Supernatural — Becoming Girl escrita por CASS


Capítulo 8
VIII — Back to the Future.


Notas iniciais do capítulo

Hey, guys, eu sei que demorei! Perdão por isso, mas um capítulo bem maior está aí!

E não se assustem: ele realmente não tem uma conclusão clara, porque o próximo capítulo é a continuação do que seria o sétimo.



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   — Olá, novamente, Castiel.

   Chuck estava sentado ao lado do corpo feminino de Castiel em um banco de parque branco. Algumas crianças brincavam e corriam ao redor e por entre os brinquedos metálicos do parque. Cass respirou fundo e pôs-se para trás no banco, soltando o ar pelas narinas, olhando o céu azul que reinava acima deles.

   — Eu morri, não é?

   Deus deu de ombros, olhando para cima juntamente com a garota. Procurava palavras para descrever aquilo, para que não parecesse rude e egoísta em simplesmente jogar-lhe o sim na face.

   — Já dizia Douglas MacArthur, “só os mortos conhecem o fim da guerra”.

   — Você anda cheio de citações, devo preocupar-me? — perguntou Castiel, fechando os olhos e sentindo a brisa fresca balançar os fios do cabelo ondulado e cor de chocolate.

   — O quê? — Chuck soltou uma risadinha. — Não, sem preocupações.

   — Se eu morri e você está aqui, significa que não era para eu ter morrido. — Cass engoliu em seco e abriu os olhos. — Nem os Winchester.

   — É, não era pra ter acontecido. Mas você tem uma vantagem: sabe o que aconteceu lá. — Deus levantou-se, as mãos nos bolsos do casaco moletom cinza, olhando para baixo, para Castiel, seriamente. — Não posso desfazer o que ela fez.

   — Ela? Desconhecida? — Cass também levantou. — Quem é ela? Qual o nome verdadeiro dela, por que não pode desfazer o que ela fez?

   — Não posso revelar seu nome, não enquanto ela não quiser. — o homem coçou a barba. — E não posso desfazer porque... Eu a criei. Ela também tem o livre arbítrio. Do mesmo jeito que os humanos, talvez até com mais liberdade. Ela serve a um propósito maior, ela é a punição. De uma forma diferente do que você está acostumado.

   — Então... Não me trouxe até aqui por isso, não é?

   Chuck balançou negativamente a cabeça, sério, em silêncio por alguns instantes antes de citar, novamente:

   — Só os mortos conhecem o fim da guerra.

   — Já disse isso.

   — Sua guerra ainda não acabou, Castiel. Nem a dos irmãos, Sam e Dean. Vocês ainda têm muito para correrem juntos.

   Castiel sentou-se novamente no banco, as mãos cruzadas como se fosse rezar entre os joelhos.

   — Diga o que planeja.

   — Você sabe quais foram os maiores erros de Sam e Dean lá, naquela casa? — perguntou Deus.

   Cass pensou por um momento, ou dois. Tudo ainda era fresco em sua memória, o corpo de Dean estendido no chão e o de Sam caindo nos braços de Lúcifer sem vida alguma. Logo depois sendo atirado ao chão, sem dó nem piedade. Sentir sua própria alma ser puxada por um túnel claro e terminar ali, ao lado de Chuck.

   — Responderem mal?

   — Não. — Chuck respirou fundo. — O erro de Dean foi não ter ouvido Sam. Sam disse que tinha algo errado assim que você levantou. Deu a chance de Dean dizer que era só isso e te chamar, mas escolheu ficar. Então Ela percebeu.

   — E lhe deu uma pancada.

   — É.

   Castiel assentiu, respirando fundo novamente.

   — E Sam?

   — Sam errou em não confiar em si mesmo. Em acreditar que o irmão está, na maioria das vezes, certo. Ele tem um senso preguiçoso, mesmo que saiba que está certo e que consiga pensar sozinho.

   — E o que eu preciso fazer?

   Chuck olhou bem nos olhos de Castiel. Sua expressão era uma incógnita. Poderia significar tantas coisas que Cass estremecia. Mas havia medo. Medo no olhar de Deus.

   — Não posso desfazer o que Ela fez. — repetiu. — Mas posso contornar o feito, não permitindo que ele aconteça.

   — Não entendi.

   — É simples. Se eles nunca tivessem cometido esse erro em específico, então como poderiam ter morrido especificamente dessa vez?

   Castiel piscou duas vezes para entender o que O Homem falara. Inegável era sua confusão, e Chuck respirou fundo antes de explicar totalmente.

   — Mandarei você para o passado de Sam e Dean Winchester.

   — Isso não é desfazer o que ela fez?

   — Ela nunca terá feito.

   E Chuck lhe disse que era necessário. Que o anjo precisava fazer isso, ou não apenas ele, mas os irmãos Winchester também morreriam para sempre. Tudo foi explicado. Castiel só precisava ensinar os irmãos que, Sam em particular, deveria acreditar mais em seu próprio instinto, e que Dean deveria ouvir mais. Não apenas aos outros, mas a ele mesmo. Não seguir as regras de caça assiduamente. Ser, e não apenas existir.

