Entremeios escrita por DrixySB


Capítulo 6
Aquela noite


Notas iniciais do capítulo

Jemma relembra detalhes do que aconteceu naquela supramencionada noite com Fitz.



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Fora um lapso. Pelo menos era assim que Fitz definiu aquele momento. Para Jemma, no entanto, fora um modesto lampejo de esperança. Por mais que eles estivessem levemente alterados por conta da ação do álcool em seus organismos… Deitada sobre sua cama, imersa no mais completo silêncio, Jemma parou de fitar o teto e apertou os olhos, deixando que sua mente a guiasse de volta àquela noite conturbada com Fitz…

*

Ambos estavam no laboratório, compenetrados em sua missão, no momento em que Hunter surgiu com um engradado de cervejas, afirmando que eles estavam trabalhando demais e preocupado com o psicológico de Fitz. Era seu amigo, afinal, e tinha que lidar com uma situação desconfortável: Ajudar a mulher que amava a trazer de um planeta alienígena o homem com quem ela tinha se envolvido durante sua tortuosa estadia por lá…

Hunter levou algum tempo tentando convencê-los de que deveriam dar um tempo e sentar para beber alguma coisa. A princípio, eles censuraram o mercenário com o olhar e lançaram indiretas indicando que aquela era uma péssima ideia. Mas, após abrir uma garrafa diante deles, se fingindo de despreocupado, apontar razões pelas quais eles deveriam fazer uma pausa e até mesmo citar o famoso quote de O Iluminado (“Vocês sabem... Só trabalho sem diversão, faz de Jack um bobão”), eles resolveram acatar sua ideia. Não que tivessem sido convencidos. Era só um meio de fazê-lo calar a boca e parar de perturbá-los enquanto tentavam trabalhar.

Sentindo-se vitorioso, ele sorriu. Nem imaginando os motivos reais que o levaram ao triunfo. E Fitz e Simmons se dirigiram para a sala comunal, sentando-se no sofá com as garrafas de cerveja e seus tablets em mãos. Quando Hunter se deu conta de que a conversa se concentraria em cálculos herméticos demais para ele, além da complexa topografia do tal planeta alienígena em que Simmons ficou presa durante seis longos e devastadores meses, balançou a cabeça, decidindo degustar sua cerveja em outro lugar. Algum em que a conversa fosse mais interessante, menos didática e entediante.

Após a partida de Hunter e algumas cervejas partilhadas, Fitz e Jemma se encontravam mais leves, dividindo piadas internas e uma intimidade que há muito não tinham. Desde que ela voltara, as coisas não eram mais as mesmas. E nem tinham como ser. Era difícil para ambos. Mas, naquele momento em particular, foi como nos velhos tempos trabalhando em parceria. Como se fosse algum projeto da época da Academia. Como se estivessem estudando juntos para os testes finais.

Entretanto, havia um elefante na sala de estar. Alguns, para falar a verdade.

O convite para jantar antes de ela ser tragada pelo monolito. A declaração dela, gravada com o celular, falando sobre Perthshire e o desejo de partilhar uma vida ao lado de Fitz. O beijo confuso no laboratório. Will Daniels...

Jemma não queria dar um passo além sem antes resolver aquele conflito. Sem antes salvar o homem que salvou sua vida em Maveth. Sem antes deixar claro que o que quer que tivesse acontecido entre ela e o astronauta, fora por força das circunstâncias. Mas a bioquímica também sentia que se não agisse rapidamente, poderia nunca mais ter sua chance com Fitz.

O engenheiro, no entanto, procurava se conformar. Ainda revoltado com o péssimo timing, com o universo que parecia conspirar contra eles, com o cosmos que parecia querê-los separados a despeito da descrença de Jemma nessa teoria. Ele procurava engolir sua angústia e frustração e se concentrar em ajudar Jemma a trazer Will de volta. Ele era um ser humano, merecia voltar e isso a faria feliz. Era o certo a se fazer.

Por mais que trucidasse seu coração um pouco mais a cada minuto.

