Chapter IV - Ele está de volta.

POV Lily Evans

Ah, aquele barulhinho irritante do despertador. Porém já vou avisando que tenho o sono muito pesado, então mesmo que seja bastante incômodo esse soar do meu celular, eu não acordo. Resultado: meu lindo sonho acaba por ser invadido pelo som do alarme e eu tento de todas as formas possíveis desliga-lo, mas isso parece ser impossível. Que droga! O despertador não desliga de jeito nenhum e eu já apertei o botão milhares de vezes. Opto por jogar o celular na parede. Como esperado, ele se espatifa todo, porém o barulho do alarme ainda continua a soar por todo o meu quarto. Não tem jeito...

Finalmente abro os olhos e desligo o real despertador. Ainda com a visão turva, encaro os números na tela do aparelho. 07h15min a.m do dia 1º de março. Resmungo impaciente me arrependendo de ter ficado até mais tarde ontem conversando com Marlene pelo Skype. Espero que ela esteja tão cansada quanto eu agora. Como é difícil entrar no ritmo das aulas e acordar cedo, quando você passa praticamente três meses acordando perto do meio dia.

Me levanto preguiçosamente e vou ao banheiro fazer minha higiene diária. Quando volto ao quarto, já um pouco mais disposta, começo a vestir a roupa que separei ontem à noite. Nada muito extravagante, algo básico e confortável. Pus uma blusa verde de tecido fino com alças e com as laterais soltas repousando sobre meus quadris, uma calça em jeans falso cor nude. Nos pés, uma sapatilha verde. Como acessório, brincos em formato de trevo com pedrinhas verdes e relógio. Deixo meus cabelos lisos e ruivos soltos cascateando pelas minhas costas e prendo somente uma parte dele atrás com grampos.

O sol irradiava pelas frestas que a minha cortinha deixava na janela, indicando que o dia estava agradável lá fora. Eu até podia ouvir os passarinhos cantando quando voavam bem perto. Depois que terminei de me arrumar, fui até a cozinha tomar uma xícara de café quente, o que sempre me dava um “gás” para começar bem a semana. Ao chegar, meu pai já terminava de comer sentado à mesa e, pela ausência de minha mãe, conclui que ela ainda estava dormindo.

— Bom dia – cumprimento enérgica com um sorriso.

— Dia – meu pai retribui acenando com a cabeça.

Como de costume, pego minha caneca marrom com alguns desenhos em creme, dando a sensação de uma cobertura caindo por cima do chocolate, e sirvo-a com o café recém-passado, o seu delicioso aroma entranhando em minhas narinas. Ponho duas colheres de açúcar, mexo e bebo em seguida.

Meu pai limpa a garganta antes de falar comigo.

— Quer que eu te leve para a escola? – fecho os olhos com força ao ouvir a pergunta. Eu tinha me esquecido de avisá-lo o que havia combinado com Dorcas ontem à noite, quase um momento antes de eu madrugar com Marlene.

— Ah, na verdade pai, não precisa. Combinei com a Dorcas e ela vem me buscar. – explico torcendo para que ele não se aborreça. Meu pai sempre gostou de ser avisado com antecedência.

Ele crispa os olhos em minha direção e fica quieto por um momento, até finalmente dizer:

— Isso não vai ser todos os dias, não é? Ficar ocupando suas amigas quando você pode ir de ônibus. – era sempre assim. Dependência era uma palavra que não se encaixava no dicionário da família Evans.

— Não, é só para irmos juntas no primeiro dia. Eu, Dorcas e Marlene – digo calmamente.

— E a volta?

— Venho de ônibus.

— Pois bem. Então, boa aula filha – se despede assim que eu termino meu café e a buzina do carro de Dorcas soa à frente da porta de casa.

— Tchauzinho – ponho a xícara na pia e ajeito a mochila nas minhas costas.

Quando abro a porta, a claridade intensa da luz do sol ofusca meus olhos. Dizem que quem tem olhos claros, tanto verdes quanto azuis costuma sofrer com demasiada claridade. Estou isso aqui de acreditar nisso viu? Porque, Apolo misericordioso, como eu sofro com os raios solares.

Avisto a Eco Sport prata de Dorcas estacionada mais a frente, e do banco do motorista, Meadowes sorria e acenava para mim animadamente. De nós três, ela com certeza é a mais animada. Caminho até seu carro e entro no banco carona da frente, em seguida a abraçando.

— Ah, meu Deus, menina. Quanto tempo! – cumprimenta ainda no abraço.

— Muito, acho que tem uns dois dias que não nos vemos – brinco depois que nos soltamos.

— E já é muito! Mas, e aí, seu pai deixou você vir comigo? – Dorcas pergunta enquanto dá a partida e seguimos pelas ruas já movimentadas naquela segunda feira de manhã.

Suspiro pesadamente olhando o movimento através do vidro da janela.

— Ah, deu pra ver que ele não gostou muito, mas me deixou vir – a insegurança de meu pai com os garotos eu até concordo, mas com relação ao resto do mundo todo chega a ser um pouco frustrante.

