Destiny escrita por Ckyll


Capítulo 11
Como a Bela e a Fera


Notas iniciais do capítulo

Hey, amores!
Mais uma vez perdi o dia certo de postagem, minha internet me odeia! Na próxima semana, se Hermes me ajudar, a postagem sairá no sábado, como deve ser. O Capítulo ficou um pouquinho longo, acabei me empolgando, mas espero que gostem.
Boa leitura



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Atena não sabia ao certo o que fazer desde aquela conversa.

Sentia que não haviam chegado a nenhum lugar, apenas falado do que já sabiam, mas sem solucionar o problema. Em seu interior a ansiedade queimava, contrastando com toda a cautela que a explosão do deus dos mares lhe causara. Ela conhecia aquele lado de Poseidon, furioso e inconsequente, vira muito daquilo ao longo dos éons enquanto ele discutia com Zeus, e por vezes com ela mesma, aquele Poseidon era alguém a se temer.

Mesmo que quisesse, não podia fazer nada sem ele, e detestava a sensação de ser dependente de alguém, porém era aturar aquilo ou enlouquecer.

Eles voltaram ao palácio, e Sebastian os recebeu como se tivessem ido passear na superfície, mas seus olhos iam de um ao outro como se analisassem a situação entre as deidades. Aquele tritão era mais esperto do que Atena imaginava. Poseidon a deixou, generais o esperavam para uma reunião, e ao invés de aceitar a companhia do criado, Atena preferiu desbravar sozinha o palácio dos mares.

Ela nadou por toda a área que já conhecia, catalogando e memorizando, não por temer se perder, mas porque informação nunca era demais. Tinha que admitir que sua inspeção pelo lugar era também um momento de apreciação, ela estava fascinada com os materiais usados nos ambientes, na arquitetura do palácio, nos quadros e estátuas que ornamentavam os corredores. Não encontrou nenhuma estátua de Poseidon, muitas de nereidas e outras criaturas do mar, sereias de sorriso inocente, mas de olhares espertos e fatais. Eram todos  por alguém habilidoso, ela sabia reconhecer quando várias peças eram feitas pela mesma pessoa, e admirou os traços tão bem feitos de cada escultura.

De uma sacada pode observar a área externa o palácio, o complexo de templos e prédios que o cercavam, o jardim com uma mistura de algas e corais, mas também plantas da superfície, pensou como Poseidon tinha conseguido adapta-las ao ambiente, aquilo tornava o cenário interessante. Sereias e tritões continuavam a entrar nos templos, peixes também, e não tão longe dali, um grupo de baleias passou, seu canto se fazendo ouvir até que desaparecessem na imensidão azul.

― E eu que achava estranho o Olimpo. ― murmurou, tornando a vagar pelos corredores, por vezes encontrava uma criada apressada, ou um sereiano perdido, que lhe fazia reverência antes de seguir seu caminho. Não demorou para que Atena encontrasse a biblioteca, o ambiente era seco, e a deusa ficou feliz por respirar ar puro novamente. ― Di immortales.

O termo exagerado deveria ter sido criado exclusivamente para o deus dos mares, a biblioteca era gigantesca, quase do tamanho da que ela tinha no Olimpo, as estantes subiam até o teto, e este era feito de um material transparente que permitia a entrada da luz do sol que atravessava as águas. Era muito aconchegante o lugar, com uma grande lareira, tapetes onde almofadas estavam jogadas, poltronas com mesinhas a seu lado, abajures que se acendiam na ausência de iluminação.

Ela caminhou pelo grandioso espaço, observando os livros, mas sem toca-los. Suas sobrancelhas se arquearam quando a deusa encontrou alguns que ela acreditava não mais existir. Atualmente sua biblioteca tinha todos os livros do mundo, mas nem sempre fora assim, ao longo dos éons alguns livros se perdiam antes de chegarem as mãos da deusa da sabedoria, e agora ela os encarava na biblioteca de Poseidon.

Pegou um deles, tão antigo que exigia cuidado extremo no simples ato de virar uma página, afundando numa das almofadas junto a lareira, deleitou-se com a leitura tão aguardada, e só quando uma voz a interrompeu veio a erguer o olhar com relutância.

― Sabia que ia te encontrar aqui.

Poseidon estava parado na porta, e a encarava com curiosidade, então seu olhar foi para o livro nas mãos dela, e por algum motivo Atena quase corou. Era como ser pega mexendo em algo pessoal dele, mas sua mente retrucou que era justo, não era ele mesmo quem vivia bagunçando as prateleiras de sua biblioteca só para irrita-la?

― Achei algumas coisas interessantes nesse lugar.

― Posso imaginar que sim.

Ele parecia mais calmo, e isso a deixava desconfiada, a deusa jamais soubera lidar com o humor dele, em questão de segundos Poseidon podia ir da fúria a tranquilidade. Inconstante como o mar, que era ele mesmo.

― Como conseguiu esse livro? ― perguntou, e ele deu de ombros como resposta, entrando na biblioteca, Atena sentiu como se o espaço estivesse se encolhendo, ela detestava aquela sensação. Como se percebesse isso, o deus parou a certa distância, afundando em uma poltrona e encarando o teto transparente.

