Chapter II - O "Querido" Sirius Black

POV Marlene McKinnon

O que vocês costumam fazer no último dia de férias? Se querem saber, eu estou aproveitando esse dia de uma maneira única e original: usufruindo das belas praias da Austrália. No momento a Manly Beach é a que tem o prazer da minha ilustre presença. Ai, porque as aulas tem que começar? Eu sei que já estamos quase no final do verão, mas mesmo assim ainda é verão! Por mim, o colégio podia ser apenas em dias frios e chuvosos onde não se tem nada para fazer à não ser dormir. Se bem que eu gosto de dormir nesses dias então, que tal nunca termos aula? Mentira. O que seria do futuro sem educação? Só sei que dias lindos como esse não podem ser aproveitados de outro jeito a senão submerso nas águas cristalinas do nosso continente. Bom, pelo menos para mim, australiana de nascença, tendo como esporte preferido o surf e meus cabelos loiros queimados pelo sol. Geralmente o melhor horário para surfar é durante a manhã, quando os banhistas não estão na área ainda e o mar está mais agitado. Porém fiz um acordo comigo mesma e decidi não acordar cedo logo no meu último dia de férias. Então, abandonei o surf hoje e durante o resto do ano, já que quero focar bastante nos estudos. Mas não, eu não sou CDF. Apenas quero terminar logo essa bodega a que venho tendo desde que me entendo por gente. Depois que eu terminar, quero passar um ano viajado. Mais especificamente? Quero ir ao Brasil aproveitar as maravilhosas praias do litoral brasileiro que são tão fascinantes quando as da Austrália. Depois que o meu tour pelo Brasil terminar, pretendo ingressar na faculdade cursando Engenharia Civil. Bom, mais isso são só planos. Mesmo com apenas 17 anos, quando a maioria das meninas da minha idade ainda não pensou realmente no que quer fazer, a minha meta de vida por enquanto é essa.

Eu estava disposta a passar o dia na praia hoje, bom, quase todo ele. No finzinho eu pretendo ir visitar meu namorado Stefan, já que não o via tinha uma semana desde que ele viajara para a Nova Zelândia. Não é muito longe eu sei, mas mesmo assim dá saudade. Já estávamos namorando tinha uns três meses, e nos últimos dias eu tenho notado ele meio frio comigo. Mas, tudo bem, hoje eu estava disposta a esclarecer qualquer mal entendido para poder começar o ano letivo amanhã com a cabeça fria. Querendo ou não, Stefan mesmo que indiretamente interfere nos meus estudos, assim como a maioria dos namorados.

Lily, uma das minhas melhores amigas, vive me dizendo para eu não deixar isso acontecer, para eu separar as coisas e não deixar uma interferir na outra. Mas eu simplesmente não consigo. Ela também não engole muito bem o nosso namoro, diz que Stefan não é o cara certo para mim, mas eu ainda vou conseguir provar que ela tá errada. Aos poucos vou amaciando a fera. Também é superimportante para mim que minhas amigas apoiem o meu namoro. Elas, além de tudo, são o meu porto seguro. Eu podia estar agora discutindo isso com elas, digo, Lily e Dorcas, mas as frescas não quiseram me acompanhar para ir à praia. Resultado; cá estou eu aproveitando sozinha. Não que eu me importe tanto, já que a partir de amanhã eu vou vê-las quase todos os dias.

Só de pensar nisso eu me animo e rio, mesmo que submersa à água. Sinto mais uma onda passar por meus cabelos e decido enfim imergir. Meus ouvidos rapidamente desabafam e posso escutar o som de crianças de divertindo e muitas vozes paralelas. Esfrego os olhos para retirar o excesso de água e olho ao redor. Deve estar perto das cinco da tarde e a praia continua agradável, nem muito cheia e nem muito vazia. Olho para baixo checado meus seios e vendo se eles não decidiram cumprimentar ninguém e saltar para fora do meu biquíni preto. Odeio quando isso acontece. E nem vou comentar o fato de que isso quase sempre acontece. Por sorte essa manhã eles acordaram tímidos e estão em seu devido lugar.

Giro meus calcanhares e caminho em direção à areia com meus olhos a admirar um quiosque mais a frente. Eu estava ansiando por um suco de laranja natural bem gelado. Sinto as ondas abaixarem em minhas pernas à medida que vou me distanciando das águas. Cumprimento algumas pessoas até chegar ao quiosque. Conheço bastante gente daqui, pelo menos as que frequentam essa praia frequentemente já que eu também o faço.

— E aí, Gooz – sorrio alegremente ao me deparar com o garçom já há muito meu conhecido.

— Lene! À que devo o prazer da sua ilustre presença? – ele brinca enquanto limpava o balcão. Me sento em um dos bancos altos e cruzo os braços por sobre a mesa.

— Ah, fala sério – estalo a língua – Você sabe que essa é uma das minhas praias preferidas e eu sempre venho aqui – digo olhando ao redor contemplando a vista maravilhosa que o quiosque me proporcionava.

— Vem aqui só por causa da praia? – pergunta crispando os olhos e eu rio.

