Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 8
A menina e o morcego




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—Como está sua visibilidade? – Alex perguntou através do comunicador intra-auricular.

—A L-Corp não é lotada de chumbo, eu consigo ver por entre as paredes. – Ela estava preparando alguma equipe tática, deixou Lena em algum lugar perto do meu apartamento no furgão do Winn.

—Eu falei com Maggie, a equipe dela está esvaziando aos poucos os funcionários, não queremos criar uma situação de pânico.

—Vocês já liberaram algum andar?

—Sim, os quatro últimos.  – Eu direcionei minha visão para lá, encontrando contornos estranhos na área.

—O que são esses andares?

—O último é o escritório de Lena, os outros são centros administrativos e laboratórios.

—Tem duas pessoas por lá, estão em andares diferentes, uma está se movendo e a outra está parada.

—Não são agentes, o pessoal inteiro está concentrado na evacuação do pessoal, assim que eles liberam o andar descem para o próximo. – Ela parou um instante de falar, parecia ofegante. -O sistema está bloqueado não conseguimos capturar as imagens das câmeras de vigilância.

—Alex, um deles está se mexendo muito, acho que está tentando escapar, eu tenho que entrar.

—Está certo.

Fitei a janela mirando atravessar o vidro e cruzar o andar atingindo o corpo esguio e inquieto. Eu estava confiando nos flashes borrados da minha memória, eram eles que me diziam que aqueles contornos pertenciam a intrusa da outra noite.

Assim que fragmentei o vidro voando em direção aos contornos, eles se perderam da minha trajetória, parei no andar antes de empalar o prédio, atravessando a parede final. Olhei ao meu redor procurando a intrusa, com o corpo totalmente tensionado, me preparando para qualquer golpe de surpresa que ela pudesse me lançar. Não demorou para senti um empurrão muito forte nas minhas costas. Dessa vez não caí com o impacto, mas meu corpo curvou para frente. Me reergui rapidamente e a mancha negra já estava correndo em direção ao buraco que fiz na parede, preparando-se para jogar-se a fuga.

—Hoje não. – Disse me levantado e rapidamente me colocando entre ela e a fenda, interditando sua passagem.

Ela parou e pela primeira vez se colocou ereta, a uma distância razoável de mim. Não era a mesma máscara que vi no DEO, esta só lhe cobria a face até os olhos, eu nunca tinha visto uma humana com aquelas olhos, uma íris oval que mesclava do preto para o amarelo claro, olhos literalmente felinos. Ela tinha um sorriso cínico e sua língua dançava fora da boca, sempre umedecendo os lábios vermelhos. Continuava a ostentar as mesmas orelhas pontudas, uma roupa de couro muito similar a anterior, um collant negro brilhante, já as luvas tinham um novo detalhes, grandes e afiadas garras.

—Quem é você? - Eu tive um rosnado como resposta, literalmente. Exalei procurando compostura. -Certo, se você não vai me falar do jeito fácil vamos para o difícil. – Projetei minha visão de calor sobre ela, que desviou rapidamente. Colocou-se de quatro correndo como uma fera em minha direção, eu me assustei por seu gesto animalesco, quando vi suas garras estavam indo de encontro ao meu rosto. Senti uma onda atordoante com sua proximidade, era aquela mesma sensação de antes, aquela confusão, aquela falta de reação.

Quando dei por mim três projéteis impediram que ela terminasse seu golpe, ela parou assustada olhando para as coisas que lançaram em sua direção, esquivando rapidamente antes que a acertassem. Ficaram incrustrados perpendicularmente na parede, pareciam uns bumerangues, ou eram discos? Seu formato era esquisito, um tipo de pássaro? Ela deu longos passos para trás olhando para os lados, aquelas coisas surgiram do nada e existia apenas o nada a nossa volta.

—Bat, bat, bat, está muito claro pra você aparecer? – Ela perguntou numa risada de escárnio. – A sua amiguinha não vai conseguir me deter. - Ela não mais prestava atenção em mim.

—Ei, com quem você está falando?

Novamente aquelas coisas brotaram do ar, eu procurei, sem sucesso, sua origem. Dessa vez quando os projéteis acertaram a parede uma explosão emergiu, os fragmentos cortaram o ar e por pouco não a acertaram. Um montante da parede me levou para o canto da sala, eu estava no chão entre uma mesa e uma cadeira executiva. Ainda conseguia ver a ladra que estava atordoada, rodando em círculos esperando um golpe a qualquer momento, havia uma sombra de pânico no brilho pálido de seus olhos.