― Tenho meus meios, Sebastian não sabia onde você tinha se metido, decidi vir te procurar.

― Que marido zeloso você é. ― sua voz pingava sarcasmo, e ao contrário do esperado, Poseidon sorriu por alguns instantes.

― Sim, eu sou. Sabe, eu prefiro aturar você do que uma reunião com meus generais sobre os mesmos assuntos de sempre. Contigo ao menos tenho  um pouco de diversão.

― Discutir comigo é o seu conceito de diversão? ― Atena arqueou a sobrancelha, pensando se o deus dos mares sofria de algum tipo de loucura e ninguém percebera até ali.

― Te ver gritando e perdendo a cabeça é o meu conceito de diversão.

A deusa não percebeu nenhuma malícia naquela frase, embora existisse, e voltou seu olhar para o livro. Poseidon permaneceu em silêncio, o que era até mais incomodo do que quando ele começava a tagarelar sem parar. Nas poucas vezes em que desviou seu olhar para ele, o deus encarava o teto transparente, e por algum motivo Atena pensou se para tentar dormir Poseidon contava peixinhos ao invés de carneirinhos.

Que pensamento ridículo.

Batidas na porta se fizeram ouvir, Sebastian entrou, e de alguma forma sua cauda se transformou em pernas ao adentrar na biblioteca. Trazia consigo uma grande bandeja, e a seu lado uma mulher reclamava em um idioma que Atena não reconhecia. Sim, haviam alguns idiomas que ela não conhecia, e era muito amargo admitir isso.

― Eu lhe disse que eles estariam aqui, viu? Inteiros. ― O tritão parecia tentar acalmar a mulher, Poseidon desviou sua atenção do teto e encarou ambos com curiosidade.

― Ama? ― indagou, e a mulher lhe lançou um olhar que fez mesmo a deusa da sabedoria se encolher nas almofadas em que repousava.

― Sabe que horas são, Poseidon? ― o tom dela era severo, sua postura rígida como a de um soldado, apesar do porte diminuto, ela parecia verdadeiramente ameaçadora.

― Meio-dia? ― o deus dos mares arriscou, e recebeu um tapa nada suave na cabeça. ― Ama!

― Está tarde, você ao menos perguntou se essa menina comeu?

Atena sorriu ao ser chamada de menina, e a tensão pela entrada de Ama se dissipou. A deusa sentou e fechou o livro, ao mesmo tempo em que Poseidon a olhava, confuso? Talvez um pouquinho atordoado também.

― Você comeu algo hoje? ― quando ela negou, uma pequena linha se formou entre as sobrancelhas escuras do deus, como se ele tentasse entender uma equação complicada... ou apenas uma equação, com a inteligência limitada do deus dos mares, Atena acreditava que tudo era complicado para ele. ― Por que não?

― Sebastian me ofereceu café da manhã, mas eu precisava falar com você antes.

― Eu tentei dizer a Ama que a senhora Atena tinha declinado a minha oferta, mas quando soube de vosso regresso, ela preparou todas essas coisas e arrastou-me até aqui. ― Sebastian parecia ultrajado com os modos da senhorinha, e ela o ignorou totalmente enquanto tomava de suas mãos a bandeja e levava a mesinha que ficava entre os dois deuses.

― Eu sabia que Poseidon seria descuidado com você, ele pode ser um bom rei, mas às vezes é um péssimo anfitrião. ― Ama tagarelou como se conhecesse a deusa da sabedoria há séculos.

― Foi ela que não quis comer. ― Poseidon resmungou, e mais uma vez ganhou um olhar cheio de ameaças, então se calou.

― E você, se enfiou naquela ala durante horas, e depois foi para as audiências, acha que comeu o suficiente?! Vai acabar doente desse jeito.

― Ama. ― Atena se arriscou a falar, e a senhorinha virou para a deusa, sua expressão era mais gentil e era quase possível ver o deus dos mares rolando os olhos para aquela cena. ― Agradeço a preocupação, mas eu realmente preferi não comer, tinha assuntos a tratar com Poseidon e certa pressa. Porém, você parece trazer algo para nós, tenho certeza que Poseidon está com tanta fome quanto eu.

 

Teve que ignorar o olhar que o deus dos mares lhe lançava, talvez ele não estivesse com fome, mas de jeito nenhum Atena daria conta daquele banquete que Ama chamava de lanche. Foi servida de tudo, bolos, doces, e por alguns instantes estava mais do que feliz em ser mimada daquela forma. Poseidon, ao contrário, ainda sofria a fúria de Ama, que lhe servira tudo o que ele menos gostava, mas mesmo assim ele não se recusou a comer. Sebastian permaneceu num canto, e somente quando Ama teve certeza de que os dois tinham comido o suficiente, foi embora , deixando apenas as deidades sozinhas ali.

― Então... ― a deusa começou, mas Poseidon gesticulou no mesmo instante.

― Não pergunte. Às vezes me arrependo do momento em que a tornei imortal, mas sinceramente, duvido que poderia deixar Sebastian sem ela.

