Até As Últimas Consequências - Rota Reversa escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 5
A Rainha das Asas Negras


Notas iniciais do capítulo

Esteja preparado(a), capítulo tenso por aqui!
Enjoy!



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O trio escoltado por algumas Valkyrias seguiu viagem. Edgar estava estranhamente quieto desde o incidente com Nut. “Acredito que ele esteja se remoendo. Nem ao menos demonstrou curiosidade para onde estamos indo...”, refletiu Freya.

Assim, adentraram um campo manchado por sangue, corpos e fumaça. Anoitecia, e um vento varria o ar. Tanto Raven como Edgar observam o ambiente e se entreolhavam. A Senhora das Valkyrias parecia não se importar com isso. Freya parou a carruagem no meio do campo e disse:

― Chegamos!

Puxou a capa mais próxima para seu corpo, encarou os dois homens que ainda contemplavam o local.

― Vamos descer? Ela os espera.

Edgar demonstrou interesse a primeira vez.

― Ela quem? – indagou.

A mulher o ignorou, desceu da carruagem e caminhou avançando até uma pilha de corpos. As Valkyrias fizeram o mesmo, arriaram seus cavalos e a seguiram. Com a movimentação, o primeiro a tomar atitude foi Raven, algo bastante incomum vindo dele. Enquanto isso, Edgar ficou como paralisado. Não sabia explicar o porquê. Perguntava-se como alguém podia viver no meio desse tipo de lugar. Foi Freya que o chamou de volta à realidade.

― Edgar! Vai ficar parado aí? Quer que vá te buscar no colo?

Todas as Valkyrias riram, assim como Raven, que logo disfarçou. O jovem conde suspirou e desceu da carruagem dirigindo-se ao grupo.

Sugestão de trilha sonora: The Rebellion Story OST – I was waiting for this moment

― Bom... Lá vem ela... – disse Freya.

Ao longe surgiu uma mulher alta, austera, de longos cabelos negros presos por rabo de cavalo e uma trança servia como uma tiara. Havia diamantes aplicados no penteado. Trajava um vestido longo negro rendado, botas, capa longa, que flutuava ao vento. Portava uma espada que descansava em uma bainha ricamente trabalhada presa à sua cintura. Sua presença inspirava respeito, medo e intimidação.

Ela caminhava com passos firmes, algumas vezes pisava nos cadáveres, mas isso não a incomodava.

Edgar questionava o que ela queria com ele. Reparou que grande parte do grupo se inclinava conforme a mulher chegava, e entre eles, estava Raven. Freya o olhou como uma reprimenda. Entre dentes ralhou:

― O que você faz quando vê uma rainha?

Ele a olhou indeciso. A Senhora das Valkyrias inclinou a cabeça como quem dissesse: “Se abaixe!”.

Quando percebeu que estava sendo mais uma vez mal educado, lhe prestou uma reverência. Um pouco depois, sentiu que ela havia parado frente a ele. Levantou a cabeça levemente e a viu encarando com superioridade. Seus olhos negros o fitavam de uma forma fria, quase perversa. Lembrava aos de um corvo. Ele notou que debaixo da capa, havia duas asas negras, que desciam elegantemente pelo seu corpo.

― Edgar Ashenbert! Estava esperando por esse momento. Vamos, levante-se!

Ele apenas a obedeceu. E assim a ouviu dizer:

― Bem-vindo a um dos meus campos. Sou Morrighan, e vou direcioná-lo à próxima etapa de sua jornada.

Ele continuou mudo, estarrecido com a presença da mulher. Lembrava vagamente de ter ouvido falar sobre ela. Puxou de suas memórias alguma informação, mas nada encontrou.

― Eu e Freya somos guerreiras, Edgar. Por vezes, acompanhei de perto alguns momentos de sua vida. E não foram poucos. Sei que foi um líder antes de tomar esta espada. – apontou a Espada Merrow. – Estou certa?

― Sim! – foi a primeira vez que Edgar abriu a boca. – Escapei com alguns poucos companheiros da pessoa que praticamente arruinou a minha vida...

― Não a arruinou completamente, até porque você não é mais um vagante no mundo. Hoje, você está aqui, na minha frente, como o Conde Cavaleiro Azul. Agora, diga-me! O quanto está disposto a perder para trazer Lydia de volta?

― Se precisar tudo!

― Inclusive seu filho? Seu amigo e fiel escudeiro? Ou mesmo a paz de espírito que almejou durante muito tempo? – questionou Morrighan.

