Perseu escrita por Risurn


Capítulo 2
A Tempestade


Notas iniciais do capítulo

MUITO OBRIGADA pelo carinho enorme que vocês estão dando para Perseu!
Eu ainda não respondi os comentários - que foram uma grande surpresa - mas farei isso assim que possível. Só tenho a agradecer, mesmo!



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Percy perdia todo o brilho e alegria inocente de quando procurava por mais sobre os humanos quando estava diante de Poseidon. Agora ele era Perseu, o filho mais novo do rei dos mares e precisava provar o tempo todo que era forte o bastante.

— Você me desapontou mais uma vez. Arruinou tudo.

Percy encarou seu pai nos olhos, depois desviou a atenção para Nico, atrás dele. Eles eram amigos desde sempre, mas agora ele apenas lhe lançava um olhar de repreensão. Provavelmente Nico também fora punido.

Sentados em tronos menores, como num conselho, todos os irmãos de Percy o observavam. Percy levou três dedos à testa e se curvou, numa reverência.

— Me perdoe, sayyidi. Eu perdi completamente a noção do tempo.

À direita do pai, Tritão tremia no trono. Raiva condensada.

Perdeu a noção do tempo? Você nos fez passar vergonha na frente de todo o reino!

O olhar de Perseu não vacilou. Apesar de agora Tritão estar de pé após gritar com o irmão, ele não desviava os olhos de Poseidon. O rei não parecia furioso como o filho, apenas triste e desapontado.

— Foi minha culpa! – A peixinha preta se adiantou. – Quer dizer, foi minha culpa, sayyidi. Eu fiquei muito nervosa e chamei a atenção de um tubarão. Perseu foi forte e nos salvou, mas falamos tempo demais com Ella e perdemos a noção das...

— Falaram demais com Ella? – Poseidon rugiu de seu trono.

Os olhos de Percy se arregalaram ante a frase que a peixinha deixara escapar. Os olhos de Tyson se voltaram rapidamente para o irmão, numa pergunta silenciosa: “ela está bem? ”. Percy só teve tempo de assentir discretamente antes que seu pai gritasse outra vez.

— Você foi procurar sobre os humanos outra vez, não foi? Você estava na superfície, não estava?

Sra. O’Leary se escondeu atrás do corpo de Percy que a olhou em repreensão.

— Pai. – Ele suspirou. – Nada aconteceu.

— Nada aconteceu? Você não respeita nossas leis! Pai! Ele deveria ser punido! – Tritão ainda gesticulava e parecia muito, muito irritado.

— Basta Tritão. Eu sou o rei e eu sei o que deve ser feito. – Seu olhar se voltou para Percy. – Quantas vezes nós vamos ter que discutir isso? Você podia ter sido visto por um daqueles... Bárbaros. Um daqueles humanos.

A repulsa em sua voz era clara, bem como a decepção entre as palavras.

— Eles não são bárbaros. – Percy tentou defende-los. Havia muito em jogo para voltar atrás agora.

— Eles são perigosos! Eu não quero ver você preso entre as redes de um navio pesqueiro! Você é o futuro no nosso reino! – O olhar do rei de suavizou. – E eu me preocupo com você Perseu jan.

Os olhos de Tritão fervilharam de raiva, algo que não passou despercebido para Perseu. O filho mais velho curvou-se em direção ao pai, com três dedos na testa e saiu da sala, nadando furiosamente.

Percy suspirou.

Baba. Eu não quero ser o futuro do reino. Todos os meus irmãos – ele apontou para os príncipes nos tronos – são muito mais preparados do que eu para governar. E Tritão... Tritão é o mais velho. É o mais forte. Ele deve ser o próximo rei, sayyidi.

— Tritão não está pronto.

— Eu também não! – Percy gritou sem se dar conta. Todo o estresse e frustração acumulados.

— Não ouse levantar a voz para mim outra vez! Se você parasse de tentar ir até a superfície e prestasse atenção nas coisas realmente importantes, estaria preparado para isso.

— Mas se você só me ouvisse...

— Eu nunca ouvirei você falando sobre isso! E eu nunca permitirei que você vá. – Ele se acomodou ao trono. – Eu não queria fazer isso Perseu, mas você não me dá escolha. Nico, a partir de hoje você está encarregado de vigiar Perseu a fim de impedi-lo de voltar a superfície. Os dois serão severamente punidos caso eu descubra alguma transgressão. Eu fui claro?