Tentando desanuviar o clima após silêncios constrangedores nos quais ambos pareciam conseguir ler o que se passava pela mente do outro, decidiram dar outros rumos para sua conversa. Falaram sobre a Academia, sobre os tantos problemas que resolveram juntos, sobre como sempre encontravam uma solução, sobre aquela vez no laboratório quando Fitz criou o antissoro que salvou a vida de Simmons após ela ser contaminada pelo vírus chitauri...

Mas tudo parecia convergir para aquele tópico que eles tentavam inutilmente evitar.

Em algum momento, Jemma citou casualmente o fato de eles terem encontrado uma forma de sair do módulo no fundo do oceano naquela vez em que foram traídos por Ward. Ela só atentou para o perigo em suas palavras, após tê-las proferido. Fitz calou-se imediatamente. Respirando fundo, Jemma decidiu que era o momento oportuno para pôr os pingos nos is.

— Dentre tantas coisas... Precisamos falar sobre isso.

— Não é o momento, Jemma – ele respondeu, cabisbaixo. Sem querer encará-la.

— E quando vai ser? – indagou com um uma voz enérgica e uma postura altiva.

— Não sei, mas não é agora.

— Ouça! – ela o cortou prontamente, tornando o corpo na direção dele, cobrindo a pouca distância que os separava. Ele suspendeu o fôlego perante aquela inusitada aproximação – Fitz, eu... Senti sua falta.

Sentindo que quanto mais tentava escapar, mais ele sufocava, Fitz parou de lutar contra o fato de que aquele era um momento decisivo e levantou o olhar. Finalmente olhando dentro de seus olhos.

— Ainda sinto... E isso é perturbador porque você está bem diante de mim – era possível perceber que ela digladiava com as lágrimas, procurando reprimi-las – eu senti tanto a sua falta naquele planeta... Era uma dor que eu jamais senti. Como se eu houvesse perdido uma parte vital de mim. E agora, de volta a este planeta, de volta ao seu lado que é o lugar ao qual pertenço... – ela engoliu em seco antes de prosseguir – eu não deveria estar me sentindo assim... Sentindo que te perdi pra sempre...

— Jemma... – ele tentou, mas a bioquímica o interrompeu outra vez, tomando a mão dele entre as suas.

— Não, Fitz. Você precisa me escutar! Eu jamais me esqueci de você... Eu jamais parei de desejar... – ela cerrou os olhos, ficando em silêncio por um instante – Eu senti falta especialmente do que eu nunca viveria. Daquilo que eu nunca teria com você – era o álcool lhe dando coragem para dizer tudo o que mais queria e precisava dizer a ele. E ela tinha ciência disso. Agora eles se encaravam de maneira penetrante. Ambos conscientes da proximidade alarmante entre seus rostos.

— Não faça isso, Jemma – ele proferiu em um sussurro, sem romper seu contato ocular.

— Eu não estou fazendo nada. Ainda... – Jemma devolveu no mesmo tom.

O que aconteceu depois não foi apenas resultado das consequências do álcool que haviam ingerido. Eles foram guiados pelos seus instintos, pelo desejo puro e ardente que percorria suas veias e fazia suas peles clamarem pelo toque um do outro. Fora ocasionado pelo ímpeto desmedido que os envolveu quando seus lábios se encontraram. O beijo se tornou cada vez mais fervoroso, não dando mostras de que aquela efervescência que os acometeu iria se abrandar tão cedo. De fato, não se abrandou. De maneira puramente passional e instintiva, suas roupas foram abandonando seus corpos em meio a beijos incendiários. As mãos de ambos percorriam desesperadamente cada centímetro de pele que pudessem alcançar enquanto entrelaçavam seus corpos. Ambos ignorando a voz da razão que tentava adverti-los do quão inconsequentes estavam sendo.

Ele observou deliciado como ela movia sensualmente seus quadris sobre ele. Como ela sabia o que queria, como ela revirava os olhos em êxtase a cada nova investida de seu corpo sob o dela. Ouviu, com deleite, cada suspiro, cada clamor... Ela levou as mãos aos ombros dele, procurando por apoio. As mãos de Fitz, por sua vez, foram parar nos quadris dela, ajudando em seus movimentos, auxiliando a impulsioná-los de encontro aos dele. E assim se seguiu aquela fricção intensa entre suas intimidades até que atingissem o auge do prazer.

