Até As Últimas Consequências - Rota Reversa escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 8
O Senhor do Tempo


Notas iniciais do capítulo

Vem aí mais um capítulo tenso! Enjoy!



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Sugestão de trilha sonora: Code Geass – Lelouch of the Rebellion R.2 OST 2 - Birthplace

Edgar e Raven se viram no meio da rua, com as carruagens circulando para lá e para cá. Fumaça, movimentação e aquele burburinho característico de Londres. E à frente, lá estava um dos maiores ícones da cidade: o Big Ben. Misturaram-se à multidão, para chegar então ao monumento. O jovem conde notou que tanto ele como o mordomo passava despercebidos, como fossem dois fantasmas perambulando no mundo. Ele chegou até achar divertido, mas Raven o deparou com uma pergunta.

Milord, reparou que há um túnel sendo criado?

Edgar então percebeu que realmente uma passagem estava sendo estruturada especialmente para eles. Mesmo com um evento tão incomum, na altura do campeonato, o rapaz não se surpreendeu tanto quanto outrora. Entretanto, não conseguiu conter-se e comentou:

― É impressionante!

A galeria era criada conforme eles andavam e, estranhamente, ela os separa dos transeuntes e as pessoas que circulavam ali por perto. Assim que chegaram perto do monumento, Raven apontou para uma porta.

― Ela não estava aí, Raven.

― Isso é verdade. Mas, acredito que é um dos portais para o Senhor do Tempo, não?

― Sem dúvida. – concordou Edgar.

Assim que entraram havia uma escada imensa, em forma de espiral e iluminada o suficiente para subi-la. O mordomo deu passagem para o jovem conde, mas Edgar o surpreendeu com:

― Você já veio aqui?

― Sim! – fui tudo que ele respondeu.

― E como ele é? – indagou-o.

― Um senhor austero e desconfiado. Acredito que o milord deverá usar bastante sua persuasão.

Foi o indicativo que Edgar precisava. “Bem, se for assim, vamos ver se o argumento que irei usar funcionará. Se bem que, ele PRECISA funcionar!”, refletiu.

Subiram as escadas aos poucos, de modo que não perdessem o fôlego. Em determinado ponto, Edgar perguntou:

― Falta muito, Raven?

― Mais alguns lances.

― Digamos que ele faça isso de propósito, não?

― Com certeza! – disse Raven com meio sorriso.

Quando chegaram ao topo, Edgar estava com a respiração bastante alterada. Encostou-se para descansar na mureta da escada. De onde estava, dava para ver o tamanho de lance de escadas que eles tinham enfrentado. Ele se deu conta que a escada lembrava uma serpente. Olhou para o garoto-fada e não perdeu a oportunidade de comentar:

― Bom, ele bem que podia instalar um elevador aqui.

Raven riu de forma tímida.

― Então, é aqui? – indagou Edgar olhando para a porta que estava à sua frente.

― Sim!

O jovem conde suspirou, tomou coragem e abriu a porta. A princípio, ele olhou curiosamente em volta para depois adentrar o local. E aos seus olhos surgiu uma profusão de relógios de todos os tipos, cada um emitia um som característico. Andaram com cuidado até a próxima sala que era maior que anterior. E então eles depararam com um senhor que consertava um relógio cuco extremamente trabalhado e rebuscado. O ancião observava e estudava minuciosamente as peças, e de certa forma, estava tão entretido que não percebeu a presença dos dois.

Sir? – Edgar o chamou a atenção.

Chronos levantou a cabeça e o encarou. Mesmo assim ficou em silêncio o examinando, exatamente, como estivesse diante de outro relógio. Alto, magro, com os cabelos brancos presos por um laço negro. Trajava uma camisa branca, colete marrom e sem gravata. Portava óculos redondinhos, que lhe davam um ar travesso e curioso. Seus olhos azuis demonstravam desconfiança e inquietude.

― Estou o atrapalhando? – indagou Edgar.

― Hum... Parece que ultimamente tenho recebido mais visitas do que estou acostumado.

― Bem, eu... Não vim lhe fazer uma visita, simplesmente.

― Não?

Sugestão de trilha: Code Geass – Lelouch of the Rebellion R.2 OST – Beautiful Emperor

― Não! – Edgar foi categórico.

O senhor levantou a sobrancelha direita, assim como todas as vezes que se sentia incomodado, e retrucou da seguinte maneira:

― Então, a etiqueta pede que ao menos as pessoas desconhecidas se apresentem.