Escorreguei no chão para conseguir me levantar, quando ergui a cabeça novamente duas figuras de preto se encaravam, uma era a ladra e outra uma projeção máscula enorme e de capa, quando ela se moveu, ele empunhou mais um daqueles bumerangues esquisitos. Os dois começaram a girar, uma dança dessincronizada, qualquer passo em falso iria descarrilhar a batalha. Entretanto, tudo não passava de uma estratégia dela, perto do final do giro ela ficou na direção parede arrombada pela minha entrada, antes que ele avançasse a ladra bateu em retirada, fugindo do prédio, se jogando em mais um de seus saltos ao abismo entre os prédios.

Ele se virou para mim e veio até minha direção estendendo a mão para que eu me levantasse, segurei contra vontade e me fiz em pé.

—Quem é você?

—Eu preciso ir no DEO. – Sua voz era grave, poderia ser fruto de algum indutor.

Estreitei os sonhos ligeiramente preocupada por ele conhecer o que era o DEO.

—Eu não vou perguntar de novo, quem é você?

Uma equipe armada emergiu da escada e do elevador, um helicóptero estava espreitado no buraco da parede do nada estávamos cercados por agentes armados – tarde demais, claro. Maggie e Alex lideravam as equipes, as duas chegaram juntas com armas empunhadas.

Ele não parecia assustado. Tentei olhar os contornos de seu rosto sob a máscara e de novo aquela imagem sem nitidez, sua máscara tinha a mesma coisa que a da ladra. Sua roupa, por outro lado, era bem... Exótica? A figura de um morcego negro em contraste com a roupa cinza escuro, ele também tinha um cinto amarelado cheio de compartimentos.

—Morcegão? – Maggie falou atônita, engoliu a seco e abaixou sua arma.

—Mag. – Ele falou com um gesto na cabeça, cumprimentando-a formalmente.

—Vocês se conhecem? – Eu e Alex perguntamos em uníssono.

Era meio óbvio que eles se conheciam, não só se conheciam como tinham apelidinhos. “Mag”, não “Maggie”.

—Abaixem as armas. – Maggie falou alto e para o seu comunicador. – O alvo não está mais aqui.

—O que está acontecendo Maggie? – Alex perguntou visivelmente confusa.

Mas Maggie não lhe respondeu, ela tinha os olhos vidrados no naquela figura mascarada. Eles se entreolhavam calados, o ar poderia ser cortado com uma faca pela tensão no ambiente.

—O que você está fazendo aqui? – Ela perguntou se aproximando.

Ele deu de ombros.

—Nada especial.

—Seu palhaço fugiu? – Ela perguntou cruzando os braços.

—Não, a minha gata. – Ele continuou em seu tom indiferente.

—A ladra é ela? – A postura de Maggie se desfez assim que ele confirmou com a cabeça.

Os dois continuavam se entreolhando, um debate silenciosos se fazia entre eles e nós duas não entendíamos nada que estava acontecendo, os agentes compartilhavam de nossa confusão, tinham as armas baixas e esperavam a qualquer um novo comando.

—Podemos ficar a sós? Só nós quatro?

Ela concordou com a cabeça.

—Dispersar! – Gritou para os seus e olhou para Alex, esperando que ela fizesse o mesmo.

—Maggie, quem é esse cara?

Ela dividiu seu olhar entre Alex e ele. Novamente aquela pesada engolida a seco.

—Esse é o Batman, ele normalmente fica em sua caverna em Gotham.

Por que diabos eu estava ouvindo falar tanto em Gotham nesses últimos dias?

—Você confia nele? – Alex perguntou se prontificando a pegar o comunicador e dar o sinal para que os seus agentes se dispersassem também.

—Eu não confio nele, mas prefiro tê-lo ao meu lado.

Alex assentiu, e pediu aos agente para reagruparem no DEO. Voltei minha atenção para Maggie e o tal do Batman. Acho que Clark já tinha me falado algum coisa sobre ele, acho inclusive que os dois não se gostavam. Ele era diferente de tudo que eu já tinha visto, era uma figura impossível de não ser vista, ao mesmo tempo que não emitia nenhuma presença, eu não conseguia escutar suas batidas cardíacas mesmo me concentrando. Sua aura era fúnebre, como a de um morto vivo. Eu estava tensa sem nem mesmo encará-lo.

—Você parece bem. – Ele disse baixo para Maggie, enquanto os agentes se retiravam. Ela concordou com um aceno de cabeça.

