Destiny escrita por Ckyll


Capítulo 14
Das coisas que ele detesta


Notas iniciais do capítulo

Hello, amores!
Eu sei, sumi de novo. Eu sinto muito, de verdade, mas fiquei atarefada, doente, atarefada, estressada, sem inspiração. Foi muito difícil simplesmente fazer esse capítulo fluir, mas era necessário seguir o baile.
O capítulo de hoje é dedicado a Maeve e Liu, amo você duas mesmo que fiquem falando que eu iludo!
Boa leitura.



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Quando surgiu no Olimpo, com passos furiosos e olhar de quem selaria na terra qualquer um que atravessasse o seu caminho, o deus dos mares não imaginava o tamanho da confusão que já existia ali.

Seus pensamentos estavam voltados em imagens onde fazia o topo daquela montanha se partir com seus terremotos e tudo despencava sobre a cabeça de Zeus, soterrando o senhor dos céus, afinal, era tudo culpa dele.

Parecia ingratidão pensar daquela forma, mas não era. Poseidon não devia nada ao irmão, mesmo que muitos pensassem que sim. Fora Zeus o “salvador” ao retira-los do estômago de Cronos, mas os irmãos tinham lutado ombro a ombro durante dez longos anos, até derrotar o senhor titã. Ele preferia ver aquela cooperação como um bônus pela ajuda do irmão caçula.

Em geral, Zeus apenas o atrapalhava. Fosse com suas confusões – que atingiam a todos no Olimpo de alguma maneira – ou em suas vontades. Havia perdido as contas de quantas vezes tinha abdicado de algo que queria por ameaças ou paranoias do irmão. Poseidon não temia por si, já havia conspirado contra Zeus e tinha pagado o preço disso, mas sim por aqueles com quem se importava.

Ele tinha perdido muito graças a Zeus e o conselho.

Porém, ao entrar na sala dos tronos, logo deu por falta de alguém. E na pequena aglomeração em torno do trono do senhor dos céus, a mesma pergunta que lhe veio a mente soou dos lábios de alguém.

― Onde está Héstia?

― Não consegui encontra-la em nenhum lugar, e já procurei por todo Olimpo! ― alguém contou.

― Hermes foi procura-la entre os mortais, sei que vai conseguir encontrar... ― a voz de Zeus se fez ouvir, mas não trazia qualquer certeza, então interrompeu-se quando seu olhar encontrou o do irmão mais velhos. ― O que faz aqui?

Poseidon poderia ter soltado uma de suas gracinhas, ou simplesmente mandado o irmão ir se danar. Mas os outros deuses saíram apressados, deixando apenas os dois ali.

― Héstia... ― ele começou, mas o senhor dos céus balançou a cabeça negativamente. 

― Não a encontro desde o dia que Atena partiu com você. Pensei que estivesse em suas visitas, sabe como ela é... Mas ela não voltou. Não esteve em seu templo, e o fogo... 

Virou-se em direção a lareira do grande salão, onde as chamas crepitavam alto, mas não naquele dia. Labaredas pequenas consumiam a madeira que fora colocada ali, e não parecia haver qualquer calor. 

― Seu filho. ― Poseidon rosnou, e toda a raiva que sentira desde que tinha saído de seu palácio, deixando uma deusa da sabedoria enfraquecida. Pensou se era isso o que tinha causado aquele desmaio de Atena, se aquilo fora um aviso do envolvimento do rejeitado no sumiço de Héstia. ― Atena voltou a ter apagões. Desmaiou no meu escritório, minutos atrás. 

― Ela está bem? ― Zeus parecia realmente preocupado, estava desalinhado e a aparência não era das melhores, nada ao porte majestoso que ele sempre fizera questão de passar. 

― O que você acha? 

E o silêncio se estendeu entre os deuses, mesmo irmãos, eram tão diferentes.  Poseidon queria atirar na cara do irmão que aquilo tudo era culpa dele, de sua mania de tentar evitar as profecias, de buscar controlar o destino. Rei dos deuses ou não ele não podia, mas Zeus custava a entender, e pessoas pagavam por isso. 

Pessoas que com quem Poseidon se importava. 

― Temi que isso viesse a acontecer, que uma vez que ele estivesse livre, a ligação com Atena se fizesse mais sólida. ― o rei confessou, e o irmão mais velho o encarou, impassível. ― Pensei, no inicio, que com o tempo...

― O que? Que ela parasse de ver e sentir a agonia do irmão enquanto ele definhava dentro de você? Que aquelas imagens simplesmente sumissem num passe de mágica? 

― Não deveria acontecer. Gaia prometeu, seria uma deusa a nascer, e o outro não... o usurpador não viveria.

― Estar trancafiado dessa forma não é, de fato, viver.

Ele conhecia a sensação, por mais que tivesse se deixado convencer que podia esquecer. O medo, o frio, a fome. Poseidon estivera lá, no estômago de Cronos durante toda a infância, e tinha os irmãos a seu lado, talvez isso tivesse impedido que enlouquecesse. O irmão de Atena não podia dizer o mesmo. Zeus não conhecia a sensação, ele era o escolhido.

