Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 3
Preencha a noite escura com seu brilho ofuscante


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sei que já mudei trocentas vezes de nome, mas eu acho que dessa vez vai rolar.
Vocês já escutaram essa musica (janta)? Escutem é fofinha.



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Eu nunca imaginei como seria sair com Lena, muito menos qual seu conceito de “surpresa”, porém eu jamais esperaria que envolvesse uma viagem de quase duas horas para a região florestal, justamente para o interior da mata.

Lena tinha me dito que era uma garota de negócios, mas não era bem assim, se tem uma coisa que nunca falávamos era sobre trabalho, pelo menos não sobre o seu trabalho, o mundinho coorporativo dela vivia em uma bolha separada de nossas noites.

Estávamos no meio do nada quando o carro foi parando gradativamente, uma cerca enferrujada e coberta por plantas se erguia diante do carro. Quando freamos olhei animada para a janela do carro, e eu vi de longe um lago com vagalumes e algumas inúmeras plantas que os faróis do carro iluminavam de maneira disforme.

Olhei para Lena quando escutei o barulho de um portão se arrastando, ele gemeu alto com o peso da idade e do desgaste. O carro voltou a se movimentar lentamente para dentro da zona cercada. Lena se divertia com minha cara desconfiada. Entramos em algo que parecia um galpão, completamente escuro. O carro novamente parou. Eu só conseguia enxergar por causa da minha supervisão. Definitivamente o universo não queria que eu visse luz naquela noite.

—Desculpa, a instalação é precária, tudo aqui ainda vai ser reformado. – Ela falou tentando me acalmar, só entendi depois de alguns minutos que qualquer pessoa na minha situação provavelmente estaria apavorada.

—Tudo bem. –A tranquilizei. –Só não entendi ainda o que estamos fazendo aqui.

—Eu explico já. – Suas mãos tatearam em busca da minha, eu facilitei seu trajeto segurando a sua.

—Isso é você?

—É sim. – Escutei o alto eco da porta do motorista abrindo e seus passos vindo em nossa direção, ele abriu a porta do lado de Lena e ela me puxou para fora do carro. Estávamos em um tipo de estacionamento subterrâneo, completamente vazio e cheio de vigas, cabia no mínimo uns 50 carros ali dentro.

—As luzes chegam em 5 minutos – Ele lhe sussurrou.

—Tudo bem. – Ela respondeu apertando minha mão para garantir que eu estava perto. -As luzes já chegam, eu pedi para ligarem o gerador interno antes de chegarmos mas ele está com alguns problemas inesperados.

—Não tem problema, inclusive me faz sentir melhor por ter atrasado. – Ela riu.

—Claro Kara, foi tudo friamente calculado. – Seus dedos se encaixaram nos espaço entre os meus. -Tudo aqui está inutilizado por quase 15 anos.

—Estamos em alguma instalação da L-Corp?

—Não exatamente, compramos essa instalação semana passada, ainda falta muita papelada pra ser oficialmente nossa. – Ela ficou em silencio por alguns instantes pesando as próximas palavras. –Você se lembra da última vez que minha mãe quis banir os aliens da terra? Eu estava conversando contigo e alguns homens entraram na minha sala e me jogaram pela janela...

—Supergirl estava comigo e te salvou.

—Sim. Eu fiquei aterrorizada! Eu adorava aquela sacada... Quando Lex morava em Metrópoles ele tinha o maior prédio da cidade, sua sala ficava no último andar. Era enorme... – Sua voz era nostálgica, amargamente nostálgica. -É um dos poucos gostos que compartilhamos... Gostamos de vistas... Ele dizia que do alto, mais próximo do céu, as estrelas ficam mais bonitas. – Ela mordeu os lábios, meio relutante com a história. – Eu fiquei com tanto medo depois que eu caí que eu não consigo chegar mais nem perto da sacada. – Ela suspirou. –Posso te contar um pequeno segredo bobo? Algo só entre nós duas? – Balancei a cabeça e depois me lembrei que ela não podia ver.

—Claro, Lena.

—Euodeiovoar. – Ela disse tudo junto, de uma vez só, como se fosse uma única palavra -Eu só ando de helicóptero e de avião por que é o jeito, nunca achei que o céu fosse um canto seguro para ficar. Mas quando a Supergirl me pegou no ar eu fiquei com um pouco de inveja. – Suas sobrancelhas arquearam, ela voltou a suspirar. – Quem não ficaria? É ter o céu só pra você e nunca ter medo de cair. – O que ela falaria a seguir fez minha espinha gelar. –Tudo fez um pouco sentido naquela hora.

—O que fez sentido?

—Tudo que Lex fez. – Eu trintei meu maxilar sem saber exatamente o que pensar com aquela declaração. –Tudo que ele fez foi por inveja... Não era medo, não era raiva, ele não queria proteger a humanidade... Era só inveja.

—Você está dizendo que ele tinha razão para fazer o que fez? Que o motivo dele é valido? – Não consegui disfarçar o misto de espanto e receio que senti naquele momento. E acredito que ela tenha notado.

—Claro que não Kara, muito pelo contrário – declarou ofendida. -Qualquer nobreza que alguém pudesse ver no gesto dele, perdeu validade. Ele foi egoísta do começo ao fim. - De repente senti um súbito alívio com suas palavras. E me odeie por alguns instantes por ter minimamente desconfiando dela.

