Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 19
Supergirl, não seja tola




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Assim que cheguei no DEO, encontrei as costas de Maggie no balcão da entrada, ao seu lado descansavam uma caixa de donuts e um suporte de papelão com dois lattes ainda lacrados.

—Ei, Maggie! – Falei com ela ainda flutuando pela entrada. Demorou um instante para que ela se virasse e eu desse de cara com seus olhos avermelhados, seu um profundo fungar exasperado e os pesados vincos em sua testa, naquela expressão chorosa, digna de pena. Eu fiquei completamente desconcertada, entreabri os lábios sem saber ao certo o quer dizer e o silêncio da nossa troca de olhares foi preenchido por suas palavras trôpegas.

—Ela...hm... não quer me ver. – Falou em um soluço. Eu engoli a seco no mesmo instante.

—Eu vou falar com ela. – Respondi imediatamente, depois lancei voo em direção a sala de J’onn.

Se o estado de Maggie me assustou o de Alex me deixou atônita, seu rosto estava pálido e o único sinal de vida em seu corpo encolhido sobre o estofado era o fraco movimento em seu peito, seu olhar em meio a umidade e a vermelhidão, estava perdido em um transe vazio quase inviolável.

—Alex? – Chamei baixo entrando na sala e indo direto ao seu encontro. Sua cabeça acompanhou meu movimento, mas seus olhos continuavam naquela expressão inerte, sem vida. Sentei ao seu lado lhe tomando em meus braços, fazendo sua cabeça encaixar no meu peito, meus dedos se infiltraram em seu cabelo fazendo um cafuné apaziguador. Ela soluçou contra mim e eu senti suas lágrimas molhando o maleável tecido do meu traje. –Ei, eu tô aqui, eu não vou a canto algum, o que aconteceu? – Disse lhe apertando.

Eu senti Alex desmoronar em meus braços, inclusive sem conseguir fazer força para sustentar o próprio corpo, seu peso se agravava dentro dos soluços que vinham como pequenas convulsões, eu tive que lhe segurar com força para que não caísse com os espasmos. O choro era alto e agoniado, aflito.

—Pode chorar, eu estou aqui. – Disse várias vezes lhe contendo em meus braços.

Não sei bem o que eu estava pensando que tinha acontecido, mas tinha certeza que era uma coisa grave, uma coisa seríssima, eu sabia que elas tinham terminado e o motivo era devastador.

—A-a gata... – Alex balbuciou.

—A gata? Que gata? O que tem a gata? – Perguntei abruptamente, ela se afastou um pouco do meu enlace tentando domesticar seu choro, fungando pesadamente.

—A gata de Gotham. – Sua voz era áspera, desolada e seu olhar ainda não tinha recuperado o brilho de vida. –Ela teve um caso com a gata. – Okay, eu voltei a engolir a seco. – Ela tinha um filho em Gotham que foi morto. – Pisquei desconcertada sem processar direito o que ela estava falando. – A Gata contatou ela quando veio pra National City, foi seguindo a Maggie que ela pegou minha arma... – Alex ficou sem ar por um instante, e eu acompanhei aquela reação. Não tinha acontecido exatamente algo grande, eram pequenas coisas devastadoras que tornavam a situação uma grande bagunça.

—Eu não consigo imaginar como você está se sentindo agora, Alex... – Falei com a voz quebrada, fazendo círculos com os polegares em suas costas. –Como você ficou sabendo disso? Ela te contou?

Ela sacudiu a cabeça.

—Não, foi ela quem me contou. – Ela terminou de dizer fazendo um movimento com a cabeça, como se apontasse uma direção. Olhei para frente, no extremo da sala, perto das janelas cobertas pelas persianas executivas. Havia um corpo parado de costas e eu não fazia ideia de quanto tempo ele estava por lá. Era uma silhueta coberta por uma capa negra e orelhas pontiagudas como as do Morcego, entretanto aquelas costas portavam grandíssimos fios cor de ferrugem. Novamente aquela incomoda engolida a seco. Eu não tinha percebido que havia mais alguém na sala, eu não conseguia escutar sua respiração nem suas batidas cardíacas, era aquele silêncio esquisito que Batman sempre emitia, como se não houvesse presença, como se ali não tivesse um corpo com funções vitais.

Ela se virou segurando uma pasta nas mãos enluvadas, toda a roupa era de couro negro e opaco, um morcego do tamanho do busto em contornos vermelhos telha, uma máscara que, como a de Batman, só cobria parte do rosto, mas ao contrário dele, não havia nenhuma proteção de chumbo, vi facilmente os contornos angélicos de sua face. Era uma mulher extremamente bonita, com olhos verdes e cílios longos, seus traços era visivelmente delicados, mas ainda assim, eu só conseguia imaginá-la como um cadáver por sua completa ausência de presença.

Ela estava focada nos papéis que lia e se aproximou terminando de virar uma página e fechando a pasta.

Ela ergueu o olhar para mim e Alex, dando de ombros.

—Sinto muito, eu precisava terminar de ler isso. – Falou estendendo a mão para mim. – Kate, prazer em conhece-la Supergirl, Bruce me falou muito sobre você, gostaria que tivéssemos nos conhecido em melhores tempos.

