Atarashii Sekai escrita por teffy-chan


Capítulo 2
Capítulo 2 - Possibilidades




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— Memórias? - os três repetiram juntos.

— Isso mesmo - Watanuki confirmou - Iremos começar uma vida nova em um mundo novo, portanto, todas as nossas memórias de nossas vidas anteriores irão desaparecer. Nós ainda iremos nos encontrar e conviver uns com os outros, é claro. Mas não iremos nos lembrar de nada do que aconteceu até o dia de hoje.
— Mas isso… é um preço muito alto! - Syaoran exclamou.
— É um roubo, isso sim! - Kurogane gritou - Você é pior do que aquela bruxa, seu pirralho!
— Não acha que está exagerando um pouco, Watanuki-kun? - Fye indagou. Tinha voltado a sorrir, embora estivesse visivelmente nervoso.
— O preço é esse, e é justo. Não se esqueçam de que vou perder minhas memórias também. Sobre meus amigos, o tempo que passei nessa loja, as pessoas que ajudei… até mesmo sobre a Yuuko-san - Watanuki falou mais para si mesmo. Aquilo fez Syaoran se sentir mal. Watanuki já havia perdido boa parte de sua memória, sobre seus pais e sua infância, como pagamento para ajudá-los em outra ocasião, e nem sequer sabia disso - No final, todos nós vamos ter o que queremos. Kurogane-san, você vai poder reencontrar a sua Tomoyo-hime…
— Já disse que ela não é "minha" Tomoyo! - Kurogane cruzou os braços, irritado.
— Tanto faz - Watanuki deu de ombros - Enfim, você vai poder reencontrá-la, e continuará convivendo com Syaoran-kun e com Fye-san, seus companheiros de viagem, assim como você deseja.
— É, só que eu não vou me lembrar de nada disso… - o mais velho resmungou.
— Fye-san, você também - Watanuki voltou-se para o loiro, ignorando a reclamação de Kurogane - Você poderá continuar convivendo com seus amigos, e irá reencontrar seu irmão. Embora seja possível que você não o reconheça, já que perderá suas memórias…
— É impossível não reconhecê-lo. Somos gêmeos - Fye contou.
— Mesmo? - Watanuki arregalou levemente os olhos - Ponto para você, então - ele virou-se para Syaoran - E você também, terá seu desejo realizado. Irá reencontrar seus pais, como você deseja, Syaoran-kun. Suponho que também irá reconhecê-los, já que são tão parecidos - ele deixou escapar uma risada - E, é claro, darei um jeito de levar Sakura-chan conosco. Mas ela também não se lembrará de nada do que vivenciou antes de irmos para este novo mundo. Mesmo sabendo disso, você está de acordo?
— Sim - Syaoran respondeu sem hesitar um segundo sequer - Prometi que encontraria um lugar onde todos pudéssemos viver juntos. E é isso que vou fazer.
— Ótimo - Watanuki se levantou - Bem, antes de começarmos, eu preciso fazer uma coisa - ele caminhou até o corredor e pegou o telefone.
— Ei, o que está fazendo? Não me diga que vai precisar de ajuda para fazer isso? - Kurogane indagou - Francamente, fez todo aquele discurso, mas no fim das contas, não passa de um pirralho que não consegue fazer nada sozinho…
— Não é nada disso - Watanuki respondeu tranquilamente enquanto discava as teclas do telefone - Eu preciso me despedir de algumas pessoas antes de partir.

Watanuki falou ao telefone brevemente com algumas pessoas cujo nomes nenhum deles reconheceram, pedindo para que viessem até a loja imediatamente. Quando desligou, voltou-se para os dois Mokonas:

— Acho que nem preciso perguntar, mas vocês dois também vão querer ir conosco, não é?
— Mas é claro! - o Mokona branco foi o primeiro a responder, soltando-se dos braços de Moro e pulando no colo de Syaoran - Aonde o Syaoran for, Mokona também vai!
— E também não faz sentido eu ficar aqui se você não estiver, Watanuki - o Mokona preto disse - Além do mais, estou com saudades do outro Mokona, ficamos separados por muito tempo, então é claro que vou junto!
— Imaginei que iriam. Fiquem sabendo que o preço é o mesmo - Watanuki avisou - Bem, parece que iremos todos afinal…
— Watanuki.
— Nós não vamos.
— O que? - Watanuki voltou-se na direção de Maru e Moro e viu as duas meninas encarando-o com idênticas expressões desoladas.
— Queremos - Maru falou - Mas não podemos.
— Não podemos deixar a loja - Moro completou.
— É mesmo. Vocês… não têm almas.

