Destiny escrita por Ckyll


Capítulo 15
Entre tortas e planos.


Notas iniciais do capítulo

Hey amores.

Sei que sumi durante um longo tempo, mas a vida fora desse site me chamava, e escrever se tornou um processo complicado. Felizmente a inspiração ressurge, no momento mais inesperado, e cá estou. O capítulo de hoje é dedicado a Liudi, por toda a paciência e por nunca desistir de mim. Amo você, bolinho.



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Destiny

Atena era conhecida por muitas coisas, seus inúmeros atributos, suas vitórias, toda uma história de milênios que muitos pensavam conhecer. Mas um detalhes que a maioria não sabia era sua teimosia, quando decidia algo, nada a fazia voltar atrás.

Tampouco os avisos de Poseidon.

Não seria ela mesma se tivesse obedecido as ordens dele e ignorasse o que tinha visto, ou se tivesse se deixado convencer que tudo aquilo não passou de um fruto de sua imaginação. “Está sobrecarregada,esses apagões sempre te deixam assim.” “Tente descansar, foi só um sonho ruim”, as frases amáveis de Apolo em sua breve visita em nada tinham feito acreditar. Ela sabia o que vira, e se existia algo que jamais a enganaria era sua mente.

Tinha que dizer que os dias seguintes foram os mais difíceis, necessitava voltar a ala leste e encontrar o salão, mas quando saiu do quarto pela manhã, as grandes portas não estavam mais lá, o corredor tinha sumido. Encheu Sebastian de perguntas, o tritão pouco sabia, ou ao menos era isso que fingia. Sob o olhar astuto da deusa sua postura impecável quase se encolhia, e as palavras se enrolavam até se calar.

Sua lealdade a Poseidon era o que o impedia.

E embora suspeitasse que todos ali fossem cúmplices do deus - acredite, ela não estava paranoica. - recorreu a única ali que poderia considerar uma amiga. Ama.

Depois do que Poseidon tinha contado na biblioteca, a senhorinha se tornou uma presença constante para Atena. Estava sempre junto a ela, garantindo-se de que tinha comido o suficiente, mesmo que sempre tivesse algo para fazer. Em alguns momentos era a deusa quem a seguia, tentando acompanhar o ritmo daquela senhorinha enquanto continuavam a conversar. Ao contrário de Sebastian, Ama era um livro aberto: Contou sobre seus primeiros anos com Poseidon e a imortalidade, sobre a família dos mares, as peripécias de Tritão e todas as confusões que pareciam nunca acabar.

Naquele dia a senhorinha preparava tortas, uma enorme variedades de sabores em absurda quantidade. Os servos trabalhavam a todo vapor, e Atena tinha em sua bochecha uma mancha de farinha enquanto se ocupava em ajudar.

-... E assim que terminarmos serão todas levadas para o banquete. - Ama falava enquanto verificava o trabalho de um sereiano, atenta ao corte das maçãs. - Ainda acho que deveria participar.

- Não me sentiria a vontade lá. - a deusa comentou,a mesma justificativa que tinha dado ao deus dos mares naquela manhã, quando contou sobre o banquete que estava por vir. - Ao que parece estarão todas as deidades marinhas.

- Todas não, apenas os que se dispõe a aparecer. E mesmo assim, Poseidon deveria te levar, você é a nova rainha, uma hora ou outra todos irão saber.

Atena ergueu o olhar, somente para ter certeza que ninguém ali tinha ouvido, e ficou aliviada por todos parecerem tão absortos, cada um em sua função. Não sabia como explicar a Ama que ela não se sentia a vontade com aquilo também, ser rainha não a assustava, mas a realidade de estar casada com Poseidon sim. Era como se, ao admitir o que era, tudo aquilo ganhasse uma importância maior. Poderia entrar e sair daquela situação sem tanta gente perceber? Ela esperava que sim.

- Na hora certa saberão. - foi tudo o que disse, e limpou as mãos enquanto Ama indicava que fosse sentar, já tinha se acostumado com isso. - Posso fazer uma pergunta?

- Você já costuma fazer muitas. - a senhora respondeu, mas não havia qualquer sinal de desagrado em sua voz, era o suficiente para a deusa prosseguir.

- A ala leste, o que há lá?

Quase foi possível sentir os ombros da mulher tensionando, as mãos de Ama pararam por alguns segundos, e depois recomeçaram sua tarefa com perfeição.

- Nada. É apenas o lugar onde Poseidon gosta de ficar enfurnado quando não tem nada para fazer. - e se calou, Atena pensou que ela fosse parar por ali, mas a senhora até chegou a sorrir. - Soube que entrou lá, ele não ficou muito feliz.

- Coisas relacionadas a mim não costumam deixa-lo feliz.

- Eu não acreditaria nisso se fosse você.

A deusa fez questão de ignorar o sorriso da mulher, durante aqueles dias Ama tinha feito inúmeras insinuações sobre o “casamento” com Poseidon, ela não era um cupido muito sutil. Preferiu tentar outro assunto - ou o mesmo, mudando apenas a abordagem.