— Seu Virgílio é uma figura – ela balança a cabeça em sentido negativo embora estivesse rindo.

— E você, como passou seus últimos dias de férias? – indago animada e ela bufa com irritação.

— Você me conhece. Pagando mico como sempre, aliás já paguei o king Kong do ano – diz apertando as mãos contra o volante até seus nós dos dedos ficarem brancos, talvez se punindo mentalmente por alguma coisa.

— Nossa, o que aconteceu? – estranho. É tão raro ver Dorcas perdendo o controle facilmente, a não ser quando se trata do... Ah, não.

— Não conte à Lene, não quero ela rindo da minha cara – dobramos mais uma rua – Mas falei com o Austin ontem e agi como uma completa imbecil, quero dizer, gaguejando e falando formalmente e até perdendo meu cachorro! Mostrei que sou uma pessoa inteiramente atrapalhada. – conclui batendo a cabeça no encosto às suas costas em um gemido de indignação.

Me conta uma novidade. Dorcas, por mais que tente esconder, é completamente apaixonada por Austin McLaggen e faz de tudo para chamar a sua atenção, mesmo ele não dando bola, ou pelo menos fingindo que não dá. Marlene não ri por ser engraçado, mas por ser ridículo. Já avisamos Dorcas várias vezes para não insistir e dar tempo ao tempo, mas quanto mais Dorcas tenta ser discreta, mais acaba chamando a atenção.

Definitivamente nós três não temos sorte quando o assunto são relacionamentos amorosos. Já vou explicar o porquê: Dorcas, como perceberam, se apaixonou pela pessoa errada que não a enxerga. Marlene está namorando com o cara mais falso que eu já vi. Acho que esse cara finge até quando beija ela. E eu, só os caras completamente superficiais se interessam por mim. Aqueles que só querem, em palavras francas, transar comigo e ser audacioso o bastante para quebrar as regras de meu pai. Sim, todos lá na escola sabem o gênio de Virgílio Evans.

— Talvez não seja tudo isso – tento soar sutilmente – Você costuma exagerar nas coisas.

Ela me encara como se dissesse “Tá bom, eu sei o que você está tentando fazer Lily e não vai funcionar.”

— Olha, sabe para onde estamos indo agora? Para Stewart, começar um novo ano. Tudo pode mudar e quem sabe esse ano vocês não fiquem juntos? – era uma possibilidade.

Gostava de não deixar a esperança morrer. Gostava de ser otimista.

— É quem sabe – ela divaga. – Bom, teoricamente, não estamos indo para Stewart agora. Temos que dar carona para Lene esqueceu? – diz em tom brincalhão e eu reviro os olhos.

— Como eu poderia esquecer aquela doida?

~*~

O estacionamento de Stewart estava razoavelmente cheio. Não, chega de eufemismo Lily. Estava lotado. Eu não sei de onde vinha tantos alunos e também não sabia como essa escola conseguia suportar todos eles. O estacionamento era amplo, cercado, em partes por algumas árvores e o resto porém já dava para presenciar a arquitetura de Stewart. Carros de diversos tipos, estilos e cores estavam estacionados e outros em movimento. Recostado a alguns, já formavam-se os grupinhos escolares. Aqueles velhos conhecidos.

— Desse lugar brota gente, só pode ser – comenta Marlene, pensando o mesmo que eu, de trás do banco.

Dorcas anda vagarosamente até pararmos em sua costumeira vaga, debaixo de uma árvore, no canto. Ela desliga o som, que no momento tocava Radioactive do Imagine Dragons, uma das minhas músicas preferidas.

Pegamos nossas respectivas mochilas e descemos do carro.

— Surpreendente para o primeiro dia – Dorcas observa. Conversas paralelas se faziam presente em nosso redor e até um pouco de música dos extravagantes que deixavam as portas de seus carros abertas com as melodias a todo volume.

— Relaxem, é só hoje – digo tranquila. Já era fato. Conforme o tempo passava e o ano avançava, esse alvoroço todo ia diminuindo, até que no final, só os fortes se formam. Tomara que eu esteja junto deles.

— Vamos indo, quero logo pegar a senha do meu armário – Marlene se encaminha para dentro do colégio, sem antes é claro, deixar de chamar atenção com sua roupa. Não havia nada demais, mas mesmo assim, qualquer um sempre virava o pescoço para ela. Lene usava uma calça jeans preta de cós alto até o seu umbigo. Para cima vestia uma regata azul curtinha e solta, deixando à mostra sua barriga em boa forma por causa do surf que praticava. No pescoço, uma gargantilha, um dos seus acessórios preferidos.

Seguimos, porém somos interrompidas por um som estridente. Todas viramos para olhar assim como metade do estacionamento. O ronco do motor soava por toda a parte. Se não fosse tão insano, eu poderia jurar que o carro em si estava querendo se exibir, como se fosse vivo. Porém, é claro que eu sabia que o motorista era quem queria se exibir. E, assim que estacionou o seu prateado Jaguar XJ220 e saiu do carro com o costumeiro sorriso prepotente no rosto, eu pude confirmar o que já suspeitava.

 É, James Potter acaba de chegar.

 Ele está de volta.