Watanuki lembrou de algo que Yuuko tinha lhe dito anos atrás, assim que tinha começado a trabalhar naquela loja. Maru e Moro não possuíam almas. E, para que se pudesse viajar entre outras dimensões, era necessário possuir uma alma, seguindo o princípio da possibilidade de encontrar uma existência que você já conhecia vivendo de uma forma completamente diferente em outro mundo. Mas isso não se aplicava a Maru e Moro. Elas estavam presas naquela loja há sabe-se lá quantos anos, provavelmente nunca tinham visto o mundo exterior… estavam muito mais aprisionadas do que Watanuki.

— Não posso deixar vocês aqui sozinhas - Watanuki falou mais para si mesmo, sua mente trabalhando rapidamente em encontrar uma forma de levá-las consigo - Não fará sentido deixar apenas vocês duas aqui na loja.
— Mas não tem outra maneira - Maru disse o óbvio.
— Tem que ter - Watanuki insistiu - Se eu deixar a loja, ela não irá mais existir. Mas se vocês ficarem… - ele se baixou e apoiou as mãos nos rostos das meninas - Vocês não são capazes de realizar os desejos das pessoas. Não faz sentido deixá-las aqui sozinhas. Apenas vocês se lembrariam de mim, e ficariam presas aqui para sempre… seria muito cruel. Vocês ficaram ao meu lado durante todos estes anos, e quero que continuem assim.
— Mas não tem como fazer isso, Watanuki - Moro retirou a mão do garoto do rosto dela gentilmente, como se quisesse que ele se desapegasse de um objeto antigo que não tinha mais utilidade.

Syaoran não conseguia deixar de se sentir mal com aquilo. Sabia que não era culpa sua, não diretamente, mas se sentia responsável por tudo aquilo. Afinal, a existência de Watanuki era resultado de um desejo que ele fez há muitos anos. E essa existência, que tomou a forma de um garoto incapaz de crescer ou sequer sair de casa, e aparentemente tinha passado os últimos anos de sua vida desde a última vez em que se viram vivendo naquela casa junto com o Mokona preto e com aquelas duas garotinhas. E ele não poderia vê-las nunca mais. Watanuki não se lembraria delas, mas as meninas iriam se lembrar dele todos os dias, por toda a eternidade.

— Tem um jeito - Watanuki disse subitamente, despertando Syaoran de seu torpor - Maru, Moro. Vocês duas viveram por muitos anos sob a forma de crianças, sem jamais envelhecer. Se eu não fosse para este outro mundo com Syaoran-kun e os outros, permaneceria nesta loja, sob esta aparência de um garoto de dezessete anos para sempre, e vocês também continuariam sendo as crianças que aparentam ser desde que foram criadas. Yuuko-san criou vocês para ajudá-la a cuidar da loja. Por isso ela precisava de duas pessoas jovens, cheias de energia e vitalidade. Vocês são jovens. São imortais. Então, me deem sua imortalidade e juventude eterna em troca de algumas décadas de vida onde vocês deixarão de ser crianças, irão crescer, envelhecer e morrer como pessoas comuns. Desse jeito, vocês duas terão almas. E, se tiverem almas, poderão ir comigo. Não irão se lembrar de nada disso, é claro, mas poderão viajar junto comigo para o outro mundo. O que acham?
— Watanuki…
— Nós vamos com você! - as duas sorriram e se jogaram em cima do garoto, o abraçando ao mesmo tempo.
— Que bom, hein, Watanuki-kun? Vai poder levar suas filhas com você - Fye comentou, rindo da cena.
— Se for colocar como uma família, acho que elas estão mais para irmãs caçulas - Watanuki respondeu, libertando-se das meninas e voltando a se sentar diante deles - E, falando em família, tem uma coisa que preciso avisar a vocês.
— O que é agora? - Kurogane indagou.
— Como eu disse antes, todos nós vamos nos encontrar neste novo país para onde vamos, mas não sabemos o que exatamente vamos ser - Watanuki disse. Quando viu que todos pareceram confusos, continuou - Por exemplo, todos podemos ser simplesmente amigos, como agora. Mas também pode existir algum grau de parentesco entre alguns de vocês. Por exemplo, Kurogane-san, você pode ser pai do Syaoran-kun neste novo mundo.

Kurogane cuspiu o sakê que estava bebendo ao ouvir isso, e teria acertado o rosto de Watanuki se ele não tivesse se abaixado.

