Até As Últimas Consequências - Rota Reversa escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 9
A última chance de Lydia


Notas iniciais do capítulo

Capítulo um tanto sinistro... Enjoy!



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Sugestão de trilha sonora: Pandora Hearts OST – Another dimension

Lydia escutou a carruagem de Edgar se aproximando. Desceu as escadas correndo, com o coração aos pulos de felicidade. Estava prestes a chover, daqueles temporais que dão as caras no verão. Apanhou a sombrinha e se aproximou da porta.

Estranhou o fato de Tompkins não estar lá. E aos poucos, o saguão da mansão perdeu as cores. A mansão que a acompanhou na sua chegada como fairy doctor da família Ashenbert, e a acolhera desde o seu casamento se tornava ameaçadora à jovem condessa. Ela não entendia o porquê, mas isso a angustiava de certa maneira. Perguntava-se o que estava acontecendo.

Estranhamente, começou a chover e com tal intensidade que a assustou. As janelas abertas, o vento que avançava para dentro do local, balançava as cortinas com violência. Lydia desconfiou que algo estava errado quando viu a porta escancarada... E ali se encontrava uma pequena poltrona voltada para exterior, com um homem louro sentado.

Ela pensou: “É Edgar? E por que ele estaria sentado em uma poltrona em uma situação dessa? Estou sonhando?”, perguntou-se. Achegou-se à porta, vagarosamente. O receio cresceu com tal intensidade e não entendia qual era a razão.

― Edy?

O louro mexeu levemente a cabeça como ouvisse o seu nome.

― Edy? O que você faz aí?

O homem, então, se levantou calmamente, de modo lânguido. Lydia o observava, atenta, e compreendeu que não era Edgar... Definitivamente, não era ele!

De estatura mais alta, corpo bem definido e com cabelos mais longos do que o marido. Ele se virou devagarinho para ela. Lhe presentou com um sorriso cínico que a deixou mais atordoada do que estava. De olhos âmbar, e maneirismos afetados, um ar de arrogância que a deixava enojada. Era Ulysses, o fairy doctor do Príncipe da Calamidade.

Ele a fitou bem nos olhos e isso fez com o coração de Lydia gelasse. A chuva apertou mais ainda, e a jovem fairy doctor sentia confusão, desespero, solidão.

O seu nervosismo foi tanto, que deixou o guarda-chuva cair no chão.

― Olá, Lydia! Como vai? - ele a cumprimentou com uma reverência e veio em sua direção.

Afinal, o que ele estava fazendo aqui?”. O som do relógio da sala começou a ficar mais marcante a cada passo que ele dava. “O que faço? Onde estão todos? Onde está Edgar?”.

― Confusa, minha querida? Compreendo perfeitamente a sua situação.

― O que faz em uma casa onde não é bem-vindo? – Lydia indagou de tal forma que a sua voz saiu cheia de raiva.

Ele riu com propriedade, como soubesse o segredo mais sinistro, e quando o contasse, saberia que ela sofreria imensamente. Isso lhe causaria imenso prazer.

― Não percebe o que aconteceu com você?

A jovem condessa ficou em silêncio, sem reação.  Em seu íntimo uma mistura de emoções emergia de tal maneira que estava difícil de controlar.

― Pois bem, já que você, minha pequena tolinha, não matou a charada, por sua pura ignorância...

― Que eu saiba o ignorante é você! Como ousa vir ofender-me na minha casa? – a resposta abrupta de Lydia provocou um olhar divertido em Ulysses.

Sugestão de trilha sonora: Puella Magi Madoka Magica Rebellion OST – Something, everything is wrong

― Você não está na sua casa...

― Não? – indagou irônica.

― Obviamente, e isso está muito escancarado, que todo o ambiente está em preto e branco. Você está em preto e branco...

Lydia ficou em choque e não teve como negar. Realmente o local estava numa mistura de preto, branco e cinza. Quando fitou as suas mãos, elas pareciam um papel transparente. Essas evidências a apavoraram em tal grau que seu corpo inteiro começou a tremer. Veio uma vontade quase incontrolável de chorar, que ela segurou firmemente.

― Isso significa que você está morta, minha cara.

― Morta? Estou morta? – a pergunta dela saiu de modo tão natural, que até ela própria se surpreendeu.

― Exatamente... E sabe quem a matou?

― Você!

― Negativo! Edgar!

― Jamais! Ele jamais faria isso!

― Ora, Lydia... Ele deve esconder mil coisas. Mas, você, pequena tola que é, nem percebe!

― JAMAIS! Ele nunca faria isso comigo!

― E por quê? – ele a interrogou e se aproximou mais ainda quebrando a conduta do decoro.

― Porque nós nos amamos! Algo que você nunca entenderia!

