso aqui - ele me interrompeu depois de se recuperar apontando para o batom na camisa. - Foi um acidente. Tinha mesmo um monte dessas “vagabundas” - ele riu um pouco mais. - Querendo beber comigo, mas eu estava muito bem sozinho, aí um tempo depois de eu ter bebido algumas doses estava indo embora. Então eu fiquei de pé e Bum! Tinha essa garota, ou era uma garçonete, não me lembro - ele fez uma careta e eu achei aquilo tão fofo que parte da raiva sumiu. Meu Deus, eu estou precisando de uns tapas também. - A gente bateu de frente e só não caímos por que eu segurei, aí a boca dela bateu no meu ombro e sujou tudo, por que seu batom estava todo borrado. Eu não estava beijando ninguém - ele deu ombros e eu sabia que estava sendo sincero, por que apesar do batom na camisa, sua boca não parecia nem remotamente manchada. - A única garota que eu queria beijar não estava lá naquele bar.

  - Não? - perguntei surpresa. Era mais que óbvio que ele estava bêbado e isso tudo podia ser só papo, mas mesmo assim era assustador e incrível. Anthony não devia falar esse tipo de coisa assim  ou eu acabaria por imaginar o que não deveria.

  - Não - ele sorriu chegando mais perto e me fazendo bater as costas no encosto do sofá. - Várias garotas lá me deram seus números, e foram a educação em pessoa tentando me conquistar.

  - E você? - quis saber com o coração a mil.

  - Eu já tenho o número que quero e o estilo princesinha nunca fez o meu tipo - sussurrou tão preto de mim que sua respiração fez cócegas em meu nariz.

  Eu ia me afastar, provavelmente ia, mas minhas pernas adquiriram a consistência de gelatina e eu me odiei muito, porém quando Anthony acabou com a distância entre nós, eu não o afastei. Sua boca estava quente e urgente sobre a minha, suas mãos na minha cintura me apertando quase como se ele quisesse me fundir a si. Quando senti suas mãos quentes passearem por baixo da minha blusa me obriguei a afastá-lo.

  - Anthony, o que está fazendo? - quis saber arfando ainda agarrada a ele. Eu provavelmente me arrependeria disso tudo daqui a pouco.

  - Nada - ele murmurou contra o meu pescoço me fazendo arrepiar.

  - Por que você veio pra cá e não pra sua casa? - quis saber e ele não respondeu. - Anthony?

  - Eu queria ver você - o moreno sussurrou tão baixo que eu quase não ouvi. Sua afirmação me pegou totalmente de surpresa. Ele queria me ver? Ok, não se anima, Elisa. Provavelmente é papo de bêbado, com certeza é papo de bêbado.

  Eu estava tão concentrada em meu monólogo interno que só percebi que Anthony tinha se afastado de mim quando ele começou a desabotoar a camisa.

  - O que você está fazendo? - perguntei pela segunda vez em menos de dez minutos. Cada ponto do meu corpo que ele recentemente havia tocado estava começando a ficar quente outra vez.

  - Tirando a camisa, está quente aqui - respondeu simplesmente sorrindo pra mim e eu tive que me segurar no sofá para minhas pernas me manterem de pé. A forma quase sexy com a qual ele abria cada botão já estava me fazendo hiperventilar. Não era legal mexer com o emocional de uma grávida assim! Caramba, ele tinha acabado de me beijar e agora ia tirar a roupa! Isso era de mais pra mim!

  - Eu preciso de água - sussurrei passando direto por ele, fechando a porta e seguindo para a cozinha. - Eu vou tomar minha água e depois te acompanhar até a porta - anunciei. - Pra mim chega. Essa noite já deu, você quer que eu chame um táxi? Talvez o Marco? - quis saber já imaginando que não dormiria o resto da noite só pensando na visão que era o bonitão sem camisa e no quão incrível era o gosto do seu beijo. Eu realmente era ridícula. - Anthony? - chamei me virando quando ele não respondeu.

  A cena que vi me fez sorrir mesmo que eu quisesse chorar de frustração. A camisa do moreno estava no encosto do sofá e a única parte dele que eu conseguia ver eram seus pés que estavam apoiados no braço do mesmo. Dei a volta na bancada da cozinha e fui até lá ainda sorrindo, ele tinha apagado em meu sofá. Meu chefe gostoso, como diria Lena, tinha apagado em meu sofá sem camisa e eu não sabia se ria ou chorava com a situação. Isso só podia ser brincadeira.

  Pensei em acordá-lo e mandá-lo embora, mas não tive coragem, a forma como ressoava baixinho parecendo tão tranquilo, não deixou. Então suspirei e fui até o quarto buscar uma coberta, a estendi sobre o moreno e me sentei na mesinha de centro o observando.