— É o que?! - o homem gritou - Por que raios o moleque seria meu filho?!
— Hyu hyu! Kurorin vai ganhar um filho! - Fye começou a rir - Ué? Por que você ficou vermelho, Syaoran-kun?
— Acho que o Syaoran está feliz! - o Mokona branco sugeriu, pulando para o colo de Fye.
— Kurogane vai ter um filho! - Maru cantarolou.
— Quem será que é a mãe? - Moro perguntou.
— Querem parar com isso, suas pirralhas? - Kurogane deu um berro, fazendo as duas tamparem os ouvidos.
— Parem de fazer tanto estardalhaço por nada. Eu disse que é só uma hipótese - Watanuki lembrou - Assim como o grau de parentesco pode mudar, outras alterações podem acontecer. Nossas idades podem mudar também. Por exemplo, eu agora estou com vinte anos mas continuo com essa aparência de um adolescente. No mundo para o qual iremos pode ser que eu aparente ser de fato um homem de vinte anos, ou que volte a ser um garoto de dezessete anos, ou até mesmo que volte a ser uma criança. É claro que isso pode acontecer com vocês também.
— Voltar a ser criança, é…? - Fye disse sonhador - Até que seria legal. Assim eu poderia crescer junto com meu irmão, sem que ninguém tentasse nos separar.
— Mokona quer ver o Kurogane quando era criança! - o Mokona branco pulou no colo de Kurogane.
— Ah, é mesmo! - o ar melancólico deixou o rosto de Fye e ele começou a cutucar a bochecha de Kurogane com o dedo indicador, voltando a sorrir - Kuro-chan deve ter sido um menino muito levado quando era criança! Não é, Kuro-tan?
— Parem com isso vocês dois! - Kurogane gritou, empurrando Fye e Mokona para longe dele com ambos os braços. O Mokona branco refugiou-se novamente no colo de Fye - Mesmo se algo assim acontecesse, nenhum de nós iria se lembrar de que já nos conhecemos, então nem adianta tentar fazer piadas! Ouviram? - ele lembrou, acabando com a diversão dos dois.
— Vocês são um grupo barulhento mesmo, hein - Watanuki comentou, observando a algazarra que eles faziam. Tragou novamente de seu cachimbo e, quando soltou a fumaça,  acrescentou - Há outra coisa que eu preciso dizer. A possibilidade de acontecer é remota, mas é melhor vocês saberem. Assim como nossas idades e grau de parentesco, nossos relacionamentos também podem mudar. Por exemplo, Fye-san, neste outro mundo, você poderia estar apaixonado pela Sakura-chan.
— Eh? - Fye encarou o garoto de cabelos pretos, como se esperasse que ele dissesse que só estava brincando. Ia começar a rir da piada sem graça, quando notou o olhar furioso de Syaoran para ele - Ei, ei, não me olhe com essa cara assustadora, Syaoran-kun, isso não vai acontecer…
— E como é que eu vou saber, hein? - Syaoran indagou com cara de quem queria bater nele - Watanuki-kun disse que qualquer coisa pode acontecer nesse mundo para onde vamos. Qualquer coisa pode mudar!
— Mas algo assim já é demais… Sakura-chan é como uma irmãzinha para mim, não tem como isso acontecer - ao ver que não tinha conseguido convencer Syaoran, acrescentou - Ei, será que alguém pode me ajudar aqui? - Fye olhou ao redor.
— Agora que você mencionou - Kurogane disse, meio que para se vingar da brincadeira anterior, meio que apenas por pura recordação mesmo - Quando estávamos em Infinity Koku, você e aquela Princesa ficaram bastante próximos, não foi? E você sempre ia visitá-la no quanto dela quando a Princesa dizia que estava cansada… o que vocês ficavam fazendo?
— Kurorin, não está ajudando…
— "Isso é interessante"… é o que a Yuuko-san diria - Watanuki disse para si mesmo enquanto observava a confusão se formando diante dele - Mas na verdade é algo bastante problemático.
— … não fiz nada - Fye continuava dizendo - Além do mais, aquela era a outra Sakura-chan, esqueceu? A que foi clonada.
— Ah, é mesmo - Kurogane lembrou. E só então pareceu notar o olhar mortal que Syaoran lançava para Fye - Ei, moleque, não me diga que está mesmo com ciúme dele? Qual é, esse mago pode ser um idiota sorridente, mas duvido que seja um pedófilo. Desse jeito ele vai acabar pensando que você vai tentar arrancar o olho dele de novo.
— Ah - a expressão furiosa de Syaoran mudou rapidamente para surpresa e levemente culpada. Já fazia muito tempo desde que aquilo aconteceu, mas detestava pensar no assunto - Desculpe…
