Até As Últimas Consequências - Rota Reversa escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 6
A meio-fio


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo tenso! Antes de começar, vale a pena explicar a diferença entre as Cortes Unseelie e Seelie. Dentro do mitologia escocesa, o mundo das fadas é dividido em Corte de Unseelie e Seelie. Esta última, são seres, os elementais (lembrando aqui que nomeio como fadas também as ondinas, salamandras e leprechauns), que são mais próximos dos humanos e apresentam uma boa relação com eles. Os seus lemas são amor e honra. São mais afáveis e compreensivos. Já a Corte de Unseelie são elementais da mesma forma, mas a personalidade deles não é tão aprazível com os humanos, e apresentam um temperamento muito tempestuoso. De vez em quando, eles se afeiçoam com um humano. Ou alguém aqui não se lembra de Kelpie, que é apaixonadíssimo pela Lydia?
Então, bora para história.



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Sugestão de trilha: Shingeki no Kyojin OST – Counterattack Mankind

Edgar estava com os olhos fechados, a cabeça abaixada esperando a sua sentença. Uma garoa fina caia sobre ele, o que o deixava mais melancólico. Silêncio. Em um momento, pensou: “Por que ela demora tanto? Acabe logo com isso!”. Então, ouviu um som abafado de algo sendo encravado na terra.

― Levante-se, Edgar!

Evidentemente era a voz de Morrighan. Ele abriu os olhos e mirou do lado. E lá estava ela, a Espada Merrow. Levantou-se sem entender o que estava acontecendo.

Encarou com ar de dúvida a Rainha das Asas Negras. Ela sorriu para ele e disse:

― Não vou desperdiçar uma vida que precisa enfrentar ainda muitas missões... Vamos! Apanhe e a guarde!

E assim, ele o fez. Ela o contornou e seguiu até a Freya. Por um momento pensou que estava sonhando, ou que fosse apenas imaginação. Atreveu-se, então, a falar:

― Mas...

Nesse momento, Morrighan se posicionou ao lado de Freya.

― Não é hora de você morrer, Edgar.

― Na verdade, você quis me matar do coração, não? – ralhou Freya. – Onde já se viu! Por um momento achei que iria arrancar a cabeça dele!

― Freya! Por favor, é sua vez!

A Senhora das Valkyrias a olhou, furiosa e continuou no mesmo lugar. Morrighan suspirou e disparou:

― Vamos! Eles têm pouco tempo...

― Olha só o Raven! Ele ficou extremamente pálido! – recriminou a mulher.

O mordomo tentou disfarçar que a conversa não se referia a ele.

― Freya...

― Tudo bem! Tudo bem! Edgar, fique aí! – ordenou.

Ela caminhou até o rapaz, enquanto o conde tentava entender o que estava acontecendo. Inclusive olhou para Raven, como quem dissesse: “Por favor, me explique o que está ocorrendo!”.

A Senhora das Valkyrias se aproximou e orientou Edgar:

― Feche os olhos e confie em mim.

― O que você vai fazer? – indagou.

― Confie em mim.

Ele cerrou os olhos e sentiu a sua mão miúda percorrer da sua testa até seu nariz no sentido horizontal.

― Agora... Abra os olhos. – ordenou.

Ele se encontrou no centro de Londres. Carruagens, indo para lá e para cá. Assim como o vaivém das pessoas. Ambulantes, burgueses, comerciantes que faziam a cidade pulsar. Ele olhou ao redor, num giro de 360 graus.

― Reconhece onde está, não? – indagou Freya.

― Sim! Essa é a minha cidade natal. – ele respondeu.

― Perfeito! Estamos horas antes do assassinato de Lydia. – explicou. -  Você está naquela direção, na reunião com a Rainha. Enquanto estava cumprindo seus afazeres, acontecia algo, naquele sentido. – apontou para a Abadia de Westminster.