  - O que eu faço com você? - pensei alto e suspirei acariciando minha barriga. Confusa nem começava a descrever como eu estava, a gente passou o mês todo trocando insultos (aquilo que fazemos não pode ser considerado uma conversa, mas era sem duvidas a melhor parte do meu dia) pelo celular, estamos nos dando bem e eu estava a um passo de superar minha quedinha por ele (só que não). Mas aí do nada ele aparece bêbado no meu apartamento, fala que veio pra me ver e depois me beija? Aposto que amanhã vai pedir desculpas, me deixar mal e fingir que nada aconteceu. Por que mesmo que eu me meti com o Anthony? Há é, por que eu sou uma louca sem um pingo de bom senso.

  Fiquei de pé bocejando e olhei o relógio da parede. Marcava 03h06m da manhã, eu precisava ir dormir, nem que fosse pra acordar amanhã e ter o coração partido mais uma vez. Olhei uma última vez para o rosto sereno de Anthony e hesitei por um instante antes de me debruçar sobre ele e lhe dar um selinho, eu sabia que isso era ridículo, mas eu provavelmente não teria outra chance.

  Segui para o meu quarto refletindo sobre o porquê do bonitão ser tão desconfiado assim, apesar de ser mais complexa que isso, a resposta era óbvia, coração partido. E provavelmente de um jeito bem doloroso, eu que tinha tido o meu esmagado pelo par de chifres que Caio me deu, não era assim. Anthony deve ter sofrido pra caramba, disso eu tinha certeza.

  Desisti de filosofar sobre a vida alheia e finalmente me deitei para dormir, e estava tão cansada que acho que dormi antes mesmo de encostar a cabeça no travesseiro. Acordei com um raiozinho irritante de luz precisamente posicionado sobre a minha bochecha direita, tentei espantá-lo com a mão, mas meu cérebro entorpecido pelo sono levou uns cinco minutos pra entender que isso não ia funcionar, então fui obrigada a levantar, era isso ou atirar o abajur na janela pra ver se ele conseguiria fechar a cortina. Como a primeira alternativa não custaria nada além do meu sono, resolvi sair logo da cama. Bocejei pegando o celular para ver as horas, marcava dez e meia e eu gemi de frustração, havia dormido sete horas e ainda estava morrendo de sono.

  Fui até o banheiro pra ver se eu tomava um banho e acordava, não custava nada tentar, principalmente por que se Anthony ainda estivesse em meu sofá (e provavelmente estava), seria uma longa manhã.

  Consegui me enfiar em um vestido florido, fiz uma trança no cabelo e finalmente sai do quarto, por que nem toda a ansiedade pelo que viria me impediria de comer. Eu já estava faminta. Quando cheguei à sala Anthony ainda estava lá, com parte da coberta caindo no chão e parecendo incrivelmente desconfortável. Dei meia volta e busquei uns analgésicos no criado mudo e deixei encima da mesinha de centro junto com um copo de água, ele provavelmente precisaria. Quando cheguei à cozinha resolvi fazer um café, mesmo que ultimamente eu estivesse odiando até o cheiro do líquido escuro, pelo simples fato de não podia bebê-lo como queria. Anthony vai precisar e provavelmente querer, então mãos a obra.

  Quinze minutos depois eu tinha um bolo no forno, um café pronto, acabado de fazer torradas e estava prestes a começar a cortar laranjas para um suco, antes de pegar a primeira ouvi Anthony se mexer, ele praguejou alguma coisa e se sentou passando a mãos pelos cabelos. Estava de costas pra mim, quando finalmente se virou para me encarar não soube dizer se sua expressão era de dor, surpresa ou confusão, ele provavelmente estava com um pouco de cada.

  O moreno olhou em volta, depois pra mim mais uma vez e depois para o próprio peito nu, caramba, eu tinha que parar de encarar os gominhos do seu tanquinho bem definido se não perderia o foco. Anthony abriu a boca para dizer alguma coisa, mas fez uma careta e a fechou logo em seguida apertando os olhos também.

  - Aí na sua frente tem remédio e água é melhor beber antes de começar a pensar - aconselhei mordendo o lábio para segurar o riso. Era incrivelmente divertido ver o Bonitão Todo Poderoso parecendo que tinha sido arrastado por um furacão. Ele encarou o copo e a cartela de comprimidos e um minuto depois já havia colocado dois deles na boca e virado metade do copo de água, ele bebeu o resto e finalmente me encarou, eu sabia o que ele diria a seguir antes mesmo dele abrir a boca. - Está atrás de você - o interrompi.