Ela mantinha os olhos cravados nele. Já Edgar ficou perplexo com as questões.

― É a lei da compensação, Edgar. Evidente que uma hora que ganhamos algo, perdemos as outras opções. Então, qual é a sua resposta?

― Posso perder meu posto, minha espada e se precisar...

― Então, lhe proponho algo maior... Que tal lutar comigo? Se você ganhar, te trarei Lydia de volta. Se perder, sua vida será minha. Está preparado?

Respondeu sem hesitar:

― Sim!

O jovem conde notou que Freya e Raven o encaravam apreensivos, ou melhor, chocados com a sua decisão. Já Morrighan sorriu satisfeita com a resposta.

― Por favor, siga-me.

Sugestão de trilha: Shingeki no Kyojin OST - EMA

Afastaram-se das pessoas do grupo, e mais adiante, ela apontou para um campo que se mostrava cheio de lama e falhas. Era ali que aconteceria o duelo. Aos poucos, surgiram alguns seres na escuridão que acenderam tochas em volta deles. Edgar chegou a se perguntar quem eram. “Seriam servos ou subordinados dela?”. Sentiu-se descoberto quando Morrighan se virou para trás e o fitou. “Será que ela lê pensamentos também? Se for isso, estou perdido”. Enquanto isso, tanto Freya, as Valkyrias e Raven os acompanhavam com o olhar. A Rainha Falcão se posicionou ao lado do mordomo.

Morrighan se afastou um pouco de Edgar. Ficaram frente a frente, em silêncio. A tensão crescia e tomava conta de todo o local.

― Meus Deuses! – sussurrou Freya. – Ninguém nunca a venceu! Ela vai matá-lo!

Raven a encarou surpreso.

― Nem pensar o senhor se intrometer, entendeu? O assunto é entre os dois. Pode guardar essa adaga para outras finalidades! – o advertiu.

Eles se cumprimentaram e se encararam. Suspense. Morrighan desembainhou a espada acompanhada por Edgar. Os dois olhavam-se intensamente para o outro.  

― Mostre-me o que você é capaz, Edgar! – ordenou a mulher.

Ele avançou assim como ela. Foi assim que as espadas se chocaram. O jovem conde se defendia com os braços dobrados, e avançava conforme ocorria oportunidade. Estudava os movimentos da mulher e a atacava. Sentia o poder da Merrow nas suas mãos. “Eu sou seu mestre! Faça-me vencer!”, ordenou.

Ela, exímia no manejo da espada, parecia se divertir com a situação. Fingia que iria atacá-lo para depois recuar. E isso começou a deixá-lo nervoso. O encarou, deu um sorriso e avançou. Ele a bloqueou rápido e contra-atacou.

Ela falha na retaguarda da direita. E por ali que vou apostar”, pensou Edgar. Por um momento a comparou com Lydia. Mesmo com tanto treinamento, ainda era o grande defeito da fairy doctor, não se defender pela direita. Esse pensamento o distraiu, e sentiu um corte afiado atingindo a mão esquerda. Por mais que não quisesse era um fato que o descentralizou.

― Oras, e não é o Conde Cavaleiro Azul tem medo de cortes?

Ele rangeu os dentes, contrariado e atacou, mas Morrighan se defendeu de forma ágil. Logo depois tentou um golpe na perna direita da mulher que se defendeu com um afundo.

A plateia assistia atônita, muitas das garotas até prendiam a respiração. Raven observava atento, mas sua atenção foi quebrada com a observação de Freya.

― Ele tem cara que é muito bom de cama... Não é? Oras! Veja como ele manipula a espada!

O mordomo a olhou de soslaio.

― Desculpe, você não tem jeito que é o amante dele... Bom, em todos os casos, Lydia era...

E aí Raven voltou para encará-la. Ela rapidamente consertou com:

― Hum... Lydia é uma sortuda.

Mal ela acabou de falar, escutou um estrondo que vinha do local da luta. Freya se virou e viu Edgar derrubado no chão.

Mas como isso foi acontecer?”, se perguntou.

― Isso foi sujo! – berrou ele.

Morrighan tinha contra-atacado em um momento de desequilíbrio dele. Ela respirou fundo e se virou de lado. O conde notou que era a hora de atacar com chances de sucesso. Levantou-se, foi para cima dela e recebeu um bloqueio. Guarda-mão contra guarda-mão, ela o emperrou para frente e disse:

― Isso que é um golpe sujo!

