Antes de ELA chegar escrita por Ahelin


Capítulo 5
4. Dançar em lugares improváveis


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem com você?
Vim trazer mais um capítulo ♡
Novembro tá chegando e eu vou tentar focar nessa história, tenho vários capítulos novos pra escrever haha

Então, esse aqui é baseado em algo que fiz com a minha amiga Gabi. Obrigada, Gabi, por ser uma amiga incrível ♡

Na verdade, todos os personagens e eventos são meio inspirados na vida real. Todas essas coisas gostosas que acontecem com a Helena são de verdade, porque a vida, se você parar pra pensar, parece mesmo uma fic.
Tenta prestar atenção na sua semana e me conta seu momento fic ;3

Sem mais delongas, espero que goste do capítulo.



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4 de setembro de 2017

— Tô querendo pintar meu teto — comentou ele num momento aleatório.

Já passava das duas da manhã e eu estava deitada no chão do quarto. Escuro total, como eu gosto. Só o led azul do celular, sinal que indicava mensagens ou qualquer notificação relacionada ao Vader (nesse caso, nossa chamada em andamento) era visível naquele breu.

— Você quer desvirginar a única parte pura da sua caverna? — retruquei. — Coragem, rapaz, aí tem coragem.

Ele riu alto.

— Droga, vou acordar a minha mãe. Você vai queimar no inferno. — Houve uma pequena pausa. — E os seus dedos?

Desde o início da manhã, eu não conseguia movimentá-los direito. Digo, eles estavam estranhos há várias semanas, mas naquele dia eu nem consegui mandar mensagens. Afasto o pensamento sempre que ele vem, mas sei que nunca vão voltar ao normal. 

Tenho feito fisioterapia (que por enquanto consiste em apertar uma bolinha de borracha, o que eu poderia muito bem fazer de graça), mas não parece ajudar muito.

— Duros como um adolescente assistindo pornô — ironizei. 

— Helena. — Ele se engasgou levemente tentando segurar o riso. — Nada de piadinhas sexuais às duas da manhã. Você está no viva-voz.

— Imagina se a Miriam escuta — provoquei. Ele riu baixinho e o silêncio apareceu mais uma vez. — O que você quer pintar no teto?

— Estrelas. — Sua voz ficou meio diferente porque ele estava sorrindo. — É piegas, sei lá, mas eu gosto da ideia de acordar no meio da noite e ver o céu. 

— Não é piegas — comecei, mas três segundos depois nós dois tivemos que segurar um ataque de risos. — Não tão piegas.

— E você? O que pintaria no seu teto? A primeira coisa que vai ver de manhã e a última antes de dormir. Tem cinco segundos pra pensar.

— Baita escolha. — Pensei um pouco. — Se isso fosse possível, alguma coisa que fizesse parecer que estou na água, olhando pra fora dela de baixo. 

— Ok, isso é revolucionário. Por quê?

Eu poderia citar n motivos; poderia dizer que acho bonitos os reflexos da luz na superfície da água ou algo do tipo, mas não preciso esconder nada dele. Para qualquer coisa que eu fale, ele sorri, como se sempre estivesse satisfeito com as minhas palavras. 

— Me faz sentir por um momento que eu não consigo respirar, mas um instante depois eu lembro que posso. É uma das melhores sensações do mundo.

— Te faz lembrar que você tá viva.

— Sim. Às vezes, eu ainda esqueço.

Não sei por quanto tempo conversamos depois disso. Quando um de nós não está bem, ficamos assim até um dos dois cair no sono ou até a Claro cortar a ligação — ilimitada é a minha bunda. Também não lembro sobre o que falamos, mas uma frase dele em particular não saiu da minha cabeça:

— Escuta, eu espero que isso nunca acabe. Tipo, isso aqui, nós dois. Não importa o que aconteça.

Gosto que ele diga essas coisas em momentos aleatórios. Elas me fazem sentir querida.

— Se depender de mim, não vai acabar.

 

— Tô te falando, Helena, é um bom item. Quem sabe se você vai ter essa oportunidade de pagar micão ao vivo de novo?

Torci a boca para não sorrir.

— Gustavo, pelo amor da Galadriel — retruquei. — Que ideia idiota.

Ele não abandonou sua posição: continuou de pé na minha frente enquanto eu lutava para segurar a colher do sorvete. Sua mão estava estendida e ele sorria com o canto da boca.

