Perseu escrita por Risurn


Capítulo 1
A Falha




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***

Além do oceano, muito abaixo do reino de Chillon, onde as águas são azuis como o céu e claras como cristal, é possível encontrar Atlantis.

Lá, nem mesmo os mergulhadores mais hábeis conseguiam chegar. Nem mesmo a construção mais alta de Chillon poderia alcançar o começo do reino do Rei dos Mares.

Por lá era possível encontrar tudo o que há de mais belo. Haviam as flores, os corais, e todas as preciosidades. Nem mesmo o mais rico dos reis do reino terrestre sequer sonhariam com as riquezas e belezas de Atlantis, ainda mais no dia de hoje.

Era o momento dos filhos de Poseidon fazerem uma exibição de seus poderes para assegurar o povo. O Rei queria deixar evidente para todos a força vinda de seus filhos e quão dignos todos eram de governar em seu lugar no futuro.

Todos do reino aquático se posicionavam ansiosos nas arquibancadas tentando ter uma boa visão das apresentações. Ora, era de conhecimento geral que todos os filhos herdaram todas as habilidades do rei, mas cada um se destacara em uma área específica.

A voz de Poseidon soou por vários quilômetros no oceano.

— Hoje, meus filhos irão lhes mostrar o que é poder. Quando os desprezíveis humanos tentarem matar nossas famílias, roubar nossos peixes e poluir nossas casas, eles irão defendê-los. Meus filhos irão salvá-los.

Todos curvaram os corpos, levando três dedos a testa em uma reverência. Era um sinal de respeito. Poseidon era aclamado por todos no reino. Ele era realmente o grande rei. Após isso, vivas soaram por todo o mar.

Quando a trombeta soou, Tritão, o filho mais velho, saiu de uma das grandes portas do anfiteatro, trazendo vários gritos de alegria. Sua força era conhecida por todos, mesmo à distância. Ele vinha brandindo um tridente e o levantou em direção ao pai, e levou três dedos à testa. Assim que Poseidon retribuiu o gesto, ele começou.

As portas do outro lado se abriram, dando passagem para outros três tritões. O filho mais velho revirou os olhos, ofendido com a mera sugestão de que três seriam sequer uma promessa de desafio para ele.

Assim que brandiu seu tridente, a correnteza das marés mudou e todos se agitaram em expectativa. Ao olharem para cima, podiam ver as grandes ondas na superfície. A habilidade de Tritão consistia em criar grandes tempestades, capazes de derrubar até mesmo a mais poderosa das embarcações. Ele desestabilizava o inimigo somente com a força de seu poder. Nadou até eles e atacou com o tridente. Por mais que os outros tritões tentassem, eles não eram páreos para a força dele, que os deixou caídos e feridos.

Os uivos de comemoração eram altos, elevando ainda mais o ego do filho mais velho. Ele se curvou ao pai e sentou no primeiro de sete tronos, acalmando a tempestade.

Depois dele, foi a vez de Tyson entrar. Várias sereias suspiraram ante a aparição dele, deixando-o envergonhado. Ele não pretendia lutar contra outros, como o irmão fizera antes.

Após Poseidon assentir para que seu filho começasse, ele fez sinal para o tritão de pé atrás de seu trono, o chamando.

— Onde está Perseu?

O tritão de cauda peculiarmente negra olhou ao redor, engolindo em seco. Ele riu internamente da ironia, afinal, estava cercado de água.

— Tenho certeza que ele aparecerá para a própria apresentação, sayyidi.

— É bom que ele apareça para o seu próprio bem Nico.

Ele apenas assentiu e se afastou do trono do rei, sorrindo nervosamente. Se Perseu não aparecesse, ele mesmo ia matá-lo.

Tyson atraia todos os animais marinhos para si, e fazia-os obedecer a qualquer comando que desse, organizando as mais belas apresentações com todo tipo de cores e acrobacias. Um dos guerreiros caídos tentou levantar a fim de enfrentar Tyson, atingindo de raspão, sem querer, um dos animais do segundo filho.

Os olhos de Tyson brilharam antes de ele fazer com que os animais o atacassem.

— Ninguém machuca Arco-íris.

Quando o guerreiro pediu por misericórdia, Tyson foi aplaudido por todos, e se dirigiu ao segundo trono, incomodado. Ele detestava ter que ferir alguém.

Depois dele, entraram Hirieu, Megareu, Neleu e Teseu, mostrando suas habilidades em controlar o gelo, curar os feridos, criar terremotos e grandes demonstrações de hidrocinese, respectivamente.

Seis filhos de Poseidon ocupavam seis dos sete tronos. Hoje, o sétimo faria finalmente uma demonstração. Perseu atingira a maioridade e era hora de estrear em sua apresentação de poderes. Haviam boatos em todo o oceano que ele era como o pai, e podia controlar completamente todas as esferas. Ele era, sem dúvidas, o show mais aguardado da noite.

Quando seu nome foi anunciado e ninguém apareceu, um murmurinho começou a correr entre os convidados.

Logo, o tempo foi passando e Poseidon foi perdendo a calma.

Quando tudo começou a tremer no fundo do oceano, sereias e tritões perceberam que precisavam ir embora imediatamente se não quisessem sofrer da ira do seu rei.

O grito que Poseidon dera chamando pelo nome do filho, possivelmente foi escutado por todo o oceano, menos por aquele que precisava ouvir.

Muito longe dali, nadando entre os cascos de navios naufragados, era possível encontrar o jovem Perseu.

Ele nadava sem medo entre todos eles, acompanhado de sua amiga, Sra. O’Leary. Um peixe listrado, preto e branco.