Quando Edgar se virou em direção ao local, se viu, como num passe de mágica, na frente da Abadia. Não teve tempo para ficar admirado, pois a ouviu indagar:

― Pode sentir a vibração do local?

― Sim! – respondeu com olhar assombrado.

E dos seus pés, percebeu um tremor que vinha da terra, como as entranhas do solo fossem rasgadas. E ao longe, reparou que uma onda negra crescia com garras como fosse uma ave de rapina gigantesca, tomou conta do ambiente quase esmagando o ânimo das pessoas. Algumas pareciam ter dificuldade de respirar.

― A Corte de Unseelie! –  disse sobressaltado. – Mas, o que ela está fazendo no centro de Londres a essa hora? Ainda é cedo demais!

― Ela aparece apenas à noite e nem em número tão grande assim, não é? – falou Freya, como pedisse sua afirmação.

― Exatamente! Sem contar, que esse tipo de elemental tem horror a igrejas, catedrais....

― Edgar, veja! – Ela apontou para trás dele.

Quando o conde voltou-se para direção que a Senhora das Valkyrias indicou, sentiu sua garganta secar, seu coração disparar e uma raiva insana nascer dentro de si.

Dentro de uma carruagem, que aparentava de uma pessoa comum, o viu... O seu nome? Ulysses! O filho bastardo de Julius Ashenbert, o peão do Príncipe da Calamidade.

Edgar voltou-se para ela e indagou:

― Foi ele, não foi?

― Sim!

― Mas, ele estava morto!

― Rá! Até parece que você não o conhece... Ulysses e seus truques!

O jovem conde percebeu que o carro andava com pressa e ia em direção à sua mansão.

― Posso matá-lo agora? – perguntou a ela.

― Não! Infelizmente! Estamos em um período de tempo que você não pode interferir!

Ele fez um gesto inconformado e irritado:

― Por que ele fez isso?

― Edgar, ele quer a Espada que você carrega!

― E como ele sabia que estava fora de casa?

― Veja!

Um garoto com óculos, aparentando uns 10 anos, passeava em frente ao local de reunião que a Rainha patrocinou. Ele vendia flores e balas. Definitivamente era:

― Jimmy!

― Sim!

― E o que faço agora? – perguntou irritadíssimo.

Freya não respondeu. Chegou perto dele e novamente passou a mão da testa ao seu nariz. E num lapso, ele estava de volta ao campo de batalha, com Morrighan, Raven e as Valkyrias o observando.

― Edgar, então já sabe quem foi, não? – indagou a Rainha das Asas Negras.

Ele, que procurava se controlar, respondeu:

― Sim!

― Pois bem, vou explicar para você os pormenores.

― Por favor!

Morrighan se aproximou dele e de Freya e começou:

― O que sabemos é... Ulysses planejou matar Lydia. Para isso, ele reuniu quase toda a Corte de Unseelie. Sabia que esse era o ponto fraco dela.

― Por isso, que ela não percebeu... – ele disse quase desconsolado.

― Sim. – e ela continuou: ― Acredito que o deixou mais surpreendido é que...

― Ele não havia morrido?

― Pois então! Acredito que você se lembrou...

― Fui morto e Lydia foi me resgatar, é isso?

― Então, você se recordou o que aconteceu com sua vida em outra dimensão.

― Mundos paralelos... – ele disse como fosse um devaneio.

― Isso, Edgar! Ulysses o assassinou, Lydia e Raven passaram por provas, até chegar a você.

― Parece que é uma lembrança tão longínqua. Como fosse um sonho que você se recorda em pedaços. – desabafou.

― Só que... Como em todo acontecimento, principalmente os catastróficos, há determinados seres que podem girar as engrenagens dessas situações. Vocês são esses seres. Porém, Ulysses também tem esse poder.

― O que não deveria! Definitivamente, não deveria! – reclamou.

― Quando ele seguiu a rota inversa da situação, o que aconteceu com vocês foi como o ajuste de ponteiros de um relógio. Volta-se à situação inicial em outro contexto.