— Vamos, você me deve isso. Íamos ser dois babacas sem parzinho na formatura, mas seríamos babacas sem parzinho juntos. Agora, eu ainda espero dançar com você porque seria a única vez em que a porra do tempo que a Miriam me obrigou a aprender teria alguma utilidade, mas... 

Ele não terminou. Não precisava.

— Mas aqui? — Ri. — E agora?

— Ué. Tem chão, tem música e eu. Se falta alguma coisa, princesa, diz aí que eu trago.

Respirei fundo. Ele estava certo.

Tínhamos ido à sorveteria perto da escola logo depois do almoço, então éramos dois trouxas de uniforme no meio de vários trouxas sem uniforme.

Sempre adorei aquele lugar, fica na rua comercial e a pequena fachada amarela não chama atenção, mas é a velha história da Tardis: maior e muito mais incrível por dentro do que por fora. Acho que é sempre assim com lugares hipsters e diferentões. Nos fundos, tem um pátio com mesinhas e um jardim. É, ao mesmo tempo, íntimo como a minha casa e impessoal, como se eu pudesse ser o que quisesse e ali e ninguém se importasse com isso.

Os auto-falantes tocavam baixinho uma música antiga e ruim, mas tinha ritmo. Seria divertido arriscar.

— Eu danço mal — resmunguei. Talvez eu não seja tão ruim, mas realmente não estava no humor de dançar.

Esses momentos em que a animação de Vader é maior que a minha são raros, mas tenho um grande carinho por eles. Em casa, eu me sinto obrigada a mostrar ânimo, porque ninguém faria isso no meu lugar. Se eu simplesmente parasse, todos nós cairíamos num poço de lágrimas sem fim, mas com ele é diferente. 

Eu não preciso me esconder.

Relutei por alguns segundos e empurrei meu celular na direção dele.

— Anote sua ideia na agenda de hoje, gênio — pedi. Não conseguia escrever. — Dançar. Não é muito original, mas você ainda não me obrigou a pular de paraquedas, então posso perdoar. 

— Não só dançar. — Ele desbloqueou meu celular com a rapidez de quem faz isso há anos e sabia exatamente onde encontrar a agenda. — Dançar em lugares improváveis, minha cara. Agora eu quero ver até onde vai a sua criatividade. 

Desisti do sorvete — que agora não passava de um copo de sopa, porque demorei demais para segurar a colher e toda vez que tentava levar algo à boca deixava tudo cair — e peguei a mão que ele me ofereceu outra vez, depois de guardar meu celular no bolso. 

O que mais grudou na minha memória foi o tempo; coisa engraçada de se dizer num momento como esses, mas Barretos não tem estações do ano. Se você gosta de frio no inverno e calor no verão, esqueça de morar aqui, porque faz trinta graus em julho com a mesma facilidade que vemos quinze graus em dezembro.

Dessa vez, por azar, passava dos trinta e seis. Um calor dos infernos, nós dois suando, meu cabelo grudando no pescoço dele e o dele no meu, mas na hora não me incomodou. Éramos só eu, ele e uma música ruim tocando no fundo.

Não sei nem se dá pra chamar aquilo de dançar; ele me conduziu por alguns passos e depois nós dois paramos. Nenhum combinado, simplesmente me deixei sumir no abraço dele. Pela primeira vez desde que tudo isso começou, eu chorei.

Se algum dia você precisar chorar no ombro de alguém e Gustavo for uma dessas opções, pode escolhê-lo sem medo. Ao contrário de muita gente, ele não fica tentando te consolar com frases prontas. 

"Vai ficar tudo bem."

"Não chora."

"Você é forte."

Não. Ele só te abraça, mexe no seu cabelo e espera. Chega um momento em que o choro passa e tudo fica melhor.

— Ei — chamou ele quando afastei o rosto de seu ombro, exibindo um enorme sorriso pra mim. Não era um dos verdadeiros. — Que tal a biblioteca? A música de lá é quase tão ruim quanto a daqui.

— Sua próxima sugestão vai ser dançar em cima da mesa do refeitório da escola? — brinquei. Não gosto desse sorriso. 

— Olha, você deu a ideia!

Coloquei as mãos nas bochechas dele.

— Não sorri desse jeito — pedi. — Não gosto quando você se força a sorrir.