— Sra. O’Leary, nós achamos!

Perseu apontou para o maior dos barcos mais à frente e saiu nadando em direção a ele.

— Percy, eu não sei se é uma boa ideia.

— Então você está amarelando?

— Eu não... Eu só... Só acho que estou ficando doente. É. Doente. Talvez eu devesse ficar aqui fora.

Percy sorriu para a amiga e segurou a bolsa de pano com mais força na mão.

— Tudo bem. Você é quem sabe. Pode ficar aqui fora vigiando os tubarões.

E então, nadou para dentro do navio, sendo seguido por uma peixinha desesperada.

Em sua pressa para entrar, acabou batendo em uma madeira podre, fazendo com que uma parte do navio se abrisse.

— Calma Sra. O’Leary. Tudo bem?

— S-sim. – Ela tremia. – Você acha que realmente existem tubarões aqui?

Perseu apenas negou com a cabeça rindo, sem se dar conta da sombra que rodeava o navio.

— Sra. O’Leary, acho que você encontrou algo aqui em cima! – Percy nadou até um objeto brilhante e o pegou. – Você já viu algo mais belo do que isto? É... é...

— Inútil. Vamos embora.

— Não. Tenho certeza de que Ella saberá o que é isto.

A peixinha, inquieta, olhou ao redor, vendo uma sombra passar pela janela.

— Perseu...

— Uau. Você realmente encontrou um baú de tesouros. Olha pra isso!

Percy olhava maravilhado para um cachimbo, sem saber sua real utilidade ou nome, guardando-o na bolsa.

Ele só teve tempo de levantar a cabeça ao ver sua amiga gritando “tubarão” e manda-lo fugir. Perseu nadou o mais rápido que pode carregando a Sra. O’Leary em seus braços enquanto fugia do predador entre as madeiras do navio. O tubarão destruía tudo a sua volta, assuntando ainda mais a pobre peixinha.

— Espere. Por que eu estou fugindo?

Com um movimento de mão, a água ao redor do tubarão congelou, prendendo-o no lugar.

Ambos pararam para se acalmar, enquanto o tubarão se debatia para tentar se livrar da armadilha.

— Você não é tão valente agora, não é mesmo? – Sra. O’Leary mostrou a língua para o tubarão e ficou nadando ao seu redor, dando uma de corajosa, mas fugiu assim que percebeu a primeira rachadura se formando na prisão de gelo.

— Temos que sair daqui!

Percy a puxou pela nadadeira e nadou rindo em direção à superfície. Ele conhecia de olhos fechados o caminho que o levaria até Ella.

Assim que emergiu, ele viu a pedra da harpia de penas vermelhas e se aproximou.

— Oh, Percy! Você veio cedo hoje. – Ela olhou ao redor e sorriu para ele. – Como está Tyson?

O tritão riu com a menção do irmão. Aqueles dois eram mais enrolados do que tentáculos de água-viva.

— Ele vai bem. Mas... Eu queria te mostrar algumas coisas que encontrei hoje!

— Coisas de humanos? – Ela inclinou a cabeça, com mais interesse.

— Sim! Olhe aqui!

A primeira coisa que a Harpia tirou, foi um garfo. Acontece que haviam muitos anos que ela não tinha contato com humanos e seu conhecimento sobre eles ficava cada vez mais escasso.

— Uau. Você encontrou algo realmente especial aqui.

Os olhos do rapaz brilharam.

— É mesmo? O que é?

— É... É uma Bruguzumba!

— Uma Bruguzumba?

Ele parecia animado com a nova descoberta. Havia tanto sobre os humanos que ele queria saber!

— Sim! Ela serve para pentear os cabelos, assim.

Ella levou o garfo até o cabelo e o passou lentamente entre os fios, encontrando um nó.

— Bem, eu não uso uma dessas há muitos anos. Meu cabelo está precisando de um tratamento com Bruguzumbas urgentemente!

Percy assentiu lentamente, entregando o próximo item: um cachimbo.

— E isso?

— Oh, isso? É um belo... E raro... Chimbaco!

Ele ficava cada vez mais maravilhado com tudo o que via.

— E pra que serve?

— Oh. Os humanos levam-no na boca assim e usam para parecer inteligentes.

— E funciona?

— Claro!

— Uau. Deve ser demais ser um humano...

Perseu começou a se perder em seus próprios pensamentos ao analisar o continente ao longe.

— Ella, você não vai acreditar! – A peixinha falou. – Eu estava nadando entre os navios, com Percy logo atrás. Ele estava com medo de se ferir, e justo quando eu encontrei um baú de tesouros, um enorme e assustador tubarão surgiu! Ele tentou nos matar, mas eu o ataquei e bati com a minha barbatana na cara dele, e eu saiu nadando assustado!

— É sério?

Era impossível decifrar quais olhos brilhavam mais: Ella ou Sra. O’Leary.

— É claro que sim!

— Falando nisso... Percy, você trouxe a lança que eu pedi? É difícil me defender aqui sem poderes nem armas.

Os olhos de Percy se arregalaram com a compreensão.

— A exibição de combate era hoje! Meu Deus. Ella, me desculpe, eu preciso ir!

Percy apenas puxou a Sra. O’Leary pela nadadeira e se enfiou entre as ondas. Ele estava ferrado.

Ele só não sabia que mais alguém o observava pelas águas escuras do oceano e que no futuro isso lhe cobraria um preço muito, muito caro.


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Notas finais do capítulo

Sayyidi - título de respeito para com o rei ou a rainha; traduzido como “meu senhor” ou
“meu amo”.



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