Nico encarava Percy negando com a cabeça, mas se curvou atrás do rei, levando a mão a testa.

Sayyidi.

Percy permaneceu em silêncio, encarando o pai sem acreditar.

— Fui claro?

Ele travou o maxilar e seu curvou, levando a mão a testa.

— Sim, sayyidi.

Seu tom de deboche era claro, e ele saiu nadando da sala para longe.

— Siga-o. – Nico saiu da sala e Poseidon suspirou. – Eu temo estar sendo duro demais, mas isso é apenas para o bem dele, não concordam?

Os outros príncipes, que estavam em silêncio até o momento permaneceram da mesma forma, perdidos em pensamentos. Tyson, em especial, gostaria de defender a injustiça sobre o irmão, mas apenas negou com a cabeça. Todos responderam em uníssono.

— Sim sayyidi.

Ao longo dos corredores do palácio, Nico resmungava sozinho.

— Eu não deveria ser babá de um tritão crescido! Ele deveria saber a diferença entre o certo e o errado sozinho! Eu deveria procurar por minérios nos oceanos, ficar famoso por descobertas, mas estou aqui, preso à um príncipe de temperamento horrível. Se ele não fosse meu amigo...

A verdade é que Percy e Nico cresceram praticamente juntos. Aprenderam a lutar um com o outro e, conforme avançavam em idade, a força de Percy se destacava sobre ele. Era claro que ele havia sido o próximo escolhido pelo oceano para fazer algo importante.

Nico viu o amigo pegando uma bolsa entre os corais e nadando para longe.

— Onde esse encrenqueiro vai agora tão tarde da noite?

Nico o seguiu por um bom tempo, nadando para longe dos limites do continente submerso de Atlantis, até ver uma caverna fechada por algas. Percy se esgueirou entre as folhas seguido pela Sra. O’Leary e Nico entrou logo atrás.

Mas o que ele viu o fez prender a respiração.

Perseu nunca mostrara aquele lugar para ele antes.

Ele depositou dois objetos estranhos nas enormes prateleiras e se sentou ao chão. A caverna era redonda e se estendia por muitos metros acima deles, preenchida por objetos... Humanos, e no topo, havia uma abertura, atrás dela, Nico pode ver a lua distorcida pela água. Uma sereia conseguiria passar facilmente pela abertura, agora, um tritão... Era praticamente impossível. Ele conseguia ver a engenhosidade da caverna.

Nico se escondeu atrás de uma formação rochosa e esperou para ver o que aconteceria. A peixinha se aproximou de Percy, que apenas suspirou.

— Tudo bem?

O tritão assentiu.

— Se meu pai... Se ele ao menos me ouvisse. Tudo seria diferente. Eu não vejo as coisas como ele. Como um guerreiro, sei que a maldade existe em todo lugar, mas eu não consigo ver... Como um mundo que faz tantas coisas maravilhosas – ele olhou para as paredes – possa ser mau. Entende?

— Perseu...

— Eu quero mais. Olhe ao redor. Eu sou o príncipe dos mares, talvez o futuro rei! Eu tenho tudo. Mas eu não tenho pés! – Nico arregalou os olhos, compreendendo o que o amigo dizia. – Eu não posso andar, não posso correr, nem dançar ou pular. Minhas barbatanas me limitam. Minha cauda não me permite fazer metade das coisas que gostaria. Eu não sei qual é a sensação de sentir o calor do fogo, ficar o dia todo no sol, perambulando por ai e fazendo nada! Aposto que lá, em terra, os pais são mais compreensivos.

Nico estava assustado com as coisas que ouvira. Percy estava fora de si.

Ele suspirou.

— Eu só queria... Só queria fazer parte do mundo deles.

Nico escorregou em seu esconderijo, batendo num número sem fim de bugigangas que ele não saberia dizer o nome e fazendo um barulho sem tamanho.

— Quem está aí? – Percy voltou a nadar, olhando ao redor, até identificar a cauda negra de Nico. – Ah, é você.

Nico suspirou, frustrado por ser pego e se desvencilhou dos objetos. Ele nadou até perto de Percy e olhou ao redor.

— O que é tudo isso Perseu jan?

Ele bagunçou ainda mais o cabelo que era constantemente despenteado pela água.

— É só... A minha coleção.