   — Mas eles lembrarão de mim, e saberão o que aconteceu.

   — Não. Você irá um pouco diferente.

   E a casca de Castiel, antes de cabelo esplendorosamente escuro, um chafariz de chocolate derretido, tornara-se loiro. Mas não um loiro forçado, muito claro: Tinha cor de palha, e parecia mais curto do que antes. A ondulação das madeixas também sumiu. Ela parecia mais jovem do que antes.

   — Está disposto a salvar seus protegidos novamente, Castiel?

   — Sempre que eu puder.

   Chuck assentiu e sorriu.

   — Só mais uma coisa: Você não irá sozinho.

   — Tudo bem.

   — Alguém estará em seu corpo lhe ajudando a mentir, e talvez até tentando desviar seu propósito, então não esqueça.

   Castiel fez que sim com a cabeça.

   — Não tente expulsá-la. Ou você e eles estarão mortos.

   — Tá.

   — Não conte a eles a verdade.

   — O.k.

   — Posso lhe oferecer, no máximo, quarenta e oito horas a partir de agora.

   — É tudo que eu preciso.

   Um clarão irrompeu novamente, puxando o corpo de Castiel mais uma vez. Dessa vez, caiu deitado no chão. Havia um a área ralada em seu braço, no cotovelo, provavelmente causado pela queda. Ardia. O sangue não apareceu, mas a região estava mais pálida do que o comum.

   Levantou-se. Tirou o cabelo do rosto e observou onde estava.

   Era começo da noite. Castiel acreditava ser seis e meia da tarde, talvez um pouco mais. Uma camada prateada de nuvens cobria o céu, deixando-o acinzentado. Não havia mais sol. Mas também não havia lua, nem estrelas. Cass foi obrigado a aceitar que nem todos os dias eram coloridos. Aquele em específico parecia bem triste.

   Andando devagar, o anjo percebeu onde estava: Do mesmo estranho jeito, com carros espalhados e empoeirados por toda uma extensão nos fundos de uma casa. Andando, descobriu que quase nada mudara. Os mesmos carros, talvez com uma coloração mais viva na época, posicionavam-se com maestria na parte de trás da residência de Bobby Singer.

   — Uau. — pronunciara-se Castiel.

   Deu a volta na casa, evitando as janelas. Chegou à porta, batendo três vezes.

   — Pizza! — Sam abrira a porta.

   Ele deveria ter uns, o quê?, dezesseis anos? Castiel ficou em choque por um momento, olhando Sam pasma.

   — Hã, e quem é você, mesmo?

   — Ah... Preciso falar com Bobby Singer.

   Castiel sentia a mentira dita pelo "alguém" que o acompanhava escorrer por seus lábios.

   — Bobby! — Sam gritara para dentro, e a versão mais jovem de Bobby Singer aparecera na porta.

   Circo de estranhices. Bobby Singer sem o cabelo e a barba cheia e grisalha. Aquilo começava a assustar o anjo.

   — Em que posso ajudar?

   — Minha família foi morta por um demônio e eu não sei mais o que fazer.

   Lágrimas começaram a escorrer do rosto de Castiel, mesmo sem que ele fizesse esforço. Devia admitir: Quem estava com ele era um ótimo ator.

   Bobby ficou em uma situação difícil. Não sabia o que fazer. Lançou um olhar a Sam que entendeu: Andou rápido até uma mesa e trouxe água benta, sal e prata. Castiel observou aquilo em silêncio, limpando as lágrimas dramaticamente.

   — Espero que entenda que eu faça isso.

   — Entendo.

   Singer molhou um pedaço do pulso de Castiel. Depois depositou uma mãozada de sal grosso em seu braço. Indo para a última alternativa, encostou um garfo de prata na mão do anjo.

   — Entre.

   Castiel deu alguns passos para dentro da casa que já conhecia, controlando o impulso de ir direto para a sala. Sam percebeu e ergueu uma sobrancelha, porém Cass disfarçou, fingindo perder o equilíbrio.

   Queria ter aquela pessoa que assumia o controle para sempre. Não se sentia ingênuo, não se sentia como se fosse errar, ou ser passado para trás. Sentia-se forte, imponente, importante. Pigarreou. Bobby e Sam guiaram-na até a sala que estava acostumado, convidaram-na a sentar.

   Aos poucos, eles foram conversando. Bobby pediu que Castiel contasse o que havia acontecido com sua família, por que ela estava ali. Confiando na coisa dentro de si, deixou-a falar. A coisa expressou-se bem, porque, aparentemente, havia convencido os dois caçadores. Eles se entreolhavam discretamente.

    — Qual seu nome? — Sam perguntou.

   — Clarence. — Castiel mentiu. Vendo Sam erguer uma sobrancelha, A Coisa completou. — Cassandra Clarence.

   — Me é familiar o nome. — disse Bobby.

   — Sem relação com a escritora.

   — Que escritora?

   — Esquece. — Castiel respirou fundo. — Pode me ajudar?

   Bobby olhou para Sam com uma interrogação estampada na testa. Pensativo, mexeu a barba rala e ajeitou o boné — novo e limpinho — nos cabelos novamente.

