Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 7
Algo entre o trágico e o mágico acontecendo com a gente




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Na manhã seguinte meu corpo acordou pesando uma tonelada, não consegui me mexer até acabarem todas as sonecas do meu despertador. Alex ligou pra mim duas vezes, mandou 6 mensagens. Eu nem parei para contar as chamadas de Winn.

A verdade é que eu não queria sair da cama, nem falar com Alex, porque eu acabaria lhe contando que não segui seu conselho e fui ver aonde Lena estava... E com quem ela estava.

Fiquei remoendo isso a noite inteira, ela com seu sorriso largo se deleitando aos galanteios baratos daquele cara de dois metros de altura. Talvez fosse só minha má vontade falando, mas seu rosto era muito familiar. A questão mais certa é que suas feições eram comuns demais, beirando a inexpressividade, ele seria apenas um rosto ordinário na multidão, que poderia se parecer com todo mundo e inclusive com ninguém.

Minha campainha tocou duas longas vezes, tocaria uma terceira vez caso eu não me levantasse e fosse atender logo.

—Já vai. – Gritei ranzinza, tendo certeza que era Alex. Peguei os óculos que estavam jogados em cima da ilha da cozinha apenas por costume e prendi meu cabelo num rabo de cavalo mal feito. Assim que abri a porta, engoli a seco, me mal dizendo por ainda estar de pijama e com cara amassada. –Le-Lena? – Gaguejei tentando não soar seca, sem muito sucesso.

—Eu liguei pra você, tentei falar com sua irmã, mas ela também não tinha notícias suas. É muito cedo? – Por sua pergunta claramente não era tão cedo assim. Mas eu tinha deixado o celular no sofá e fiquei imersa em pensamentos então o tempo simplesmente resolveu passar.

—Eu posso entrar? – Seu cenho estava franzido e ela estava meio hesitante. Ajeitei os óculos dando passagem. Seu cheiro inebriou o apartamento, assim que ela entrou fechei a porta. Ela foi até a sala e sentou no sofá esperando que minha sonolência a acompanhasse. Ela estava divina, uma bolsa branca quadrada, um sobretudo vinho, o cabelo em um coque e os lábios vermelhos. – Você está bem? Parece doente. Eu posso voltar outra hora. – Ela já ia se levantando quando fiz um gesto para que parasse.

—Eu acordei agora. – Eu disse mais ríspida do que eu realmente gostaria.

—Eu queria conversar com você.

—Deu pra perceber. - Ela ficou sem graça com minha resposta grossa, seu sorriso foi mais um pedido abstrato de desculpas que qualquer outra coisa.

—Eu realmente posso voltar outra hora. – Ela falou exalando, com seu olhar fugindo do meu.

Droga.

—Lena, desculpa, eu acabei de acordar, pode falar.

Ela engoliu a seco, seus olhos reviraram e depois de suspirar pesado ela começou a falar.

—Eu queria me desculpar por ontem. Tem sido uma loucura esses dias. – Ela fechou os olhos balançando a cabeça. – Sabia que querem privatizar espaço? O governo está fazendo uma pesquisa com as maiores empresas do ramo de tecnologia e a L-Corp foi contatada. – Ela calou-se mordendo o lábio. -Eu acho que não deveria estar dizendo isso para uma repórter, mas...

—Vocês vão explorar o espaço? – A interrompi tentando entender materialmente o que aquilo significava.

—É isso que está soando. - Me sentei ao seu lado, e percebi como seus olhos fugiram daquela aproximação. Sua respiração mudou de ritmo, e eu senti minha boca secar.

—Você só veio pra cá pra me dizer isso?

—Não necessariamente. – Ela sorriu sem jeito e finalmente tentou sustentar seu olhar no meu, sem muito sucesso. –Eu acho que o principal era só te ver, nós nos víamos quase todos os dias e passar esse tempo todo sem te ver... – Ela exalou. –Eu só fico feliz em ver que você está bem.

Eu assenti com a cabeça, me recostando no sofá lhe observando.

—Por favor, me diga que eu não estou ficando louca e que tem algo acontecendo aqui. – Eu gesticulei prestando mais atenção nas minhas mãos dançantes que em sua reação. Eu não sabia se teria coragem de encará-la.

—As coisas no meu apartamento não terminaram muito bem, não foi?  - Eu lhe observava pela visão periférica, de repente tinha ficado muito difícil manter uma troca de olhares, e era uma sensação reciprocamente incômoda. – Eu fui pega de surpresa por aquela ligação.

—Você nem sequer me contou o que tinha acontecido.

—Você sabe o que aconteceu.

—Não, eu acho que não.

—Sim, você sabe.

Lena não estava armada, muito pelo contrário, eu nunca a tinha visto tão vulnerável. Seu olhar pedia atenção e sua face estava posta em um grito de socorro silencioso. Ela voltou a morder o lábio engolindo a seco, sacudindo a cabeça.

—Você é minha melhor amiga Kara. – Ela suspirou. -A ligação foi de negócios, a mais inconveniente possível, o timing... – Ela não completou a frase deixando seu sentido morrer sem um fim. -Um colega de Gotham precisava vir pra National City por causa dessa proposta bem indecente do governo.

—Foi o cara com quem você jantou ontem de noite?

—Como você sabe que eu jantei com alguém ontem de noite?