Nico suspirou, ficando irritado.

— Isso eu posso ver sozinho. Se Poseidon souber sobre isso...

Sra. O’Leary se adiantou na frente de todos.

— Você não vai contar, vai?

Nico suspirou, negando com a cabeça.

— Eu não quero prejudicar você. Vamos. – Ele encostou no ombro do amigo. – Vamos voltar para Atlantis. Conversaremos melhor...

Uma sombra os cobriu de repente, fazendo-os olhar para cima. A sombra da lua estava oculta por alguma coisa.

— Mas o que... – Nico mal teve tempo de perguntar, e Percy já saíra nadando em disparada para fora. – Perseu!

Percy não queria saber de mais nada. Ele nadou velozmente até a superfície e o viu. Era um enorme barco! Ele nunca havia visto um daquele tamanho, e muito acima dele, luzes explodiam nos céus, clareando tudo. Percy achara que nunca vira algo tão belo. Ele nadou, se aproximando da embarcação e se agarrou à uma beirada, subindo nela e espiando dentro do navio.

Quantas cores! E havia um som... Música. A música dos humanos era diferente da música do mar. Era mais agitada e fazia Percy ter vontade de se mexer. Homens pulavam para cima e para baixo e antes que ele se desse conta, uma ave branca voou até ele. Percy a analisou com cuidado. Nunca vira uma espécie daquelas... Era tão diferente, e bonita! Ela o analisou por um tempo e uma voz a chamou, fazendo-a voar.

— Ei, Branca, o que estava fazendo ali? Quer cair no mar? – A risada ecoou pelo convés. – Não me assuste assim ou terei de lhe colocar em uma gaiola até chegar em casa, ouviu? – A ave ameaçou voar outra vez e a criatura a agarrou. – Eu lhe avisei, sinto muito Branca! – E então, colocou o pássaro em uma espécie de prisão metálica, mas brincou com ele entre as grades e lhe deu algo para comer.

Percy arregalou os olhos ao ver a criatura que falava com o pássaro estranho. Ela não se parecia com os outros humanos que ele vira em barcos. Ela parecia uma sereia, mas com pernas e pés! Ele não sabia que haviam fêmeas daquela espécie. E ele não podia negar o quão bela era ela. Ele sorriu, abobalhado, acompanhando-a com o olhar. Ela era mais bela que qualquer princesa sereia que ele já vira!

Ao longe, Nico chegara a superfície, um pouco atrás, sendo seguido pela Sra. O’Leary.

— Isso vai render o meu pescoço! – Ele nadou até se aproximar do amigo e fez sinal para baixo. – Percy! Volte para a água!

— Eu nunca vi um humano tão de perto antes, e, olhe, existem humanas também!

— É claro que existem humanas, ser lerdo!

— Oh, venha. Não quer vê-los de perto também? Eles não parecem assustadores!

Nico firmou as mãos entre as madeiras do navio e içou o corpo até chegar a Percy.

— Isso é um caos completo! – Nico olhou para a peixinha assustada com as luzes do céu e tentou suavizar a expressão.

Ele apontou para a humana loira no centro do navio.

— Ela não é linda?

Nico bufou e voltou a encarar o mar.

— Ela é uma humana e nós deveríamos voltar para a água.

Percy ignorou Nico, perdido entre pensamentos ao analisar tudo. Ele queria absorver todas aquelas coisas.

— Silêncio, silêncio. Como tia, sei que devo ser a primeira. – Uma nova mulher surgiu, mais velha que a garota que dançava no meio do navio. Ela também era extremamente bonita. A mulher se aproximou de algo realmente grande coberto por um tecido no centro do convés. – É uma grande honra presentear a nossa princesa Annabeth com um enorme, belo, maravilhoso, sensacional, divino... Presente de aniversário!

Ela curvou o corpo em uma reverência, levando a mão à testa.

— Oh, Afrodite effendi. – Ela abraçou a mulher. – Você não deveria ter se dado o trabalho!

— Eu sei. – Ela sorriu, saltitante. Percy observou como era diferente alguém ficar pulando daquela forma. – Feliz aniversário Annabeth!

E então, puxou o tecido.

Percy inclinou a cabeça, para ver melhor.