Edgar, então, percebeu que a sua virada era um blefe. Continuou com a espada em guarda. Começou a se sentir cansado. O suor escorria pela testa, mas sua determinação ainda continuava feroz. Entendeu que se a distraísse para o lado esquerdo, poderia afetar seu olho direito. Quando estudou esse lance, se viu indo para cima dela. E as espadas se encontraram com violência outra vez.

― Está cansado? Por que não desiste? – questionou Morrighan.

― Jamais!

― Vamos, isso é tudo que pode mostrar? Você é um lutador medíocre! Não honra a espada que carrega. – ela o provocou de tal maneira, que ele veio mais sedento para atacá-la.

Ela se defendeu, e contra-atacou. Olhou bem em seus olhos.

― Fraco e covarde!

― Ao invés de me ofender por que não luta como a guerreira que se autointitula?

A resposta de Morrighan foi apenas um sorriso. Investiu de modo mais veloz em cima de Edgar.

Ela é rápida demais! Preciso dar um ataque fatal, antes que seja tarde!”.

A espada já começava a pesar, a sua respiração era desordenada e o autocontrole se esvaziava. Enquanto que ela não aparentava nenhum esgotamento, até mesmo queria prolongar a luta em si.

Vai querer me vencer pelo cansaço! É isso que ela quer!”.

Freya já estava se descabelando a tal ponto que colocou as mãos na cabeça e falou alto:

― Faça alguma coisa, Edgar!!!

Quando ouviu o seu nome, o jovem conde se descuidou e olhou para Senhora das Valkyrias. Foi a chance de Morrighan. No momento que ele se voltou à luta, foi surpreendido com a Espada Merrow indo ao chão. Ele ficou completamente desarmado. Engoliu a seco, prendeu a respiração. Suas pernas fraquejaram. “Não! Isso NÃO é possível!!”.

Edgar sentiu a lâmina da espada de Morrighan no seu pescoço. “Perdi! Vou perder a minha vida e nem consegui trazer a Lydia de volta!”, refletiu amargamente.

― Ajoelhe-se, Edgar.

Não havia o que se fazer, ele a obedeceu. Ajoelhou-se meio à lama, sentindo o frio metal da espada o acompanhando. Fechou os olhos, vencido. Sabia que a qualquer momento da sua caminhada a encontraria... A morte. No entanto, não imaginaria que seria numa situação dessas. Muito menos em outra realidade, que, até então, não lhe era conhecida. Sua respiração era difícil de ser controlada, o coração estava aos pulos, e um leve tremor tomou conta do seu corpo.

― Quais são suas últimas palavras, Edgar?

O zum-zum da plateia aumentou. E Freya se negou ver a cena, escondendo a visão no ombro de Raven. O garoto-fada não sabia se estava mais surpreso com o final da luta ou com a atitude da mulher.

― E então?

― Traga a Lydia de volta! Tire a minha vida, mas a traga de volta! Só isso o que peço.

Morrighan o encarou ainda com a espada encostada no seu pescoço. E indagou:

― Por quê?

― Porque ela merece mais do que eu estar viva! Sem ela, nada seria. Quem me tornou em uma pessoa melhor, definitivamente, foi Lydia. Foi a única que me entendeu profundamente. Além disso, Lydia é mais importante do que eu. Muitos precisam dela: nosso filho, seu pai, seus amigos, as pessoas que têm problemas com fadas, inclusive eu. Tudo que peço!

Morrighan levantou a espada no ar e disse:

― Seu desejo será realizado.

E o que veio depois, ninguém poderia esperar...


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Notas finais do capítulo

Posso dar um grito? Aaaaaaaaah! Este capítulo me deixou tão tensa tanto quanto você lendo-o! Bem, deu para perceber que adoro cenas de luta de espada. E não é de hoje! Quem acompanha as minhas histórias, sempre que tenho oportunidade as coloco. Muito bem, aqui fomos apresentados à Morrighan, Deusa Celta da Guerra e da Morte. Diz a mitologia que em um campo de batalha, ela recolhia os soldados mortos para seu paraíso particular. A crença era tão grande que até as noivas e namoradas destes também se matavam na esperança que ela os levassem.
Eu amo este capítulo! Ok, sou suspeita para falar, mas o próximo... Ah, o próximo! Então te espero na semana que vem e saberemos se Edgar sai ou não sai desta! Até lá! Beijos e deixe seu review.



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