—Eu estou. – Assim que ela respondeu os dois entraram em um silêncio funesto. Até que ela entreabriu os lábios, hesitou um pouco, exalou pesado e finalmente perguntou. – Kate veio com você?

Ele sacudiu a cabeça.

—Ela não sabe que estou aqui, mas ela está bem.  – Ele pigarreou. – Ela sente a sua falta. – Mesmo com sua voz grave aquela frase soou acanhada, meio sem jeito.

Na face de Maggie uma expressão voraz tomou de conta de seu olhar, ali tinha raiva, massiva e pura, mas também uma mágoa profunda, inclusive foi esse sentimento que nevoou as palavras que proferiu.

—Ela também sentiu a sua.

—Quem é Kate? – Alex perguntou tentando chamar de volta a atenção dos dois para ela e eu.

—Agora não. – Maggie fez um gesto com a mão. –O que ela fez em Gotham?

—Ela quem? – Alex gritou, quase esperneando para que alguém dissesse o que estava acontecendo. Todos nós viramos para ela, que estava a um passo de um colapso. Ela engoliu a seco tentando se controlar. Maggie interveio e falou.

—Mulher-Gato. – Seu olhar pulou de Alex para o Batman, que parecia impassível. –Ela é uma das criminosas de Gotham, alguém esqueceu a jaula aberta e ela veio parar National City. – Todas as suas palavras foram dirigidas ao Batman

—Ela está fechando negócios, ela roubou uma coisa das Empresas Wayne e que preciso recuperar.

—O que ela roubou?

—Um artefato.

Os olhos de Maggie estreitaram, ela deu mais alguns passos em direção ao mascarado, encarando sua face sem expressão.

—Isso não me soa bem. – Ela piscou algumas vezes processando tudo que estava acontecendo. –Kara, como ela escapou?

—Ela fugiu. – Eu respondi percebendo que nem eu sabia exatamente o que eu tinha acontecido.

—Para ela fugir ela tinha que te derrubar. Ela te derrubou?

Eu hesitei, me lembrando de seus ataques.

—Foi. – Nós duas tínhamos o olhar voltado para o Batman e Maggie deu mais um passo em sua direção.

—A gata não tem super força, e essa daqui é mais forte que o primo. – Os dois estavam a centímetros de distância do outro. E mesmo Batman sendo quase duas cabeças mais alto que ela, Maggie estava assustadora. -Vamos morcego, o que está acontecendo? Empresas Wayne uma bosta, o que ela roubou de você?

—Kriptonita sintética. – Ele falou entre os dentes

—Eu vou querer saber como uma ladra de banco conseguiu kriptonita sintética? – Perguntei sentido minha mão fechar, pronta para esbofeteá-lo.

Ele balançou a cabeça, coçou os olhos sob a máscara e exalou pesado.

—Menina, no mundo real pessoas têm medo, e esperam que alguém as projeta.  Até agora esse alguém foi o seu primo, mas quem irá nos proteger dele ou mesmo de você quando vocês acharem que podem tomar conta do mundo?

Senti a mão de Alex segurar meu braço, ela tomou um passo a frente, eu estava meio cega pela raiva, mas ainda consegui vê-la afastar Maggie e se aproximar daquele homem grande. Lá estava, suas costas magras em frente aos contornos negros que se projetavam para os lados. Os dois, bem próximos, se encarando. Foi então que escutei o tapa. Acordei do meu transe e percebi até Maagie estava com a boca entreaberta. Ele, que tinha seu rosto levemente inclinado, lentamente voltou a encarar Alex, naquela distância conseguia ver a palma da sua mão avermelhada. Aquela máscara tinha chumbo e era revestida por um metal de liga leve, era o mesmo de tentar estapear um trem em movimento, era impressionante a mão de Alex não estar quebrada pela violência do golpe.

—Você é um irresponsável com ego narcísico que banca de cientista louco por diversão. Você não só fabricou como perdeu o que pode ser uma das substâncias mais perigosas do universo. Agora, além de atrair sua ladra de estimação para minha cidade... – Alex exalou, tentou inspirar fundo, mas o ódio em seus olhos estava fervendo seu sangue. – Se você tem medo do que o Superman pode fazer, você deveria estar aterrorizado com o que eu quero fazer com você nesse exato momento.

Entramos em um silêncio constrangedor. Batman engoliu a seco e encarou Alex de volta.

—Eu preciso acessar os computadores do DEO. Ela não está sozinha e só com o equipamento de vocês eu consigo rastreá-la. – Ele pigarreou. – Eu sinto muito pela pedra.


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