Lettre d'amour escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Chapitre un


Notas iniciais do capítulo

Essa pequena história terá 2 capítulos. Ele se passa algumas semanas depois do final do filme lançando esse ano.

Boa leitura.



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A ansiedade de LeFou era tamanha, que ele não esperou que a chuva cessasse para pegar uma carroça e se dirigisse ao castelo, para encontrar da única pessoa que poderia dar um fim aquela angustia presa em seu coração.

Com muita determinação e rédeas sincronizadas indo de encontro ao cavalo, ele cortou a floresta mais rápido do que era de costume, fazendo a carroça chacoalhar por sobre as poças d’água que se formavam com a densa chuva.

Após a quebra do feitiço do castelo real, LeFou passou a exercer diversos tipos de serviços, já que Gaston havia partido jovem demais, sem a chance de se arrepender, como dizia pela vila. Isso significava que a atual situação financeira de LeFou, comparada ao que era algumas semanas atrás, na companhia de seu não-tão-fiel-amigo, encontrava-se no fundo do poço.

Não havia vergonha alguma em vestir roupas mais modestas, como as que ele usava no momento em que a carroça era arremessada no ar após a roda bater em um tronco de uma árvore caída no chão, espalhando lama para todos os lados. LeFou passou por cima dos obstáculos para alcançar seu objetivo, parou diante dos portões do castelo, que lhe fora aberto em questão de alguns breves minutos embaixo da água, tremendo no frio e sentindo os ossos do corpo congelarem, que pareceram uma eternidade.

Ao descer da carroça, o atual leiteiro da cidade, pois essa era sua profissão naquela semana, garimpou feno para seu amigo de quatro patas comer, enquanto ele tratava de negócios importantes no interior do castelo.

LeFou foi levado por Madame Samovar para perto da lareira, enquanto ela buscava uma xícara de chá. Diante da lareira, LeFou esfregou as mãos e relaxou o corpo diante do aconchego que o fogo proporcionava.

Monsieur, LeFou. — A voz doce de Bela soou pela sala, fazendo o convidado virar-se. — Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou preocupada.

— Sim, Sim. — LeFou aproximou-se da futura esposa do ex-príncipe, ex-Fera, ele ainda não sabia ao certo como chama-lo. — Aconteceu algo.

O silêncio de LeFou, e a tensão em sua voz, fez com que Bela pensasse no pior cenário.

— Pois me diga, o que aconteceu? — Ela insistiu, tentando acalmá-lo, entregando a xícara de chá que Madame Samovar acabara de trazer numa bandeja de prata, junto com alguns bolinhos.

LeFou bebeu um generoso gole de chá, aproveitando para comer um ou dois bolinhos, colocando outros três dentro do bolso de seu casaco ensopado pela chuva.

— Se não for muito incômodo, poderíamos falar em particular?

Bela e Madame Samovar se olharam por alguns segundos, em seguida concordaram. Bela o levou para a biblioteca, informando que estariam seguros ali, já que seu noivo se encontrava em Paris naquele momento, acompanhado de alguns de seus fiéis subordinados.

— Lugar maravilhoso. — LeFou constatou, ele divagava, enquanto Bela o examinava, com um olhar curioso. — Oh, uma pintura do seu casamento, que por sinal foi lindo, o enlace de duas pessoas que se amam, comemorado com a benção de todos.

Bela notou que havia um quê de melancolia na voz de LeFou, mas não quis aborrecê-lo e ir direto ao ponto, estava claro que havia algo sério no ar, então precisava dar espaço e tempo suficiente para que se sentisse a vontade em falar.

— O amor é uma celebração. — Ela sorriu e aproximou-se de LeFou, buscando confortá-lo, seja qual fosse seu problema.

— Eu preciso de ajuda, e só a senhora pode me ajudar nesse momento. — Ele juntou as mãos, como se fosse entoar uma oração. — Sei que não sou digno de lhe pedir nada, mas não conheço outra alma viva nessa cidade que possa entender o que estou passando, e me ajudar.

Bela sentiu a mão gelada de LeFou apertar as suas, enquanto ele suplicava por sua ajuda.