Meu ar entrecortou.

—Bruce? Bruce, Bruce Wayne? – Sob a máscara vi seus olhos estreitarem um tanto quanto surpresa pelo meu choque inicial com aquele nome, ela finalmente confirmou com um lento balançar de cabeça. -O que está acontecendo aqui? Por que você está aqui? – Perguntei ainda naquela voz eufórica e abrupta.

Seu olhar pulou de mim para Alex ao meu lado, sua boca curvou.

—Ele pediu para que eu viesse ajudar, ele não me advertiu sobre a Mag, confesso que nem sabia a relação dela com sua irmã. Alex disse que eu não precisava ir embora, mas eu realmente não me sinto muito confortável nessa situação.

Kate tinha um tom amistoso, bom, não necessariamente, é que havia um contraste muito marcante na forma como ela falava comigo e com Alex em vista de como Batman nos tratava, ela era polida ao mesmo tempo em que não fazer questão de carregar o ambiente com uma tensão conflitante como ele. Era curioso que do mesmo jeito que ela não demostrava presença material na sala, ela também não fazia questão de ocupá-la energeticamente, ela estava lá ao mesmo tempo que não precisava estar, ao mesmo tempo em que fazia questão de demonstrar que não se importava em estar, não havia na sua linguagem corporal qualquer interesse em demarcar território. Ela mal chegou e eu já gostava dela milhares de vezes mais do que do Bruce.

—Eu me surpreenderia se qualquer pessoa achasse isso normal. – Falei no mesmo tom.

Mergulhamos momentaneamente em um silêncio suspeito, Kate revirou os olhos desconcertada e, depois de pigarrear, resolveu preencher o ambiente.

—Então, a Luthor disse algo sobre as plantas?

Senti meu cenho franzir.

—O que a Lena precisava dizer sobre as plantas?

Alex sacudiu a cabeça interrompendo minha inquisição a Kate e tomando a fala.

—Lembra que o Batman achou alguma coisa suspeita no relatório de perdas e danos da L-Corp e por isso ele achou que ela era um alvo aí você saiu correndo sem que ele pudesse terminar de falar? – Confirmei com a cabeça. – Então, o panorama é bem mais caótico do que parecia.

Kate se adiantou e mostrou as pastas que estavam em sua mão, folheei sem convicção, não entendia nem os desenhos nem os números que os circundavam. Alex esboçou um sorriso sem graça percebendo minha cara, tomou os papéis e os devolveu a Kate.

—Eu não deveria ter pedido pra você vir pra cá, a Lena ainda corre perigo. – As palavras de Alex não saíram trôpegas apesar de seu tom, exalei pesadamente sentindo meu coração apertar, voltei a envolvê-la em meus braços.

—Você fez muito bem em me chamar. – Falei deitando sua cabeça em meu peito e lhe beijando os cabelos. –Vai ficar tudo bem, a Lena está bem, está em casa, eu posso demorar um pouco. – Meu olhar foi até Kate. –Bruce vai para o mesmo evento que a ela hoje de noite, você poderia pedir a ele pra ficar com ela até eu chegar?

—Não! – Alex disse abruptamente se erguendo do meu abraço, afastando minha mão do seu enlace. – Não, eu prefiro que você fique lá com ela.

—Alex, não precisa, ela...

—Não Kara, não deixe ela sozinha com ele, ele teve uma ideia idiota e irresponsável ontem.

—Que ideia? – Eu senti os olhos estreitarem desconfiados.

—Ele achou que o melhor jeito de encontrar a gangue era deixando que sequestrassem a Lena pra gente poder rastreá-la, eu disse que você iria matá-lo se ele realmente cogitasse isso.

 Eu exalei muito forte, e senti minha mão contrair de raiva. Eu me lembrei de seu sorriso cínico abotoando o colar de diamantes, do jeito que ele perguntou sobre mim a Lena. Maldito!

Kate pigarreou assim que sentiu que minha hostilidade começou a aflorar.

—Eu posso tomar de conta da Luthor. – Ela disse involuntariamente depois de dar de ombros. –Não é como se ela fosse uma criança que precisasse de babá.

Alex balançou a cabeça.

—Se tem uma coisa que o Batman disse certo é que vão atacar esse evento hoje de noite, é importante estarmos preparados.

Eu concordei com Alex, mas algo ainda me incomodava.

—Eu ainda não entendi completamente o que está acontecendo.

Alex me olhou com os olhos semicerrados pesando em sua mente o que era relevante para me contar.

—A LexCorp tinha um grande investimento na área produção de energia alternativa quando o Lex foi preso, - foi a Kate quem falou - era tudo um grande disfarce para encobrir uma pesquisa sobre criação de substâncias sintéticas.

—A Lena me contou algo parecido, mas não chegou a falar nisso de substância sintéticas

Ela confirmou com o mesmo assentir de cabeça.

—Talvez ela nem soubesse, o Bruce comprou as patentes com medo de que caíssem em mãos erradas.