― Não tive escolha.

E Poseidon quis rir da ironia, mas sentia que havia um nós em sua garganta que apenas crescia com o passar dos segundos. Já enfrentara muitas guerras, muitos inimigos, muitas disputas sem sentido. Mas nunca algo lhe parecera tão pesado quanto aquele momento.

― Ela não está no tártaro, certo? ― foi o que conseguiu perguntar, e o alívio veio de mansinho enquanto o irmão balançava a cabeça negativamente.

― Hades já checou, as fúrias não encontraram qualquer vestígio dela. Só posso supor que esteja entre os mortais, e espero que sim.

Pensou em Héstia, a pequena ruiva que se encolhia junto a lareira enquanto eles discutiam no conselho, a jovem de sorriso tranquilo sentada num canto nos bailes do Olimpo. Pensou onde estaria, e como estaria? Era ela, talvez, a mais próxima do deus dos mares. Ao contrário do que se esperava, a rejeição dela a seu pedido de casamento não tinha causado ao deus qualquer mágoa. Héstia era sua primeira boa lembrança. A presença acolhedora que sempre estivera ali. E agora não mais.

Ela voltaria. E enquanto isso, os irmãos tinham coisas a resolver.

― Me conte sobre Atena. ― Zeus pediu, e depois de um instante o deus dos mares contou sobre o que acontecera naquele dia. A deusa da sabedoria desabando em seus braços, sua pele muito fria, a confusão em seus olhos cinzas ao despertar. Os apagões eram algo que ele conhecia, e que sempre tinha mantido como um segredo, mesmo quando ele e Atena estavam no pior momento.

Havia sido daquela forma também, na primeira vez. O deus teve alguns momentos para recordar enquanto Zeus mandava uma ninfa em busca de Hera e Apolo, mergulhou nas lembranças de três mil anos atrás. Quando tudo era mais simples. Quando Atena não era sua inimiga.

Odiá-la nunca estivera em seus planos, lembrava-se de simpatizar com a deusa na primeira vez que a tinha encontrado, cheia de respostas e palavras muito certas, Atena desarmava qualquer um sem necessitar estar em uma batalha. A proximidade veio aos pouquinhos, conversas breves, risos de situações que os outros deuses provocavam, histórias sobre os mortais. Costumava caminhar entre eles, e enquanto os templos se erguiam e a adoração aos deuses crescia, ele via florescer entre a deusa da sabedoria e aquelas criaturas uma relação diferente dos demais.

Havia sido diante de um templo dela que Atena tinha desmaiado, nos braços do deus dos mares que, por acaso, decidira lhe acompanhar. Poseidon já havia provado muitas sensações até ali, desde o medo até o prazer, mas nada foi tão forte quanto ver a deusa lívida, a respiração muito fraca, a pele muito fria enquanto ele a carregava de volta para o Olimpo.

O episódio veio a se repetir mais de uma vez, e aos pouquinhos ela foi lhe contando o que acontecia quando ficava inconsciente. As imagens, as sensações, e pelos deuses, como ele queria que ela nunca tivesse de sentir aquilo novamente.

E por muito tempo havia sido assim.

― Tem de existir uma maneira de destruir essa ligação entre eles. ― o senhor dos céus murmurou, arrancando Poseidon de seus devaneios.

― Ir atrás do seu filho e lidar de frente com o problema pode ser uma maneira. ― o sarcasmo era evidente, mas não foi respondido com o olhar duro que Zeus reservava a ele.

― Exatamente por isso Atena é a estrategista, e não você. “Lidar com o problema de frente” pode custar a vida de muitos.

― E ficar correndo em círculos pode estar custando a vida de nossa irmã, talvez até de sua filha. Não tem nada a ver com estratégia. É apenas você, tentando evitar outra profecia.

― Você não entende.  

As mesmas palavras de éons atrás, de quando todos haviam descoberto o que Zeus tinha feito com Métis, e isso apenas fez a raiva revirar dentro do mais velho.

― Não vou entender até descobrir o que está por trás de tudo isso.

Não somente da hesitação do irmão em lidar com o filho rejeitado, mas também por ter entregado sua favorita ao deus dos mares sem sequer hesitar. Naquele conselho eles não haviam tido chance de conversar, Poseidon passara o dia atordoado com a ideia de ter a inimiga como esposa, e depois Atena havia pulado sobre ele e o acusado de causar tudo aquilo.

Agora, queria tudo as claras, cartas na mesa. Mas com Zeus não funcionava assim.

― A profecia diz que Atena deve gerar um filho seu. ― era possível ouvir o desgosto na voz do outro, Poseidon também não estava lá muito feliz com a ideia, na verdade era algo que ele evitava pensar. Dormia lado a lado com a deusa, era empurrado e chutado por toda a noite, mas isso não parecia um prelúdio para o momento em que gerariam o bebê da profecia.

