Perseu escrita por Risurn


Capítulo 5
O naufrágo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Eu queria agradecer por todos os comentários, todo o carinho ♥ Eu acho que já respondi quase todo mundo, então, muito obrigada por tudo!



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Annabeth ouvia apenas o som de sua respiração enquanto corria pelos corredores do palácio. Seus pés descalços tocavam o chão de pedra enquanto suas mãos seguravam as saias do vestido. Haviam guardas nas portas do seu quarto, evitando que saísse, mas ela não podia ser contida por muito tempo.

Desde que acordara quase uma semana antes, na costa de Chillon, sem saber como chegara lá, ela sentia que estava perdendo algo muito importante. Sua mãe havia decidido limitar o contato dela com o mar por um tempo, até saber o que acontecera de fato.

Quando a encontraram, havia marcas de outro corpo ao seu lado na areia, bem como marcas de mãos, mas não foram encontradas pegadas que guiassem o caminho até o possível salvador, se é que ele realmente existia, ou realmente a salvara.

A princesa prendeu a respiração, quando pensou ter ouvido alguém se aproximar em um dos corredores, mas suspirou aliviada ao constatar que era apenas um pássaro batendo as asas em uma das aberturas nas paredes. O sol estava nascendo e o tempo dela, acabando.

O naufrágio não havia deixado vítimas, apenas alguns feridos. Ela quase fora a única a morrer.

Annabeth precisou se esgueirar entre diversos becos e passagens até chegar à uma saída que não estava sendo vigiada pelos olhos de águia da rainha-mãe.

Rainha-mãe, sim, porque o pai da garota morrera muitos anos antes, em uma peste que se espalhara pelo reino. A garota só não havia sido coroada rainha até aquele momento por não ter atingido a maioridade. Quer dizer, Annabeth havia feito dezoito anos havia uma semana, estando apta para o trono, mas ainda faltava um detalhe importante para o povo.

Ela bufava e revirava os olhos apenas em pensar.

Marido.

A Rainha-mãe organizara diversas viagens da filha até outros reinos para conhecer os mais diversos príncipes, mas nenhum a agradara. Egocêntrico demais. Conservador demais. Controlador demais. Um completo mimado.

Agora, com o acidente em pauta, a rainha decidira não enviar mais a filha. Todos os pretendentes teriam de viajar até seu país, e as cartas já começavam a chegar.

Annabeth estava irritada com toda aquela situação. Estava ainda mais irritada por ter se perdido entre os corredores do palácio.

— Por que tantos corredores? Quantas pessoas vivem aqui para precisarmos de tantos corredores?

Ela bufou, levantando ainda mais as saias e apressando o passo. Era uma questão de tempo até ser localizada.

Na realidade, ela não queria casar ainda. Ela sentia em seu coração que poderia ser uma rainha sem um rei ao seu lado, mas o povo não acreditava naquilo, então ela também não podia ter a liberdade para acreditar.

E se não podia ser livre para escolher casar ou não, ela gostaria de poder escolher com quem fazer isso. Apesar dos esforços da mãe e da tia para serem compreensivas e darem seu tempo, ela sentia a impaciência de ambas. A rainha não poderia segurar o trono por muito mais tempo sem que rebeliões estourassem em todo o reino, acusando-a de não ceder o poder. Emires cheios de veneno, lutando a cada dia por uma porção da riqueza da família real.

Annabeth sabia de tudo aquilo.

Mas não ficava menos irritada por isso.

E por estar tão imersa em pensamentos, ela não conseguiu notar a outra garota se aproximando, que a puxou pelas saias do vestido para o lado.

A garota tapou a boca de Annabeth com as mãos e pediu silêncio, enquanto uma nova ronda de guardas surgiu depois da curva.

Assim que eles se afastaram, Annabeth sussurrou, desejando gritar.

— Silena! Você quer me matar do coração?

A garota de olhos azuis deu uma risada, como se estivesse fazendo a coisa mais divertida do mundo.

— Minha rainha. – Ela continuou rindo, fazendo a reverência com os dedos na testa. Silena era a única pessoa do palácio que tratava Annabeth como se ela já fosse a governante do reino. – Você quer se pega se arrastando por aí?

Annabeth soltou as saias do vestido e levou uma mão ao peito. Silena era a filha de sua tia Afrodite, e de longe, a garota mais bonita de Chillon. Era também a dama de companhia da princesa, e provavelmente, o maior motivo de dor de cabeça da mesma.

— Eu não quero ser pega.

— Então por que não pediu minha ajuda?