— Sei que no momento de perigo, você voltou-se contra aqueles que queriam fazer mau a esse castelo e os que aqui viviam. — Ela lançou um de seus olhares doces, aquele mesmo olhar que Gaston pelejou para ser digno. — E é por ter ajudado a defender meus amigos, que eu vou ajuda-lo agora. Mas, antes de mais nada, preciso saber o que aconteceu.

Agradecido e emocionado, LeFou deu alguns passos para trás, diante da lareira.

— O amor, minha cara, o amor aconteceu. Rápido como a lâmina de um sabre, forte como a rocha de uma catapulta. O amor me acertou tal como um coice de cavalo.

Bela ficou em silêncio, embora quisesse comemorar, pois o amor chegar para alguém com o histórico de LeFou, era uma grande notícia, mas suas palavras ainda transbordavam desolação.

— Mas o que te impede de contemplar esse amor de forma mais animadora? — Bela tentou uma abordagem mais direta. — Tem medo de não ser correspondido?

LeFou virou-se, com a mão em punho, mordendo os nós dos dedos, tal como uma criança medrosa.

— Medo, sim, talvez essa seja a palavra. — Ele fez um movimento dramático com o corpo, girando pela biblioteca. — Quem diria, o grande LeFou, um homem sem timidez, acanhado por seus sentimentos.

— Ora, por que não canta uma de suas músicas para a pessoa amada? Ouvi dizer que é seu ponto forte. — Bela sorriu.

— Não me entenda mal, melodia não é o que me falta, mas coragem de fazê-lo cara a cara. — LeFou percorria ainda a biblioteca, sem parar um só momento, enquanto Bela tentava solucionar aquele enigma. — Desde a última vez que nos vimos, no baile de casamento, dançamos a noite toda no jardim e depois... a vida tratou de nos separar.

— Então escreva uma carta de amor. — Ela pegou papel e tinteiro. — Tenho certeza de que uma carta de amor será mais do que suficiente para acalmar seu coração.

LeFou bateu palmas, animado com a ideia de Bela. Entretanto, a felicidade durou menos do que esperava. Assim que Bela lhe entregou os materiais para preparar a carta, o rosto de LeFou mudou de uma margarida luminosa, para uma folha murcha no inverno.

— Talvez esse seja o momento em que eu revelo um dos meus maiores segredos... — Ele abaixou a cabeça, com os ombros caídos.

— Você não sabe escrever? — Bela arriscou um palpite, embora fosse a resposta mais óbvia, levando em conta a quantidade lastimável de pessoas que não sabiam ler naquela vila.

Envergonhado, LeFou encolheu os ombros, com um olhar abatido, indicando uma fragilidade pouco conhecida.

— Não, não sei. — Ele respirou fundo e soltou o ar, como se o ar fosse pesado demais para se manter dentro de seus pulmões. — Mas, não apenas não sei ler ou escrever... como também não sei dizer tudo o que prende em meu peito.

Mon Dieu, LeFou, la pauvre. — Bela levou-o até uma poltrona diante de um enorme vitral, pegou papel e um tinteiro, sentando-se em seguida na cadeira ao lado da poltrona. — Faça um esforço, eu irei ser sua escrivã. Diga o que sente que irei colocar tudo em palavras nesta carta.

— Oh! Por onde devo começar? — LeFou deixou o corpo amolecer na poltrona, que por sinal, era muito confortável, diferente do feno que preenchia sua cama nas noites frias. — Pelos seus olhos negros, tal como o pelo do Percheron mais puro sangue? Ou sua beleza estonteante, que faria qualquer narciso murchar diante de sua formosura.

— Hmm, podemos começar falando sobre como decidiu escrever a carta. — Bela balançou a pena. — Digo, como decidiu transpor seus sentimentos em palavras.

LeFou se levantou num impulso, parando em frente ao vitral.

— Minha vergonha, cara Bela, minha vergonha é o que me impede de dizer cara a cara tudo o que sinto.

— Pois muito bem. — Bela molhou a pena no tinteiro, começando a escrever.

— É com o coração transbordando de paixão, que lhe escrevo essas singelas palavras, para demonstrar os sentimentos que venho guardando desde a última vez que meus olhos se encontraram com os seus. Desde que giramos nossos corpos numa mesma melodia, igual dois passarinhos na primavera.