— E eu não gosto quando você chora — devolveu ele, colocando as mãos nas minhas bochechas também e assumindo uma expressão séria. 

Se fosse um filme romântico, esse seria o momento em que teríamos nos beijado. Como a minha vida está mais pra um drama misturado com comédia besteirol, não chegou nem perto de acontecer. Em vez disso, ele me encarou cheio de mistério e disse:

— Estamos muito perto um do outro, isso já é considerado perder a virgindade?

Gustavo em uma antiga língua persa significa "a melhor pessoa do mundo". Não, não significa, eu acabei de inventar isso.

Antes de sairmos, ele lançou um olhar pra minha sopa no copo, mas não comentou nada. Senti um pouco de vergonha e fiquei bem triste por não ter conseguido tomar o sorvete, mas também fiquei em silêncio. 

Quando passamos perto do balcão, ele pediu um milkshake do mesmo sabor do meu ex-sorvete — menta com chocolate, porque eu ainda estou cumprindo o item de experimentar coisas novas — e pagou antes que eu pudesse protestar.

— Você não precisa. — Devo ter falado isso cem vezes até o pedido ficar pronto.

— Eu quero.

— Tá, mas eu não quero. 

— Claramente você quer. Tá nos seus olhos, Helena.

— É sério, não dá pra eu te pagar — declarei, um pouco mais baixo.

— É esse o problema? — Ele suspirou. — Ei, não tem importância. De verdade. Se precisar, eu até seguro o copo pra você beber. Se não conseguir tomar nem com o canudo, vou ter que fazer como os caras de Eldarya fizeram com a docete quando ela não quis beber a poção. 

E estava lá: o sorriso de um lado só.

— Guardiã — corrigi. Não consegui formular uma resposta pro último comentário dele. — Você confundiu os jogos.

— Eu sempre erro. — Vader deu um tapa na própria testa. — Mas admite, a cantada foi boa. Será que dá pra usar por aí?

— Hm, acho que não. Poucas pessoas entenderiam. Suas cantadas nerds só funcionam comigo, sinto muito.

— Funcionam? — Ele riu alto. — Essa é novidade. 

Perdi a chance de responder quando o milkshake chegou. Mal consegui disfarçar a minha cara de vontade.

— Ok, espero que você saiba que eu te amo. — Mesmo que eu tivesse que me esforçar pra segurar o copo com as palmas das mãos, era mil vezes mais fácil que usar a colher.

— Depende. Você falou de brincadeira ou de verdade?

Encarei-o meio em dúvida. Não sabia se ele era tonto ou só se fazia de tonto. 

— Agora eu falei brincando, mas é verdade — respondi sem brincar. O copo suava por estar gelado e minhas mãos suavam pelo calor, então tudo ia escorregando. Ele percebeu e o segurou antes que caísse.

— Eu seguro — ofereceu. Nem pensei em protestar. Ele estava sorrindo bastante.

— O que é?

— Ah, nada. Meu dia sempre melhora com as suas fofuras aleatórias.

Acabamos decidindo ir pra biblioteca pública — neguei todas as tentativas dele de me levar de volta para a escola. Não íamos dançar em cima da mesa do refeitório —, que ficava a mais ou menos um quilômetro. Andamos na sombra das árvores, correndo até a próxima quando a última acabava. Depois de insistir muito, consegui fazê-lo aceitar um pouco do milkshake, que tomamos juntos até acabar e Vader jogá-lo na lixeira mais próxima.

— Ei — chamei-o pouco antes de atravessarmos uma rua e apontei para a faixa de pedestres. Ele me encarou com as sobrancelhas erguidas. — O quê? Você disse lugares improváveis. Eu sempre quis dançar num semáforo fechado.

— E como você pretende chegar lá em cima? — gracejou. Dei um soquinho em seu braço. — Ai! Tô brincando, tô brincando. Esse lugar vai além do conceito de improvável.

— Ué, tem chão, você, eu...

— Não tem música. 

Pesquei o celular do bolso e estendi para ele. 

— Pode escolher.

Vader me encarou por alguns segundos e depois sorriu. Escolheu a coisa mais "fundo de baú" que conseguiu achar: Garotos

— Leoni rainha, o resto nadinha — comentei enquanto ele guardava o celular no bolso.

