Intrinsically escrita por Jay L


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Depois de taaaaantos meses sem ter uma ideia decente, finalmente saiu o capítulo. Espero que gostem ♥



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Capítulo 5

20:50 pm

Ele aproximou-se devagar, lenta e perigosamente. Chegou perto demais e a olhou com aqueles olhos faiscantes. O que estava acontecendo? Será possível que seria beijada por ele? Não, com certeza não. Caras como aquele não beijavam garotas como ela. Era o pensamento da morena.

A cabeça martelava, fumegava. Não pensava com coerência e, temendo fazer besteira, permaneceu quieta e sustentou o olhar intenso. Seus sentidos recobrados captaram o cheiro dele. Não era um aroma forte e cítrico comum dos perfumes masculinos. Aliás, desconfiava que nem perfume o loiro usava no momento, se é que poderia afirmar algo com precisão naquela hora delicada. A leve fragrância de sabonete de baunilha denunciava que banhara a pouco tempo atrás. Aquele cheiro a fazia querer abraça-lo e inspirar forte, até não haver mais o que sentir.

Se fez o que desejava? Não tinha coragem para tanto. Mal o conhecia, nem ao menos sabia o porquê daquela proximidade. E então ele inclinou-se para ela, e ela não se esquivou. Sua mente deu voltas e apagou.

**

16:30 pm

Trabalhar em um supermercado definitivamente não era o sonho de Katniss, todavia precisava arrecadar fundos para seu futuro. Se dependesse do dinheiro de Haymitch, os sonhos grandes que tinha não se realizariam. E foi com essa perspectiva em mente que, naquela ensolarada tarde de quinta-feira, etiquetava os produtos da seção dos enlatados.

— Ei! – alguém a chama por trás. Era Mikaela, sua colega de trabalho. – Se importa em ficar no caixa pra mim hoje de tarde? Estou dolorida por ficar tanto tempo naquela cadeira.

Katniss não era muito fã do posto. Além de a cadeira ser desconfortável, era onde os clientes entojados despachavam antipatia. Sem mencionar, também, que Johanna Mason trabalhava em um dos caixas, e por acaso, para desagrado de Katniss, em frente o caixa de Mikaela, a quem iria substituir.

— Está bem. – respondeu sem alegria.

O supermercado estava bem movimentado naquele dia. Pessoas perambulavam para lá e para cá com carrinhos e cestas abarrocadas de produtos. O caixa de Mikaela esperava alguém para atender à pequena fila de clientes que se formava. Katniss apressou o passo e sentou-se na cadeira, passando roboticamente os produtos colocados na esteira.

— Ei, garota, tem moedas aí? – perguntou Johanna. Ela estava virada para trás olhando para a menina em busca de uma resposta.

— Um segundo. – disse enquanto vasculhava a gaveta de dinheiro. Achou um punhado de moedas e entregou-os à outra.

— Valeu. – agradeceu Johanna, virando-se para seu caixa.

Nenhuma das duas sabia dizer ao certo quando nasceu a sutil barreira entre elas. Sabiam que havia apenas. Era natural, não agiam com antipatia uma com a outra, embora, tampouco, tivesse simpatia. Estava mais para uma indiferença mútua.

No fim de seu expediente, Katniss desejava cama mais que tudo. No caminho para casa, porém, parou na sorveteria do Sr. Jackson. A morena sempre considerou sorvete o melhor remédio para um dia triste ou ruim. Quando estava triste, tomava sorvete, se estava com raiva, tomava sorvete, se feliz, mais sorvete ainda. Sorvete era motivo de alegria.

— Hey, Katniss! Como vai?- perguntou Jackson ao vê-la aproximar-se do balcão.

— Olá, vou bem, um tanto cansada, mas bem. – disse ela com um pequeno sorriso. – Quero um sorvete de morango com amendoim. – fez prontamente seu pedido no intuito de não prolongar conversa. Gostava no geral de conversar com o homem, mas naquele momento em especial queria chegar em casa o quanto antes.

Tendo pagado ao Sr. Jackson, pegou seu pedido e começou a andar pelas calçadas da avenida. Não muito distante de si, a visão de um rapaz de cabelos escuros ao lado de certo outro rapaz ganhou a atenção de seus olhos. Ambos saiam de uma loja de conveniências e os dois não pareciam muito felizes. Em um breve pensamento, Katniss perguntou-se se sorvete daria alegria naquele momento aos garotos como dava a ela.

Entretanto, ver dois garotos comuns não a faria observar com atenção. Mas, por tratar-se de Peeta Mellark, não podia evitar uma olhadela a mais. E foi quando eles começaram a andar na sua direção. Ela continuou seu percurso olhando ora para frente, ora para o sorvete em suas mãos.