   — Pode ficar. Até conseguir ir praquela sua tia que você falou. De onde ela é?

   — Nebraska. — Castiel sentia-se desaparecendo no próprio corpo.

   — Tudo bem. — Bobby levantou. — Se me dá licença.

   Saindo da sala, o mais caçador mais velho deixou Castiel com um Sam espiado, encarando a garota arduamente.

   — Cassandra, é?

   — Sim. E você?

   — Sam. — ele estendeu a mão para Castiel. — Sam Winchester.

   Castiel cumprimentou-o.

   — Quantos anos você tem, Clarence?

   — Dezoito. — respondeu. — E você?

   — Dezesseis. Você parece mais nova.

   — Todos dizem isso.

   Silêncio constrangedor.

   — Quer alguma coisa? Pra beber, comer?

   — Eu aceito uma água.

   Sam levantou-se, mas hesitou em deixar Cass sozinha. Ela entendeu, e seguiu o mais novo até a cozinha, onde o Winchester abriu a porta de correr e entrou, pegando uma jarra na geladeira.

   — Minha mãe também foi morta por um demônio. É por isso que meu pai caça. E a mulher do Bobby.

   — Eu sinto muito. Sei como é.

   Winchester serviu o copo, entregando-o a Castiel. Ela agradeceu, tomando um gole, fitando Sam. A campainha tocou uma vez, duas, até Sam sair correndo para a porta.

   — Pizza! — o som da porta aberta encheu os ouvidos de Castiel.

   — Droga, Sam, você deixou o dinheiro da pizza comigo! — um grito, uma voz grossa, rosnando.

   — São doze dólares. — a voz de um homem estranho.

   — Obrigado. — o som da porta fechando.

   O Homem da Pizza estivera ali e Castiel nem sequer teve a chance de perguntar o porquê de ele bater na Babá. Suspirou.

   — Seja mais esperto da próxima vez, Bitch.

   O som do que pareceu um soco. Sam e o adolescente Dean apareceram na porta da cozinha.

   O silêncio entre Dean e Castiel foi mais arrepiante do que Sam, o faminto, largando a gigante caixa de pizza na mesa. Os dois se encararam até Sammy perceber o silêncio, dar três passos para trás e começar:

   — Ah, Cassandra, esse é meu irmão, Dean. Dean, Cassandra.

   — Oi. — disse Dean, dando um meio sorriso.

   — Oi. — respondeu Castiel.

   — É, oi. — disse Sam. — Pizza?

...

   Os três comeram a pizza juntos enquanto conversavam. Dean, sabendo que os pais de “Cassandra” haviam morrido nas mãos de demônios, assim como Mary, deu-lhe uma batidinha afetuosa no ombro, com um meio sorriso sem graça.

   — Sei como é.

   E aquela noite acabou. Castiel estava caindo de sono. Seus olhos ardiam, assim como os de Sam, que ele coçava constantemente para permanecer acordado.

   — Hora de nanar! — exclamou Dean, levantando-se de repente, assustando Sam e “Cassandra”. — Eu mostro o quarto.

    Dean puxou Castiel e Sam, e os dois subiram as escadas devagar, passando por algumas portas no corredor até encontrar as últimas.

   — Esse é o meu quarto, e o de Sam. Você vai dormir ali. — Dean apontou para o quarto ao lado. — Boa noite, Cass.

   Castiel encarou Dean por um bom tempo. Como havia sentido saudade de ser chamado assim. Como era bom saber que o antigo Dean ainda era o Dean. Deu um pequeno sorriso de alívio.

   — Boa noite, Dean. Sam.

   Cass entrou no quarto, fechando a porta logo após. Ouviu os irmãos trocarem uns murmúrios, uma risadinha, e fecharem a própria porta.

   Eram duas da manhã. Oito horas já haviam se passado. Só restavam-lhe quarenta para salvar os irmãos.

   ...

   — Castiel. — alguém chamou. — Sei que está acordado.

   Cass abriu os olhos pela manhã para encarar Gabriel. A luz entrava devagar pela cortina verde, deixando o quarto cor de grama. O Arcanjo estava todo sujo, rasgado e tinha um corte na testa.

   — Gabriel. — Castiel sentou-se na cama. — O que faz aqui?

   — Papai me mandou. — respirou fundo. — Vou ser seu guia, ou relógio. Como preferir.

   Silêncio.

   — Faltam trinta e quatro horas.

   Cass assentiu e, quando foi levantar e perguntar a Gabriel o que havia ocorrido, o porquê de estar tão... naquele estado, ele havia desaparecido. Apenas restou à garota ignorar o fato de seu quarto ser invadido por um arcanjo e deixar A Coisa tomar seu controle novamente.

   Ela abriu a porta, caminhando até a sala, onde estavam Sam e Bobby tomando xícaras de café. Cena incomum. Geralmente era cerveja que eles tomavam.

   — Bom dia. — Castiel cumprimentou.

   — Bom dia, Cassie. — disse Sam. — Posso te chamar de Cassie, né?

   — Claro.