- Pensei ter visto uma criança lá, mas Poseidon garantiu que não há crianças no palácio.

- Oh deuses, é claro que há. As netas dele vem aqui com frequência, por vezes um ou outro semideus, o filho de alguma serva. Mas naquela ala? Jamais. Nem mesmo Tritão ou Anfitrite podiam entrar ali.

- Acha que existe algo lá que ele quer esconder? - indagou, não tinha esperado por aquela última informação.

- Todos temos coisas que queremos esconder, Poseidon também, porém, acredito que seja um lugar para lembrar. Lá ele não se permite esquecer.

- Esquecer o que, Ama?

Mas a resposta que recebeu foi o silêncio e um longo olhar, Atena sabia que a conversa tinha acabado ali. Era o suficiente no momento, Ama tinha dado muito para a deusa pensar, e por alguns instantes ela estava quase satisfeita. Quase.

Aproveitou que todos estavam muito ocupados, e que Poseidon não estava ali, para voltar ao quarto, alguns momentos sozinha a faria bem, tinha muita coisa para entender. Seguiu pelas escadas e corredores até o terceiro andar, onde ficavam os quartos destinados a Poseidon e os mais próximos a ele,e a ala leste. O segundo andar dividia-se entre salas de entretenimento e quartos que ela imaginava ser para os hospedes, o primeiro tinha o grande salão, e tantos outros que ela sequer tinha chegado a explorar.

Chegou ao topo das escadas e notou algo que não estivera ali horas antes: A entrada para a ala proibida. Atena pensou se o sumiço daquela ala não passava de uma ilusão criada pelo deus dos mares,tendo sido criado pelos Telquines - demônios metalúrgicos que tinham vasto conhecimento em magia -, não seria uma surpresa se aquilo fosse uma das “coisinhas” que Poseidon tinha aprendido.

Caminhou naquela direção, a princípio hesitante, então o som de vozes fez com que apressasse o passo e entrasse no corredor. As portas que ela encontrou da última vez estavam bem trancadas, mas aquele salão não, e quando Atena entrou ali, uma figura já a esperava. O menino estava no mesmo lugar, com o barquinho em mãos, encarando a deusa enquanto ela se colocava do outro lado do espelho d’água e sentava ali.

- Estava esperando por mim? - ela perguntou, e como resposta o menino colocou a pequena embarcação na água e fez com que atravessasse em sua direção. Atena deu um sorriso pequeno, a aparência dele não tinha melhorado, mas ao menos parecia gostar de tê-la ali. - Sinto muito, houveram alguns problemas, demorei demais.

Ele arqueou as sobrancelhas e, por alguns instantes, ela pensou que iria sorrir. Mas apenas baixou o olhar, silencioso como sempre, enquanto recebia de volta seu brinquedo. Permaneceram em silêncio por um longo instante, até que ela voltasse a falar.

O menino agora a olhava com atenção, Atena tinha decidido fazer algo que raramente se permitia: Tagarelar. A deusa tinha falado sobre tudo, sobre o mundo que conhecia, e sobre ela, sobre os deuses e os mortais. Quando tentou fa1ar sobre a música teve de cantarolar, a criança deixou de lado o barco, ouvindo com atenção.

Nunca tinha se considerado alguém com jeito com crianças, como tudo o que fazia, era boa, mas aquilo era um dom natural. Se Héstia estivesse ali provavelmente já teria o menino em seus braços, murmurando palavras que traziam calmaria e o faria confiar. Para a deusa da sabedoria restou apenas a tentativa, talvez mais acertada do que imaginava,mas não podia demorar. Não sabia ao certo quanto tempo tinha passado ali antes que decidisse voltar, se Ama a procurasse iria fazer outro escândalo por seu sumiço, definitivamente não precisava disso.

Fez promessas de que voltaria,como poderia não fazê-lo? Se tentassem impedir ela daria um jeito.

Antes que chegasse a porta do salão voltou seu olhar para o espelho d’água, como esperado o menino não estava mais ali, mas a deusa ainda sentia como se ele estivesse a observar. Saiu da ala leste e seguiu nadando pelo palácio, apenas porque sua mente não lhe permitiria descansar.

Poseidon voltou ao anoitecer, parecendo muito mais tranquilo - e a deusa até se arriscava a dizer: alegre demais. Acabou por encontra-la no quarto, rabiscando em um mapa do mundo inferior enquanto estudava o curso das águas do Estige.

- Você nunca para de trabalhar? - a pergunta dele fez a deusa desviar o olhar por alguns instantes, e então balançou a cabeça negativamente.

- Um de nós tem que tentar resolver essa situação.

- Antes você do que eu.

Ela nem mesmo se dignou a se irritar, Poseidon sentou na beirada da cama e observou o mapa com atenção,o indicador deslizou pela linha que a deusa tinha desenhado.

- Se está pensando em um ataque por aqui, desista. É uma descida muito íngreme, e  os monstros poderiam facilmente avistar quem segue essa trilha.