Por um momento, o jovem conde se espantou com a própria falta de educação. “Comecei mal! Onde estou com a cabeça?”, perguntou para si próprio.

― Mil perdões, senhor Chronos! Estou com a minha cabeça num turbilhão só. Pois bem, sou Edgar Ashenbert, o Conde Cavaleiro Azul. – se aproximou mais da mesa com a mão estendida.

Por sua vez, o senhor não retribuiu o gesto. Apenas tirou os óculos e o encarou. Espreitou os olhos por um segundo e mordeu a ponta da armação. Essa atitude de certa forma deixou Edgar um pouco inseguro, mas prosseguiu a apresentação.

― Este - e estendeu o braço para o rapaz-fada, o trazendo ao centro do “palco” – é o meu fiel companheiro e mordomo Raven.

Chronos esboçou um sorriso de canto de boca se divertindo. E perguntou:

― Já o conheço, rapazinho?

E entre sem jeito e tímido, Raven respondeu:

― Já, sir.

― Vocês, britânicos são cheios de maneirismo. Por isso, de enquanto em enquanto me hospedo na cidade. – era evidente que a observação de Chronos era algo debochado.

― Como assim, sir? – indagou curioso Edgar.

― Vocês chegam a ser pomposos! Bem, diferente da minha terra. Mas, enfim, jovem, já que não veio me visitar, o que quer?

Quando o jovem conde notou que esse era o momento de quebrar o gelo, se aproximou mais ainda da mesa do senhor, quase se encostando.

― Pois bem, preciso de um favor seu. Ou se for preciso, posso fazer uma troca justa.

― Vamos direto ao que te interessa?

O modo franco de Chronos instigou ainda mais Edgar.

― Se é assim! Então, vou direito ao ponto.

― Já era tempo!

Raven acompanhava a pequena discussão com certo nervosismo. E por mais que aparentasse calma, sabia que Edgar estava procurando alguma fresta para nocautear o senhor. “Mas, como?”, isso o deixava curioso.

― Preciso voltar no tempo, sir. Aliás, eu e o meu mordomo.

― E qual é o motivo?

― Vou ser bem sincero com senhor. Minha esposa, Lydia Carlton, foi assassinada. Desci ao submundo, conversei com entidades que nem imaginaria um dia que iria travar uma conversa como estou tendo com o senhor.

E Chronos foi lacônico:

Hum...

― Pois bem, negociei com Morrighan, Freya e Loki.

― Loki? Aquele pé rapado? O pilantra que surrupiou alguns dos meus relógios?

― Ele surrupiou os seus relógios? – Edgar devolveu a pergunta surpreso.

― É! Prossiga... Mas, - Chronos olhou para o relógio pendurado do seu lado esquerdo e continuou: ― espero que você seja mais rápido, rapazinho.

― Senhor Chronos, também não tenho tempo a perder. Preciso trazer a minha esposa de volta. E pelas minhas contas...

― E por quê?

― Bem... Eu a amo! Ela foi morta de uma maneira injusta e sei quem foi o assassino!

― Ah, é? E quem é?

O jeito que Chronos o interrogou fez com Edgar compreendesse que aquilo também era um teste.

― Ulysses, sir. Ele é um fairy doctor, assim como a minha esposa. Só que diferentemente dela, consegue controlar os elementais, assim como manipulá-los.

― E o que você faria com ele? Iria matá-lo?

O senhor interrogou com ar provocativo. “Era evidente que foi a alegação da Lydia!”, pensou Edgar. “Se for por essa linha de raciocínio, vou perder”.  Foi aí que ele entrou com a sua argumentação.

Sugestão de trilha: Code Geass – Lelouch of the Rebellion R2 OST – Death Work

― Que tal fazermos o seguinte? Posso trazê-lo para o senhor. Afinal, até quando vai a sua estadia aqui em Londres? Presumo que voltando no tempo, o cerco, eu e Raven o capturamos... – disse olhando para o mordomo – e o trazemos diante de sua presença.

― E por que você faria isso?

― Porque ele quebra condutas criadas pelos responsáveis da manutenção da vida, incluindo aí o senhor.

Chronos se ajeitou na cadeira, como estivesse assistindo a um espetáculo. Não abriu a boca e observou a retórica de Edgar.

― Bom, - o jovem conde suspirou fundo e iniciou com segurança sua argumentação: ― Qual é o ciclo de vida de qualquer ser humano?