Nos braços de Fitz, Jemma sentiu-se plena; sentiu que reencontrara a si mesma. Nunca pareceu tão certo.

*

Jemma percebeu que havia algo de errado enquanto eles se vestiam. Foi tudo muito rápido. Do momento em que se beijaram, até consumarem seu desejo, recobrarem o fôlego, colocarem suas roupas novamente e arrumarem toda aquela confusão de garrafas de cerveja, almofadas e relatórios de pesquisa pelo chão.

Ele tentou o quanto pôde não olhar para ela, sabendo que estava apenas adiando o inevitável. Sentou-se novamente no sofá no qual a teve em seus braços poucos minutos atrás. Ele espalmou ambas as mãos sobre os joelhos pensando no que havia ocorrido. O olhar perdido, desfocado...

Jemma aproximou-se silenciosamente, sentando-se ao seu lado.

— Fitz... – ela tentou em uma voz frágil que denunciava toda sua insegurança. Procurou limpar a garganta antes de falar qualquer coisa novamente. Ao ouvi-la, Fitz se retesou, sentindo como se seu coração fosse saltar pela boca – acho que... Precisamos conversar sobre o que aconteceu – ela disse, por fim. Não que ela quisesse realmente conversar sobre aquilo. O que ela queria de verdade é que aquele fosse o ponto de partida para eles finalmente se acertaram e ficarem juntos. Mas, infelizmente, não saiu como ela desejava.

— Não há o que conversar – ele passou a mão pelo rosto, exasperado – isso não deveria ter acontecido.

À Jemma pareceu, de repente, que seu cérebro trabalhava a mil por hora. Os pensamentos mais desagradáveis invadindo sua mente e lhe fazendo chegar a terríveis conclusões.

— Você está arrependido...? – ela indagou, sem conseguir conter sua aflição.

— Não! – ele apressou-se em explicar, tornando o rosto na direção dela. Olhando em seus olhos pela primeira vez desde que haviam partilhado tal intimidade. Sentiu-se constrangido por um momento, mas os olhos dela pareciam emanar uma força que o cativava, tornando impossível fugir deles – isto é... Jemma, você sabe – ele engoliu em seco – não estávamos... Aliás, não estamos em nosso juízo normal. Nós... Ingerimos uma quantidade razoável de álcool...

— Não mesmo! – ela sacudiu a cabeça em uma veemente negativa – eu ainda me sinto perfeitamente responsável pelos meus atos. E você não pode dizer o contrário.

Agora, ele finalmente encontrara energia para desviar seu rosto, apertando fortemente os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro, soando devastado.

— Não! Não era assim que deveria ter acontecido – ele sussurrou mais para si mesmo do que para Jemma. E ela se viu confusa, sentindo um terrível solavanco dentro de seu peito ao ouvir aquelas palavras.

— Fitz... – ela tentou tocar seu ombro, mas ele se afastou, levantando-se do sofá.

— Jemma, cada vez que tentamos nos aproximar... Acabamos nos afastando ainda mais – ele disse, olhando uma última vez para ela. Jemma não deixou de notar as lágrimas discretas em seus olhos, sentindo, ela mesma, uma incontrolável vontade de chorar. De raiva, de tristeza... Nem ela sabia definir o turbilhão de sentimentos ruins que se apossaram de seu ser naquele instante.

Ele fechou os olhos e virou-se, caminhando em direção à saída. Deixando-a sozinha naquela sala. Jemma experimentou uma desagradável sensação de solidão ainda pior do que o que sentira em Maveth.

*

Relembrar aqueles momentos era doloroso para Jemma. Não apenas a angústia como uma cólera absurda parecia subir pelo seu corpo. Ela levantou-se da cama disposta a aplacar sua raiva, seguindo diretamente para a sala de treinamento.


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Notas finais do capítulo

No próximo, um diálogo um tanto hostil entre amigas. E Jemma dá um passo decisivo em sua tentativa de se aproximar de Fitz.



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