— Não se preocupe, está tudo bem, Syaoran-kun - Fye respondeu, evidentemente aliviado de aquela discussão inútil ter acabado.
— Arrancar um olho? - Watanuki ergueu uma sobrancelha.
— Aquilo foi o meu clone… ele estava fora de controle na ocasião - Syaoran contou, tentando se livrar do sentimento de culpa, sem sucesso.
— Ah, então é por isso que os seus olhos parecem mudar de cor constantemente, Fye-san - Watanuki balançou a cabeça em sinal de compreensão.
— Eles eram originalmente azuis. Mas ficam dourados quando estou lutando. Ou quando estou com fome - Fye explicou - Coisa de vampiro - ele encolheu os ombros.
— Mas qual é o problema? Seus olhos também têm cores diferentes - Kurogane reparou.
— Ah, sim. Tive meu olho direito devorado pela Jorougumo - ele colocou a mão sobre o olho quase que inconscientemente. Vendo que eles pareciam confusos novamente, acrescentou - É uma espécie de youkai aranha deste mundo. Parece que não existe nos mundos de onde vocês vieram. Eu recebi metade do olho de um amigo para substituir o que eu perdi, por isso ficou assim - ele explicou - Na verdade, isso me lembra uma coisa… Syaoran-kun, da primeira vez que te vi… isto é, "você", e não o seu clone… você estava usando um tapa-olho. Você havia perdido um dos olhos, não é?
— Eu criei o meu clone usando magia a partir de um dos meus próprios olhos. O olho que me faltava tinha ficado com ele - Syaoran explicou.
— Entendi - Watanuki respondeu - Parece até que alguém tem uma espécie de obsessão por arrancar olhos…
— Agora que você falou, tem razão - Syaoran estremeceu.
— Que conversa horrível a de vocês dois! - Kurogane exclamou - Francamente… isso só começou porque esse pirralho idiota começou a falar sobre a possibilidade de podermos ser parentes ou nos apaixonarmos uns pelos outros nesse outro mundo para o qual iremos! - ele apontou acusadoramente para Watanuki.
— Todas essas possibilidades existem. Mas não significa que sejam ruins - Watanuki falou calmamente - Por exemplo, também existe a possibilidade de Syaoran-kun e eu sermos irmãos.
— Acho que isso seria legal - Syaoran sorriu. Na verdade era mais do que "legal", era provável. Eles eram a mesma existência afinal, então a possibilidade de serem parentes era grande.
— Também acho - Watanuki sorriu de volta - E também… Fye-san. Você está com fome? - ele mudou drasticamente o conteúdo de sua frase - Se estiver, já vou avisando que não vou conceder o seu possível desejo de pedir por sangue humano.
— Não estou com fome - Fye respondeu.
— Então por que seus olhos ficaram dourados?
— Porque alguém entrou aqui sem bater na porta - Fye respondeu, deixando o sorriso de lado e olhando atentamente para o jardim - Acho que você tem intrusos na sua loja, Watanuki-kun.
— Não se preocupe, não são intrusos. É que ele nunca bate na porta mesmo - Watanuki se levantou e foi até a entrada - Então, finalmente chegaram.


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Notas finais do capítulo

Ohayou minna!
Pois é, eu disse no primeiro capítulo que isso era para ser uma oneshot, mas a história está ficando evidentemente cada vez mais longa, e o motivo é simplesmente porque, já que não é mais uma oneshot, eu resolvi incluir algumas coisas que deixaria de fora da história, como algumas piadas bobas, por exemplo.
E desculpa pela referência nesse capítulo, mas eu tinha que colocar, eu não resisti! Essa obsessão da Clamp de arrancar os olhos dos personagens em tudo que é mangá que elas criam sempre me deixou louca, eu tinha que citar, desculpa, gente XD
E, bom... na verdade eu pretendia postar esse capítulo na quanta ou na sexta, mas preferi deixar para postar hoje por causa da data de hoje. Para quem não lembra, primeiro de abril é o aniversário do Watanuki, do Syaoran e da Sakura, então parabéns para eles, gente! o/
Comentem, por favor, quero muito saber o que vocês estão achando da história! lembrem-se de que opiniões, sugestões e críticas construtivas são muito importantes para fazer com que a fic melhore e para que a pessoa cresça como autor!
Kissus^^



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