—Supergirl me contou, ela disse que você estava com um moreno bonitão, perto da L-Corp. – Foi a primeira vez que minha voz soou amena, finalmente eu estava percebendo que não queria ficar estranha com ela.

—S-sim? – Seu cenho franziu e seus olhos estreitaram. – Eu não a vi por lá ontem.

—Ela estava sobrevoando, depois nós nos encontramos por acaso e ela comentou.

—Vocês são muito amigas, não é?

—Nós tentamos. – O olhar de Lena acompanhou um silêncio reflexivo.

—Sabia que você me lembra dela? De algum jeito. – Ela sacudiu a cabeça rindo sem graça. –Deve ser a pele e o cabelo, talvez os olhos.

Eu senti meu coração descompassar, quase literalmente. Eu fiquei tão gelada com o que ela falou que eu me afastei involuntariamente. Ela não percebeu minha reação, mas eu estava com o maxilar trincado.

—Alex diz a mesma coisa. – Falei entre os dentes, mas felizmente ela também não percebeu meu tom, estava imersa em pensamentos.

—Kara, eu preciso fazer um evento no final dessa semana, algo para os acionistas... – Falou vagamente. – Você iria comigo?

Novamente aquela estranha situação em que ela não conseguia olhar para mim, normalmente Lena era quem insistia que fizéssemos contato visual, ela já chegou até a segurar meu queixo para que eu olhasse diretamente para ela, sempre dizendo coisas bonitas sobre os meus olhos. Essa situação estava ficando insustentável.

—O seu colega não vai estar mais aqui?

Ela deu uma risadinha de lado.

—Com certeza vai, inclusive quer te conhece, acho que falei sobre você ontem de noite e ele quer que eu o apresente, mas isso não vai acontecer.

 -Você está com ciúmes? – Perguntei com a sobrancelha alta.

—De você? Com certeza. Só precisa de uma magnata cooperativista em sua vida. - Ok, estávamos de volta, ela com aquelas tiradas desconcertantes, e eu me deixando levar por sua descontração.

Subitamente minha porta foi fortemente esmurrada, Lena se assustou de tal forma com as batidas que pulou sentada no sofá.

—Quem é?!

—Kara?! – Quando a voz de Alex ressoou eu fiquei aliviada.

—Eu vou abrir Alex, Lena está aqui comigo. – A avisei para que quando abrisse a porta ela não tivesse com sua arma apontada para a Lena e ela começasse a fazer perguntas sobre porque uma agente do FBI usaria uma arma alienígena. O que encontrei do outro lado da porta foi a imagem de uma Alex exaltada em desespero, ela tinha gotas de suor na face e as bochechas avermelhadas pela tensão. Ela não conseguiu disfarçar bem sua arma e, como se não bastasse, ela estava com o uniforme preto do DEO. Ela parou estática a nossa frente. Seus olhos piscaram tentando buscar algo entre a lucidez e a nitidez no que via, tentando acertar seus pensamentos. Desistiu respirando fundo, sacudindo a cabeça e guardando a arma no coldre de sua calça.

—Aonde está a porcaria do seu celular?! – Gritou irritada para mim.

Mordi o lábios exasperando, avancei sobre Lena com minha mão se infiltrando no espaço por trás de suas costas, alcançando algo em baixo dela e das almofadas. Tirei o aparelho celular de lá. Assim que olhei a tela tinha algumas dezenas de ligações perdidas e algumas centenas de mensagens.

—Ele estava no silencioso. – Disse ajeitando meu óculos, numa tentativa inútil de esconder meu rosto avermelhado.

Alex expirou pesadamente.

—Lena, a L-Corp acabou de ser hackeada, os sistemas estão apontando anomalias, achamos que instalaram um programa pirata que fica duplicando informações. É a mesma assinatura do cyber atentado que aconteceu aos nossos sistemas na semana passada. Nós estamos evacuando o prédio nesse exato momento.

Percebi que Lena estava tão anestesiada como eu. Segurei sua mão, lhe resgatando para a realidade. Ela piscou recobrando o tato.

—E o que eu posso fazer?

—Você vai fornecer uns dados e uns códigos para dois agentes que estão lá embaixo.

— Tá certo. – Ela parou por um instante e olhou para Alex. Ela realmente olhou para Alex, da cabeça aos pés. –Como FBI conseguiu mapear a frequência dos dados da minha empresa?

Alex entreabriu os lábios ganhando tempo para pensar.

—Nós emitimos um alerta para a frequência de dados rastreando a assinatura do invasor. O que está acontecendo na sua empresa é um par. - Estreitei os olhos observando a Alex mentir tão bem, eu sabia que ela não entendi metade das palavras que disse, mas soou incrivelmente convincente. – Kara, você não quer ir fazer a cobertura? Preciso levar a Lena para entregar os dados a Winn.

Confesso que não sabia se isso era mais uma das mentiras de Alex ou se realmente eles conseguiriam descobrir quem era o hacker com a ajuda da Lena.  Sei que me levantei dando um último abraço em Lena e soltando um “tchauzinho” com a mão para Alex, as duas me acompanharam com o olhar até que perto de cruzar a porta elas gritaram em uníssono, “Kara!”.

—Sim? - Acompanhei seu olhar pasmo para as minhas roupas, percebendo que eu ainda estava descalça e de pijama.


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