  - O que? - o moreno perguntou confuso e eu sorri como uma boba, ele continuava lindo até com a cara amassada.

  - Sua camisa. Ela está atrás de você.

  Ele finalmente se virou e pegou a peça a colocando logo em seguida.

  - Onde fica o banheiro? - perguntou começando a abotoar a camisa e acabando com a minha vista.

  - Primeira porta à esquerda - informei e ele saiu sem nem olhar pra trás. Era impressão minha ou Anthony Whitmore estava corando?

  Ele ficou dez minutos no banheiro e isso foi tempo suficiente para eu terminar meu suco e conferir o bolo. Quando Anthony voltou, tinha os cabelos úmidos e a camisa com os dois primeiros botões abertos e as mangas dobradas até os cotovelos, resumindo, estava um gato. E eu deveria parar de viajar assim por que se não acabaria por nem ficar chateada quando começássemos a tal conversa sobre a noite de ontem. Acabei suspirando enquanto tirava o bolo de milho do forno.

  - Sobre ontem à noite... - Anthony começou depois de se sentar em um dos banquinhos da bancada da cozinha e eu servi uma caneca de café fumegante.

  - Aqui - o interrompi lhe estendendo a mesma, ele olhou para ela parecendo surpreso. - Vai ajudar, e de qualquer forma está forte e sem doce, deve estar horrível e isso me anima - dei de ombros e ele abriu um meio sorriso aceitando a caneca. - Mas você estava falando sobre ontem à noite - incentivei e ele suspirou passando a mão pelos cabelos.

  - Eu fiz alguma coisa estranha? - perguntou e eu o olhei sem entender.

  - Como?

  - Ontem, eu... - ele tomou um gole de café. - Eu não me lembro do que aconteceu - Anthony disse por fim e eu pisquei sem acreditar.

  - O que!? - exclamei tão alto que provavelmente Lena em seu apartamento ouviu. - Você não se lembra? De nada? - repeti sentindo uma vontade repentina de jogar a forma de bolo quente na cara dele.

  - Eu nem mesmo me lembro de entrar no táxi. Pelo amor de Deus, me diz que eu não dirigi ontem à noite - Anthony pediu e eu acabei abrindo um sorriso mesmo que estivesse contrariada.

  - Não, você não dirigiu, mas soube que deu duas notas de cem pro taxista que deve ter ficado muito feliz - debochei e ele engasgou com o café.

  - Eu fiz o que!? - ele perguntou e eu gargalhei.

  - Se ferrou - comentei ainda rindo e Anthony sorriu também. Ele me encarou por um tempo como se me olhar fosse a melhor coisa do mundo e eu corei. - Algum problema?

  - Não - ele encarou a caneca de café. - Mas foi só isso? Eu não... Não disse ou fiz nada ontem à noite que... Que não devia?

  - Além de tirar a própria camisa alegando estar com calor, eu não lembro de nada - comentei tentando fazer graça. Parte de mim estava incrivelmente feliz por ele não se lembrar de nada, a parte que sabia que ficaria péssima quando ele viesse com aqueles papinhos ridículos de desculpas, mas outra parte queria que ele se lembrasse, que soubesse que tinha me beijado outra vez e que tinha sido incrível, que ele tinha admitido que viera aqui simplesmente porque queria me ver. Eu realmente queria que ele soubesse, mas como isso era o melhor que eu conseguiria, sorri, eu não me esqueceria de nada.

  - Tem certeza, Elisa? - ele quis saber agora me encarando e eu me virei para desenformar o bolo, não queria que ele soubesse que eu estava mentindo.

  - Foi, claro que sim. Por que eu mentira? - sorri levando o bolo para a mesa. - Está com fome?

  - Lisa! Abre aqui! - os berros de Lena do outro lado da porta abafaram qualquer resposta que ele pudesse me dar.

  - Já vou! - berrei de volta e Anthony fez uma careta e eu acabei sorrindo enquanto abria a porta.

  - Você tem comida? sem forças para fazer qualquer coisa, se é que me entende - ela me olhou sugestiva enquanto invadia meu apartamento e eu fiz uma careta assim que Miguel passou por mim também.

  - Preferia não entender - reclamei.

  - Há, oi Anthony! - Lena cumprimentou o moreno como se fosse à coisa mais normal do mundo ele estar tomando café em minha cozinha.

  - Anthony, você por aqui? – Miguel perguntou sorrindo e depois olhou de mim pra ele e vice versa. – O relacionamento de vocês já está nesse nível?

  - Cala a boca – rosnei para o meu irmão e ele gargalhou.

  - Nossa, você foi mais rápida do que eu imaginei – Lena riu. – É assim que eu gosto!