   Bobby a convidou a sentar. Ela o fez. Serviu uma xícara vazia de café e respirou fundo, sentindo o cheiro do vapor invadir suas narinas e ele sentir-se cada vez mais longe.

   — Como passou a noite? — perguntou Bobby.

   — Não muito bem. — respondeu Castiel. — Pesadelos.

   — Sei como é. Tenho sempre. — disse Sam.

   Castiel fitou Sam por um tempo, as mãos na xícara de porcelana quente esquentando sua pele aos poucos. Sammy tomou um gole de café, os olhos por cima da xícara encarando Cass. Silêncio. Bobby respirou fundo.

   — Sam, você fica bem sozinho aqui?

   — Claro. — murmurou Sam. — Não vai ser a primeira vez.

   Bobby sussurrou algo para Sam. Era “você sabe onde a arma está, se precisar”. O mais novo assentiu, tomando outro gole do café quente. Singer acenou para Castiel, deu meia volta e, checando a cintura onde jazia sua arma, saiu pela porta. Não deu muito para os dois verem Dean descendo as escadas correndo, colocando o casaco e enchendo uma caneca com café.

   — Bom dia. — disse Sam, rindo da pressa de Dean.

   — Cala a boca, tô de mau humor.

   Castiel encarou Dean engolindo uma rosquinha açucarada por um momento. O café desceu pela garganta do garoto, que limpou na manga do casaco, sem reparar que “Cassandra” estava ali.

   — Bom dia, Dean.

   — Ah, Cass, bom dia. — respondeu.

   Sam olhou para Castiel como se perguntasse “como assim ele te cumprimenta e eu não?”. Cass sorriu e baixou os olhos.

   Uma buzina tocou ao lado de fora, e Dean gritou que já ia. Deixando metade do café na xícara, saiu correndo sem se despedir. A porta foi fechada com brutalidade, e Sam respirou fundo, olhando para Cass.

   — Só mais um dia de Dean Winchester. — Sam respirou fundo.

   Silêncio. A respiração dos dois podia ser ouvida. Os goles no café também, e as mordidas nas rosquinhas de canela. Não demorou muito para Sam levantar. Castiel deixou a borra do café na xícara, que juntou com a de Sam e levou até a cozinha.

   — Podia ter deixado ali. — ele murmurou.

   — Não. Deixa que eu arrumo aqui. — e Castiel colocou as xícaras e o prato das rosquinhas na pia.

   — Obrigado. — Sam deu um pequeno sorriso. — Não é sempre que as pessoas são legais comigo.

   — As pessoas não sabem o que perdem te tratando mal.

   O sorriso do garoto aumentou.

   — Por que você deixa que seu irmão pise em você com tanta facilidade? — perguntou Cass.

   — Ah, ele é mais velho.

   — Você pode tomar suas próprias decisões.

   Sam ouviu aquilo em silêncio. Parecia processar as palavras, entender devagar o que Castiel havia dito. No fim, respirou fundo, passando a mão pelos cabelos como lhe era de praxe, e dando de ombros.

   — Enfim. — resmungou. — Como achou o Bobby?

   Castiel conseguiu sentir o tom de descrença na voz de Sam. A sobrancelha erguida não lhe facilitava fingir. Cass deu um leve sorriso, sentindo, é claro, A Coisa tomando parte de seu controle.

   — Quem me salvou estava perto. Esqueci o nome dele.

   — Era um homem?

   — Sim. — assentiu Cass. — John alguma-coisa.

   Sam olhou para os lados.

   — Pode não ser, mas, Winchester? John Winchester?

   Castiel fingiu pensar. Olhou para baixo, para os lados, sua face contorcia-se em um pensamento falso. Os olhos azuis estavam semicerrados, estreitos, até que assentiu.

   — É, acho que é.

   Sam baixou os olhos, assentindo.

   — Ele é meu pai.

   Cass sorriu.

   — É um bom homem. Deve ser um ótimo pai.

   — É... ótimo pai.

   Silêncio novamente. Sam saiu da cozinha, andando novamente até a sala e sentando-se no sofá (na verdade, atirando-se nele). Castiel o seguiu.

   — Onde fica o banheiro? — perguntou Cass.

   — Última porta à esquerda.

   Assentindo, Castiel levantou, seguiu pelo corredor, entrou no banheiro. Olhando-se no espelho, mesmo já acostumado com a face da garota, não reconheceu a si mesmo. Era como se... Era como se seu rosto estivesse desconfortavelmente misturado com o de outra pessoa. Um flash estalou em sua mente. Já vira aquele rosto. Em um sonho? Em outra época? Não. Antes de ser morto.

   A voz de Bobby ecoou em sua mente. “Feche os olhos, tente lembrar”. Dessa vez, obedeceu. Havia algo bloqueando, era A Coisa, com certeza. Ofegante, apertou a pia com as duas mãos e, sem sucesso, desistiu. Tentaria depois de voltar para casa.

   A torneira começava a jorrar água na pia quando Castiel a abriu. Lavou o rosto, a água gelada lhe despertando. Posso sentir você me usando, murmurou silenciosamente o anjo. Não sei o que quer, mas sei que não é bom.