— Amanhã, ou você volta empregado pra casa, ou não conte mais comigo pra nada na sua vida. – Peeta ameaçou seu acompanhante, desconhecido para Katniss, ao passar do lado da morena sem nem ao menos reparar na sua presença. Como se não bastasse, ainda esbarrou nela com ímpeto e sem pedido de desculpas.

Pelo comentário de Peeta, o menino deveria ser da sua família, ela deduziu. E, após o esbarrão, Katniss olhou para trás, onde supostamente o loiro estaria de costas para ela seguindo caminho. Quão grande fora sua surpresa ao vê-lo fazendo a mesma coisa que ela fazia.

A verdade era que Peeta percebeu que esbarrara em alguém, e, devido ao estresse do momento, não se dera ao trabalho de pedir desculpas a quem quer que fosse. Todavia, ao dar uns dois passos, alguma parte sua parecia ter percebido com quem havia trombado. E, olhando para trás a fim de ter certeza, viu a bonita e tímida bibliotecária a olhá-lo, ainda caminhando para frente.

Aquilo a pegou de surpresa e a cena permaneceu em mente até o momento em que chegara em frente de casa, onde Haymitch estava a falar no celular.

— Então está certo. E façam o favor de mandar um técnico que saiba o que está fazendo. – ele disse a alguém e encerrou a chamada, só assim notando a filha recém-chegada. – Ah, oi, Docinho, hoje você para de reclamar daquela geladeira. Liguei pra companhia e mais tarde eles mandam um técnico para arrumá-la.

Katniss sentiu alivio, pelo visto o sorvete estava fazendo efeito e trouxera também notícias boas.

— Já estava na hora. Que horas vem?

— Por volta das oito. Esteja disponível para abrir a porta, talvez eu esteja ocupado. – respondeu o pai.

 Assentindo entrou em casa. Necessitava de um banho urgente e por isso foi direto ao banheiro, abandonando suas coisas pelo sofá.

**

 Ao terminar o banho, conferiu as horas no relógio que ficava em frente ao box. Apreciava relógios em banheiros, assim conseguia ter noção do tempo gasto lá. Marcava sete horas, significando que Haymitch estava ocupado fazendo sabe-se lá o que.

Seus cabelos molhados estavam enrolados numa toalha enquanto ela se vestia e, mesmo depois de trajada com roupas leves, continuou com o turbante improvisado até o ressoar da campainha cinco minutos depois das oito horas. Estava assistindo televisão com as pernas para cima e o pescoço pendido, sendo obrigada a levantar-se e abrir a porta.

 A julgar por quem estava parado vestindo uma roupa azul a sua frente, ou o sangue teria descido para o cérebro devido a sua posição anterior e agora ela estava vendo errado, ou Peeta Mellark realmente trabalhava como técnico de geladeiras. Não poderia aquela ser a segunda vez que ele estava parado na porta da casa dela a fim de prestar serviços. Espere, ele não era entregador? Bem, até duas semanas atrás, sim.

A segunda vez no mesmo dia em que se encontravam e trocavam olhares engraçados. Ele ergueu uma sobrancelha ao ver a menina e um brilho de surpresa o pegou, não havia prestado atenção, até o exato instante, que a empresa mandara-o à mesma rua que fora há catorze dias entregar pizza. Por sua cabeça rondava o mesmo pensamento que o de Katniss.

— Foi aqui que pediram um conserto de geladeira? – questionou ele num tom casual.

A pergunta a despertou.

— Sim, pode entrar. – disse abrindo passagem para o garoto.

Peeta passou por ela e parou na sala, olhando para a velha TV que exibia o filme “Crepúsculo”. Katniss não sabia explicar o porquê de gostar tanto da obra, mas sentiu certa vergonha pelo modo como o menino assistia à cena em que Edward revela à Bella que é um vampiro. Ela permaneceu parada e, sem saber muito o que fazer com as mãos, abraçou os próprios braços.

— Sempre achei esse cara um tanto engraçado. – comentou Peeta virando-se para ela. –Toda essa performance de difícil pra não ficar com a garota que ele gosta.

Katniss arregalou minimamente os olhos já graúdos ante a fala do rapaz. Pensou um pouco antes de responder.

— Bom... acho que a mensagem passada é a de que Edward quer o melhor para a mulher que ele ama. – retorquiu Katniss ao refletir o comentário – Por isso tenta afastar-se, considera-se perigoso e danoso à Bella.

Peeta fitou-a com curiosidade. E foi quando minimamente sorriu. Abriu a boca para dizer algo, mas parecia ter desistido no ato. Ao invés disso, perguntou:

— Onde é a cozinha? Tenho um trabalho a fazer.

A anfitriã conduziu-o até a geladeira e começou a explicar o problema da dita cuja:

— Ela emperra sempre que tentamos abri-la, não tem uma regularidade na temperatura. Há dias em que gela muito, outros nem tanto e essa oscilação estraga muitas comidas.