― Vidas paralelas? Mas, todo mundo tem isso? – indagou.

― Nem todo mundo. No entanto, como vocês trabalham com seres mágicos, elementais e situações que uma pessoa comum não lida, podem sim, sofrer com isso. Ou mesmo, como Ulysses, pode reverter a situação.

― Bom, ele reverteu a situação a seu bel-prazer. – observou irritado. E continuamente indagou: ― Porém, lembro-me vagamente que Hell o tinha levado. Ela não o levou?

― O levou, mas... Como disse, ele conseguiu com os elementais do tempo, o ponto-chave para retornar à via reversa. E assim, colocou em prática seu plano B.

― O que sabemos até agora? – era Freya que falava. ― Ele abasteceu o revólver com as balas revestidas com a saliva de Jimmy, que como você sabe, é um cão espectral. Assim que Lydia foi atingida, o Sol estava se pondo e ela perdeu muito, muito sangue.

― Meu Senhor! Isso me lembra quando fui ferido por Jimmy, na ocasião que fomos resgatar a Banshee. Sem Sol, o sangramento não para. – disse exasperado.

― O efeito é devastador, rápido demais. Você se lembra de que por muito pouco não morreu? – disse a Senhora das Valkyrias.

― Lembro perfeitamente! E por isso mesmo, não teve tempo da utilização da Espada Merrow. Isso significa que...

― Sim! A espada a salvaria, mas acreditamos que Ulysses previu isso. E, portanto, revestiu as balas com a saliva de Jimmy.  – completou Freya.

― Mas, como ele conseguiu reunir o maior número de seres da Corte Unseelie? Apenas com o poder dele? – perguntou Edgar.

― Pois bem, ele negociou com as fadas, leprechauns, ondinas e salamandras, de modo que eles reinariam sobre a Inglaterra. Uma das práticas que ele liberou foi as changelings. Ou seja...

― Os elementais escolheriam quais bebês humanos virariam seus filhos e, no lugar, os pais criariam suas proles, como fossem pessoas normais! – completou Edgar horrorizado.

Sugestão: Shingeki no Kyojin OST – Rittai Kidou

― Na altura do campeonato, você já entendeu qual seria o destino de Aurthur.

― Ele viraria um changeling? – indagou mais assustado ainda.

Morrighan deu um passo à frente com mais informações que deixariam os cabelos de Edgar em pé.

― Não exatamente isso... Ulysses faria, com a influência dos elementais negros, que você caísse em depressão, se matasse e criaria o seu filho como fosse dele e o tornaria...

― Ele voltaria à ideia maluca de reunir uma organização como a do Príncipe? – a pergunta do rapaz saiu tremida, como temesse a resposta.

― Edgar, na altura do campeonato, você compreendeu qual seria o verdadeiro foco de Ulysses?

― Se tornar o novo Conde Cavaleiro Azul e o novo Príncipe?

A resposta foi o silêncio das duas mulheres.

― Então, como fairy doctor, Conde Cavaleiro Azul e o novo Príncipe, ele teria um poder absurdo! O corpo dele não suportaria!

― E aí que Aurthur entraria! Ulysses o faria como o novo sucessor do Príncipe, assim como aconteceu com você. Implantaria as memórias, o treinaria e o disciplinaria para exercer seu papel. – Morrighan explicou.

Os olhos de Edgar se arregalaram ainda mais. O rapaz agitou-se quase de forma descontrolada.

― Então, pense, Edgar. Por hora, respire e nos escute... – solicitou Freya. ― O calcanhar de Aquiles de Ulysses é a Corte de Seelie...

― Os elementais mais próximos dos humanos! – acrescentou. ― Que é o forte da Lydia. Isso é insano!

― Completamente. – disse Morrighan. ― Ajuntando as peças, ele criaria uma guerra entre as duas Cortes, onde aí, ele poderia tirar três peças importantes do equilíbrio entre esses dois reinos...

― Não me diga que... Sereia, Lugh e Tytânia...