—Mãos erradas como, por exemplo, agora? – Perguntei irônica e ela se permitiu deixar escapar um sorriso meio que concordando.

—A questão é que conseguiram recriar com sucesso uma série elementos que nosso planeta jamais conseguiria produzir naturalmente, de inertron ao metal enésimo thanagariano, tudo graças as descobertas dessa pesquisa.

—Uma pesquisa energética permitiria extrações de solo, fornalhas para grandes temperaturas, uma área gigantesca, talvez até uma plataforma para lançamento de satélites para análise de radiação e extração de minerais em asteroides. – Alex complementou em um tom cauteloso, sem saber como eu estava processando aquelas informações.

—Quem sabia disso? – Perguntei muito incomodada com o olhar das duas sobre mim.

—Uma parte do governo, seu primo, uma agência... – Kate começou, mas eu logo a cortei.

—O Clark sabia? Por que ele não impediu? Ele nunca comentou isso comigo.

—Vocês iriam fazer o que? Invadir propriedade privada? Acabar com as licenças governamentais? Caçar as patentes e destruir os cartórios que as emitissem? Supergirl, - o tom de Kate tentou ser pedagógico – de novo, tudo funcionou sob a fachada de pesquisa energética, não seja tola, a radiação que uma explosão de kriptonita produz só faz mal a kriptonianos, mas é inofensiva aos seres humanos e ao nosso ecossistema. Se a empresa comprovasse a estabilidade do material sintético, desenvolvesse uma máquina pra extrair dela energia e quisesse produzir em larga escala você e seu primo não poderiam fazer nada sem se tornarem os novos inimigos da Terra.

Foi uma longa e dura engolida a seco que eu dei. Balancei vagamente a cabeça.

—Certo, continue, a Mulher-Gato descobriu e invadiu, o que mais? – Minha voz saiu ríspida.

—Não, antes disso um desses materiais acabou emitindo uma onda específica que foi rastreada por uma gangue de piratas intergalácticos, eles não podem atravessar a atmosfera da terra, é tóxica para eles, por isso foram atrás da Mulher-Gato e deram pra ela um vírus de computador que baixou todos os sistemas das Empresas Wayne.

—Foi o mesmo que ela usou aqui?

—Sim e não, Bruce tem certeza que ela fez uma cópia de todos os dados do prédio, só não consegue provar, não deixaram nenhum traço, nenhum sinal do vírus. Ele acha inclusive que foi por isso que invadiram a L-Corp, seriam dois planos separados, o primeiro quando invadiram aqui e pegaram os dados, e o segundo, depois que viram que o DEO estava conectado com a rede governamental e tiveram acesso aos dados confidenciais. O que roubaram da L-Corp foram as plantas da proposta que enviaram para privatização do espaço, uma rede de satélites que serviria para melhorar o sistema de GPS global, que serviria como plataforma de comunicação mais rápida que a fibra ótica... – As palavras da Kate se perderam por um segundo, ela resolveu reaver a pasta nas mãos e me mostrar os esboços. – O que ele não me disse, mas eu tenho certeza que pensou, foi nessa última parte. – Disse mostrando os satélites sendo ligados por traços e estes envolvendo uma esfera que poderia ser terra. – A bolha. – Ela falou compenetrada. –O planeta inteiro estaria coberto por pequenos satélites, eles se ativam como uma rede envolvendo o planeta, é um projeto extraordinário, a terra dentro de uma bolha. – Acho que fiz alguma expressão engraçada porque ela voltou a sorrir percebendo que eu não estava entendendo. Olhei pra Alex que por um instante pareceu fora de área mas piscou rapidamente recobrando a consciência e resolveu poupar Kate da explicação.

—É um mecanismo de defesa para uma invasão alienígena, bloquearia o acesso a terra por naves e poderia defende-la de lasers, é basicamente um campo de força, um super escudo energético. O que a Kate está querendo dizer é que essa rede pode assumir qualquer forma, qualquer tamanho e também qualquer função, a ideia original é pra proteção, mas nada impede de ser usada como uma arma. – Ela apontou para uns números ao redor do desenho. – Vê a escala? Nenhuma rastreador veria quando isso estivesse chegando na atmosfera do planeta, seria um ataque silencioso e brutal.

—O medo pela Luthor é que as plantas tem uma assinatura de cálculos muito particular, só ela conseguiria alterar as plantas.

—Porque eles vieram pra o DEO? Se eles só queriam esse material sintético, o que trouxe eles para cá?

Alex revirou os olhos indignada com a resposta que daria.

—O transportador de matéria que o DEO apreendeu.

Eu parei, confusa.

—Isso não apareceria no relatório de dados que você pediu quando abriu o inventário?

—Deveria, mas ela direcionou toda a energia do gerador para ativá-lo, então perdemos todos os processamentos de dados daquele momento. A gente pensou que ela tinha desligado o gerador, quando, na verdade, ela só fez sobrecarregá-lo.

—Nós vamos pegá-la e acabar com essa gangue, pode ter certeza. – Eu falei segurando a mão de Alex com força. E era segunda vez naquele dia eu fazia uma promessa mais pra mim do que pras outras pessoas ao meu redor.


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