O sinal ficou vermelho e a rua, livre. Tínhamos a faixa de pedestres toda para nós. Claro, só por trinta segundos, então não dava pra ficar enrolando e fazer uma coreografia do tamanho da trilha sonora de Piratas do Caribe se não quiséssemos virar duas tapiocas no asfalto. 

Garotos não resistem aos seus mistérios

Garotos nunca dizem "não"

Garotos, como eu, sempre tão espertos

Perto de uma mulher são só garotos

Segurei as mãos dele e pisamos fora do meio-fio. Como num filme, giramos e seguimos nesse passo, meio andado e meio dançado, até o fim da rua.

A risada do meu melhor amigo era a única coisa que eu ouvia. Acho que ele viu quando fechei os olhos, porque me segurou com mais firmeza para me conduzir. Naquele instante, eu me esqueci de tudo que tinha me feito chorar alguns minutos antes. Não havia mais ELA, medo do futuro, frustração pelas coisas que nunca vou provar, tocar, sentir, viver... Nada.

De novo, éramos só eu, Vader e aquela música. Quando eu ouvi-la de agora em diante, sei que estarei lá, revivendo cada segundo. Em Coração de Tinta, Mo disse que não existe nada melhor do que um livro para grudar memórias, mas eu discordo; uma boa trilha sonora junto com um perfume gostoso e um calor do inferno fizeram um trabalho incrível, já que nunca me esquecerei desse dia. 

Não fomos para a biblioteca, no fim das contas, mas eu não fiquei triste. Em vez disso, voltamos para a casa dele para que eu pagasse minha dívida do chá. No elevador, que ele pegou comigo, já estávamos abraçados outra vez. 

Acho que, em dias como esse, você só quer ouvir a respiração de outra pessoa, sentir o coração dela batendo e entender que o mundo não acabou. A vida continua, apesar do que você está passando. Não é esse o sentido de tudo?

— Boa tarde, pintinhos — cumprimentou Miriam quando entramos. Ela sempre vem com essa de "pintinhos", mas eu ainda não sei o que significa. 

Miriam é a madrasta do Gustavo, mas não tem nada a ver com as madrastas de desenho animado. Ela tem cabelo curto e olhos grandes, o que a faz parecer uma boneca, e é meiga como uma também. Está sempre lendo uma revista ou um livro sobre culinária — ela faz o melhor bolo de laranja do mundo —, ou então vendo o Masterchef de [insira-aqui-todos-os-países-que-você-imaginar] na tevê. Vader e eu não conseguimos convencê-la a se inscrever.

— Oi, Mi! — Sorri. 

— Oi, você sabe da minha mãe? — perguntou Vader. 

— Trabalhando. Ela chega mais tarde hoje. — Miriam mexeu no cabelo e encarou a televisão, onde passava a final do Masterchef Colômbia. Sem perceber, colocou o polegar na boca e começou a roer.

Não as unhas, digo; ela literalmente rói os dedos

— Ok. — Sem mais palavras, ele me pegou pela mão e começou a me puxar em direção ao quarto.

— Divirtam-se, pintinhos! Guto, se quiserem alguma coisa, é só me chamar. — Não tenho certeza, mas acho que ela piscou pra mim. 

— Vader, eu tenho uma má notícia — comentei quando ele se jogou na cama. — A sua madrasta shippa muito a gente. Como proceder?

— Olha, eu sou suspeito pra falar, mas acho que deveria virar canon — declarou ele, olhando pra mim com aquele sorriso.

— Claro, vamos. — Ri e sentei na cadeira dele, em frente ao computador. Dei meu melhor como atriz para fingir inocência, mas assim que ele me lançou o olhar, caí na gargalhada. 

Nota: o olhar faz parte da convivência com Vader tanto quanto respirar faz parte de viver. Ele junta as sobrancelhas e aperta os olhos até quase virarem duas linhas. Pensando bem, parece com a representação de asiáticos naqueles desenhos, mesmo que os olhos dele sejam só um pouco puxados. Seria cômico se não desse um pouco de medo até você se acostumar. 

— Helena, minha cadeira. 

Eu confesso que é divertido deixá-lo irritado assim. Chega um ponto em que as pontas das orelhas dele ficam vermelhas, quase tanto quanto ficam quando ele está com vergonha. 

— O que tem ela? — provoquei. — É bem macia. 