― Oras essa! O conheço desde os treze anos... A apresentação de vocês já iniciou mal, muito mal. Ele mentiu para você desde o primeiro instante, se apresentando como o verdadeiro Conde Cavaleiro Azul. Mesmo não vendo um palmo diante do nariz quando falamos sobre as fadas!  E você? Oh, deslumbrada com seus lindos olhos malva-acinzentados, se encantou, e viu que ali estava a oportunidade de ascender na vida... Uma mera garota de classe média, sem um título de nobreza e nem tinha onde cair morta, poderia até mesmo virar uma fairy doctor...

― EU SOU UMA FAIRY DOCTOR! – ela bravejou veemente.

― Ah, óbvio! Até porque você é ótima em fazer esp...

― Ulysses, VÁ EMBORA DAQUI! – ela gritou.

Logo depois, notou que o solo tremia levemente. Mesmo assim, eram tão evidentes os pequenos abalos que podiam sentir subindo-lhe pelos pés.

― Oh, então reparou? Caiu em si que não está em sua confortável realidade? Pois bem, Lydia, vou ser claro e objetivo com você... – disse Ulysses, agora estava tão próximo, que ela poderia sentir o seu hálito. – Você está morta e essa dimensão irá desaparecer assim como você. O que te proponho é o seguinte: Posso te trazer novamente à vida. Mas, para isso, você deve se tornar a minha...

Ela o empurrou com veemência.

― Nunca me uniria a você! – exclamou categórica.

O fairy doctor avançou novamente em sua direção e continuou calmamente:

― Veja, Lydia... Como o mundo é injusto! Sou o filho ilegítimo de Julius Ashenbert, o verdadeiro herdeiro da Espada Merrow. – parou por um momento e acariciou o queixo da jovem condessa. ― Contudo, você, minha pequena tola, ajudou um impostor que nem ao menos se preocupa onde você está! Então, ouça: poderei ser o verdadeiro Conde Cavaleiro Azul, mas em troca, Edgar sai de cena e você vai viver como a fairy doctor que é... Portanto, minha cara, eu sou a sua única saída...

Nesse momento, Lydia percebeu que não estavam apenas os dois ali. Olhou de relance para o espelho de corpo inteiro que ficava à sua esquerda e reparou em um jovem louro encostado em um pilar atrás dela.

Sugestão de trilha sonora: Pandora Hearts OST – Ghost blood

O rapaz saiu apenas um pouco da penumbra para ser visto. Ela agradeceu aos Deuses quando o viu: Edgar. Ele inclinou a cabeça como dissesse: “Venha para cá!”.

Os olhos da jovem condessa se voltaram para Ulysses e disfarçou que era uma ouvinte atenta ao seu discurso.

― Entendeu, meu amor?

― Sim! – a resposta que ela deu, o surpreendeu.

― É isso mesmo que você quer? Então, troca toda a sua brincadeira de casinha com Edgar para ter sua vida de volta?

Ela compreendeu que o jogo seria concordar com o inimigo, até que se aproximasse de Edgar.

― Conte-me sobre seu plano. – pediu com falsa meiguice.

― Quer saber mesmo?

― Por favor...

Conforme ele explanava com fervor seu plano, Lydia dava passos para trás, acompanhada de seu algoz. Passo por passo, o coração da fairy doctor batia descompassado. “Preciso disfarçar que estou calma... Mas será que consigo?”, se perguntou. Um tempo depois, ela conseguiu chegar até a pilastra. Espalmou a mão na coluna e sentiu a mão de Edgar apanhar a sua. Foi um misto de ansiedade, alívio, desespero.

― VAMOS, LYDIA! – gritou Edgar puxando-a pela mão.

Eles começaram a correr freneticamente, enquanto Ulysses esbravejava:

― VOCÊS NÃO IRÃO ESCAPAR!

O fairy doctor apanhou a arma no colete e tentava acertar o casal. Então, aos poucos, a mansão começou a desmoronar. Os tetos, as escadas se despedaçavam e desabavam em direção ao chão. “O que está acontecendo?”, se perguntava Lydia com lágrimas nos olhos.

Edgar, por sua vez, sabia que era última chance que poderia ter para trazê-la de volta. “Deuses! O tempo está se esgotando!”, refletiu. “Preciso ir direto para meu escritório. Ali é perfeito para transferência”. Seu coração estava extremamente inquieto, uma ansiedade tentava dominá-lo.  Mas, Edgar avançava cada vez mais, corria, segurando quase com violência a mão de Lydia.

― Edy, por que o chão está se abrindo? – ela indagou chorando.

O jovem conde notou que realmente isso estava acontecendo. Desviaram dos estampidos do revólver de Ulysses, se escondendo pelas colunas da mansão.

― Aqui, Ly! – indicou o seu escritório, abriu a porta, e guiou Lydia com agilidade.