  Anthony me olhou arqueando uma sobrancelha e eu corei sem conseguir encara-lo. Resolvi levar a jarra de suco para a mesa também.

  - Se vocês continuarem com esse papinho estranho vou deixar todo mundo com fome.

  - Ok, já entendi – minha amiga disse ainda sorrindo e trocando um olhar sugestivo com o marido. Eu ia matar os dois assim que Anthony fosse embora. Com certeza ia.

  Terminei de arrumar a mesa e chamei todo mundo. Era um pouco estranho estar tomando café com Anthony assim tão tranquilamente, principalmente depois da noite de ontem. Mas ele não se lembrava de nada, eu tinha que repetir para mim mesma, não importava o quão especial foi pra mim. Eu realmente estava ficando muito ridícula.

  - Por que exatamente você está aqui? – Miguel perguntou ao bonitão e ele suspirou depois de se servir de mais café.

  - Sinceramente? – Anthony quis saber e meu irmão sorriu.

  - Claro.

  - Eu estava bêbado de mais para saber por que vim incomodar Elisa de madrugada. Essa é a verdade.

  Lena parou com uma fatia de bolo a meio caminho da boca.

  - Como é?

  - Longa história – a olhei como quem diz: “Cala a boca que te conto tudo mais tarde”. Ela pareceu satisfeita, mas fez menção em falar mais alguma coisa, e foi nessa hora que o celular de Anthony tocou.

  - Com licença – pediu suspirando e se afastou para atender.

  - Como é que o seu chefe bonitão dorme na sua casa e você não me conta nada? – minha amiga me olhou de forma acusadora e eu suspirei.

  - Quando exatamente eu ia fazer isso se ele ainda está aqui e você estava se pegando com o Miguel? – quis saber irônica e ela bufou.

  - Pra você – Anthony interrompeu qualquer fala que Lena pudesse ter me estendendo o telefone.

  - Como? – o olhei sem entender.

  - O telefone, é pra você.

  - Sim, mas...

  - Apenas atenda – ele me interrompeu e eu aceitei o celular mesmo que não tivesse ideia de como poderiam ligar para Anthony e querer falar comigo.

  - Alô? – disse depois de ficar de pé e vi o moreno sorrir pra mim, desviei o rosto com as bochechas coradas. Meu Deus, isso já estava ficando ridículo!

  - Elisa? — uma voz que eu não ouvia há muito tempo perguntou e eu sorri.

  - Henry, que surpresa! Como você está?

  - Bem, e com saudades, seu marido vive dizendo que qualquer dia vai trazê-la aqui, mas até hoje nada. Eva também está louca para vê-la outra vez. Quando vem nos visitar?

  - Assim que Anthony decidir me levar – comentei sem poder conter o sorriso. – Mas realmente temos que marcar um dia.

  - Com certeza. Eu vou cobrar esse encontro, pode esperar.

  - E eu vou ficar esperando. Mas e povo chato atrás de você, deu um tempo? – quis saber e o ouvi rir do outro lado da linha.

  - Graças a Deus sim, e estou pensando seriamente em fechar negócio com o seu marido, mas não diga nada a ele ainda. Eu não o havia cogitado seriamente para esse negócio, mas se ele se tornou um cara do tipo que manda mensagens para a esposa no meio de uma reunião, acho que isso pode dar certo — eu quase podia ver o sorriso em seu rosto e estava prestes a dizer a ele que não éramos realmente casados quando prestei mais atenção ao que ele tinha dito.

  - Ele estava em reunião? – perguntei surpresa. Sempre que Anthony dizia que estava ocupado quando eu o irritava, eu achava que era só desculpa. Mas ele havia mesmo me respondido nessas circunstâncias?

  - Claro, e o sorriso bobo dele falando com você é o melhor — Henry riu. – Fico feliz por vocês, mas agora tenho que ir. Vou cobrar esse encontro, que tal um jantar logo mais?

  - Vai ser ótimo – consegui responder ainda sem acreditar e ele se despediu e desligou.

  - Quem era? – Lena perguntou assim que voltei para a mesa e devolvi o celular ao moreno.

  - Um amigo que conheci quando sai com Anthony – murmurei ainda com um sorriso. Era só uma pequena centelha de esperança, mas ainda valia, né? Principalmente por que a causa dela estava sentado bem a minha frente tomando café com a minha família.

  - O que foi? – Anthony perguntou me encarando e eu tentei conter o sorriso.

  - Nada – acabei sorrindo pra valer agora. Talvez eu devesse fazê-lo se lembrar no fim das contas.


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Notas finais do capítulo

Então? O Bonitão merece uns tapas? Gostaram? Quero opiniões!!
Beijocas de pudim e até :3



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