Peeta balançou a cabeça num sinal de que entendia do que se tratava.

— Tudo bem, farei o possível para consertá-la. – disse analisando a geladeira. Deu um puxão na porta e esta sem indícios de abertura. Katniss não conseguiu conter-se, soltou um sorrisinho.

— Eu disse. – falou ainda divertindo-se.

O técnico riu-se também, lançou um olhar divertido para a moça e deu outro puxão na porta que, enfim, abriu-se.

— Estarei na sala se precisar de algo. – Katniss verbalizou, virando-se para voltar ao filme abandonado.

Não adiantava o que fizesse, a concentração depositada no filme foi embora quando Peeta Mellark aparecera naquela noite. E a morena tentou durante minutos a fio assistir às cenas, mas sua mente voltava-se para o fato de que aquele rapaz encantador encontrava-se a um cômodo de distância. A moça queria conhece-lo mais, saber sobre o garoto de personalidade forte e que mostrara-se tão diferente para ela minutos atrás.

E então ela lembrou-se de que usara a toalha na cabeça durante todo aquele tempo! Levantou-se um tanto rápido e foi ao quarto tirar o turbante improvisado e pentear os cabelos compridos.

Não sabe ao certo quanto tempo passou até Peeta encontra-la na sala com as pernas para cima e o pescoço pendido, de novo. Era uma posição engraçada para assistir a filmes, e aquilo reforçou o ar inocente que Katniss transparecia. Peeta gostava daquilo, apesar de ele ainda não perceber isso.

— Preciso de um pano, pode conseguir para mim? – perguntou a ela.

Quase caindo do sofá ao levantar-se, a garota prontamente atendeu ao pedido dele. Decidiu depois por fazer um suco para ambos e talvez oferecer algo para comer. Ficou então na cozinha fazendo companhia ao menino, estava de costas para ele enchendo a jarra com água quando virou-se. E aí aconteceu.

Peeta a encarava com profundidade, parecia decidir alguma coisa e começou a andar até Katniss, cujas mãos suavam e o estômago embrulhava. A garota tinha o leve pressentimento do que ele queria fazer, só não sabia como reagir ante aquilo. Mas não, deveria estar errada. Certo?

Peeta aproximou-se devagar, lenta e perigosamente. Chegou perto demais e a olhou com aqueles olhos faiscantes. O que estava acontecendo? Será possível que seria beijada por ele? Não, com certeza não. Caras como aquele não beijavam garotas como ela. Era o pensamento da morena.

A cabeça martelava, fumegava. Não pensava com coerência e, temendo fazer besteira, permaneceu quieta e sustentou o olhar intenso. Seus sentidos recobrados captaram o cheiro dele. Não era um aroma forte e cítrico comum dos perfumes masculinos. Aliás, desconfiava que nem perfume o loiro usava no momento, se é que poderia afirmar algo com precisão naquela hora delicada. A leve fragrância de sabonete de baunilha denunciava que banhara a pouco tempo atrás. Aquele cheiro a fazia querer abraça-lo e inspirar forte, até não haver mais o que sentir.

Se fez o que desejava? Não tinha coragem para tanto. Mal o conhecia, nem ao menos sabia o porquê daquela proximidade. E então ele inclinou-se para ela, e ela não se esquivou. Sua mente deu voltas e apagou.

— Docinho, aqui tem comi...- a frase de Haymitch morreu no ar ao chegar a cozinha e ver aquela cena. O técnico da geladeira com o rosto a centímetros de distância do de Katniss?- Ôpa!- exclamou um tanto surpreso. Peeta afastou-se abruptamente e, tanto ele quanto a garota quase beijada, estavam constrangidos.

— É... sua geladeira está funcionando agora, senhor. Era um problema no ímã e no regulador, dei um jeito e agora funciona corretamente. – desconversou o rapaz.

Droga! A chegada inesperada de Peeta a fizera esquecer-se de que Haymitch estava em casa e agora ele não a deixaria anular o episódio da mente jamais. Katniss estava envergonhada demais para erguer o olhar a qualquer um dos presentes ali. E por isso fez a coisa mais racional que lhe ocorreu na hora, saiu dali.

O que havia acontecido? Com certeza fora um instante de insanidade, quase beijar um garoto que nem ao menos conhecia. Estava sentindo-se formigar, desde os pés até a cabeça. Algo não estava certo. Caso Haymitch não tivesse interrompido, poderia ter acontecido seu primeiro beijo ali, em plena cozinha envelhecida. Peeta decididamente mexia com ela, e Katniss não podia evitar. Lembrar-se-ia de agradecer ao pai mais tarde.


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Notas finais do capítulo

Até! :D