   Engolindo em seco, precisou urinar. Era a maior dificuldade que Cass iria enfrentar dali para frente: Sentar no vaso sanitário, urinar, secar. Lavou as mãos. O sabonete não era cheiroso, era como glicerina sebosa. Saindo do banheiro, deu de cara novamente com Sam, que estava de costas conversando ao telefone.

   — Então você está a trezentos quilômetros de Nebraska e nem esteve perto esses dias? Interessante. Não, por nada. — um tempo em silêncio. — Sim, tudo bem. Tem certeza de que não salvou nenhuma garota...? Não? O.k. Até mais, pai.

   Castiel foi empurrado para trás pela Coisa. Dizia-lhe para correr, voltar ao banheiro. Uma tábua rangeu sob os pés da garota assim que Sam desligou o celular. Rapidamente, apontou-lhe uma arma.

   — Quem diabos é você? — perguntou o rapaz, alterado. — Quem diabos é você?!

   — Sam, baixe isso, não queremos ninguém machucado.

   — QUE COISA VOCÊ É?

   “Não conte a eles a verdade”, a voz de Chuck martelava em seu cérebro. Sentia as veias pulsando em sua testa. Preciso agir rápido.

   — Eu... Não sou um monstro, Sam!

   — Então o que é você? — ainda com a arma em mãos, tremia. — Fizemos todos os testes, mas tenho certeza que faltou algo.

   — Eu...

   — Vou repetir. — Sam respirou fundo. — O que você é?

   Castiel engoliu em seco novamente.

   — Meu nome é Castiel. — A Coisa espancava seu interior ferozmente. — Eu sou um anjo do Senhor.

   — Não, não é. Anjos não existem, Deus não existe, porque se existissem, me responda, se existissem, por que temos que caçar? Por que temos que destruir nossa vida ajudando os outros? Por que temos que nos sacrificar, muitas vezes? ME RESPONDA.

   — Sam...

   — Você está mentindo pra mim. — tremendo, cogitou baixar a arma, mas não o fez. — Você tem três segundos para a verdade.

   — Sam, eu sou um anjo!

   — Um.

   — Estou falando sério, preciso salvar...

   — Dois.

   — ...Você e Dean, vocês estão em perigo!

   — Um. — Sam ajeitou o dedo no gatilho. — Uma novidade pra você: Estamos sempre em perigo.

   O barulho de um tiro. Uma luz tão forte quanto a da morte, que Castiel tantas vezes já presenciara. Era... Gabriel. Na sua frente.

   — Opa, opa, sem tiros nem armas, pessoal.

   Sam caiu para trás, assustado. Depois de descarregar a arma em Gabriel, recuou, ao tapete, como um animal aterrorizado.

   — O que eu falei sobre isso?

   Gabriel segurou a arma que Sam havia deixando a alguns passos a frente. Colocou na própria cintura.

   — Castiel está falando a verdade.

   — QUE DIABOS SÃO VOCÊS?

   — Meio lentinho ele, né? — Gabriel olhou de esguelha para Cass. — Somos anjos, dã. Asas, auréolas. Harpas.

   — Não toco harpa. — murmurou Castiel.

   — Nem eu, mas eles acham que sim. — sussurrou Gabriel, alto o suficiente para Sam ouvir.

   Sam estremecia no chão, nervoso.

   — Então... é verdade.

   — Sim. — disse Gabriel. — Verdade verdadeira.

   — E-eu... nossa. — Sam levantou-se.

   O arcanjo assentiu, até que tirou algo do bolso, parecia uma caneta de ferro, prateada, cônica, arredondada.

   — Só um minuto, Sam. — Gabriel puxou Castiel para perto, e cochichou em seu ouvido. — Feche os olhos.

   — O que você vai fazer? — perguntou Cass, sussurrando.

   Após um sorriso, saindo de perto de Sam, deu uma cambaleada proposital para os lados.

   — Isso vai ser dramático. — pigarreou. — Enfim. Finalmente nos conhecemos, não é Sam? Pode olhar pra cá, por favor?

   Sam olhou para o objeto, esperançoso, um lampejo de brilho aparecendo em seus olhos, um meio sorriso se formando. Num repente, Gabriel estava de óculos escuros, e um brilho rápido saiu do cilindro prateado, junto com um zumbido. Sam ficou estático, piscando várias vezes.

   — Sempre quis fazer isso. — admitiu Gabriel. — MIB vai me contratar semana que vem, prevejo isso.

   Gabriel rodou o objeto cilíndrico entre os dedos, guardando-o dentro do bolso interno do casaco acinzentado. Deu um sorriso aberto, tirando os óculos, e Castiel abriu os olhos.

   — Chamam isso de Neuralizador. Eu adoro esses filmes de E.T.s e mundo-que-precisa-ser-salvo. De verdade.

   — O que fez com o Sam?

   — Neuralizei ele.

   Sam estava se balançando no chão, como uma criança, os olhos fixos, arregalados, sem ponto de visão.

   — O que significa “neuralizar”, Gabriel?

   — Tirar as memórias. Na verdade, essa em específico. Sobre anjos. Já, já, ele volta ao normal. — Castiel ergueu uma sobrancelha para Gabriel. — Eu acho.

