Perseu escrita por Risurn


Capítulo 4
A Destruição


Notas iniciais do capítulo

MUITO OBRIGADA POR SEREM LEITORES TÃO MARAVILHOSOS ♥



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O sol já havia sumido da superfície há algum tempo e Percy finalmente recuperara a consciência. Conforme o tritão nadava através da cidade, para perto de sua caverna, Perseu ouvia suspiros de alívio direcionados a ele, que seguia sem entender nada.

Assim que ele entrou em sua caverna, tudo começou a fazer sentido.

— Já refiz as buscas várias vezes na última hora sayyidi, só nos resta mandar um grupo de busca até a costa.

Poseidon estava com as mãos apoiadas no rosto, parado ao centro da caverna e observando os tesouros distribuídos pelas prateleiras.

— Onde será que ele está, Nico jan? Você acha que teremos sucesso nas buscas?

Uma sensação ruim percorreu o corpo de Nico. E se Thalia, o pior anjo da guarda, tivesse encontrado Perseu, realmente acreditando que ele era uma ameaça? E se ela o tivesse machucado? Ainda pior, o matado? Perseu era burro o suficiente para ser morto por ela?

— Eu mantive você ao meu lado por tantos anos porque você é diferente, Nico jan. Sua força e seu poder não são iguais aos outros tritões, e você sabe disso. Eu achei que pudesse confiar a você a missão de proteger meu filho.

Nico olhou para o chão, desconcertado. Nas últimas vinte e quatro horas ele havia sido lembrado duas vezes que não é igual aos outros. Que não é apenas um tritão. Que tem uma história sombria.

— Sinto muito, sayyidi. Irei encontrá-lo.

Poseidon suspirou, e negou com a cabeça, ainda de costas para Nico.

— Por que aquele... aquele... Por que ele tinha que ir até a costa? Ele não podia deixar a humana morrer? Era só mais uma entre tantas!

Nico ponderou, sem saber exatamente o que falar.

— Bem. Ela era a princesa. Mas o senhor tem razão, sayyidi. Era apenas uma humana.

Poseidon ofegou e tremeu, segurando seu tridente com mais força.

— A princesa? Ele desapareceu, tentando salvar a princesa? – O tritão se assustou com o tom de voz de Rei. Da surpresa para a fúria, Poseidon parecia estar tentando conter uma raiva que Nico nem imaginava que ele continha.

— Malditos sejam, realeza de Chillon!

E com um grito, Poseidon direcionou sua fúria para fora, destruindo dúzias de prateleiras ao seu redor. O clarão que havia surgido deixou todos momentaneamente sem visão, e, quando ela retornou, toda uma lateral havia desmoronado. Nem tudo estava perdido, mas havia muito danificado.

Nico parecia petrificado, mas Perseu nadou a frente, saindo de seu esconderijo.

Baba. — Ele estava em choque. Um pedaço da sua coleção, destruído em um rugido de raiva.

— Perseu jan! ­– Nico nadou até ele, envolvendo-o em um abraço. Ele estava aliviado por não ter causado a morte do amigo. Nico se culpara por horas e horas a fio. Deveria tem impedido que ele salvasse a humana? Deveria ter apressado a morte dela? Deveria ter deixando Thalia morrer? Deveria ter seguido a eles? Tantas, tantas perguntas sem resposta. – Onde esteve o dia todo?

Baba.— Ele repetiu, sem forças. Poseidon tremia ao centro, ainda de costas para ambos. – O que você fez?

Nico segurou o braço de Percy com força, temendo o que se aproximava.

— O que eu fiz? – Poseidon rugiu, se voltando para eles. – O que eu fiz? O que você fez, Perseu! Você quer condenar a todos nós? Tudo bem não dar valor à sua própria vida, aos seus amigos, à sua família. Mas não dar valor ao povo do mar? Ao meu povo? Você sabe o que poderia ter acontecido? Você podia estar em uma rede de pesca agora. Você podia estar sendo estripado em um navio pesqueiro. O povo da terra nos odeia. Eles fariam tudo para nos destruir. Eles caçariam até o último tritão e sereia do oceano!

— Como você pode saber? Eles são gentis, engraçados, divertidos! Dançam, cantam, sorriem, conversam, assim como nós!

— Você só viu uma humana e se apaixonou? Seu senso de julgamento está comprometido? Não acredito que pensei que você estava pronto para ser rei quando um par de pernas consegue tirar toda a sua racionalidade!

— É claro que não! E eu nunca disse que estava pronto para ser rei. Eles são como nós baba! – Percy tentou suavizar a voz – Eles até mesmo se colocam em risco por outros!

— Eles não são como nós Perseu! – Poseidon gritou. – Eles dizem que o povo do mar não tem alma por vivermos centenas de anos a mais do que eles. Eles dizem que o povo do mar não tem alma por virar espuma do mar após a morte. Eles dizem que o povo do mar não tem alma, pois não temos um céu para ir ou um inferno. São eles quem não tem alma. Eles são cruéis, destroem tudo o que tocam. Só se importam consigo mesmos e rejeitam tudo o que vem do mar! – Havia rancor e mágoa na voz do Rei. – Eles não se importam com o que sentimos. Não estão dispostos a esperar ou se sacrificar por coisas que importam!