Chronos só fez um gesto para que ele continuasse. Enquanto isso, Raven observava a situação apreensivo.

― Concorda comigo que nascemos, crescemos, alguns procriam, outros, não? Mas, o fato é que... Todos morrem. Não sei exatamente como é determinado o destino de cada um. Ou se mesmo tem um. Mas, enfim, dentro desse ciclo, nós obedecemos a regras, ou melhor, leis que foram determinadas por um algo maior. Alguns acreditam em Deuses, outros em um Deus único e universal, tem alguns até que creem quem determina isso é a Natureza.

― Sim! Continue. – disse Chronos.

― Quando chegamos ao limite, e vem a morte, o que acontece?

― Vai depender da sua crença, meu rapaz. Não sou eu que estou aqui para lhe dar explicações.

Tudo bem, Edgar. Calma! Você consegue”, se autoencorajou.

― A partir do momento que se morre, fechamos um ciclo. Se tivermos filhos, vai depender do livre-arbítrio desses continuar a obra ou não de seus pais. Mas, focamos em Ulysses. Ele nunca completou um ciclo de vida. Toda vez que chegava ao ponto de ser morto ou morrer, ele simplesmente, continuava a viver...

― Você está falando, meu jovem, que ele é... Imortal?

― Não, sir! Longe disso. Entretanto, ele tem um... Dom, digamos assim, de caso aconteça alguma coisa com seu corpo, ele encontrará outro de reserva para prosseguir com seus planos.

― E você sabe quais são os planos dele?

― A princípio tomar o meu lugar como Conde Cavaleiro Azul, retomar uma organização criminosa, da qual fui vítima, comandada outrora pelo Príncipe da Calamidade. Eles raptavam crianças e matavam seus pais para manter o status quo de algo bem maior, como experiência com humanos e outros sortilégios malignos.

― E aí?

― Não é apenas isso. Mesmo que o senhor me permitisse que voltasse no tempo, apenas para matá-lo, isso não resolveria grande coisa. Porque ele...

― Poderia pegar outro corpo e fazer uma nova rota. – completou Chronos.

Sugestão de trilha: Code Geass – Lelouch of the Rebellion R.2 OST – Across the borderline

― Exatamente! Se ele não matasse Lydia, o próximo alvo poderia ser eu ou mesmo meu filho. Ele quebra todo um ciclo natural de vida e sem contar que ele tira o livre-arbítrio das pessoas com quais teve desafeto. Não só estou me incluindo aí, como Lydia, ou mesmo Aurthur, meu filho. Mas... Imagine se ele conseguisse criar outra organização, subjugasse todos os elementais e tomasse um poder infinito, quase se tornando um Deus para fazer o que bem entender... Quantas vidas mais seriam desperdiçadas? Quantos mais ciclos quebrados?

O senhor levantou-se da mesa, contornou-a, e se encostou de modo que ficou ligeiramente sentado sobre ela. Deu um meio-sorriso e disse:

― De primeiro, você tinha a minha curiosidade, meu jovem. Agora, você tem a minha atenção!

― Frase sensacional! – observou Edgar com vivacidade e alívio. ― Acredito que ela será usada mais vezes.

― Sente-se, rapaz e me explique o seu plano para trazê-lo até aqui.

O jovem conde mais que depressa se acomodou na cadeira. E o senhor disse a Raven:

― Você também, rapazinho! Uma vez que você já é de casa.

E ele obedeceu. Ambos acomodados, Chronos voltou-se a Edgar:

― Então, meu jovem, já tem uma ideia de trazê-lo até aqui?


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Notas finais do capítulo

E aí está o Senhor do Tempo, Chronos. É ele que responsável pela “andar da carruagem” nas nossas vidas na mitologia grega. Quem leu Até As Últimas Consequências sabe que foi o último Deus com quem Lydia deve que negociar. Aqui ele volta para se reunir com Edgar. As negociações são gritantemente diferentes. Mas, não me pergunte qual é a minha preferida porque cada uma tem um contexto.
A frase que Chronos diz para Edgar: “Você tinha a minha curiosidade, agora você tem a minha atenção” é uma das falas mais cruciais de Calvin Candie, o vilão de Django Livre, interpretado magistralmente por Leonardo Di Caprio. Por isso, que o Edgar diz que ela seria usada mais vezes.
Na semana que vem... Bom, é melhor não comentar... Te espero! Beijos e deixe seu review.



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