   Ah, ótimo. Mais tempo perdido pra nada. Castiel estava quase certo de que tinha ensinado a Sam que ele podia ter suas próprias opiniões, sem acreditar tanto em Dean, e agora suas memórias estavam perdidas. Ótimo mesmo. Obrigado, Gabriel.

   — Sam, querido? — disse Gabriel, carinhosamente. — Escuta o papai aqui. As pessoas não sabem o que perdem te tratando mal. Você pode tomar suas próprias decisões. Promete?

   Sam balançou a cabeça, babando.

   — Ótimo! — com um estalo de dedos de Gabriel, Sam caiu no sono, deitando no chão e começando a roncar.

   — Você o pôs pra dormir? — perguntou Castiel.

   — Sim. Um grande sonho, com caramelos, música e universidades que ele quer ir, ah, você está no meio, mas ele meio que não vai lembrar dessa parte quando acordar. Desculpe, querida.

   Castiel olhou para o lado, onde estava Sam, encolhido como uma criança, ao chão. Passou as mãos pelo rosto, respirando fundo. Gabriel o puxou até o sofá, onde ele acomodou-se.

   — Dê qualquer desculpa. Ah, você só tem trinta e três horas. E alguns minutos, claro. Eu confio em você, irmão. Irmã. Ah, você me deixa confuso.

   Gabriel havia desaparecido. Um suspiro de Castiel, que sentou-se na poltrona de Bobby e cruzou as pernas. Ainda demoraria para Sam acordar, e Dean voltar, então começou a repassar os passos de conversão-de-Dean em sua mente. Não seria nada fácil. Um arrepio cruzou sua espinha por não sentir A Coisa ali.

...

   — Hey, estamos em casa! — anunciou Dean, abrindo a porta da casa de Bobby.

   O barulho acabou despertando Castiel que, ainda sem testar se Sam tinha realmente perdido a memória, preocupou-se. Na verdade, nem ele lembrava de ter adormecido, e não sabia nem o horário.

   Três e quinze, marcava o relógio. A janela mostrava um clima ruim, mas a julgar pela claridade, era de tarde. O sol estava entre as nuvens que anunciavam chuva eminente. Aquilo acalmou Cass, que fingiu ainda dormir, confirmado que Sam não tinha acordado.

   — Ei, Sammy, eu trouxe pizza! — a voz de Dean se aproximava. — O que estão fazendo?

   Os passos cessaram quando Dean os viu dormindo. Ficou parado por alguns segundos, observando de longe. Até que largou a pizza na mesa de centro e tocou no ombro do irmão repetidas vezes.

   — Sammy. Sammy!

   — O quê?! — Sam acordou assustado.

   Dean soltou um suspiro aliviado.

   — Nada. São três da tarde e vocês estão dormindo?

   — Não lembro de ter dormido.

   Dean deu de ombros.

   — Seu papo deve ser chato.

   Os dois encararam Cass dormindo — ou, no caso, fingindo — quando Bobby entrou.

   — Dormindo, a essa hora?

   — Dê um desconto à ela, está cansada. — disse Dean.

   — Tem alguém apaixonado.

   — Não estou apaixonado.

   Sam deu uma risadinha forçada.

   — Tive um sonho bizarro.

   — É? Sobre o quê?

   — Ah, anjos, eu acho.

   O estômago, assim como todo o ser de Castiel, congelou por um momento.

   — Anjos, é? — perguntou Bobby.

   — É. Tinha doces e coisas estranhas, e ela era um anjo chamado Castiel, e....

   — O.k., você tá bem doido.

   Dean deu uma risadinha enquanto Cass suava frio.

   — Anjo Castiel? — a voz rouca de Bobby se aproximou.

   — É.

   — Essa é nova. — disse Bobby. — Acho que o apaixonado é você.

   — O quê? Não.

   — Ih, tá apaixonado pela garota mais velha? — zombou Dean. — Esse meu irmão...

    — Quê?

   Risos da parte de Dean. Sam ficou vermelho. Bobby permanecia em silêncio. Tirou o frasco do bolso e tomou um gole de whisky.

   — Tá bom, Sam, pode achar a garota bonita o quanto quiser, mas fale baixo, ela vai acordar.

   — Não estou apaixonado, nem a fim dela, nem mesmo a acho bonita!

   Castiel sentiu como se uma faca passasse eu coração novamente. Então foi daquele jeito que Sam o esqueceu? Sentindo raiva pelas piadas de Dean, eliminando Cass de sua memória?

   — Tudo bem, Sr. Coração de Pedra. Vou acordá-la. Vá escovar esses dentes, tá com um bafo de onça.

   Sam revirou os olhos e não foi. Dean sentiu-se contrariado, porém foi até Castiel e tocou seu ombro.

   — Cass.

   Sua voz continuava a mesma.

   — Cass. Ca-ass.

   Foi então que ela abriu os olhos.

   — Ei, Dean.

   — Dormiu, hã?

   — É. Depois que tomamos café, ficamos conversando por horas até que eu peguei no sono.

   A Coisa estava ali, e bem viva.