Quando ele estava fechando a porta, reparou que Ulysses se aproximava cada vez mais. Fechou a porta tão rápido quanto podia.

― Edy, seja sincero comigo. Estou morta?

Edgar voltou-se para Lydia, a abraçou, entre aflito e aliviado, e foi retribuído. Soltaram-se e ele colocou as mãos em seu rosto e respondendo quase em um sussurro:

― Sim...

Lágrimas escorriam da fairy doctor.

― Ly, por isso que vim buscá-la! E temos que ser rápidos, porque essa dimensão está entrando em colapso.

― Mas, como faremos isso?

― Me ajude a empurrar as cadeiras, Vamos utilizar o círculo estampado naquele tapete ali. Ele é o mais próximo para representar um relógio.

Edgar foi em direção às cadeiras acompanhado por Lydia.

― Quem o ensinou? – ela indagou.

― Chronos! – respondeu ele com um sorriso nos lábios.

― Então, você foi ao submundo! E quem o trouxe?

― Raven! Ele está nos esperando com Chronos e a Espada Merrow. Vamos, Ly! Temos que ser bem rápidos.

Empurraram as cadeiras de modo que o círculo estivesse livre para ser utilizado.

― E agora?

― Temos que deitar em transversal, de modo que nós se encontramos na altura dos ombros.

Ok!

Posicionaram-se, enquanto nessa altura, a trepidação estava mais intensa e Ulysses tentava abrir a porta.

― Você confia em mim? – ele a interrogou.

― Completamente! – Lydia respondeu.

― Agora se segure na minha mão e feche os olhos. Nós vamos voltar!

Assim que uniram as mãos, fecharam os olhos, e tiveram a sensação que giravam em sentido anti-horário.

****

Sugestão de trilha sonora: Pandora Hearts OST – Lost child

Lota fechou a porta do quarto de Aurthur e notou que um leve tremor lhe subia os pés. Enquanto isso, no quarto de Lydia e Edgar, Tytânia chamou a atenção de Sereia.

― Sentiu isso?

― Tremor... – disse a Senhora dos Sereianos. ― E tem aumentado, percebeu?

Lugh entrou no quarto, e exclamou:

― Parece que...

Tytânia disse:

― Sim!

Sereia chamou a atenção dos outros dois.

― Vejam!

O anel moonstone de Lydia, que se apresentava apagado, começou a tomar vida, reluzia aos poucos.

Na sala, Paul ficou perplexo quando viu o relógio andar em sentido anti-horário. E a trepidação ficou cada vez mais forte. Ele subiu as escadas disparadamente para avisar às entidades e sua noiva sobre o ocorrido.

Kelly que se encontrava na cozinha ficou assombrada, assim como os outros criados, quando uma pilha de pratos balançou e caiu com o tremor do solo.

Assim que Paul chegou ao último degrau da escada, esbarrou em Lota que disse:

― Paul, você está sentindo?

― O relógio, Lota! O relógio está andando no sentido anti-horário!!

Ela o encarou, perplexa, avançaram para o quarto de Lydia e Edgar, onde  o corpo da fairy doctor se encontrava e as entidades dos elementais que o zelavam.

A ansiedade da melhor amiga da jovem condessa foi tanta, que nem chegou a bater na porta. Ela a escancarou e afobada perguntou:

― O que está acontecendo?

Sereia, Lugh e Tytânia se entreolharam exultantes como chegassem à mesma conclusão. A Rainha das Fadas informou Lota e Paul:

― Eles conseguiram! Já estão voltando!

Lota sorriu e se encostou à porta, aliviada. E Paul suspirou como tirasse toda a carga que tinha passado nas últimas horas. As engrenagens voltaram a girar.


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Notas finais do capítulo

Ainda vivo(a)? Pois bem, esta cena tem perseguido por toda história, antes mesmo de chegar à conclusão e amarrar as pontas. Ela tem a ver com universo paralelo e foi inspirada no filme A Origem, com Leonardo Di Caprio. Quem assistiu tem um quê dos sonhos entrando em colapso. E o clima sórdido também tem influência da própria Era Vitoriana. Se o gótico é o que é, hoje, foi por causa da influência de romances e peças escritas nesta época, como Frankenstein de Mary Shelley e muitos dos contos de Edgar Alan Poe.
E ah! Antes de me despedir, vou fazer um convite a você! Tenho uma página dedicada a Hakushaku to Yousei no Facebook. Se chama: https://www.facebook.com/HakushakutoyouseifanficsBrasil/
Dá um pulo lá! Semana a semana posto os capítulos que seram publicados desta história, novidades, e traduções do light novel em inglê e português!
No próximo capítulo a volta de nosso casal preferido! Beijos e até a próxima semana.



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