― Eles são um casal? ― imediatamente se arrependeu de perguntar, o deus riu antes de balançar a cabeça.

― Se matariam antes de conseguir ser um casal.

Então se calou, porque aquela frase se encaixava perfeitamente na situação em que eles estavam. Atena puxou o livro para seu colo e tornou a abrir, lendo as palavras em grego antigo, quase apagadas.

― Ela e Sebastian foram meus primeiros servos, quando ganhei os mares na divisão do mundo, Ama assumiu o papel de Reia depois de... ― Ele não completou, e Atena sabia o por que, conhecia a história da rainha dos titãs e mãe da primeira linhagem de deuses, e sabia que havia desaparecido após uma discussão com Zeus.

― Pensei que tivesse sido criado pelos Telquines. ― comentou, ela nunca sabia o que era verdade e o que era invenção quando o assunto era Poseidon.

― Eu fui.

Outro fato incerto sobre a história do deus dos mares, Atena conhecia o suficiente sobre os Telquines, e também do papel deles na historia de Poseidon, nem sempre num bom sentido. Ele também parecia estar pensando nisso, pois seu olhar voltou a se perder pela biblioteca, evitando a tempestade que o encarava.

― Ama me trata como o filho que ela nunca pode ter, é claro, às vezes é um pouco exagerada, mas eu a amo dessa forma. ― Poseidon falou aquilo como se não fosse nada demais, mas era. Deuses eram egoístas e poucas vezes demonstravam real afeição, ainda mais por servos, mas Atena percebeu ali que o deus dos mares não enxergava Sebastian e Ama como servos, mas sim como uma família. ― Sebastian veio primeiro, ela veio depois. Então botou ordem na casa, enquanto eu tentava botar ordem no reino. Depois veio Anfitrite, Tritão, e as coisas apenas foram seguindo.

Pensou se esse seria o momento em que Poseidon contaria sobre Anfitrite, a antiga rainha dos mares, ao qual Atena não conseguia não associar ao título. Pouco sabia sobre ela, poucas vezes a vira no Olimpo, e poucas vezes se interessara sobre isso. Anfitrite era esposa de Poseidon, e tudo o que a deusa da sabedoria menos queria era proximidade com qualquer coisa ligada a ele.

― É melhor você comer nos horários certos agora, ela não vai te deixar em paz, e eu me recuso a comer qualquer coisa com uva passa por causa disso.

Aquilo quase a fez sorrir, lembrando uma festa que fizeram no Olimpo, em comemoração ao natal. Eles não comemoravam o nascimento do filho do Deus cristão, mas sim de Dionísio, que nascera em Dezembro, talvez no dia 25 – Era difícil dizer quando se é um deus que nasce da coxa do pai. Mas o que Atena podia dizer? Ela saíra da cabeça de Zeus – E por saber que Poseidon detestava uvas passas, Atena tinha se voluntariado para ajudar Deméter na preparação do banquete, e que grande satisfação foi ver o deus dos mares não comer quase nada por sua aversão a uma simples uvinha.

― Onde conseguiu esse livro? ― Decidiu voltar a sua questão inicial, Poseidon apenas a encarou como se estivesse tentando entender de onde ela tinha tirado aquela pergunta, mas por apenas levantou de seu lugar.

― Muita coisa se perde no mar, Atena. Até livros raros que nem deveriam existir. ― ele olhou ao redor, e a deusa o observou com atenção, como se esperasse por algo. Então, voltando a encara-la, Poseidon sorriu. ― Pode ficar com a biblioteca.

― Não somos “A Bela e a Fera”, Poseidon. Não é me dando uma biblioteca que vai conseguir minha afeição. ― ela replicou petulante, quis dizer que não precisava que ele lhe desse uma biblioteca, já tinha a própria. Então se deu conta de que não sabia quando voltaria ao Olimpo.

― Obviamente não somo. Você seria uma péssima bela.

― E você é tudo o que a Fera tem de pior.

― Talvez, certas coisas não dão para negar. ― o deus dos mares abriu um pequeno sorriso, e Atena sentiu que estava perdendo alguma coisa. ― Porém, estou apenas lhe cedendo a biblioteca, sei que passará muito tempo enfurnada nesse lugar.

― Você não é capaz de tamanha gentileza.

― Isso, minha cara Palas, apenas mostra o quanto você me conhece.

Com isso o deus caminhou até a porta e desapareceu, Atena permaneceu ali, entre as almofadas com o livro em seu colo. Olhou a biblioteca ao redor mais uma vez, sabendo que gostaria sim de passar horas enfurnada naquele lugar e pensando qual era a intenção de Poseidon com aquela “gentileza”.


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Notas finais do capítulo

A referência sobre A Bela e a Fera veio por uma pessoa aí, que provavelmente não vai ver isso porque deve estar causando no Twitter (Miih, para de debater pela Piper e volta pra mim). Agora, eu irei escrever o próximo capítulo de Destiny e de DOP, e também trabalhar numas projetos de fic Poseitena.
Nos vemos nos comentários!
Beijos, Ckyll.



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