   — O papo dele é tão chato assim? — provocou Dean ainda mais, vendo Sam corar e revirar os olhos.

   — Não, é o melhor papo que já tive.

   Sam deu um sorriso vitorioso para Dean, que pigarreou, desconcertado.

   — Bom, trouxe pizza. Se estiver com fome.

   — Claro. — disse Cass.

...

   As nuvens densas e cinzas haviam se dispersado, e agora algumas faixas solares podiam ser vistas. Castiel perguntou à Sam se poderia tomar banho. Sam, ainda desconfiado, indicou o banheiro para Cass e emprestou, de quebra, uma flanela vermelha.

    Cass ligou o chuveiro. Deixou a água quente cair no pescoço. Era mais difícil do que pensava, fingir. Ou melhor: deixar alguém fingir por você. Respirou fundo, segurando o cabelo no topo da cabeça com uma mão, e a outra ia molhando seu rosto. Respirou fundo mais uma vez. Era como se A Coisa estivesse ali, em algum lugar, esperando para mentir novamente. Isso era tão estranho, Castiel sentia-se mal em mentir para Dean. Era errado. Muito errado. Queria gritar no rosto do garoto agora, naquele momento, Dean, eu sou Castiel, eu te salvei da perdição do Inferno, eu estive do seu lado durante todo esse tempo. A garganta da garota apertou, e teve de engolir em seco.

   Não fazia ideia de quanto tempo havia ficado ali, sem fazer nada, deixando apenas a água quente entre o anjo e um ataque de raiva. No fim, fechou o registro, estalou o pescoço, respirou fundo novamente. Soltou o cabelo agora aloirado nas costas molhadas e enrolou a toalha em seu corpo. Sentia a aproximação de alguém no corredor, mas apenas ficou em silêncio.

   A porta abriu bruscamente. Era Dean.

   — Dean! — gritou Castiel, empurrando a porta contra o rapaz. — O que você tá pensando?

   — Cass?! — Dean fechou os olhos assim que viu Castiel de toalha. — Ah, ah, desculpa, foi sem querer!

   — Bate antes de entrar!

   — Desculpa, Cass.

   Castiel tocou a porta do lado de dentro do banheiro, em silêncio, suspirando. Vinte e seis horas, era a voz de Gabriel. Dean deu um pequeno soco na porta, dando as costas ao não receber a resposta de Cassandra. Porém, Castiel sorriu, vestindo-se o mais rápido que podia para deixar que Dean entrasse.

   Mas Dean já estava lá fora. Castiel foi até ele.

   — Desculpa pelo banheiro. — disse o rapaz, de frente para a caminhonete de Bobby, de costas para Cass.

   — Tudo bem, sei que foi sem querer.

   — Ei, Cass, você gosta de carros?

   — Devo confessar não saber muito sobre eles. — Castiel parou ao lado de Dean. — E você?

   — Adoro. Principalmente o...

   — Chevy Impala 67. — disseram os dois juntos.

   Os olhos de Dean brilharam. Como ela sabia?

   — É meu favorito também. — explicou Cass.

   — Nossa! — Dean passou a mão na bochecha, deixando uma marca de graxa negra.

   — Tá sujo.

   Castiel passou a mão na mancha, limpando com o polegar, e deu um sorriso. Dean ficou levemente desconcertado, e voltou a mexer na caminhonete vermelha de Bobby. Acredite, naquela época era vermelha.

   — Por que o impala é seu favorito?

   — Meu melhor amigo tem um. — respondeu Castiel.

   — Meu pai tem um. — murmurou Dean. — Desde jovem.

   Silêncio. Silêncio constrangedor.

   — Dean, posso perguntar uma coisa?

   Castiel escorou-se na caminhonete, vendo Dean levantar do chão para encará-la nos olhos.

   — Já perguntou.

   — Não, outra coisa.

   — Tudo bem.

   — Por que você manda no Sam?

   Dean repuxou o lábio.

   — Não é que eu mande nele.

   — Hã, é sim. — contrariou Cass. — Desculpa dizer isso assim, mas ele não é seu filho.

   — Eu cuido dele.

   — Dean, Sam tem dezesseis anos. Sabe o certo e o errado.

   — Ele é a única coisa que eu tenho nessa vida. Meu pai vive sumindo, minha mãe está morta. Ele é minha família, eu odiaria perdê-lo.

   Cass respirou fundo.

   — E quem é você pra dizer alguma coisa?

   Dean deu as costas para Castiel, que o seguiu com o olhar.

   — Alguém que quer ajudar. — Cass baixou os olhos. — Você deveria tentar entender os outros, Dean. Acho que esse é o erro que você comete. Achar que está certo a todo momento é errado.

   — Errado é você chegar aqui e dizer o que tenho que fazer!

   — Você percebeu o que acabou de dizer? — a voz de Castiel estava alterada. — É o que estou falando pra você sobre o Sam!

   — A diferença é que o Sam eu conheço!

   E Dean saiu batendo os pés. Castiel olhou para cima, para o céu, decepcionado. Sua feição era triste, angustiada. As nuvens fechavam o tempo novamente. O sol de fim de tarde coloria todo o céu em um tom pastel. Um soco na lataria.