— E também pelo suco maravilhoso de laranja que só você sabe fazer – o bajulo e ele estapeia o vento como se dissesse “Ah, para com isso”, mas eu sei que ele gosta quando eu puxo o seu saco. Quando não estou com minhas amigas é com ele que eu converso por horas a fio, principalmente à noite, que é quando o quiosque lota. E lhes afirmo com toda a convicção do mundo: ter amigas mulheres é bom, mas ter amigos homens é melhor e, melhor ainda é ter amigos gays e Gooz é de longe o melhor amigo gay que eu já tive.

— Já saindo o suquinho de laranja – ele diz e em seguida vai para dentro da cozinha atrás das cortinas preparar minha bebida.

Nunca vou me cansar das férias. Tem gente que já no finzinho delas começa a sentir falta da rotina e dos dias atarefados. Comigo nunca foi assim, eu poderia passar um ano inteiro sem fazer nada e não me cansaria. Aproveito o momento sozinha para retirar um pouco da água em meu biquíni, o apertando de leve. Em seguida, prendo os fios loiros do me cabelo em um coque alto.

Gooz volta trazendo um copo tamanho médio de suco de laranja com três pedras de gelo e um canudinho.

— Você é perfeito – agradeço já bebericando aquela delícia alaranjada.

— Perfeito é o bofe quatro por quatro que tá vindo agora. Deuses me abanem – comenta fitando às minhas costas com um sorriso esperto no rosto. Acompanho o seu olhar e avisto o meu carma.

Senhoras e senhores, apresento-lhes o ser mais convencido, prepotente, calculista e mulherengo que vocês jamais vão conhecer. Caminhando despreocupadamente, depois de estacionar sua moto, usando uma bermuda folgada e exibindo para todos aquele abdômen erroneamente descoberto, vinha Sirius Orion Black. E digo erroneamente porque ele não devia andar por aí sem camisa exibindo seu físico, arrisco em dizer, extremamente sedutor. Ah, e detesto admitir, mas porque ele tem que ser tão atraente? Bom, mas ele é o exemplo perfeito daqueles livros que tem um design de capa exuberante, mas o conteúdo que acompanha as páginas é uma desgraça total. Não é como se a gente se odiasse, é só que eu simplesmente não concordo com o jeito que ele trata as mulheres. Como se fossem todas objetos, ou coisa mais insignificante que ele pode se desfazer em dois segundos. Além do que, Black tem um pensamento ligeiramente machista e eu ligeiramente feminista. Mas ligeiramente mesmo. Não somos os fanáticos das ruas e dos protestos. Então basicamente, passamos a vida, ou melhor, desde o fundamental a implicarmos um com o outro e às vezes quando eu estou muito irritada (o que é quase sempre) ele acaba por levar uns tapas.

Bufei com desdém.

— Esse “bofe” aí eu dispenso. Obrigada – profiro virando tranquilamente para frente para tomar meu suco e torcendo mentalmente para que Black não resolva vir até aqui.

— O de sempre Gooz – uma voz grave soa às minhas costas e eu fecho os olhos em descrença. Sim, ele veio até aqui. – Ninguém merece, eu esperava ter que te aguentar só amanhã.

Começou.

— Que pena. E eu esperava não ter que te aguentar nunca mais. Parece que ambos nos enganamos não é? – provoco sem fitá-lo. É incrível como os anos se passam e ele não muda nem um pouco.

Ele ri sem humor e apoia-se no balcão ao meu lado.

— O que tá fazendo aqui sozinha? O seu namoradinho permitiu foi?

— Para começar o que eu estou fazendo aqui não te diz respeito e segundo que eu não preciso da permissão do Stefan para ir à praia. Aliás nenhuma namorada precisa, se quer saber. – não falei que divergíamos nas ideologias?

— Eu discordo – ele comenta depois que beberica seu drinque trazido por Gooz – Garanto que nenhum homem gostaria de ver a sua garota desacompanhada em uma praia ainda mais nesses trajes tão chamativos – e pelo soar de sua voz, ele deveria estar me olhando de cima a baixo. Me irrito com isso e finalmente o encaro.

Seus cabelos lisos e negros balançavam sedutoramente de acordo com a intensidade do vento. O rosto esculpido detalhadamente com traços firmes e másculos atraíam ainda mais. Os lábios finos estavam ligeiramente curvados em um sorriso de desdém. Porém, pena que tudo isso não me encantava.

— Esse “traje chamativo” é o meu biquíni e seu uso é tão normal quanto um casaco em um dia de inverno. E estar desacompanhado não remete a nada se a base de um relacionamento é a confiança – revido segura de mim.

— Não do meu ponto de vista.

— Então abra os olhos.

Nos encaramos por segundos a fio. Parecíamos estar travando uma batalha para saber quem desviava o olhar primeiro. Eu perdi, não aguentando mais olhar para aquela cara com semblante cafajeste. Nos tratávamos assim desde que eu me lembro, e nunca mudou. Dorcas dizia que era engraçado nossa “relação”, mais eu achava irritante.

Já terminando o meu suco, deixei o pagamento em cima do balcão para Gooz e me retirei depressa dali, mas não sem antes ouvir:

— Até amanhã, McKinnon.

Ainda de costas, mostrei-lhe o dedo do meio e pude ouvir a sua risada debochada.

Eu juro, eu ainda arranco as bolas desse cara e jogo boliche com elas.