Perseu estava estático, assim como Nico.

Baba...

— É por isso que eu vou lhe ensinar uma lição. Algo que eu deveria ter ensinado a muito tempo.

E então, reunindo seu poder, Poseidon deixou tudo fluir. Sua mágoa pelo segredo mais profundo. Sua frustração pela maior perda. Sua dor pela maior decepção.

Tudo brilhou e sacudiu, a luz era tão brilhante que seus corpos esquentaram. Nico pulou à frente de Perseu, tentando protegê-lo da melhor forma possível da fúria do rei, mas o que Poseidon estava atingindo dentro dele, Nico não podia proteger.

Poseidon destruiu tudo.

Perseu continuou em choque durante os longos minutos que se seguiram, muito depois do rei ir embora tentando não demonstrar culpa, e muito depois de Nico tentar encontrar algo entre os escombros.

“E não restará pedra, sobre pedra. ”

O príncipe já havia ouvido aquela frase antes, mas nunca havia sequer sonhado com a magnitude dela. Não restara nada. Nem um único item. Nem uma única lembrança. Nem mesmo as paredes da caverna. Tudo ruíra. Seu refúgio de anos, o lugar que era realmente sua casa, aos seus pés.

— Me desculpe. – Nico se aproximou e colocou a mão no ombro de Perseu. – Percy jan... Eu não queria que as coisas terminassem assim.

Perseu não conseguia levantar a cabeça, mas assentiu.

— Olhe pra mim, por favor. Eu... Eu vou ajudar você a reconstruir tudo isso. Nós podemos visitar todos os navios abandonados que você quiser, e visitar Ella todos os dias! Quem sabe a gente consiga levar o Tyson algumas vezes. Prometo não contar nada ao seu pai. Você sabe que no final de tudo, sou fiel apenas a você, não sabe?

Percy levantou a cabeça e encarou o amigo. Ele entendia Nico, entendia de verdade. Ele ficara preocupado após a tempestade. Percy esteve fora por uma noite e um dia inteiro. Ela normal estar preocupado. Era normal ter levado o assunto até Poseidon quando ficara inadiável. Era normal querer apenas o bem do príncipe.

Mas ele não queria que fosse.

Mesmo assim, sorriu tristemente, mesmo que suas mãos estivessem fechadas em punho.

— Nico jan. — O tritão de cauda negra levantou os olhos. – Pare de se culpar. Tudo bem. Eu não culpo você.

Perseu suspirou, fazendo uma reverência ao amigo. Primeiro, com a mão na testa, depois levou a mão ao coração.

Respeito. E afeição.

O príncipe se virou, nadando para fora, deixando Nico atordoado. Ele não tardou em nada atrás do amigo, temendo o que poderia vir a seguir.

Sayyidi, me espere.

Percy parou e se virou para Nico.

— Não sou seu rei. Não me chame assim.

Nico piscou, ainda atordoado.

— Mas você será rei um dia.

— Tritão. – Ele falou com firmeza, o corpo tremendo. – Tritão será rei. Eu não serei.

— Você é o único que seguirei como rei.

— Eu não quero ser o rei. Eu não quero me tornar alguém como Poseidon que criou medo. Medo de viver. Medo de descobrir. Medo da superfície.

— Então você vai voltar para lá?

Percy respirou fundo, tentando evitar que o peito tremesse e olhou no fundo dos olhos do amigo.

— Eu nunca mais subirei até a superfície Nico. Se você realmente tem lealdade à mim, não me siga. Me deixe sozinho.

O tritão parecia realmente atordoado conforme via Perseu nadar para longe.

— Mas... Mas ele... Ele disse que não queria viver com medo.

Nico suspirou, olhando ao redor. Ele tinha muito trabalho a fazer. Precisava reconstruir a caverna. Precisava conversar com Perseu e o rei. Precisava... Precisava de férias.

Nadando de volta para a caverna, ele viu um brilho claro ao longe. Era algo branco e grande, que o fez nadar até mais perto.

Ao avistar claramente a forma da estátua e reconhece-la da noite anterior, Nico entendeu porque Percy não queria mais subir à superfície.

Ele estava ferido. Perdera tudo o que construíra a vida toda com um único balançar do tridente de seu pai. Percy não gostaria de ter um poder destrutivo com aquela magnitude. Percy tinha o coração bom demais para querer ter poder de acabar com uma vida inteira de memórias daquela forma.

Nico percebeu que Percy tinha medo. Não os medos de Poseidon: do que havia na superfície, viver e descobrir. Percy tinha medo do oceano. Medo de querer fugir do oceano.

Percy tinha medo de querer viver na superfície.

Nico ofegou, carregando a estátua. Ele tinha um plano, então era melhor começar a colocá-lo em prática.

O que ele não tinha como saber é que uma criatura muito mais sombria e antiga que o próprio oceano também chegara às mesmas conclusões que as dele. E, diferente de Nico, a nova criatura não mediria esforços para realizar as vontades de Perseu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥

Sayyidi - título de respeito para com o rei ou a rainha; traduzido como “meu senhor” ou “meu amo”.
baba - pai
jan - um termo carinhoso que significa “minha querida”, “meu querido”