...

   — Me perdoa. — Dean bateu na porta do quarto de Castiel.

   Cass não estava dormindo. Não iria conseguir dormir. Faltavam menos de vinte e quatro horas, muito menos, era tarde da noite. E não podia atingir a marca de quarenta e oito horas sem conseguir convencer Dean. Mas aquelas batidas na porta fechada clarearam sua mente por um momento. E, no outro, sua consciência escureceu, enevoou-se.

   — Pode entrar. — disse Cass.

   — Licença. — Dean andou em silêncio até a cama que Cass estava sentada. — Oi.

   — Oi.

   Um momento constrangedor se passou.

   — Oi.

   Aquilo fez Castiel dar um sorrisinho.

   — Desculpa me intrometer. — disse ela.

   — Desculpa responder mal. É que... Eu não quero perder o Sam, sabe?

   — Não vai perdê-lo se souber que ele tem direito de escolha, também. E maturidade o suficiente para saber o certo.

   — Eu acho que você tem razão.

   Dean deu um sorriso pequeno e baixou os olhos.

   — Desculpa, de verdade.

   — Tudo bem, Dean. Somos amigos, não somos?

   — É. — Dean respondeu. — Somos.

   Mais um momento silencioso fez com que os dois se encarassem. Algo dentro de Castiel gritava, e ele sabia que a Coisa estava lutando, como Chuck dissera, para desviá-la de seu propósito.

   Ajude Dean, gritava sua consciência.

   Beije-o, gritava A Coisa.

   Dean segurou a mão de Castiel e sorriu.

   — Promete que vai ficar.

   A voz de Cass saiu embargada, trêmula e insegura:

   — Não posso ficar.

   — Por quê?

   — Aqui não é meu lugar, Dean. — Castiel livrou-se da mão de Dean, levantando-se. — Eu quero sair pelo mundo, viajar, ler, viver.

   — Os demônios agora conhecem você.

   — Eles que venham. Serão muito bem recebidos.

   Dean deu uma risada alta. Cass deu um meio sorriso.

   — Você vai ficar bem sem mim.

   — Eu vou, mas você vai? — perguntou Dean.

   — Se eu vou ficar bem sem você ou sem mim?

   — Sem mim. — disse Dean. — No caso, eu.

   — Não tem porque não.

   Os dois trocaram um sorriso. Castiel olhou pela janela. A voz de Gabriel lutava contra a da Coisa para avisar que só tinha mais vinte horas.

   — Vai me mandar cartas?

   — Talvez. — disse Cass.

   — Promete. — murmurou Dean. — Promete que vai lembrar da gente, e que vai se importar em mandar cartas.

   Castiel deu uma risadinha.

   — Isso é uma obrigação?

   — É.

   — Não posso prometer as cartas, mas vou lembrar de vocês. Todos os dias.

   Dean pareceu pouco satisfeito, mas deu um sorriso de canto de boca novamente.

   — E quando você precisar de mim?

   — E quando você precisar de mim? — perguntou Cass. — É só chamar. Nas horas ruins. Com o pensamento. Posso ser uma exímia telepata.

   A risada dos dois se misturou.

   A Coisa conseguia, aos poucos, o que queria. Dean levantou-se, indo até Castiel, e houve o beijo.

   Cass deu um sorriso ao sentir os lábios de Dean tocarem sua testa.

   — Promete tentar dar liberdade ao Sam. — Cass murmurou.

   — Promete que vai ficar.

   — Sempre vou estar com você. Aqui. — Castiel tocou a testa de Dean. — É só chamar, lembra?

   Uma risada baixa.

   — É. Só chamar.

   Dean deu uns passos para trás, as mãos nos bolsos da calça jeans como costumava fazer, chegando até a porta.

   — Boa noite, Cass.

   — Boa noite, Dean.

   A porta se fechou, e revelou Gabriel atrás da mesma.

   — Missão cumprida! — sussurrando, ele bateu palmas baixinho. — Vamos falar baixo, ele ainda está na porta.

   Castiel abriu a janela para sentir o vento bater em seu rosto. Suas bochechas estavam coradas.

   — Você estava aqui o tempo todo?

   — Quase.

   Cass deu de ombros.

   — Sabe, o Pai tá meio que nos obrigando a voltar. Você já alterou demais o futuro.

   Castiel não teve tempo de contestar. Houve o brilho, e ele estava novamente em 2017, no mesmo lugar, no mesmo quarto, porém pela manhã daquele dia.

   — Eu sei que você teria ficado até o fim. — murmurou Gabriel. — Eu teria.

   — Cala a boca.

   Com um sorriso, o arcanjo desapareceu. Castiel abriu a porta, desceu as escadas correndo, para dar de cara com Dean e Sam, já adultos novamente, arrumando o carro para sair.

   — Bom dia, Cass. — disse Sam.

   — Hey, Cass! — cumprimentou Dean. — Café?

   Só deu tempo de Castiel correr até os dois, dando-lhes abraços apertados.

   — O que foi isso? — perguntou Dean.

   — Só... Bom dia. — Cass sorriu.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, vejo vocês na próxima.



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