Janta escrita por Dark_Hina


Capítulo 12
Deveríamos nos perder nessa noite




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Eu realmente gostava daquela capa negra, ela era uma espécie de sobretudo, ele conseguia se esconder completamente dentro dela. Eu também já estava acostumada com a falta de presença ao redor dele, aquele silêncio fúnebre em sua existência. Às vezes o pegava me escarando de uma maneira meio suspeita, mas a partir de certo ponto eu só conseguia achar engraçado aquela constante desconfiança, como se ele sempre estivesse rodeado por fantasmas, como se de alguma maneira algo o assombrasse permanentemente.

—Você parece com ele.— Ele falou entre uma digitada e outra no grande teclado do painel de controle, sem realmente tirar seus olhos da tela.

Ele tinha passado a noite inteira ali, até Winn estava meio desmaiado na cadeira executiva, com a baba escorrendo pelo canto da boca, mas Batman continuava inabalável, tinha algo em sua postura de ferro que não parecia real.

 -Ele? Ele quem? – Meus olhos estreitaram encarando o curvar de sua boca.

—Clark. – Ele disse indiferente, eu senti meu corpo tencionar, pisquei um tanto quanto assustada e pigarrei.

—Clark? Quem é Clark? – Tentei desconversar.

—Menina, você realmente acha que eu não o conheço? Que ele não me conhece?

—Eu realmente não gosto de você nos conhecendo tanto, enquanto nós não sabemos nada sobre você.

Ele me deu um gelado silêncio como resposta. Eu pensei em dizer mais alguma, porém a porta do elevador abriu e o barulho de papeis sendo balançados chamou minha atenção. Alex entrou segurando um relatório com poucas folhas, suas feições não eram as melhores.

—A perda de inventário deu negativa. – Ela disse e foi a primeira vez, desde que eu cheguei na sala, que ele esboçou alguma real reação. Ele se levantou e pediu os papéis na mão de Alex, ela os entendeu se dirigindo ao monitor em que ele estava trabalhando.

—Isso não faz sentindo. – Ele falou por fim, encarando com Alex a tela. – Tem que certeza que isso é tudo o que vocês guardaram?

—Tudo igual ao inventário realizado no trimestre passado, e fizeram a revisão dos acréscimos de material, todas as novas aquisições são documentadas ao longo do mês, e tudo confere. Inclusive das pastas seladas que você falou, eu pedi vistoria total. Está tudo lá, do mesmo jeito.

Os dois se encararam em silêncio, eu não entendi absolutamente nada que eles falaram, mas pela tensão no ambiente e pela expressão no rosto de Alex eu sabia que aquilo não podia ser uma coisa boa.

—O que você estava esperando que faltasse?

—Não está aqui. – Ele falou como se aquilo respondesse algo.

Novamente eles mergulharem num silêncio calculado, não sei se era realmente uma batalha de egos, mas existia uma tensão competitiva pairando sobre eles, aquele silêncio era também um digladiar de olhares. Por uma soma incontável de fatores Alex foi a primeira a perder a compostura.

—Que tal a gente tentar um jogo novo? – Ela falou provocativa, num tom fortemente agressivo que não escondia ascender ao escárnio. -Começa assim, você tentar pelo uma vez ser honesto como a gente nos contando absolutamente tudo o que está acontecendo e a gente parte daí pra descobrir o próximo movimento.

Apesar dele não ter encarado aquilo como um comentário descontraído isso não o impediu de ignorá-la completamente.

—Você pode conseguir um relatório de perdas e danos da L-Corp com a Mag? Eu tenho certeza que eles já têm porque vão precisar para ativar a seguradora.

Alex estreitou os olhos lhe encarnado, eu podia sentir seu fulminar com aquele olhar assassino.

—Eu tenho certeza que você não tem problema de audição e escutou perfeitamente tudo o que eu disse... E o nome dela é Maggie e ela não trabalha aqui! – A última pergunta saiu como um grito. – Seria tão mais simples se você só falasse o que está procurando.