- Então deve ter sido essa a trilha que Estige usou para descer até lá, os monstros devem ter avisado a ele...

- E ele quase a capturou.

Por alguns instantes a deusa recordou as marcas no corpo de Estige, o medo em sua voz enquanto contava tudo o que tinha visto, a preocupação de Perséfone. Sabia que o rejeitado era cruel,a ligação entre eles permitia a deusa saber disso: Ele era assim, e iria ferir ela ou qualquer outro sem hesitar.

- Estive pensando sobre o que me contou. - o deus voltou a falar, talvez porque Atena ficara tempo demais em silêncio o encarando, não era como se ela estivesse de fato olhando, mas também não diria que se desagradava da aparência dele naquela hora. Aparentemente as camisas havaianas eram usadas apenas quando estava entre mortais, ou matando tempo no Olimpo, Poseidon se vestia bem melhor ali, a camisa escura envolvia bem seu corpo, os músculos relaxados ali ainda faziam questão de se destacar. Por que ela estava reparando nisso? - Sobre a localização do palácio do rejeitado, a proximidade com o rio Estige.

- Poderia não chama-lo assim? - o súbito incomodo com aquela palavra agitou os sentidos da deusa.

 - Certo, podemos chamar ele de “número restrito”, uma vez que não sabemos o nome do seu irmão, ou mesmo se ele tem um.

Não tinha pensado naquilo até aquele instante, Atena se acostumado ao termo “rejeitado”, mas agora aquela palavra parecia tão errada. Baixou o olhar de volta para o mapa e respirou lentamente, tentando colocar os pensamentos no lugar.

- Como eu estava dizendo antes... - Poseidon estava sorrindo, ela não precisava olhar para saber, e aquilo não significava boa coisa. Era como todas as vezes que ele se unia a Apolo para aprontar. - Se queremos atacar seu irmão, temos que enfraquecê-lo. O primeiro passo é afasta-lo de sua nova fonte de energia.

- Não conseguiremos tirar ele de junto do Estige. - resmungou, e o deus riu, como se Atena tivesse dito uma coisa muito engraçada.

- Mas podemos tirar o rio dele.

Ela arqueou as sobrancelhas, e observando o deus percebeu que ele falava sério. Balançou a cabeça negativamente para o deus dos mares e o encarou como se ele fosse maluco.

- O quanto você bebeu nesse banquete? - teve de perguntar, e a resposta dele foi um riso divertido. - Poseidon.

- Não o suficiente para esquecer o caminho de casa.

- Mas o bastante para pensar em mudar o curso do rio Estige. Um rio infernal, nem você tem poder para isso.

- Não?

Repensou suas palavras, lembrando bem que duvidar dele somente o faria insistir, e que Poseidon era imprevisível demais, impulsivo demais, incapaz de ser controlado. Tinha os ombros tensos apenas de imaginar aquela situação, por fim fechou o mapa.

- Mesmo que tentasse, isso te consumiria. Pensarei em alguma outra coisa. Uma possibilidade real e segura.

- Está preocupada comigo? - ele parecia achar muita graça, mas Atena apenas lançou seu melhor olhar irritado enquanto o deus levantou.

- Estou preocupada com nós dois. Agora, se pretende dormir aqui, é melhor tomar um banho gelado, ou Ama com certeza terá café amargo a disposição.

- É estranho quando você age como uma esposa dedicada. - apesar dessas palavras, Poseidon não reclamou, e os olhos cinzentos observaram muito atentos todos os seus movimentos até a porta do banheiro se fechar.

Minutos mais tarde ele voltou para a cama, Atena estava enfiada embaixo dos cobertores,e se encolheu levemente quando o deus afundou a seu lado.

- Ainda acho um bom plano. - murmurou, e ela manteve os olhos fechados,sabendo que ele provavelmente usava outro cobertor, que ela provavelmente iria roubar.

- Durma e amanhã pensará diferente. - Foi sua resposta, apesar de tudo, tê-lo deitado a seu lado não a apavorava tanto como da primeira vez.

- Odeio seu jeito tão racional.

E por fim ele se calou, Atena ouviu sua respiração se tornar mais lenta e regular, e seu próprio corpo relaxou. Por longos momentos permaneceu em silêncio, muito quieta, deixando-se levar por seus pensamentos. Enquanto afundava na inconsciência percebeu que não era só a ela que tudo aquilo estava consumindo, e que talvez estivesse um pouquinho preocupada com Poseidon.


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Notas finais do capítulo

Foi realmente trabalhoso completar esse capítulo, e talvez tenha ficado longo, mas era necessário para o que estou planejando. Possivelmente teremos uma nova atualização na próxima semana, e ainda por esses dias vou poster "Eternity", encerrando assim a trilogia Time.
Não leu Time ainda? Corre lá pra ver, minha bebê é linda.
Enfim, espero que tenham gostado. Nos vemos em atualizações por aí.
Beijos, Ckyll.



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