— Helena, não arrasta a bunda na minha cadeira! — Ele pulou da cama e veio atrás de mim ao mesmo tempo em que eu saí correndo. Infelizmente, o espaço era meio pequeno; a cada vez que eu pulava por cima da cama e dava outra volta no quarto, ele quase me alcançava, até que conseguiu agarrar meu tornozelo. — Peguei!

Caí igual a uma bosta no chão, mas não liguei. Estava rindo de verdade, até a barriga doer. 

Infelizmente, passou rápido. Eu sinceramente odeio chorar, mas às vezes não dá pra evitar. Não solucei como tinha acontecido mais cedo, as lágrimas só começaram a escorrer. 

— Ei, o que é? — Gustavo me soltou e eu me virei de barriga pra cima no chão. 

— Acho que as estrelas ficariam legais no seu teto — comentei.

— Helena. — Ele se deitou perto de mim. — O chão tá frio. 

— Você ainda vai gostar de mim quando eu não puder fazer nada disso? — Pela minha voz, ninguém diria que eu estava chorando. A única evidência disso era meu rosto molhado. — Quando eu for só um vegetal numa cadeira de rodas, sem dançar, sem sair pra comer, sem correr de você, nada?

— Não, talvez eu te jogue no mar. — Vader virou de lado e se apoiou no antebraço. — Que pergunta boba. É claro que eu ainda vou gostar de você! Mesmo sem o que você disse, ainda teremos isso. — Ele apontou para nós dois. — Você ainda será você, a menina inteligente e engraçada que me shippa com qualquer ser vivo na Terra. E eu ainda vou ser... bom, só eu. Sempre seremos Vader e Helena, Helena e Vader. 

— Tipo Emma e Dexter. — Sorri. 

— É, tipo eles, só que sem a tensão romântica e sexual que eles tiveram por mais de treze anos. — Depois de uma pequena pausa, ele me olhou de olhos arregalados. — Certo?

— Certo — confirmei. 

— Que susto. Você ficou quieta de um jeito estranho. 

— Não foi por querer. — Tentei sorrir, mas os cantos da minha boca insistiam em se curvar para baixo. 

— Quer que eu vá fazer o seu chá? Podemos escolher um filme assim que eu voltar. 

Assenti. Ele passou a mão no meu cabelo e saiu, me deixando sozinha com os pensamentos. Depois de alguns minutos, consegui me sentar e respirei fundo. Chorar não afastaria ELA; nada afastaria. Era só mais um dos momentos em que eu devia aceitar o que aconteceria comigo, porque era inevitável. A única coisa que eu podia — e devia — fazer era aproveitar o tempo restante. 

É o que estou fazendo, ou pelo menos tentando. É esse o objetivo de tudo. 

Felizmente, o choro já havia parado quando Gustavo voltou com o chá, mas os pensamentos continuavam me enlouquecendo. Ainda não consegui me livrar deles, para falar a verdade, mas deu pra guardar a maioria no fundo de uma caixa mental e trancar a caixa. Talvez isso os mantenha quietos por um tempo. 

Depois que vimos o filme, coloquei uma música e nós dançamos de novo, mas não do jeito lento de antes. Era uma batida pop. Eu queria pular, girar, respirar fundo até meus pulmões doerem. Foi uma sensação boa. Preciso me lembrar, de agora em diante, de guardar na memória como sinto cada passo, cada giro, cada pulo. 

É a minha dica pra você hoje. Faça de cada coisa cotidiana um evento memorável, crie lembranças boas todos os dias, pule, sinta tudo intensamente, dance em lugares improváveis mesmo que não esteja na mesma situação que eu. 

Eu precisei de um motivo para começar a agir assim. Espero que você não precise.

Então, acho que é isso... Boa sorte.

Aqui quem fala é a Helena. Câmbio e desligo. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que achou?
Você também já dançou em lugares improváveis? Me conta aí :3 vou adorar saber. Mais uma vez, obrigada por todo o feedback positivo e o carinho, acabamos de alcançar 1000 visualizações e isso me deixou muito feliz. Obrigada, mesmo! Vocês são demais.

O que achou bom? O que achou ruim? Diz aí pra eu saber em que posso melhorar ~(°○°)~
Comentários, críticas, docinhos, desenhos, recomendações, qualquer coisa tem um lugar especial no meu coração.

E era isso. Até o próximo!
Beijão ^-^