Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 9
Todas nós gostamos de acreditar em mentiras




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Ele entrou no DEO a contragosto de Alex, mas depois de falar com o Winn e deixá-lo explicar seu objetivo até o nosso techguy gostaria de ver se o Batman realmente conseguiria fazer o disse. Eu queria acreditar que o maior problema de Alex era estar sozinha tomando conta de tudo, por ela não ter o J’onn ao seu lado para lhe dar amparo, ou mesmo porque a situação era verdadeiramente caótica. Mas todas as vezes que eu olhava para ela, seu olhar estava relançado para Maggie.

Não passou muito tempo, as duas sutilmente se afastaram da gente, desaparecendo por entre os corredores depois de nos deixarem no painéis centrais. Winn e o Morcego estavam imersos em seu trabalho e algo em mim estava simplesmente me matando de curiosidade para saber o que iria acontecer entre com Alex e Maggie, essa mesma coisa me alertava sobre uma possível invasão de privacidade, mas intimamente eu conhecia Alex e sabia que ela não teria condições de me contar integralmente a história, e, se me contasse, seria extremamente parcial.

—Um contexto, por favor. – Alex disse assim que entraram no almoxarifado daquele andar.

—Agora não é o melhor momento.

—Não, exatamente agora é que é o melhor momento de todos. Porque eu estou com uma espécie de vigilante mexendo na minha central de operações, porque você o conhecia, porque ele sabe o que é kriptonita – pior! - ele sabe quem sabe produzir artificialmente. Por todos esses motivos esse é o melhor momento.

Alex falou aquilo quase gritando, e eu estava começando a me sentindo mal por ouvir aquela conversa, entretanto nem sequer por um segundo cogitei sair de lá.

—Antes de National City eu trabalhava em Gotham – Maggie começou – Ele já rondava a cidade, já tinha um nome, uma reputação e um canhão de luz. Eu não era nem uma detetive...

—E vocês viraram melhores amigos?

—Não, nada disso. Eu mal falava com ele. – Eu podia imaginar Maggie colocando uma mecha de cabelo por trás da orelha, ganhando tempo para pensar em sua história. – Eu me envolvi com alguém muito próximo a ele. Ele não é sozinho, sabe? Tem um bando todo, Asa Noturna,  Robin, Batgirl... São mais pessoas do que eu posso contar ou me lembrar... Chamávamos de corporação Batman, eles não eram quaisquer vigilantes, eram uma equipe bem única e por mais que dissessem não trabalhar em grupo, eles se moviam como uma entidade.

—E você namorava a Batgirl e ficou amiga do grandalhão? – Alex disse sem tato algum, eu podia ouvir a impaciência sem sua voz, a angústia crescente pela ansiedade.

—Batwoman. – Maggie a corrigiu num tom cauteloso. –Não são a mesma pessoa.

—Isso importa agora?

Maggie ficou em silêncio, eu poderia tentar ver o que acontecia por trás daquela porta, mas não me achei no direito, na verdade eu já estava invadindo demais a privacidade delas. Ela pigarreou.

—Você vai me achar um pessoa horrível.

—É impossível ser pior do que o que eu estou pensando agora.

—Alex, por favor, não faça isso, não me pressione assim.

—Você só precisa me dizer o que diabos aconteceu e o porquê de eu estar confiando nele por sua causa

—Você não está confiando nele, nem está fazendo qualquer coisa por minha causa. Ele nem sequer é um aliado, mas a verdade é ele pode ser a única pessoa que sabe o que está acontecendo. Se você está querendo saber do meu passado é outra história, mas nesse exato momento ele é nossa melhor chance de entender porque uma ladra, fugitiva de nível máximo, está por aí roubando sua arma, entrando nesse prédio e invadindo a sede de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo.

Sabia que aquele era o momento para Alex engolir a seco. Era o momento que alguém jogava a verdade na cara, mostrando o panorama completo do desastre. Essa pessoa infelizmente foi a Maggie. Mas lá no fundo, bem no fundo, eu sabia que Maggie só estava dizendo aquilo para se proteger, para jogar a conversar em um caminho seguro para si, no caminho que levava para longe de seu pecado.

—Certo, se você quer colocar nesses termos.

—Eu não quero colocar em nenhum termo, eu quero dizer que ele é uma alternativa, uma alternativa real inclusive. E se você quiser saber o que aconteceu comigo e com a Kate eu vou ficar feliz em te contar, contanto que você realmente me escute e não se deixe levar por uma raiva infundada.

—Então, tire o band-aid de uma fez, conte logo tudo. Uma coisa a mais ou menos pra você esfregar na minha cara não faz muita diferença agora.

Novamente aquele silêncio tenso, que foi quebrando por um exalar pesado.

—Nós estávamos noivas. – Maggie disse baixo e seca. –Ela se afundou por causa do Batman. Ele desapareceu por um tempo e um colega dela assumiu sua identidade, ela estava inconsolável. Eu não aguentei a pressão e saí de lá.

Alex processou a informação lentamente, em silêncio.

—Só foi isso que aconteceu?

Maggie lhe respondeu com um silêncio

—Maggie?! – Ela a chamou.

—Por hora, é isso que eu posso contar, é isso que você pode saber.

—Ótimo, você fale comigo quando tiver toda a história, quando eu puder saber de tudo.

Alex começou a se mover, escutei o barulho de seus pés contra o chão e saí de lá o mais rápido possível, quando eu estava perto da porta principal, escutei a batida da porta do almoxarifado. Uma Alex sozinha e irritada saia de lá.