― Sim! Eram os próximos alvos de Ulysses.

― Mas, é audacioso demais! – replicou o conde.

― Audacioso? Para ele é a última cartada e sabe também que o seu calcanhar de Aquiles...

― É a Lydia! – respondeu Edgar. ― Agora entendi.

― Por isso, o único que pode pará-lo e conhece de todas as ramificações, tem tanto poder de negociação e espírito de liderança como ele é você, Edgar! – afirmou Morrighan.

― Portanto, – completou Freya. ― queremos a cabeça dele! Ele está criando um colapso entre os elementais que fugirá de nosso controle!  E se isso se exteriorizar para outras nações, ele poderá tomar o poder de todas elas. Sabe o que é isso?

― Mas, sou humano. Não tenho tanto poder assim! – replicou o rapaz.

― Por esse motivo que perdeu para mim, Edgar... – debochou Morrighan.

O jovem conde a olhou interrogativo.

― Edgar, não se menospreze! Você sabe que ninguém impunemente chega até onde você está agora se não tiver merecimento para isso. E carregando a Espada Merrow.

Ele suspirou, tomou fôlego e indagou:

― Então, como faço para pegar esse desgraçado?

― Bom... – começou Morrighan. ― Antes de passar para sua próxima fase, e a mais importante, preciso que você esteja preparado. Por isso, vou te indicar alguém que poderá treiná-lo para esse embate final. Alguém que poderá lhe passar alguns conhecimentos imprescindíveis.

A Rainha das Asas Negras virou-se para Freya e disse:

― Acho que você já percebeu para onde deverá levá-lo, não?

― Quem? – ela indagou quase ingenuamente.

― Freya...

― Oras, me fale, Morrian...

Morrighan entortou a boca quase zombeteira porque sabia dos últimos desafetos entre os dois.

― Diga, Morrian! Qual é o suspense?

― Odin, minha cara!

― Odin??? Aquele energúmeno que de tempos em tempos fica lá pendurado em uma árvore dizendo que vai buscar conhecimento? – perguntou Freya possessa.

― Esse mesmo! E ele não é energúmeno!

― Ah, nem pensar! – ela começou a caminhar se afastando dos dois, enquanto era assistida pelas suas vassalas.

― Freya! FREYA! – gritou Morrighan.

A Senhora das Valkyrias parou e se virou para trás com o olhar fuzilando.

― Não quero nem saber as suas rixas com ele! Muito menos sobre essas brigas tolas! Você vai sobrepor suas desavenças idiotas com ... – reclamou Morrighan.

― O pendurado!

― Não, senhora, com o Odin! E justamente, em uma época perigosa como essa vai rejeitar ajuda?

Freya bufou e notou que a atenção de todos era direcionada para ela. Enquanto isso, Edgar assistia a cena, com os braços cruzados, à espera de uma resolução e bem contrariado. Até que ele se manifestou:

― Desculpe, mas se vocês ficarem brigando, o tempo vai correr e aí sim a catástrofe toda irá acontecer, não?

Uma olhou para a outra. Freya abaixou a cabeça contrariada, observada por uma Morrighan insistente.

― Está bem, vai! Eu o levo! Senão vocês vão passar pelo resto da eternidade falando que a trupe de Ulysses dominou tudo!

― Boa menina!  - ironizou Morrighan.

Edgar e Raven demonstraram meio-sorriso. Freya tinha sido vencida. Pelo menos por hora...

 


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Notas finais do capítulo

Vamos falar a verdade... Você deve estar apertando seu celular, o braço da cadeira ou seja lá o que for durante a leitura deste capítulo. Pois bem, aqui chegamos ao algoz do assassinato de Lydia, Ulysses. De agora em diante, vamos ver o preparo do Edgar para capturá-lo. Em tempo, vamos saber mais sobre Odin, Deus nórdico da guerra, da batalha, e criador das runas.
Então, estamos combinados para semana que vem? Até lá! Beijos e deixe seu review.



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