Ele parou por um instante, frente a frente com a Alex, eu simplesmente podia ouvir seu pensamento mandando Alex se recompor e parar de besteira, eu realmente podia ouvir sua voz grave mandando-a entrar em contato com Maggie para conseguir essa lista o mais rápido possível. Mas por algum motivo que eu desconheço senti a tensão no ar se dissipar por parte dele, sua pompa baixou de tal maneira que afetou Alex, ela sentiu tanto o gesto que foi induzida a acalmar-se também.

—Cheque todas as suas análises pendentes, - ele falou calmamente - algo que depois do incidente foi completamente descartado e só poderia ser retomado após tudo normalizado.

Alex ainda vacilou alguns instante antes de responder, sua feição claramente se perguntava qual o ponto de tornar ainda mais difícil aquela convivência intragável.

—Você acabou de descrever todos as pesquisas em curso, o protocolo de prioridades é sempre descobrir o que está faltando no inventário e só depois redirecionamos o pessoal para o trabalho normal.

—Ótimo, mande todos os seus cientistas voltarem aos laboratórios, faça uma lista daqueles que não encontraram o que estavam trabalhando antes do incidente, é isso que estamos procurando, uma coisa tão secundária que ninguém dará falta. – Ele se calou, pigarreou e deu de costas, ele ainda se moveu por dois passos quando parou e começou a falar. - Eu esperava que algumas plantas estivessem desaparecidas, ou pelo menos rascunhos de algum projeto de satélite, mas pelo inventário vocês não tem nada disso.

Ele terminou e começou a andar em direção a saída, seus passos eram vagarosos e, mesmo ele quase se arrastando pelo chão, se mexia completamente em silêncio.

—Ei, para onde você vai? – Alex perguntou ligeiramente impaciente.

—Eu volto pela manhã. Quando o rapaz acordar peça pra olhar o spider de busca que eu emiti.

—Você percebe que nunca responde diretamente minhas perguntas?

—Eu vou conseguir a lista da L-Corp sem incomodar a senhoria Sawyer.

Ele disse desparecendo pela porta, Alex olhou para mim indignada.

—Você não podia falar com a Lena e conseguir essa lista? Seria tão mais simples. E depois você mata ele eu te ajudo a esconder o corpo.

O que me assustou é que não tinha o típico tom de brincadeira na fala da Alex. Ela não estava tão exaustada como das últimas vezes que eu tinha ido ao DEO, mas algo a incomodava e estava visivelmente consumindo-a.

—Fale comigo. – Eu pedi. Ela revirou os olhos com desdém. Suspirou e encarou a tela.

—Não sei se quero conversar, eu acho que eu vou desmoronar a qualquer momento com tudo o que está acontecendo.

Eu a embalei num abraço apertado.

—Eu vou estar aqui quando você cair e quando você quiser se levantar também. Você não está sozinha.

Não havia muito o que eu podia dizer para acalmá-la, mas estar ali para ela, já significava algo. E no fundo, era isso que ela precisava.

Quando caiu a noite eu me preparei para fugir sorrateiramente do DEO, encorajei Alex a falar com Maggie e depois sai pela janela mais próxima.

Eu não demorei para chegar em casa trocar de roupa e esperar por Lena um tanto quanto impaciente, eu estava com aquela mesma sensação engraçada no estomago, e aquele gelo que batia nos ossos e pulsava adrenalina nas veias. Quando a campainha soou me levantei em um pulo, fui energética até a porta, acho que meu sorriso não cabia nem no meu rosto, foi incrivelmente broxante quando abri a porta e dei de cara com Freddy segurando uma caixa enorme.

—Boa noite senhoria Denvers, a senhoria Luthor pediu para lhe entregar isso, disse que tentou falar com a senhorita e não conseguiu. Ela a espera. – minha cara mexeu, eu só consegui respirar fundo e balançar a cabeça concordando. Terminei de abrir a porta para que ele entrasse, coisa que não fez automaticamente. De novo, respirei fundo.