—É normal ter complexas reflexões quando estamos com nossa vida em risco.

—Por incrível que pareça não me passou pela cabeça morrer. – Ela parou e seu tom pareceu disperso. – Eu não fiquei com medo de morrer, eu fiquei assustada, mas morrer não passou nenhuma vez por minha cabeça.

—Por que?

—Eu estava conversando com você, então de algum jeito eu sabia que eu seria salva. –Ela disse num tom meio envergonhado. –Sem falar, Kara, que nem a Supergirl nem o Superman são egoístas. Eles dividem seu poder com a humanidade. Eles não se incomodam de dividir o céu deles com as pessoas que salvam. Acho que é por isso que eles têm todo esse poder.

Eu tinha ficado um pouco emocionada, as coisas que Lena falou me tocaram, ela tinha uma visão muito bonita do que eu fazia, e confesso que não esperava que viesse dela esse conceito tão material do porquê que eu me arriscava pela humanidade. Ela entendia melhor que ninguém o meu propósito, coisa que até minha família não conseguiu aceitar bem num primeiro momento.

As luzes começaram a piscar até se estabilizarem, Lena demorou um minuto para se acostumar com a claridade. Só prestei atenção em seu motorista quando escutei a porta de metal enferrujada se arrastando, dando passagem para um estreito corredor em forma de rampa. Ela foi na frente segurando minha mão. O corredor era fracamente iluminado por luzes vermelhas no topo das paredes e fazia uma curva fechada no fim da elevação, levava a outro corredor um pouco mais apertado e cheio de portas, seguimos em frente até a entrada da extremidade. As dobradiças dessa porta também rangeram, reclamando do esforço. O que encontramos por lá me deixou sem palavras.

Era uma sala redonda, ampla, com duas filas de cadeiras acompanhando seus contornos. No meio da sala tinha um projetor redondo que mais parecia o globo de luzes de uma boate, ele não estava corroído pelo tempo. A sala era naturalmente clara, e a lua parecia um balão de hélio iluminado, preso em algum lugar da estrutura, estava exatamente em cima do teto em cúpula. O teto não parecia ser feito de vidro, e se fosse eram um que não tinha tanto reflexo, na verdade parecia um teto nu, mas a falta de circulação de ar me indicava o contrário, era um material transparente muito único que, em relação ao prédio todo, não parecia deteriorado. Um pouco depois do projetor tinha um tapete felpudo e grandes almofadas, ao seu lado um pequeno carrinho com dois abafadores de prata e um balde de gelo com a água tônica e um vinho pulando para fora.

—Lena, você tem seu próprio céu? – Eu perguntei sorrindo ao olhar para cima. Ela soltou minha mão e eu caminhei timidamente pela sala ajeitando meus óculos, tentando minimizar minha intimidação.  No meio da sala o céu parecia uma tecido picotado cheio de frestas de luz. Era uma moldura vibrante redonda sobre nós, simplesmente encantadora.

—É lindo não é mesmo? – Ela suspirou, voltando a morder o lábio.

—Por que o projeto? O céu daqui é limpo e claro.

—Ele é programável, serve para interpretação do céu. Aqui era uma antiga instalação para as análises espaciais das Empresas Wayne. Como eles estão focando seu mercado em Gotham resolveram se desfazerem de patrimônios que estavam dando prejuízo e contataram a L-Corp pela proximidade com National City.

—Você é realmente um garota de negócios. – Ela foi andando até o tapete.

—Será que ainda está quente?

—Lena, o que é aquilo? – Eu perguntei dando rápidos e saltantes passos até ela apontando pra o outro lado da sala. Assim que ela olhou para onde eu mostrei, virei o rosto rapidamente, abaixei os óculos e tentei esquentar os abafadores de prata com minha visão de calor.

—O que? Eu não estou vendo.

—Ali... – Procurei confusa o que mostrar.

—O que? O teto?

—Sim! O teto!

—É uma espécie de acrílico, eu não sei bem, mas tem um mecanismo que faz placas móveis de metal cobrirem o teto.

—Entendo, faz sentido... Muita tecnologia! – Disse num tom tão exagerado que soou ainda mais falso do que de fato era.

Nós chegamos nas almofadas e sentamos no tapete, Lena tirou o sobretudo e os saltos deixando-os de lado. Assim que ela tocou nos abafadores para retirá-los largou balançando as mãos.

—Está muito quente! – Ela estava bastante surpresa, e sorriu aberto para mim.

—Deixa eu te ajudar. – Falei retirando os abafadores sem problema algum.

Ela se serviu de uma taça que estava escondida dentro do balde, e depois tirou de lá mesmo outra taça para mim, colocando a água tônica.

—Eu adorei a surpresa.

—Assim que eu vim aqui eu me lembrei de você.

—Foi? Por que?

—Seus olhos, eles brilham como estrelas.

Ajeitei os óculos desconcertada, e de novo ela me lançou aquele olhar que irradiava calor. Comemos devagar e ainda assim a noite passou rápido. Dentro daquele balde de gelo mágico que mais parecia a bolsa do gato félix ela retirou dois potinhos de sorvete, era o mesmo que ela levava para minha casa, um maior de morango para mim e um bem pequeno de chocolate para ela. A noite foi doce como o sorvete, como ela e como a visão daquele céu estrelado.


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