Era uma estátua da garota que parecia se chamar Annabeth. A estátua tinha os cabelos soltos, ao contrário da garota que a observava. E também não havia tantos tecidos sobre ela. Apenas alguns panos jogados. Percy estava vendo partes de uma mulher que nunca sonhara em ver antes. E estava curioso para ver mais.

A garota tentava fingir animação.

— Ãn... É um pouco reveladora demais, não acha?

— Besteira. – A tia sacudiu as mãos. – Você está sendo muito conservadora agora. Aposto como isso lhe trará um marido rapidamente!

— Oh tia, outra vez essa história?

Nico deu uma cotovelada em Percy.

— Agora chega. – Ele sussurrou. – Vamos voltar e eu vou fingir que isso nunca aconteceu.

— Só mais um pouco. – Ele sussurrou de volta, encantado com a garota.

— Você não está chateada que eu tenha rejeitado o príncipe de Gales, não é? Eu realmente... Não cai de amores por ele. Um bárbaro completo.

— Ora, vamos, todo o reino quer que você encontre alguém e seja feliz. Não sou somente eu!

— Eu sei. E eu estou procurando. – A princesa se aproximou de onde eles estavam, fazendo Nico congelar. – Eu sei que ele está por aí, em algum lugar.

— Talvez você não esteja procurando o suficiente.

— É obvio que estou! E eu sei que quando eu o encontrar, eu vou sentir! – A princesa observou o continente se aproximando ao longe e suspirou. – Vai ser como... como se um raio me atingisse!

E como se o oceano a ouvisse, um raio retumbou nos céus. Uma grande tempestade surgiu do vazio.

— Percy! Precisamos ir agora! Sra. O’Leary, volte para o fundo, você vai se machucar!

A peixinha tentou resistir, mas logo se viu afundando nas ondas. Ela não queria atrapalhar, mas não podia perder os amigos de vista!

Perseu tentou ao máximo impedir a tempestade de se formar, mas ela parecia estar sendo mantida por um sentimento muito, muito ruim. Puro ódio. Ele arregalou os olhos, compreendendo.

— É Tritão! Ele está causando a tempestade!

Nico se agarrou à lateral do navio que chacoalhava com força. Gotas de chuvas batiam violentamente contra eles enquanto o caos se alastrava no navio.

— Não é para menos. Poseidon disse que você deveria ser o rei, não ele. Mas uma tempestade? Alguém precisa apresentar um terapeuta para Tritão!

O navio começou a chacoalhar com mais força e Nico não conseguiu segurar, caindo no mar. Quando ele emergiu, uma onda enorme o arrastou para o fundo, tirando-o do campo de visão de Percy.

Ele apenas seguia a princesa com os olhos, tentando ter certeza de que ela estava bem.

Mas, assim como o amigo, ele não resistiu por muito tempo e também foi lançado ao mar. Ele sacudia abaixo das ondas e não pode evitar que o navio se chocasse contra uma grande pedra, espatifando-se lentamente.

Quando emergiu, reparou que os marujos desceram barcos menores, com todos entrando dentro deles, inclusive sua princesa.

Ela esticou a mão para a outra mulher, que estava ao lado da estátua que afundava na água.

Mas então, um barulho agudo chamou a atenção da garota.

— Branca! Ela está lá, está presa!

— Annabeth, ela é só uma coruja! Você conseguirá outra depois!

— Nunca!

A garota tirou o vestido que cobria seu corpo, ficando apenas com uma roupa mais leve sobre si e se atirou na água.

— Annabeth!

Ela se pendurou entre as madeiras e escalou até o topo do navio, correndo até a gaiola de Branca. Outro raio se chocou contra o mastro do navio, alastrando ainda mais o fogo que já corria pelo convés.

A gaiola de Branca queimava os dedos, mas a princesa abriu a trava e a jogou para cima, dizendo-a para voar. Não levou muito tempo até a coruja pousar em um dos barcos menores que estavam no mar, apenas esperando pela princesa.

Ela correu em direção a proa, mas seu pé afundou em uma das madeiras que haviam se partido. Ela não contava que o fogo se espalharia tão rápido e em poucos segundos atingiria a pólvora.

E tudo foi pelos ares.


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Notas finais do capítulo

Sayyidi - título de respeito para com o rei ou a rainha; traduzido como “meu senhor” ou “meu amo”.
baba - pai
jan - um termo carinhoso que significa “minha querida”, “meu querido”.

Espero que tenham gostado, até semana que vem! ♥