― Estamos trabalhando nisso. ― mentiu, mais pelo prazer de ver a careta do irmão do que por qualquer outra coisa. ― Embora eu não entenda no que isso muda alguma coisa.

― Entenderá, no momento certo.

E Poseidon detestava aqueles enigmas mais até do que detestava o irmão.

Quando voltou a seu palácio outro pequeno caos o aguardava, Ama parecia prestes a arrancar os cabelos, andando de um lado para o outro, gritando ordens aos pobres sereianos que nadavam desorientados e tentavam fugir da mira de sua colher de pau. Sebastian foi mais tranquilo – porém não menos apreensivo – em explicar: Atena havia desaparecido.

O deus dos mares quase podia sentir a dor de cabeça que lhe tomaria diante dos gritos histéricos de Zeus se soubesse daquilo, mas foi com grande alívio, maior até do que gostaria de admitir, que sentiu a presença da deusa. Estava no palácio, movendo-se entre corredores, então Sebastian e Atena entraram na sala dos tronos, e a deusa da sabedoria parecia prestes a pular sobre ele novamente.

― Precisamos conversar. ― ela disse, direta e sem qualquer emoção, Ama parecia prestes a desabar de alívio, mas foi levada por Sebastian antes que pudesse encher as deidades de perguntas.

― Precisamos? ― indagar aquilo pareceu provocação, era quase possível ver a tempestade que eram aqueles olhos cinza escurecendo. Por alguns instantes pensou se ela já sabia sobre o sumiço de Héstia.

― Estive na ala leste.

E aquilo lembrava porque Poseidon detestava tanto a deusa, sempre se metendo onde não devia como a maldita xereta que era.

― Não deveria ter entrado lá.

― Por quê? Não posso entrar na sua fortaleza da solidão? ― Atena ironizou, e seria uma grande mentira se ele dissesse que não queria estalar os dedos e afoga-la.

― Porque é pessoal.

Muito mais do que pessoal, não era um lugar para olhos de outros deuses, era seu lugar. Lá estavam memórias, coisas que Poseidon não queria manter ao alcance de todos, coisas que temia perder, que recusava a abandonar.

― Havia um menino lá.

Aquilo chamou a atenção do deus, que arqueou as sobrancelhas, e pensou se Atena havia, de fato, saído de sã de seu apagão.

― Não existe ninguém lá. ― ninguém ousaria, nem mesmo Anfitrite, mas é claro que aquela irritante deusa não se importava.

― Eu vi. Tem um menino lá, e eu exijo que você o liberte.

Rir foi inevitável, e era como fazer uma piadinha sobre o destino bem na cara das parcas, arriscado demais. Por alguns instantes pensou nas inúmeras maneiras de fazer Atena lembrar que ali, em seu palácio, ela não tinha direito de exigir. Não era bem vinda, não era sua esposa, tampouco sua rainha. Ela era uma intrusa.

― Vamos até lá, então. Mostre-me o menino e eu o libertarei.

Atena seguiu na frente, e parecia bobo o esforço dela em manter passos firmes cercada por água. Rumaram para a ala leste, e enquanto percorriam o longo corredor, Poseidon pensou o quanto ela tinha visto. Entraram juntos no grande salão, era muito escuro lá dentro, apenas o espelho d’água oferecendo um pouco de luminosidade, e os painéis nas paredes brilhando misteriosamente.

Teria ela observado aqueles painéis? Péssima ideia, a simples presença da deusa ali já lhe causava agitação. Atena parou diante do espelho d’água, e apontou para o outro lado.

― Vá em frente. ― Poseidon indicou, deixando que ela seguisse com sua busca, não sentia qualquer presença além da deles ali. Atena, por sua vez, percorreu cada parte do salão, com o deus dos mares em seu encalço, as mãos atrás do corpo e olhar muito distraído, fingindo não notar o constrangimento dela.

― Ele estava aqui. ― ela afirmou, muito teimosa, e o deus tentou manter uma expressão impassível, sem querer provoca-la mais.

― Certo, ele foi engolido pela escuridão. Deveria culpar Hades.

― Pare de fingir que não está se divertindo com isso. ― Atena retrucou, e passou pelo deus, empurrando com o ombro.

Ele não estava, não realmente. Enquanto a deusa desaparecia porta a fora, se perguntou o que ela tinha visto – ou imaginado. Pela milésima vez naquele dia se viu preocupado com Atena, e detestou isso. Saindo daquele salão, as grandes portas se fecharam atrás do deus, que seguiu atrás da senhorita encrenca, tinham muito a conversar.

Poseidon não viu, e nem sequer pode sentir, mas antes que as portas se fechassem, um pequeno menino observou sua partida, escondido atrás de seu trono.


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Notas finais do capítulo

att: Acabei postando o capítulo em outra fic, leitores de DOP devem ter ficado confusos.
Então é isso, galera. Só para fechar essa parte, e iniciar outras coisinhas... ah, é agora que começa a ficar divertido.
Espero que tenham gostado
nos vemos nos comentários.
beijos, Ckyll.



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