— Certo, o que mais? — Bela perguntou.

— Acha que ficaria muito exagerado se eu falasse sobre a culpa que carrego em meus ombros pelos malfeitos daquele que não irei mencionar o nome para não causar desconforto?

Bela moveu levemente as sobrancelhas.

— Acredito que alguns detalhes devam ser mencionados pessoalmente. Como uma conversa particular.

— Oh! Sim, sim, claro. — LeFou bateu os dedos nos lábios, pensativo. — Então vamos continuar. — Ele aproximou-se da mesa em que Bela estava a escrever. — Peço perdão por não me inflar de coragem e dizer tais palavras diante de ti, mas quero que saiba que meus sentimentos são tão reais quanto a água que desce pela nossa garganta e mata a sede.

Bela continuou escrevendo todas as palavras que LeFou ditava, embora, algumas vezes, ela foi tentada a modificar alguns verbetes necessários, ou incluir outros.

— E agora você pode terminar com algum pedido, como um encontro.

— Um encontro?

— Sim, pode ser um local onde podem falar sobre os sentimentos. — Bela encarou-o, observando sua expressão em pânico. — Talvez um jardim, ou a floresta. Um local privado.

— Claro, a floresta. — LeFou roía as unhas da mão. — Tem o moinho desativado ao norte do riacho. Lá era onde Gaston se distraía mirando e atirando em pássaros. — Ele falou, com um sorriso animado, que logo murchou em sua boca. — Pardon, pardon.

— Tudo bem, eu sei que muitas pessoas não querem nem falar o nome dele, mas eu não sou uma delas.

— Você não o odeia? — LeFou pareceu surpreso.

— Não, eu não o odeio. Sinto pena por ele ter se perdido em sua inveja, ignorância e ganância. Gaston poderia ter sido um homem rude, mas eu jamais poderia desejar a morte para ele.

— É... eu também. — LeFou balançou a cabeça, afastando os pensamentos negativos. — Então, agora é só mandar a carta?

— Sim, peça para outra pessoa entregar.

— Posso ficar escondido observando sua reação ao ler a carta?

Bela dobrou o papel e colocou dentro de um envelope, jogou uma a cera sobre o envelope e o lacrou com o sinete, entregando a carta para LeFou.

— Acho que a privacidade de uma pessoa merece ser respeitada. Como já marcaram um encontro, você descobrirá se é correspondido ou não.

Merci mademoiselle. — Ele fez uma reverência. — O que posso fazer em troca desse favor? Qualquer coisa, me diga, que eu farei.

Bela se levantou, segurando a mão de LeFou.

— Seja feliz e não se deixe abater pelo o que os outros digam. Você é um bom homem, pode ter passado por alguns momentos de dúvida e errado, como qualquer outra pessoa erra nesta vida, mas merece ser amado, como qualquer pessoa nesta vida.

LeFou apertou a carta contra o peito, e agradeceu a Bela mais uma vez.

A chuva já havia cessado, o cavalo o aguardava do lado de fora, de barriga cheia e bem aplumado, já que Zip penteava sua crina. O menino deu alguns passos para trás, deixando que a carroça seguisse seu rumo para a cidade.

Assim que chegou, algumas crianças corriam em volta da fonte, LeFou parou uma das crianças e lhe pediu que entregasse a carta.

— O que você me dá em troca? — Perguntou o menino baixinho e muito magro.

— O que? — Ele levou as mãos à cintura. — Não pode fazer um favor sem desejar algo em troca? — Ele perguntou sério, enquanto o menino enfiava o dedo dentro do nariz. — Argh! Não faça isso na presença de outras pessoas, se por acaso quiser um dia ser respeitado. — Ele enfiou a mão dentro do bolso do surrado paletó, mas não havia nada além de um alfinete, dois botões e fumo para mascar mais tarde. LeFou olhou para o garoto franzino. — Passe amanhã bem cedo a minha casa que eu lhe dou um copo de leite.

— Dois. — O menino falou bastante decidido.

— Um copo e meio, agora venha, vou lhe mostrar para quem deve entregar essa carta.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo é a conclusão. Então até mais.
Agradeço a companhia quem chegou até aqui ^__^