— A essa hora? Eu achei que você estivesse dormindo.

— Eu acordo junto com o sol, prima.

Annabeth revirou os olhos.

— Como eu pude esquecer? Você adquiriu esses hábitos saudáveis depois de se aventurar pela cozinha.

Silena deu de ombros, tentando desviar do assunto. Aquele era um ponto complicado.

— Mas o que você faz aqui sayiddi? Por que não pediu para alguma das criadas levarem até você o que quisesse?

Annabeth suspirou.

— Eu só queria ficar lá fora por cinco minutos. Sinto que eu posso lembrar o que aconteceu se ficar por lá durante mais tempo, mas minha mãe não quer me deixar sair.

Silena fez um bico e pareceu pensar.

— Tia Atena anda muito estranha nos últimos meses. – Ela estalou os dedos, como que tendo uma ideia. – Eu já sei! Vamos fazer como nos livros que você lia para mim, vem comigo.

Silena a puxou pelo pulso, guiando Annabeth com maestria pelo labirinto de corredores. A princesa não pôde deixar de se perguntar como Silena havia adquirido conhecimento sobre toda aquela área do palácio tão repentinamente, ou como ela conseguia fazer penteados tão elaborados junto com o nascer do sol. O cabelo negro e trabalhado descia até o meio das costas, fazendo um belo contraste entre ambas.

Elas pararam de correr quando chegaram na cozinha e a garota começou a sussurrar em uma direção que Annabeth não conseguia enxergar.

— Charles! Charles! Venha aqui.

Um rapaz, aparentemente da mesma idade que elas, mas muito maior que ambas, levantou enquanto soltava as ferramentas que segurava para consertar algo nas fornalhas e se aproximou de Silena. A princesa não conseguiu evitar notar como a prima parecera mais cheia de vida mesmo com aquela breve aproximação.

— Eu... Eu achei que você já tivesse ido embora.

Annabeth abaixou seu olhar discretamente para as mãos deles que se tocaram e compreendeu. Então era ele. Aquela sim seria uma grande dor de cabeça.

— Eu precisei voltar. Você trouxe o seu manto hoje? – Ele assentiu. – E nós podemos usar a saída da cozinha?

— Nós...?

Ele pareceu confuso e só então notou a presença de Annabeth. Silena sussurrou algo que a outra não conseguiu ouvir e imediatamente Charles arregalou os olhos, em uma reverência e levando os dedos a testa, mantendo os olhos no chão.

— Tudo bem. – Ela se apressou em impedir que ele não olhasse para ela, abanando as mãos. – Eu só preciso sair.

Ele assentiu, correndo para pegar o manto, que agora parecia ainda mais sujo e velho aos seus olhos.

— Venham por aqui.

Annabeth cobriu seu rosto com a capa e os seguiu silenciosamente, como uma sombra. Quando finalmente chegou no lado de fora, seus pés descalços tocando a areia, ela pensou que pudesse chorar de emoção. Teve também a bondade de fingir que seus dedos dos pés eram muito interessantes enquanto Charles e Silena se despediam, com juras sussurradas.

Silena se aproximou sorrindo e nem ousou olhar para Annabeth.

— Nenhuma palavra ou eu arranco a sua língua.

— Então era ele o tal pretendente secreto? – Annabeth não conseguiu se conter.

Sayiddi!

— Sua mãe sabe sobre isso? – O silêncio da prima enquanto elas andavam em direção à uma das costas mais vazias a fez suspirar. – Isso pode te trazer problemas. Sua mãe vai querer...

— Que eu me case com alguém importante. Sei disso.

O silêncio permaneceu entre elas por mais um tempo antes de Annabeth completar.

— Mas ele é bonito.

— É um sonho, não é? – Silena seguiu rapidamente, saltitante pela praia.

Elas começaram a conversar e rir, como se nada mais importasse naquele mundo além delas, então Silena congelou no lugar e olhou fixamente para frente.

Annabeth virou para tentar ver o que a prima vira e respirou fundo, curiosa e assustada.

Havia um homem nu, com os pés cortados e o corpo completamente sujo de areia, desmaiado na beira do mar.

E Annabeth tinha certeza que o conhecia.


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Notas finais do capítulo

Emir: nobre do reino, semelhante a um duque. Normalmente donos de terra e participantes da corte.
Sayiddi: título de respeito para com o rei ou a rainha; traduzido como “meu senhor” ou “meu amo”.
Espero que tenham gostado desse ponto de vista diferente, vejo vocês nos comentários!
Acessem o meu tumblr pra ver o aesthetic da nova personagem, beijos ^^