Assim que entrei na sala dos controles Winn e Batman ainda estavam juntos mexendo nos computadores como loucos.

—Winn, lembra da Lena? A mulher que a Alex levou pra falar com você no furgão?

—A Luthor? Eu já a conheci antes, Kara.

—Essa mesma, aonde ela está?

—Ela pediu pra ficar na casa dela.

—Entendo.

Uma nota mental: ir visita-la mais tarde, assim que a fumaça do fogo do inferno que se instalara no DEO se dissipasse.

Alex chegou pouco tempo depois, e saiu no mesmo silêncio que entrou. Esperei pacientemente que ela fosse para algum canto, se sentasse e começasse a fingir fazer alguma coisa. Eu sabia que ela não tinha cabeça para se concentrar de verdade em nada.

Eu cheguei sorrateiramente, sentando ao seu lado na mesa do laboratório, em vinte minutos naquela sala e ela não tinha tirado o rosto daquele microscópio.

—Detecto muito raiva por aqui. – Falei casualmente.

—Não é nada.

—Não parece que é nada.

—Mas é.

—Nesse microscópio deve estar passando um episódio de Game of Thrones pra você não conseguir nem levantar a cara para falar comigo.

—Se eu tirar meu rosto daqui eu vou começar a chorar

—Eu imaginei. – Toquei nas costas da sua mão que estava sobre a bancada, ela ainda estava avermelhada e começava a formas nós arroxeados na palma pelo tapa de mais cedo, eu puxei sua mão para mim, entrelaçando cuidadosamente nossos dedos. – Alex? - Ela afastou o rosto das lentes olhando para baixo, tinha o rosto rosado e lágrimas muito discretas rolaram por sua face.

—Como eu deveria me sentir agora? – Disse abanando o rosto úmido, tentando enxugá-lo com a as palmas.

—Sortuda por estar com aquela mulher incrível...? – Eu não sabia bem o que dizer.

—É a segunda vez que ela mente assim pra mim... – Alex entreabriu os lábios. –Noiva? – Ela disse num tom mais triste que indignado. –Ela ia se casar, ela tinha uma vida por lá. Ela nem sequer considerou me contar. Ela sabe tudo da minha vida, cada mísero detalhes. E ela nem considerou me contar isso.

—Você não pode deixar que o passado atrapalhe seu presente e destrua o futuro de vocês.

—Como pensar em um futuro com uma pessoa que não é honesta sobre essas coisas comigo?

Eu engoli a seco percebendo que eu não tinha argumentos.

—Certo, você está muito chateada com a Maggie, não é? - Ela confirmou com a cabeça. -Vem cá. – Lhe puxei para um abraço, aninhando seu corpo da melhor forma que pude. –Ela não estava necessariamente mentindo.

—Esconder algo de alguém que você ama é a mesma coisa que mentir.

—Ela não queria te machucar – Eu já tinha visto aquele filme antes. Suspirei procurando meu melhor tom. – Antes de você chegar no apartamento, a Lena comentou como eu sou parecida com a Supergirl, por um instante eu quis contar a ela, pior, eu queria que ela descobrisse sozinha, porque logo depois eu imaginei como seria se eu contasse e como seria doloroso admitir como eu menti e a enganei por tanto tempo. – Alex soluçou baixo, eu a apertei mais forte nos meus braços. -Você disse que eu poderia sentir o mesmo que você sente pela Maggie com a Lena, mas eu definitivamente sinto o mesmo que a Maggie sentiu em relação a você com ela. E é tão massacrante, Alex. – Falei baixo. –Omitir não é mentir, mas é tão difícil quanto, principalmente quando você se preocupa com a pessoa. E pode ter certeza, você só faz isso, só se esforça desse jeito por alguém, quando sabe que a pessoa vale apena, quando você tem certeza que precisa proteger essa pessoa a todo custo, porque você sabe que prefere estar mal do que vê-la mal.

—Não é a mesma coisa Kara. – Ela falou fungando. Ela revirou os olhos. –Isso não é certo.

—Eu sei que você está se sentido traída, eu sei que está sentindo que não digna de confiança, eu sei que você está se sentindo enganada e iludida e se perguntando o que mais ela escondeu, se ela mentiu em mais alguma coisa. Quem não engana nunca pensa que está sendo enganada. - Ela desmanchou de novo em lágrimas, eu beijei o topo da sua cabeça. -Eu não estou dizendo que isso é certo, nem que é perdoável, mas tem algum motivo para isso acontecer, a questão agora é você pesar se esse motivo vale apena, se você está disposta a considerar esse motivo digno de perdão, porque eu entendo que a atitude em si é repugnante. – Com sua mão machucada ela segurou a minha. -Eu sinto muito que você esteja se sentindo assim. – Disse por fim.

—Kara, se você sabe que é tão errado e se você se sente desse jeito em relação a Lena... – Ela parou um pouco. – Eu não acredito que vou dizer isso. – Ela pensou alto fungando, aquela última frase foi mais pra ela do que pra mim. Ela exalou fundo ainda incrédula que iria falar. –Você deveria contar a ela. Você deveria deixar que uma Luthor saiba quem é a Supergirl.

Olhei para Alex em meus braços e pisquei tentando entender o que ela tinha falado. Ela me olhou de volta, um olhar brando e ao mesmo tempo sério. Sem sarcasmos, sem ironias, sem duras verdades implícitas. Seu olhar era apenas um triste conselho no meio da desolação.


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