—Oi Freddy, - disse em demasiada animação, muito do meu tom essa vago – boa noite pra você também! Já disse que eu adoro seu sotaque? Você não vai me esperar no carro, eu tenho um sofá bem ali. – Terminei de falar apontando para a sala. Ele demorou um instante para entender que eu falava sério, entrou relutante, meio a contragosto. Todo mundo que trabalhava para Lena era desconfiado, seria até engraçado se não fosse tão esquisito. – É o seguinte, meu nome é Kara, eu te vejo quase toda noite, se você deixar é bem provável que seu carro venha sozinho pra minha casa de tanto que ele conhece o caminho. Então, assim, você pode me chamar de Kara.

Ele não conseguiu me responder, apenas assentir com a cabeça e se encaminhar um tanto quanto envergonhado para o sofá.

Eu estava um pouquinho só chateada com Lena, ela realmente tentou ligar, mas inventaram uma coisa maravilhosa chamada mensagem, ela poderia me dizer que mudou de planos e quais seriam esses novos planos através de mensagens.

Peguei a caixa gigante e levei para meu quarto, desatei o laço com cuidado, era um vestido preto deslumbrante, um tanto quanto decotado se comparado as minhas roupas normais, mas nada que realmente fosse uma tentado violento ao pudor. Coloquei sobre o corpo e percebi que possivelmente me vestiria muito bem. Sem cartões nem bilhetes. Exalei considerando serialmente em devolvê-lo dizendo a Lena que ela sabia aonde me encontrar, que eu tinha minhas próprias roupas e eu já era grandinha o suficiente para escolhe o que usar.

Meu lado romântico falou mais alto, estávamos naquela parte do filme que o casal finalmente estava se acertando, no ponto em que sabíamos se realmente poderiam terminar juntos. Algo na minha cabeça deturpada conseguia ver claramente que esse seria seu grande gesto romântico. O exato momento do clímax de nossa união. Eu quase podia sentir meus olhos brilhando de emoção. Troquei de roupa em uma fração de segundos. Quando sai do quarto até Freddy curvou ligeiramente a boca no que me pareceu ser um sorriso de aprovação – o que foi um pouco chocante, Freddy era inglês, ele não sorria.

Lena havia pedido especificamente pela limusine, e quando entrei dei de cara com uma garrafa de champanhe completamente atolada no gelo. Era nesses sutis momentos que ela me lembrava que era um executiva riquíssima com acesso a coisas exclusivas e a pequenos luxos diários. Não que fosse algo muito descarado, nem muito pretensioso... Era só uma limusine! Revirei os olhos com a constatação e um sorriso meio debochado floresceu no meu rosto. Era uma daquelas coisas que ela não precisava fazer, mas fazia porque achava que eu iria gostar, porque sabia que apenas a lembrança do gesto atencioso me faria sorrir.

Nós cruzamos metade da cidade, e eu confesso que fiquei completamente decepcionada com o que eu encontrei. Freddy parou em frente a uma boate. Tudo bem, não era qualquer boate. Era a 24. 24 era uma das boates mais exclusivas da cidade. Entretanto eu nunca conseguiria imaginar que o grande gesto romântico de Lena para mim seria numa boate. Eu me lembrei da Lena que me trouxe uma sobremesa importada, da Lena que me levou pra ver estrelas, da Lena que aguentou feliz todos os meus filmes românticos. De certa maneira eu deveria perceber que os clichês estavam acabando, talvez essa seria a forma dela tentar inovar, fazer algo completamente diferente.

Antes de eu sair do carro Freddy me entregou uma pulseira neon, disse que só era mostrar a pulseira que iriam carimbar algo no meu braço e eu poderia entrar, seria muito fácil encontra-los.

Minha sobrancelha arqueou instantaneamente

—Encontrá-los? Do tipo, plural? Vai ter mais alguém por lá?

Ele balançou a cabeça confirmando.

Ótimo, o grande gesto romântico teria intrusos.


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